Na condição de médico e terapeuta, vejo que os sofrimentos dos meus pacientes, a maioria deles, são as consequências da vontade. Posso ver que resultam de causas que poderiam ser evitadas, dos excessos, da ambição, das paixões. Se tivessem vivido sobriamente, sem abusar de nada, com simplicidade de gostos, modesto nos desejos, se pouparia de muitas doenças.
Da mesma forma é com o espírito. Os sofrimentos que enfrentarão no mundo astral são consequências da forma como viveu na Terra. Certamente que não terá mais as úlceras, hepatites, etc, que são sofrimentos ligados ao corpo físico que não existe mais. Porem terá outros sofrimentos que não serão menores. E esses sofrimentos resultam dos laços que ainda existem entre espírito e a matéria, e quanto mais se liberta da influência da matéria, se desmaterializa, sofre menos sensações penosas.
Depende de cada um libertar-se desse vinculo materialista desde a vida atual. Cada um tem o livre arbítrio e por conseguinte a faculdade de escolher entre fazer ou não fazer. A lição para fazer essa desmaterialização é domesticar as paixões animais, para não sentir ódio, nem inveja, nem ciúme, nem orgulho. Para depurar a alma se deve cultivar os bons sentimentos, fazer o bem e dá às coisas deste mundo a importância que elas merecem. Fazendo assim, mesmo encarnado já estamos depurados, libertos da matéria e quando deixar o corpo já não sentiremos sua influência.
Tenho tido essa preocupação com relativo sucesso. Controlo devidamente minhas paixões e coloco-as a serviço do Amor Incondicional. Fico até surpreso com o ciúme, por exemplo, que tantas pessoas sofrem gravemente dele e eu praticamente não possuo. Assim é com os outros penduricalhos do egoísmo. O que me afeta fortemente são as exigências do corpo, mas não dos relacionamentos.
Na área do corpo considero a preguiça e a gula meus mais fortes adversários, principalmente a gula. Pois na preguiça eu também entendo que desenvolvo muitos trabalhos materiais e isso diminui minha vitalidade para as ações espirituais. Agora, com relação a gula eu tenho sofrido diversas derrotas, não consigo controlar a quantidade de alimento suficiente para a manutenção do corpo. Sempre exagero na quantidade e na qualidade e isso me deixa sempre na faixa perigosa do sobrepeso.
Então esse é o meu calcanhar de Aquiles, onde a doença pode surgir. Tenho que tirar a lição que meus pacientes oferecem e evitar também esse descontrole na alimentação. Por enquanto a minha saída estratégica é o jejum, pois eu evito estar perto dos alimentos e ingerir uma quantidade qualquer, pois semelhante com o que acontece na dependência química, o primeiro gole desencadeia a doença.
Porem, mesmo com essa providência o corpo reage e tenta manter o peso apesar do jejum. Este é o quinto dia que estou no jejum e o peso que perdi não é equivalente ao que eu perdia no passado. Sinto que o corpo fica preparado para suportar dias sem alimento sem apresentar fraqueza. Certamente o fato também aconteceu com Jesus, que chegou a passar 40 dias de jejum no deserto. Mas como ele era mais espiritualizado, seu corpo não exercia mais tanta influencia sobre o seu espírito como o meu corpo exerce sobre mim. Mas isso também faz parte do meu aprendizado.
Minha curiosidade levou-me a perguntar desde cedo: quem sou? De onde vim? Para onde vou?
Encontrei ao longo da senda inúmeros ídolos formados pelo medo ou ganância dos povos, ídolos mentirosos que se alimentam do suor dos ignorantes em troca de uma segurança imaginária. Senti o cansaço em minha alma inquieta, mas o anseio de uma vida superior a esta, sempre mantinha viva minha esperança como um braseiro vivo de ideal, mesmo que sob uma espessa camada das cinzas do desencanto.
Nos momentos de desespero eu recorria à sabedoria e examinava o cosmo, o micro e o macro. Reconhecia a estreiteza do meu ser, do círculo ínfimo em que respiro e até do Lar Cósmico em que me abrigo. Aprendi sobre os planetas, os sóis, as galáxias... os confins do universo onde minha inteligência não tem acesso. Aprendi sobre a intimidade da célula, do átomo, dos elétrons partículas/ondas, das incertezas prováveis, da consciência colapsando o universo...
