Hoje é considerado o dia da Gratidão e também dedicado a reverência dos três Reis Magos que foram à procura de Jesus, recém-nascido, para homenageá-lo. Não deixa de ser um ato de Gratidão à Deus por Ele ter enviado o seu filho mais preparado, mais perfeito, para nos ensinar. Como é feriado em Natal, tenho tempo para me debruçar sobre os textos atrasados para este diário e fazer esta reflexão sobre a quem devo mostrar gratidão neste dia. Sei que vou fazer essa tentativa, mas muitas pessoas vão escapar à minha memória e a estas pessoas peço desculpas antecipadas por minha indesejada ingratidão.
Em primeiríssimo lugar devo agradecer a Deus, nosso Pai, Criador, que me deu a oportunidade da vida, de desenvolver a consciência e de estar agora neste lugar fazendo esse texto.
Agradeço à minha mãe por servir de instrumento para esta atual vida, deixando a minha carne surgir da sua carne, por sua dedicação, paciência e desapego ao me deixar viver com minha avó, longe dos seus afetos, por saber ser essa a melhor alternativa ao meu desenvolvimento.
Agradeço ao meu pai por servir de instrumento de Deus para colocar dentro do meu corpo os gens necessários a força de aproximação sexual que serve de alavanca importante para o Amor Incondicional.
Agradeço á minha avó por ter aceitado assumir a minha criação e educação, ter me mostrado o valor do trabalho, do estudo e ter me afastado das tentativas precoces dos prazeres do corpo, tanto cm relação ao sexo e as drogas.
Agradeço às namoradas que tive e me iniciaram nos afetos sensuais, nas moças conhecidas ou desconhecidas que incentivaram na solidão da minha intimidade a descoberta dos prazeres sexuais.
Agradeço aos diversos professores, tanto no campo material quanto espiritual, com destaque para Jesus de Nazaré, e que cada um ao seu modo colocaram na minha mente e consciência os tijolos que hoje formam os meus paradigmas de vida.
Agradeço aos amigos que demonstraram comigo como se deve amar ao próximo como a si mesmo.
Agradeço às mulheres que despertaram em mim forte paixão fazendo com que eu experimentasse um maior desempenho do meu afeto, sentimentos, inspirações e vitalidade.
Agradeço às mulheres que ofereceram seus corpos como terrenos férteis para a semeadura, germinação e educação dos nossos filhos.
Agradeço às mulheres que comigo caminharam ou que caminham dividindo a ajuda mútua e colaborando com a formação da Família Universal como projeto de Deus. Agradeço aos Anjos da Guarda que, sob a orientação do Pai, me protegeram ao longo da vida, de perigos percebidos ou não percebidos.
Agradeço aos irmãos biológicos e espirituais que me dão o aconchego físico e sintonia psicológica, fortalecendo os meus momentos de melancolia quando sei que mesmo na solidão estou cercado de afetos.
Agradeço a todos que me servem nas mais diversas posições, desde o gari que limpa a rua onde transito, até os artistas, cantores, atores, escritores que preenchem com seus trabalhos a pavimentação dos caminhos por onde eu deva passar.
Agradeço aos meus filhos a capacidade precoce de tanto amar, capaz de perdoar as ausências do pai tão preocupado com sonhos talvez inalcançáveis.
Por fim, quero agradecer aos tantos que favoreceram à minha existência e que a minha fraca memória não conseguiu evocar a grandeza dos seus atos.
Quando me defini como cristão, que devia seguir as lições do Mestre Jesus o qual anunciou a vinda do Reino de Deus, logo percebi que estava engajado numa batalha entre o mal, representado pela ignorância, e o bem, representado pela Verdade. Vejo ao meu lado um bom número de igrejas cristãs, que divulgam a mensagem do Mestre, mas que ainda são pobres em ações comunitárias que visem a transformar cada uma dessas comunidades em propostas do Reino de Deus. A minha constante leitura dos conceitos cristãos e espiritualistas de toda espécie, que sintonizam com a vontade de Deus, serve como capacitação para a minha ação no meio social como um verdadeiro “Soldado de Deus” sob o comando de Jesus.
Na liturgia de hoje, um trecho de Mateus (4, 12-17.23-25) diz que após a prisão de João Batista, Jesus foi para Cafarnaum, a Galiléia dos gentios, terra vizinha ao mar, com um povo que vivia nas trevas. A partir daí resplandeceu uma grande luz e surgiu uma aurora para os que jaziam na região sombria da morte. Desde então Jesus começou a pregar, orientava para a penitência, pois o Reino dos Céus estava próximo.
