Observamos que os últimos textos postados neste espaço trazem narrativas diferentes de uma mesma situação política. Isso sempre acontece nos conflitos humanos, desde a antiguidade. Um texto assinado por Hélio V. Ramos Filho e Marcelo O. Dantas, ambos embaixadores de carreira, com o título “Guerra de Narrativas no Exterior, vem explicar como isso acontece.
A Guerra de Narrativas no Exterior
Em meados do século 3, quando o Cristianismo era uma religião proscrita, o teólogo Alexandrino Orígenes produziu seu mais famoso tratado – Contra Celsum. Nesse texto, respondeu, com serenidade e apuro filosófico, aos ataques feitos pelo neoplatonista Celsus, que via na difusão das idéias cristãs um ameaça aos fundamentos da civilização romana. A contra narrativa de Orígenes prevaleceu. E o caminho foi aberto à expansão da nova fé.
A memória desse episódio serve de alegoria para a guerra de narrativas que hoje trajamos. Guardado o devido respeito aos embates da patrística, assistimos em nosso país a ascenção de um surpreendente fenômeno de massas, consagrado por 56 milhões de eleitores. A chegada de Jair Bolsonaro ao poder, no entanto, vem sendo questionada – urbi et orbi – por novos “Celsos”.
Os novos “Celsos” têm-se esforçado em difundir a falsa ideia de que o presidente eleito representaria uma ameaça aos fundamentos da democracia ocidental. Pintam-no como um extremista de direita, inimigo dos direitos humanos e do meio ambiente – um militarista disposto a oprimir minorias e solapar as liberdades civis. Em sua eleição, veem o triunfo do populismo irracional, a ser confrontado por uma aliança liberal-progressista.
Essa visão alarmista e fantasiosa – difundida em artigos de opinião, manifestos intelectuais, propagandas eleitorais e entrevistas a redes de televisão – ganhou o mundo. Alguns dos principais veículos de informação do planeta passaram a acompanhar o processo político brasileiro, preocupados com a possibilidade de um “novo Trump” chegar ao poder no maior país da América Latina.
Computados os resultados das urnas, a histeria não recuou. Órgãos respeitáveis, como The New York Times, The Economist e a revista Foreign Affairs continuaram a repetir o discurso difamatório, sem qualquer respaldo em dados da realidade. Um ex-chanceler chegou ao ponto de conceder entrevista à rede CNN para dizer que o país estaria “talvez de volta a um regime autoritário, com alguns traços fascistas”.
Os criadores dessa narrativa parecem haver passado as últimas décadas em sono profundo. Como no conto “Rip Van Winkle”, roncavam alheios a tudo, enquanto a violência tomava conta das cidades brasileiras, as empresas públicas eram saqueadas e a economia do país mergulhava na maior crise de sua história. Nenhuma menção é feita aos desmandos de governantes que financiaram ditaduras, superfaturaram obras inúteis, sucatearam os serviços públicos e devolveram dissidentes a regimes opressores. Mais grave ainda, nada de bom se diz sobre o trabalho da operação Lavajato, o bom funcionamento das instituições brasileiras e o despertar da cidadania. Somos tratados como uma república de bananas, que embarcou na aventura de eleger um líder caricato.
A estratégia dos novos “Celsos” é clara: utilizar o front internacional para desacreditar, isolar e minar o governo Bolsonaro. Pretendem, com isso, provocar o desgaste da imagem do Brasil junto aos governos estrangeiros e organismos internacionais – e negar a legitimidade dos resultados eleitorais de outubro – de modo a pavimentar seu caminho de retorno ao poder. Exercício semelhante foi levado adiante, com sucesso, na desconstrução do governo Temer. Almejam agora repetir a dose.
O Itamaraty não pode permitir que isso aconteça. Temos um governo, eleito de forma democrática e constitucional. Esse governo terá de ser defendido e viabilizado na cena internacional. A narrativa difundida pelos adversários do presidente eleito precisa ser desmontada, com urgência, por nosso serviço exterior. Não se trata de afinidade política, mas simples dever de ofício.