Deslumbrado percebi que não existe vácuo, tudo tem uma utilidade e que a vida encontra o berço numa simples gota d’água e que é a essência dos incomensuráveis sistemas siderais. Na laboriosa tarefa de descobrimento de mim mesmo fui obrigado a olhar para o chão, para o barro que formou meu corpo e que pelo sopro divino do Amor surgiu a minha alma que o animou.
Agora estou aqui, confinado a um reduzido agrupamento consanguíneo, dos meus parentes organizados pela engenharia dos renascimentos, a qual se ajusta a uma equipe de interesses passageiros ou definitivos, de colegas, amigos, amantes, companheiros... É nesse contexto que surgem as inquietações e até exigências, do ciúme, da cobiça, do egoísmo, da dor... Parece que ninguém sabe dar sem receber, não consegue ajudar sem reclamar, e criando o choque da exigência para os outros, recolhe dos outros os choques sempre renovados da incompreensão e da discórdia, com raras possibilidades de auxiliar e de auxiliar-se.
Vejo a majestade divina do Pai no Universo, na Natureza e me identifico como um pobre indigente filho Seu, com o cérebro inflamado em busca de glória e o coração preenchido ainda pelas sombras do egoísmo. Orgulho-me frente ao espetáculo magnificente do alto padrão do meu Pai e padeço a miséria do padrão baixo que ainda não consegui elevar.
Desejo comunicar aos outros o quanto aprendi da vida, principalmente com o Mestre Jesus, o quanto é bela a contemplação da vida eterna, mas muitas vezes esqueço ou sou tímido dessa minha obrigação, mas também encontro poucos ouvidos que se interessem, que me entendam.
Percebo que o Amor nesta Terra de expiações é como ainda um oásis fechado, poucos sabem onde está, muitos nem acreditam existir, imaginam ser apenas a loucura de alguns santos.
Assim compreendendo procuro partir os elos que me prendem à estreita família nuclear, o modelo e paradigma do mundo. Procuro despertar para a grandeza da criação e contribuir para a construção do Reino de Deus, assim como Ele me determinou. Dessa forma eu ando pela Terra, à maneira do viajante incompreendido e desajustado, peregrino sem pátria e sem lar, a me sentir um grão infinitesimal de poeira nos Domínios Celestiais, assim como fazia Francisco de Assis, cuja data de hoje reverenciamos.
Sinto que se alarga a acústica de minha alma, percebo agora as intuições do Pai e dos bons espíritos que entendem minhas intenções; embora os sofrimentos dos atos raivosos e preconceituosos de pessoas intolerantes e ignorantes dos desígnios de Deus me aflijam e abram chagas na minha alma assim como abriu chagas no corpo de São Francisco; estou edificando os fundamentos espirituais da nova humanidade que habitará no Reino de Deus.
Encontrei com as diversas leituras que fiz a oportunidade de renovar o funcionamento da minha mente no sentido de formar novos paradigmas mais condizentes com minhas procuras. Foi na doutrina dos espíritos que encontrei a maior consistência na apresentação do mundo como ele é, em suas diversas dimensões e a natureza adaptativa do caminhar de todos nós em direção a Deus, que tenhamos consciência ou não dessa realidade. Deixei de existir somente no mundo material, efêmero, das formas passageiras, e passei a ser um habitante consciente do mundo transcendental onde a vida se processa no contexto da eternidade e da ocupação da pluraridade dos mundos. Tenho agora a firme convicção de que estou aqui na Terra cumprindo uma etapa do meu aprendizado e com ela uma missão determinada por Deus para concluí-la até o fim dessa existência, como se fosse um Trabalho de Conclusão de Curso, o famoso TCC usado nas Universidades.
No decorrer desse aprendizado que foi renovando a minha mente e compreensão do mundo com criação de novo paradigma, os fenômenos espirituais que testemunhei de terceiros, por livros ou por fatos presenciais, modificou minhas convicções materialistas; as conclusões filosóficas alteraram com profundidade a minha visão do mundo. Sinto agora que sou imortal, este corpo que abriga no momento a minha alma, nada mais é que uma ferramenta de aprendizado, tal qual um carro é uma ferramenta de locomoção. Do mesmo modo que o carro exige gasolina, óleo, ar nos pneus, entre outros, o corpo também necessita de alimentos, repouso, e possui uma necessidade extra de reprodução para que forme outros instrumentos de aprendizagem para novo espírito que precisa tentar sua evolução. A minha alma deve usar o corpo assim como usa o carro, como um instrumento de utilidade para a sua evolução, e não ficar subordinada aos interesses tanto do carro como do corpo. Devo cuidar tanto do carro quanto do corpo, sabendo que da mesma forma que troco de carro quando sinto a necessidade e a conveniência disso, da mesma forma trocarei de corpo quando o Pai sentir a necessidade e a conveniência disso. O meu livre arbítrio abastecido com essa compreensão pode seguir na vida um caminho reto em direção ao Pai. É por isso que é tão importante a educação de todos nesse aspecto, principalmente de nossos filhos, as almas que o Pai colocou diretamente sob nossa responsabilidade.