Epifania é a súbita sensação de entendimento ou compreensão da essência de algo, e sinto essa epifania como a manifestação de Cristo e de sua mensagem ao mundo. Essa mensagem chega como uma grande luz, uma lição de libertação para os corações. Implica numa conversão dos interesses do mundo material, dos desejos da carne, para os interesses do mundo espiritual, como pré-requisito. Fazendo assim assumimos o trabalho que o próprio Cristo faria se estivesse entre nós.
Vejo uma grande multidão de pessoas que vivem como manadas, lutando pela sobrevivência, de forma digna ou indigna. Apesar de existir lideranças cristãs, como o Papa, pastores, padres, etc., mas todas essas pessoas parecem no cotidiano de suas vidas, como ovelhas sem pastor. A luta pela sobrevivência cria guetos de miséria humana, tanto nos indigentes como nos multimilionários. As pessoas, criaturas de Deus, se comportam como animais colocados na selva, onde a agressividade, o crime, a impunidade, o roubo dos “sem camisas” ou dos “colarinhos brancos” imperam a cada momento, em cada local. Constitui um verdadeiro campo de batalha onde o outro é visto como um competidor, como o adversário, e muito raramente como irmão, filho do mesmo Pai.
Eu, como Soldado de Deus, revestido da epifania do Cristo, passo a agir na batalha com a espada do Amor e o escudo do perdão. Mesmo que saiba que sou uma pessoa cheia de defeitos, que ainda sou subjugado aos desejos do corpo em muitos aspectos, mas a minha vontade e convicção estão sempre voltadas para Deus, para a realização de Sua vontade. Como eu, existem outras pessoas com a mesma convicção e determinação, começamos a fazer patrulhas, e cada vez mais sentimos a chegada de novos reforços. É como se o Pai sentisse após a sondagem em nossos corações que pode confiar neste trabalho que pretendemos realizar e toca no coração de seus filhos mais sensibilizados para se incorporarem ao trabalho.
Espero que a tolerância seja uma virtude ao alcance de todos, pois as diversas falhas que ainda apresentamos irão com certeza machucar o companheiro que trabalha ao nosso lado, com as mesmas intenções nobres de ajudar ao próximo.
Na liturgia de hoje foi lida em todas as igrejas católicas um trecho de Isaías (60, 1-6) muito interessante:
Levanta-te, sê radiosa, eis a tua luz! A glória do Senhor se levanta sobre ti. Vê, a noite cobre a terra e a escuridão, os povos, mas sobre ti levanta-se o Senhor, e sua glória te ilumina. As nações se encaminharão à tua luz, e os reis, ao brilho de tua aurora. Levanta os olhos e olha à tua volta: todos se reúnem para vir a ti; teus filhos chegam de longe, e tuas filhas são transportadas à garupa. Essa visão te tornará radiante; teu coração palpitará e se dilatará, porque para ti afluirão as riquezas do mar, e a ti virão os tesouros das nações.
Sei que a Bíblia é tida como um livro sagrado que reflete a palavra de Deus, mas que foi escrito pela mão de diversos homens, que mesmo inspirados pela divindade, podem ter colocado nos seus escritos todas as tendências de suas convicções pessoais. Mesmo assim, posso ver nas mensagens, algo da inspiração divina, caso eu consiga atravessar com algum nível de percepção o sombreamento da luz.
Esse texto aponta para a presença da luz que está ao nosso redor e que podemos alcançá-la com os bons propósitos do coração. Fazendo assim a glória do Senhor se aproxima e podemos ver nas entrelinhas da natureza os caminhos que são apontados. Quem não consegue atingir esse estágio, consegue sentir a atratividade das pessoas que o conseguiram e assim procuram ficar à sua volta, algumas vezes desejando ou lutando por sua posse. Essas pessoas perceberão os tesouros disponíveis, ao seu alcance, mas deles não darão a prioridade de suas ações, pois é ao Senhor que toda a sua atenção está dirigida, e todos os tesouros do mundo só serão úteis se estiverem dentro dos propósitos divinos.
Eu sei que essa possibilidade de percepção divina e profunda da natureza pode existir e se constituir uma verdadeira glória de Deus ao alcance, mas infelizmente não tenho as condições psicológicas necessárias para perceber com a intensidade suficiente essa glória divina, de ser digno dela em toda plenitude. Tenho dificuldades em manter focado o interesse de Deus em meus pensamentos e termino desviando o caminho para meus interesses pessoais. Sei que isso não é o que prevalece nas minhas ações, mas é o suficiente para não ocorrer o preenchimento cognitivo capaz de perceber e aplicar essa glória.