Ao governo eleito cabe definir, o quanto antes, a equipe que assumirá o comando do Itamaraty. De imediato, será necessário anunciar as diretrizes de política externa do novo governo e pôr em marcha a agenda de viagens do presidente eleito. Em paralelo, deve-se conceber e implementar uma estratégia efetiva de comunicação com o público externo. Artigos difamatórios precisam ser respondidos com firmeza, sem tergiversações.
O bom diplomata precisa entender e respeitar o país que representa. O fenômeno Bolsonaro não nasceu apenas do sentimento de contrariedade da população brasileira com o colapso da nova república. Sua eleição representou a emergência de um novo Brasil – mais conservador e cioso de seus valores. Uma nação que aspira por maior segurança pessoal e melhores oportunidades de trabalho, com setores produtivos que anseiam por segurança jurídica e liberdade para empreender.
Esse novo Brasil viu em Jair Bolsonaro a possibilidade de livrar-se dos excessos da agenda progressista. O voto do “mito” galvanizou a recusa do politicamente correto; empolgou os exasperados com a irracionalidade do laxismo legal e a insensatez da agenda de costumes da esquerda. Esses 56 milhões de brasileiros promoveram pela primeira vez no país, uma efetiva alternância de poder.
Semelhante fenômeno precisa ser explicado no exterior. Chegou a hora de colocarmos ordem na Casa e darmos um basta à narrativa que enxovalha a imagem do Brasil. Parafraseando um conhecido adágio militar romano, poderíamos dizer, diante dos desafios internacionais do novo governo: “Si vis pacem, para Celsum”. Se o governo Bolsonaro quiser a paz no front internacional, deve preparar-se para enfrentar os novos “Celsos” – com a mesma habilidade e sabedoria que o iluminado Orígenes teve ao defender a fé cristã.
Excelente texto! Coloca de forma didática e pragmática a construção de narrativas que cada um pode fazer, alguns distorcendo a verdade para alcançar benefícios pessoais.
Aproveito a “deixa” para construir também minha narrativa, usando as informações vindas do mundo espiritual, que a Terra vai ser promovida de mundo de Provas e Expiações, para mundo de Regeneração, onde o bem prevalece sobre o mal. Foi sugerido também que o Brasil seria a Pátria do Evangelho, que já é, e Coração do Mundo.
A eleição de Jair Bolsonaro, um homem fortemente religioso, foi tida como uma espécie de milagre, ter alcançado o poder sem o conchavo com forças trevosas ou apadrinhamento de poderosos da mídia e das empresas. Recebeu a notícia da vitória com a humildade que caracteriza os homens intuídos pelo divino e se fé merecedor de proteção extrafísica a ser salvo de faca covarde por um comando que até hoje não foi esclarecido.
Portanto, estamos preparados para ingressar numa administração mais ética e justa, onde os nomes que estão sendo escolhidos até agora representam uma mudança verdadeira do estado de caos que nos encontrávamos.
Cabe agora a nós, pessoas de bem, que não estamos mancomunados com as trevas nem hipnotizados pelos construtores de falsas narrativas, a desmontar os castelos de mentiras que querem construir para solapar a verdade e o nosso destino enquanto país.
Vamos procurar o viés dos médicos brasileiros, pois segundo a Dra. Laura Stahlberg que é Mestre em Brasil em Perspectiva Global pelo King’s College London, que desenvolveu o tema da dissertação: International cooperation and health policy: An analysis on the design and implementation of the Mais Médicos Programme in Brazil, os médicos brasileiros não têm interesse no Programa.
Encontrei um texto circulando no zap de congressistas (Henrique Mandetta, Adriana Sousa, João Henrique Zanconato, Olavo Viana) interessados em abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (#CPIMaisMédicos) que serve para melhorar nossa visão nesse foco.
Vou contar uma historinha para vocês.
Em 2016, uma amiga médica recém-formada inscreveu-se no Programa Mais Médicos e, apesar da formação extremamente adequada e da NÃO PREFERÊNCIA por região para atuação, teve sua inscrição negada.
Em janeiro de 2017, no lançamento de mais um edital do programa, eu, terminando minha residência médica no INCA, mas incomodada com a história dela, resolvi me inscrever no programa para testar a hipótese de que o programa servia SIM para patrocinar a ditadura cubana, mais do que para levar médicos aos rincões do país. Detalhe: no meu currículo constava um Doutorado e 720 horas de formação para atuação em saúde pública no internato da faculdade.