Agora tem um aspecto que não devo esquecer e que compõe as tarefas da minha evolução. Essa transformação da inteligência com a aquisição de tantas informações deve servir para erguer meu coração com o aperfeiçoamento íntimo, tenho que ser melhor frente aos meus irmãos da humanidade. Esse tesouro intelectual que o Pai me permitiu e confiou deve servir para educar minhas emoções, elevar o meu caráter e sentimento. De que vale obter tudo isso e continuar com sentimentos egoístas de ciúme, raiva, vingança, intolerância, prepotência, indiferença frente ao meu próximo, seja ele quem for?
A renovação mental que adquiri e que continua em processo, permite que eu escute as sublimes narrações do infinito na palavra dos grandes orientadores, ouvirei vozes amigas que me lisonjearão a personalidade, escutarei novidades que podem me arrebatar ao êxtase, entretanto, são nas lições do Mestre Jesus que procuro viver com integridade e honestidade, que reestruturo a minha individualidade eterna para a sublime ascensão à consciência do Universo.
Espero contribuir com a confiança do Pai no esforço de congregação de todos em torno da construção do Seu Reino aqui na Terra. Buscarei sempre a lição da mente purificada de qualquer tipo de egoísmo, um coração aberto à verdadeira fraternidade, das mãos ativas na prática do bem, o caminho de amor e luz em direção aos braços sempre afetuosos do Pai.
Fiz a leitura na reunião do domingo com parentes e amigos, de um texto que reproduzia uma lição dita por Jesus na casa dos seus amigos, quando Ele estava entre nós. Ele dizia que o Pai, preocupado com os seus filhos que viviam na ignorância e que precisavam de auxílio para saírem do sofrimento, enviou pessoa de muito conhecimento para os ajudar. Enviou pessoas que por suas habilidades intelectuais se transformaram cada um por sua vez, em um cientista, um sábio, um militar, um artista... todos eles falharam na sua vez. Envolveram-se com a vaidade de suas qualidades e esqueceram os irmãos desprezados que eram o objetivo de suas vindas. Foi quando ele enviou outro que não se preocupou tanto com o crescimento de suas habilidades cognitivas. Antes procurou servir à necessidade de todos, tanto dos homens de cultura e poder, mas principalmente dos pobres e necessitados. Então Jesus conclui sua história chamando a atenção de que possuímos duas asas para voar em direção ao Pai, uma é o saber e outra é o amor. O saber é importante, mas o amor é do mais alto significado. Podemos até nada saber, mas se temos a capacidade de amar, tudo é tolerado, superado, alcançado, harmonizado.
Jesus afirmou em várias ocasiões que nossa principal lição neste mundo é aprender à amar. Amar de forma incondicional, é o conceito do Amor mais alto, que se confunde até com o Pai.
Considerando as devidas proporções de pureza do espírito, também me considero um mensageiro do amor. Mas tenho muita distância moral e de eficácia dos espíritos superiores. Tenho vergonha em algumas situações, em outra tenho medo de causar sofrimento na pessoa que está ao meu lado em algum momento. Tudo isso e muito mais impedem uma ação competente da minha parte. Sei que Deus deposita muita confiança em mim, pela intuição que tenho da Sua vontade na minha consciência. Mas sei também que estou muito aquém do que Ele espera de mim.
Sou um mensageiro do amor, confuso, atrapalhado, medroso, preguiçoso... Sei do caminho, tenho uma bússola, mas não consigo produzir... não consigo sair da minha individualidade para a coletividade, do meu saber acadêmico para um fazer solidário.