O tempo urge, as oportunidades surgem e se esvaem... Tenho formado os paradigmas suficientes para colocar em prática a vontade do Pai, no entanto a força dos instintos ainda não estão suficientemente domesticadas. Até mesmo a preocupação com o meu status social entra em cena quando imagino a decisão de colocar em prática determinadas orientações que imagino partirem do Pai. Portanto, sei por tudo isso, que essa glória de Deus que está à disposição de todos de bom coração, necessita de uma capacitação psicológica livre dos instintos animais e dos preconceitos sociais.
Pelo menos é mais uma identificação que faço de minhas fraquezas e isso torna menos difícil a minha recuperação.
Devo fazer uma retrospectiva para fazer essa pescaria mental em busca do conceito do Amor. Primeiro, devo afastar aquilo que deixei de aceitar como verdade, o que seria mais importante no relacionamento íntimo.
Iniciei a minha vida entendendo o amor romântico como o ponto mais alto desse sentimento e que deveria guardá-lo com fidelidade para a mulher que aceitasse dividir a vida comigo e que dividisse o mesmo sentimento de amor.
Logo percebi que o Amor Incondicional era a forma de Amor mais pura, que representa a energia do Criador, e que o amor romântico devia a Ele ser subordinado. Com essa compreensão, a exclusividade exigida pelo amor romântico perdeu o sentido. Quebrei todos os preconceitos sobre isso, inclusive os fortes sentimentos machistas que existiam dentro de mim. Dei à minha companheira o mesmo direito de se relacionar com quem ela tivesse desenvolvido algum afeto, como acontecia comigo. Nesse contexto tornou-se viável a prática do swing, e desenvolvemos iniciativas nesse sentido, mas não foi concretizado nenhum encontro nesse sentido. No entanto desenvolvemos Relações Livres, afetos, paixões e intimidades sexuais com diversos parceiros, e assim também procedia minha esposa. Caracterizava assim o Relacionamento Aberto, onde tínhamos nossas relações afetivas na condição de serem secundárias. Aconteceu de ser desenvolvido por mim um forte sentimento por minha prima e nesse momento coloquei a proposta de viver equilibradamente com as duas. Foi uma proposta de Poliamor dirigida as duas, mas de Relacionamento Aberto com relação as demais. Como a minha esposa não aceitou, passei a conviver com minha prima, defendendo o Relacionamento Aberto, mas sem ser aceito por ela. Até que chegou o momento que ela não conseguiu tolerar mais as minhas experiências afetivas fora do lar e me expulsou literalmente de nossa casa.
Passei a viver sozinho, mas com a proximidade maior de uma companheira que sabia de todos os detalhes da minha forma de amar e de manter o relacionamento e que pretendia se ajustar tentando se comportar como Radharani, uma princesa indiana da espiritualidade oriental que acolhia todos os afetos femininos do seu amado Krishna, sem nenhuma rejeição ou ressentimento. Era mais uma vez a tentativa do Relacionamento Aberto, onde as outras relações afetivas se desenvolveriam de forma secundária. Ela não conseguiu manter o “padrão Radharani” e suas constantes recaídas em rusgas e rejeições dos meus afetos, terminou esse tipo de relacionamento e ela perdeu a convivência explícita comigo.
Hoje eu sei, depois de tantas experiências, que não encontrei nenhuma mulher que desenvolvesse o sentimento básico capaz de garantir a convivência comigo, de amar sem fingimento a pessoa que me ama, de cuidar da pessoa que cuida de mim, de defender a pessoa que me defende... da mesma forma que estou capacitado a fazer com qualquer afeto extra que minhas companheiras desenvolvam.
Dentro dessa atual circunstância a forma de amar que eu apresento é o Poliamor, com a possibilidade de ter diversas relações afetivo-sexuais ao mesmo tempo, todas com a mesma importância.
Sei que o ideal ainda não é este perfil comportamental e afetivo. Com a compreensão de que este afeto deve servir para a construção do Reino de Deus, compreendo que o Relacionamento Aberto seja o mais adequado, desde que a companheira prioritária consiga acolher com afeto e fraternidade todas as novas companheiras que surjam no caminho. A prioridade conseguida pela companheira deveria ser em função do tempo de companhia, mas que ela aceite como natural toda a força do afeto, e suas consequências, que surge por uma nova pessoa, sem qualquer rejeição ou intolerância.
Enquanto a companheira compatível não surja, e talvez isso nunca aconteça comigo, desenvolverei o Poliamor, onde todas que desenvolvem afeto por mim de forma recíproca têm a mesma importância. Ressalto apenas que as companheiras mais recentes tem uma força afetiva maior por está mais próxima do instinto sexual, enquanto as companheiras mais antigas têm um compromisso maior por manterem a convicção ao longo do tempo.