Olhem, foi uma trabalheira dos infernos. Vários formulários preenchidos, documentos scaneados e enviados, um dia inteiro perdido com isso... e, detalhe, na inscrição não especificamos NADA sobre preferências de áreas de atuação (a inscrição pode ser considerada até para regiões indígenas no meio do nada).
Pois bem, qual não foi a minha surpresa quando também não fui "aceita no programa", mas centenas de cubanos sim.
Na época deixei quieto, era só uma curiosidade que eu desejava sanar, mas agora levarei isso adiante - tem é que ser feita uma CPI desse programa escabroso. É revoltante ouvir de tantos e da mídia desinformada que "faltarão médicos" e que a população "ficará desassistida" com o fim da cooperação cubana. Isso é uma FALÁCIA!
O programa serviu para mostrar que temos SIM médicos brasileiros interessados em ir para o interior, desde que estimulados e adequadamente pagos para isso. Resta agora o governo desenvolver um programa mais decente, que envolva remuneração salarial e não uma bolsa sem qualquer direito trabalhista, disfarçada de "aprimoramento".
Ainda sobre o Programa Mais Médicos, a AMB (Associação Médica Brasileira) já havia denunciado tudo isso que digo em 2017 e declarou: "Precisou que o governo cubano se recusasse a enviar 710 médicos para o Brasil (600 novos e 110 como reposição) para mais vagas serem dirigidas a brasileiros. Mas esta quantidade de vagas ainda é insuficiente, perto da quantidade de médicos brasileiros interessados, pois só no último edital se inscreveram 10.557 médicos brasileiros.
O interesse de médicos brasileiros em entrar para o programa Mais Médicos sempre foi grande, antes das inscrições de janeiro. Em outros editais a quantidade de médicos inscritos foi superior ao último. Grande quantidade de profissionais procurou a Associação Médica Brasileira (AMB), por se sentirem preteridos ou cerceados nos seus direitos, beneficiando médicos de outros países."
Pois bem, agora vou lutar por essa CPI, porque já estou cansada de tanta mentira, de tantas acusações injustas de corporativismo médico e tanta irresponsabilidade envolvendo nós médicos brasileiros.
Paciência tem limite.
Henrique Mandetta Adriana Sousa João Felipe Zanconato Olavo Vianna
#CPIMaisMédicos
Se essas informações são verdadeiras, como acredito que sejam, da mesma forma que acredito que a Dra. Laura Stahlberg escreveu no seu texto informações que ela acreditava serem verdadeiras, então ela deve reconhecer a existência de fortes contradições. Como ela é Mestre em Brasil em Perspectiva Global, seria de muita utilidade que ela aprofundasse seus estudos aqui dentro do Brasil, avaliando tudo que foi feito nos últimos governos, porque houve esta mudança tão “milagrosa” nos rumos do país, e o que está sendo implementado para o futuro, qual a nova direção ideológica dos novos dirigentes.
Vamos transcrever agora uma entrevista do Dr. Gilberto Velazco sobre a medicina que se pratica em Cuba, feita por Aretha Yarak em 31-08-2013, para Veja.com, com o intuito de alimentar nossas reflexões em busca da verdade
“Nossa medicina é quase de curandeirismo”, diz doutor cubano
Gilberto Velazco Serrano, de 32 anos, conta por que, em 2006, desertou de uma missão de seu país na Bolívia - na qual os médicos eram vigiados por paramilitares.
O cubano Gilberto Velazco Serrano, de 32 anos, é médico. Na ilha dos irmãos Castro ele aprendeu seu ofício em meio a livros desatualizados e à falta crônica de medicamentos e de equipamentos. Os sonhos de ajudar os desamparados bateram de frente, ainda durante sua formação universitária, com a dura realidade de seu país: falta de infraestrutura, doutrinação política e arbitrariedade por parte do governo. “É triste, mas eu diria que o que se pratica em Cuba é uma medicina quase de curandeirismo”, diz Velazco.