O que me consola dentro desse contexto, é que sei da confiança do Pai em mim, que Ele sabe das minhas fraquezas e me perdoa no limite da minha honestidade de convicções, que Ele está disposto sempre a dialogar comigo, a me dar aquilo que necessito, mesmo quando não sei o que é, quando não peço ou quando peço errado.
As vezes eu sinto com muita força a dimensão do problema em que estou dentro. A missão que Deus colocou em minha consciência e os padrões culturais que imperam ao meu redor; a aplicação do Amor Incondicional dentro de todos os relacionamentos e o império do amor romântico que existe como a base da formação da família, célula principal da sociedade.
Assisti a cerimônia de casamento no último sábado que me fez refletir em tudo isso e em que ponto eu estou se quero fazer realmente a vontade de Deus. Para mim seria bem mais simples, escolher dentre várias pessoas que me amam uma para ser minha esposa dentro dos critérios culturais e viver em paz e em exclusividade com ela até o fim da vida. Sei que ficaria mais incluído dentro dos valores culturais e morais da minha comunidade, não teria tantos conflitos quanto os que eu gero ao meu redor e que deixa todos, inclusive eu, vivendo na dimensão de um sofrimento crônico por não atingir ou sintonizar com o interesse de todas as mulheres que se interessam por mim. Mas decidi fazer a vontade de Deus assim como Ele colocou em minha consciência, e assumi todos os conflitos e sofrimentos advindos dessas relações de amor inclusivo que tendem a se ampliar para a formação da família universal.
Observei na cerimônia de casamento todo um ritual para a criação e manutenção da família nuclear. Interessante, que o fato ocorreu justamente na igreja que eu casei há cerca de 40 anos, e que eu estava naquela época com a mesma consciência desses jovens nubentes de hoje com relação ao casamento. Observei que o padre procurava fortalecer os laços emocionais em torno de um compromisso de fidelidade para a vida toda, e que envolvia parentes e amigos como testemunhas e reforçadores desse ato.
Percebi intuitivamente que a missão que o Pai me destinou era para reforçar os laços de fraternidade e de inclusividade nos afetos de todos os irmãos. Não é necessário que tal cerimônia seja extinta, ela pode muito bem persistir, mas com uma nova conotação não exclusivista. A fidelidade que o padre se referia deverá ser feita e procurada cumprir com relação ao Amor Incondicional que no momento se deixa representar pelo amor romântico que aproximou o jovem casal e gerou a motivação para continuarem na vida como companheiros. Todos que estavam presentes na igreja seriam considerados como irmãos muito mais próximos, os filhos de cada casal seriam considerados muito mais próximos dos nossos próprios filhos. Lembro que tinha uma garotinha por volta de um ano de idade ao lado de seus pais. Ela mexia com o meu braço e olhava sorrindo prá mim, como a perguntar: “E aí, não vai fazer nada?” eu sorria de volta, mas não tinha coragem de abraçá-la e beijá-la, eu era um estranho para os pais... No Reino do Pai essa “estranheza” não existirá, eu seria considerado um irmão querido por mais distante que a minha fisionomia fosse, talvez até um pai se por acaso aquela criança necessitasse com urgência de um. No Reino do Pai o carinho por cada um, homem ou mulher, seria uma constante, uma atmosfera total onde todos possam contribuir com honestidade de afetos em seus corações, que permitam os seus companheiros interagirem com os demais em quaisquer níveis de amor, pois a prioridade em tudo seria a do Amor Incondicional, que jamais visa o prejuízo de ninguém, pelo contrário, visa sempre o bem estar individual e principalmente o coletivo.
Fiquei imaginando tudo isso enquanto a cerimônia do casamento se desenrolava à minha frente. Fiquei avaliando o quanto seria difícil e sofrido reverter todo esse processo cultural, e se isso valeria realmente à pena. São esses momentos de crítica que chego a imaginar se não estou sendo vítima de um erro de compreensão, se Deus quer realmente que eu siga este caminho que imagino ser o certo e a Sua vontade.