Estou muito longe ainda de atingir esse estágio ideal de relacionamento, pois não depende de mim. São as minhas companheiras que não conseguem desenvolver um comportamento de solidariedade uma com as outras e termino dentro de um campo de conflito onde prevalece a separação do que a união. Mas tenho que tolerar essa falta de maturidade espiritual necessária para conter os impulsos instintivos do egoísmo inerente à condição humana, que ainda é mais prevalentemente animal.
Ao refletir sobre a matéria da revista IstoÉ que trabalhei ontem, que abordava a forma de amar afetiva e sexualmente com a possibilidade de formação de vínculos, de companheirismo, percebi que a ideia que tenho não se ajusta a nenhuma delas, mesmo sabendo que estou no campo do amor não exclusivo. Como então definir a minha ideia sobre o Amor? Sei que ele não é romântico, apesar de em alguns momentos ter essa característica. Sei que ele é subordinado ao Amor Incondicional, capaz de bloquear os desejos da minha carne se isso ofende aos interesses do próximo. Daí eu entender que essa forma de amar está dentro dos ensinamentos do Cristo e a Ele me refiro como Mestre por perceber em Seu comportamento uma pureza espiritual que ainda não possuo. Mas Ele não quis se envolver nessa questão da sexualidade, da intimidade que gera vínculos, filhos, companheirismo, família, solidariedade e que deve ser a mais universal possível. Ele preferiu caminhar em suas lições com seus apóstolos sem tentar explicar como isso funcionaria na relação homem-mulher. Então me deparo agora com essa questão. Por um lado a cultura milenar que aponta um determinado comportamento padronizado e por outro a minha consciência que intui outra forma de relacionamento, mais próxima da Verdade que o Cristo ensinou. Então, como captar essa ideia, como conseguirei ver essa forma, segundo Platão, que são seres imutáveis, perfeitos, ideais, dos quais tudo no universo é uma cópia melhorada ou piorada? Como conceituar o Amor que acredito ser o mais racional para conquistarmos o Reino dos Céus? Devo exercitar a mente no raciocínio, pensar a respeito e realmente entendê-las, especialmente ao filosofar.
Para Platão as ideias eram entes extramentais que habitavam a realidade exterior, não visíveis aos olhos, mas passíveis de serem conhecidas pela mente. Hoje em dia pensamos em ideias como conceitos ou imagens que existem, no máximo, na mente de uma pessoa. Mas para isso acontecer é necessário que essa pessoa tenha conseguido êxito e “pescado” essa ideia extramental e trazido ao campo da realidade mental, no início individual, mas que será em seguida socializada. Essa é a minha tarefa, fazer essa procura do que a minha mente intui como verdadeira, fazendo a “pescaria” racional.
Entendo essa ideia que quero “pescar”, como um arquétipo de algo que existe na mente de Deus; Deus esse que antes de criar o universo e tudo que o contém, já tinha em Sua mente a ideia do universo e de tudo que ele conteria.
Devo procurar ver em minha mente um tipo de imagem desse conceito que ferve em meus pensamentos, pois é a ela que se refere a ideia do conceito de Amor que eu possuo, uma coisa, um sentimento. Expressar o que vem à mente à menção de fantasia, noção, espécie, ou aquilo com que a mente se ocupa enquanto pensa. Devo transformar essa ideia em objeto do pensamento e torná-la capaz de ser considerada ou discutida por duas ou mais pessoas.
Devo respeitar as ideias já consideradas como objetos do pensamento, como liberdade, justiça, guerra, intriga, fraternidade, paz, governo, amor romântico, poliamor, swing, relações livres, relacionamento aberto, casamento, fidelidade... e tantos outros objetos mentais. Devo trabalhar o meu pensamento para transformar a ideia que quero “pescar” em mais um objeto do pensamento nessa ampla prateleira consciencial.
Para isso eu tenho que fazer uma retrospectiva de quando a minha mente andava pela prateleira consciencial usando as ideias expostas e tentando aplicá-las em minha vida. Identificar quando essas ideias já não atendiam ao meu senso de Justiça ou de coerência com a Verdade superior. O Amor foi descoberto, a meu ver, como a força mais poderosa do universo, essência do Criador, e, portanto, não poderia ser subjugada por nenhum interesse menor, interesse das criaturas em detrimento do interesse do Criador. Portanto, a minha forma de amar deveria ter a maior coerência possível com o Amor maior, que é o Amor Incondicional. É por isso que sinto a necessidade de “pescar” em meus pensamentos essa ideia que também se encontra na mente de Deus e trazê-la à realidade e assim preencher as reticências que ainda uso ao redor do: ...Amor...