Ao ser enviado à Bolívia em 2006, para o que seria uma ação humanitária, o médico se viu em meio a uma manobra política, que visava pregar a ideologia comunista. “A brigada tinha cerca de 10 paramilitares, que estavam ali para nos dizer o que fazer”. Velazco não suportou a servidão forçada e fugiu. Sua primeira parada foi pedir abrigo político no Brasil, que permitiu sua estada apenas de maneira provisória. Hoje, ele mora com a família em Miami, nos Estados Unidos, onde tem asilo político e estuda para revalidar seu diploma. De lá, ele concedeu a seguinte entrevista ao site de VEJA:
P - Como os médicos são selecionados para as missões?
R - Eles são obrigados a participar. Em Cuba, se é obrigado a tudo, o governo diz até o que você deve comer e o que estudar. As brigadas médicas são apenas uma extensão disso. Se eles precisam de 100 médicos para uma missão, você precisa estar disponível. Normalmente, eles faziam uma filtragem ideológica, selecionavam pessoas alinhadas ao regime. Mas com tantas colaborações internacionais, acredito que essa filtragem esteja menos rígida ou tenha até acabado.
P - Como foi sua missão?
R - Fomos enviados 140 médicos para a Bolívia em 2006. Disseram que íamos ficar no país por três meses para ajudar a população após uma enchente. Quando cheguei lá, fiquei sabendo que não chovia há meses. Era tudo mentira. Os três meses iniciais viraram dois anos. O pior de tudo é que o grupo de 140 pessoas não era formado apenas por médicos – havia pelo menos 10 paramilitares. A chefe da brigada, por exemplo, não era médica. Os paramilitares estavam infiltrados para impedir que a gente fugisse.
P - Paramilitares?
R - Vi armas dentro das casas onde eles moravam. Eles andavam com dinheiro e viviam em mansões, enquanto nós éramos obrigados a morar nos hospitais com os pacientes internados. Quando chegamos a Havana para embarcar para a Bolívia, assinamos uma lista para registro. Eram 14 listas com 10 nomes cada. Em uma delas, nenhum dos médicos pode assinar. Essa era a lista que tinha os nomes dos paramilitares.
P - Como era o trabalho dos paramilitares?
R - Não me esqueço do que a chefe da brigada disse: “Vocês são guerrilheiros, não médicos. Não viemos à Bolívia tratar doenças parasitárias, vocês são guerrilheiros que vieram ganhar a luta que Che Guevara não pode terminar”. Eles nos diziam o que fazer, como nos comportar e eram os responsáveis por evitar deserções e impedir que fugíssemos. Na Bolívia, ela nos disse que deveríamos estudar a catarata. Estávamos lá, a priori, para a atenção básica – não para operações como catarata. Mas tratar a catarata, uma cirurgia muito simples, tinha um efeito psicológico no paciente e também na família. Todos ficariam agradecidos à brigada cubana.
P - Você foi obrigado a fazer algo que não quisesse?
R - Certa vez, eu fui para Santa Cruz para uma reunião, lá me disseram que eu teria de ficar no telefone, para atender informações dos médicos e fazer estatísticas. O objetivo era cadastrar o número de atendimentos feitos naquele dia. Alguns médicos ligavam para passar informações, outros não. Eu precisava falar com todos, do contrário os líderes saíam à caça daquele com quem eu não havia conversado. Quando terminei o relatório, 603 pacientes tinham sido atendidos. Na teoria, estávamos em 140 médicos na Bolívia, mas foi divulgado oficialmente que o grupo seria de 680. Então como poderiam ter sido feitas apenas 603 consultas? Acabei tendo que alterar os dados, já que o estabelecido era um mínimo de 72 atendimentos por médico ao dia. Os dados foram falsificados.
P - Como é a formação de um médico em Cuba?
R - Muito ruim. É uma graduação extremamente ideologizada, as aulas são teóricas, os livros são velhos e desatualizados. Alguns tinham até páginas perdidas. Aprendi sobre as doenças na literatura médica, porque não tinha reativo de glicemia para fazer um exame, por exemplo. Não dava para fazer hemograma. A máquina de raio-X só podia ser usada em casos extremos. Os hospitais tinham barata, ratos e, às vezes, faltava até água. Vi diversos pacientes que só foram medicados porque os parentes mandavam remédios dos Estados Unidos. Aspirina, por exemplo, era artigo raro. É triste, mas eu diria que é uma medicina quase de curandeiro. Você fala para o paciente que ele deveria tomar tal remédio. Mas não tem. Aí você acaba tendo que indicar um chá, um suco.