Sai um pouco da igreja, um tanto confuso, antes da cerimônia acabar, no momento que as testemunhas no altar assinavam frente ao padre o ato de suas responsabilidades e o coro acima dos presentes entoava músicas de apelo divino e romântico, uma espécie de antecâmara do paraíso. Como poderia estar errado tudo isso? Entrava uma forte crítica na minha mente. Parecia “acender uma sombra” de dúvida em minhas convicções. Foi quando Deus falou comigo, como sempre faz quando estou em dúvida ou preciso aprender alguma coisa. Não com palavras, com gestos ou com ações miraculosas. Falou na Sua linguagem mais natural, através da expressão da natureza, e no caso da natureza humana da qual nós precisamos tanto aprender. Do outro lado da rua, deitado na calçada suja com roupas esmolambadas, sem voz e sem ação, um homem que parecia dormir sob o efeito do álcool. Assim estava anestesiado em seu sofrimento, que sofria calado, sem nem ao menos poder olhar em torno, sem compreender toda a movimentação que estava ocorrendo ao seu lado. Poderia estender a mão, lançar pelo menos um olhar lacrimoso como pedido de socorro. Mas nem mesmo isso!
Foi quando o Pai forçou a minha mente para que eu fizesse a comparação. Os noivos estavam saindo da igreja, chuva de arroz cobria a cabeça de ambos, flashes das máquinas fotográficas iluminavam com mais fulgor o ambiente já devidamente iluminado. Pessoas bem vestidas e perfumadas circulavam e se confraternizavam e planejavam continuar a festa num ambiente mais profano, uma casa de recepções onde a alegria poderia continuar com toda a pompa, inclusive com bebidas alcoólicas. Eu falava com minha amiga sobre projetos de ajuda fraterna em comunidade carente de sua cidade. O Pai dirigiu minha memória para as lições do Mestre, da parábola do bom samaritano. “Onde está Francisco, uma alma boa parecida com a daquele samaritano citado por Jesus, para atender ao irmão caído na sarjeta do sofrimento, do assalto que a vida lhe atingiu pela ganância e indiferença dessa cultura que nesse momento se afirma? Acabasses de ouvir o padre dizer que esse casal que se une pelo sacramento do matrimônio deve ser feliz um para o outro, com fidelidade simultânea, até o fim da vida... Isso me satisfaz, é verdade, mas com exclusividade para esse único casal, jamais! Esse homem que está ali jogado na calçada, é o meu filho também. Enquanto ele não for atendido e suas chagas físicas e morais saneadas, e o motivo que o levou a isso prevenido, eu não estarei satisfeito! Foi para ele que eu mandei Jesus, que eu mandei tantos outros, inclusive você! Eu espero. Pelo menos tu olhas o que acontece e me ouves... Mas por que duvidas? Eu até entendo a sua fraqueza no agir, de não chegar perto daquele pobre homem e o atender como um irmão biológico que eu sei que você faria. Eu entendo as tuas inibições, timidez, medo, vergonha... talvez orgulho... Entendo e perdoo tudo isso. Mas cuidado, não posso perdoar a hipocrisia, não posso perdoar a dúvida do que é certo e que tu já sabes! Não posso perdoar a covardia moral de não enfrentar esse status quo social para viver confortavelmente uma vida medíocre! Cuidado, filho, eu te amo pelo que te tornastes com teu esforço, um doutor, um médico, um cientista... pelo quanto consegues receber de bens materiais e reconhecer como meus e que deves administrar em forma de comodato de acordo com minha vontade... pelo quanto tivesses condições de aproveitar os dons que eu te dei. Mas eu também amo aquele meu filho jogado na sarjeta, apesar de derrotado na luta da subsistência, de ter perdido todos os referenciais, familiares, religiosos, financeiros e espirituais e não admito que seus irmãos não o considerem como tal!”
Foi assim com a orelha quente como se tivesse sofrido um puxão do Pai que segui para o local onde terminaria a festa do casamento. O meu aspecto era de acabrunhamento e que se somava ao cansaço do trabalho do dia. Confesso que não tinha mais energia, física ou moral, para permanecer na festa. Contei com a compreensão da minha companheira, que também não estava à vontade naquelas circunstâncias, e voltei para casa sozinho e envergonhado sem nem ao menos ter entrado naquele ambiente festivo.
Cheguei no apartamento e vim fazer este texto como uma espécie de dever acadêmico frente ao Criador. Devo reforçar o meu compromisso com o Pai de cumprir a Sua vontade, de ser exemplo na aplicação do Amor Incondicional, de amar com inclusividade a todos, a ninguém desprezar, a ninguém ser indiferente, por mais próximo ou distante que esteja, por mais profundidade ou superficialidade do amor, por mais críticos ou perversos sejam contra mim... todos são filhos do Pai, todos são meus irmãos! E o Pai confia e espera por mim!