P - Como era feita essa “graduação extremamente ideologizada” que o senhor menciona?
R - Tínhamos uma disciplina chamada preparação militar. Ficávamos duas semanas por ano fora da universidade para atender a essa demanda. Segundo o governo cubano, o imperialismo iria atacar a ilha e tínhamos que nos defender. Assim, estudávamos tudo sobre bombas químicas, aprendíamos a atirar com rifle, a fazer maquiagem de guerra e a nos arrastar no chão. Mas isso não é algo exclusivo na faculdade de medicina, são ensinamentos dados até a crianças.
P - Como é o sistema de saúde de Cuba?
R - O país está vivendo uma epidemia de cólera. Nas últimas décadas não havia registro dessa doença. Agora, até a capital Havana está em crise. A cólera é uma doença típica da pobreza extrema, ela não é facilmente transmissível. Isso acontece porque o sistema público de saúde está deteriorado. Quase não existem mais médicos em Cuba, em função das missões.
P - Por que você resolveu fugir da missão na Bolívia?
R - Nasci em Cuba, estudei em Cuba, passei minha vida na ilha. Minha realidade era: ao me formar médico eu teria um salário de 25 dólares, sem permissão para sair do país, tendo que fazer o que o governo me obrigasse a fazer. Em Cuba, o paramédico é uma propriedade do governo. A Bolívia era um país um pouco mais livre, mas, supostamente, eu tinha sido enviado para trabalhar por apenas três meses. Lá, me avisaram que eu teria de ficar por dois anos. Eu não tinha opção. Eram pagos 5.000 dólares por médico, mas eu recebia apenas 100 dólares: 80 em alimentos que eles me davam e os 20 em dinheiro. A verdade é que eu nunca fui pago corretamente, já que médico cubano não pode ter dinheiro em mãos, se não compra a fuga. Todas essas condições eram insustentáveis.
P - Você pediu asilo no Brasil?
R - Pedi que o Brasil me ajudasse no refúgio. Aleguei que faria o Revalida e iria para o Nordeste trabalhar em regiões pobres, mas a Polícia Federal disse que não poderia regularizar minha situação. Consegui um refúgio temporário, válido de 1 de novembro de 2006 a 4 de fevereiro de 2007. Nesse meio tempo, fui à embaixada dos Estados Unidos e fui aprovado.
P - Após a sua deserção, sua família sofreu algum tipo de punição?
R - Eles foram penalizados e tiveram de ficar três anos sem poder sair de Cuba. Meus pais nunca receberam um centavo do governo cubano enquanto estive na Bolívia, mas sofreram represálias depois que eu decidi fugir.
P - Quando você foi enviado à Bolívia era um recém-formado. A primeira leva de cubanos no Brasil é composta por médicos mais experientes…
R - Pelo o que vivi, sei que isso é tudo uma montagem de doutrinação. Essas pessoas são mais velhas porque os jovens como eu não querem a ditadura. Eu saí de Cuba e não voltei mais. No caso das pessoas mais velhas, talvez eles tenham família, marido, filhos em Cuba. É mais improvável que optem pela fuga e deixem seus familiares para trás. Geralmente, são pessoas que vivem aterrorizadas, que só podem falar com a imprensa quando autorizadas.
P - Os médicos cubanos que estão no Brasil deveriam fazer o Revalida?
R - Sim. Em Cuba, os médicos têm de passar por uma revalidação para praticar a medicina dentro do país. Sou favorável que os médicos estrangeiros trabalhem no Brasil, mas eles precisam se adequar à legislação local. Além do mais, a formação médica em Cuba está muito crítica. Eu passei o fim da minha graduação dentro de um programa especial de emergência. A ideia era que eles reduzissem em um ano minha formação, para que eu pudesse ser enviado à Bolívia. O governo cubano está fazendo isso: acelerando a graduação para poder enviar os médicos em missões ao exterior.
Vejo forte coerência dessa entrevista com a realidade que está diante de meus olhos. Já cheguei a ter contato com cubanos, uma médica, que deu informações muito parecidas com essas da entrevista. Acredito que a ditadura cubana não consegue distorcer a verdade dentro de uma sociedade que coloca para os cidadãos narrativas contraditórias daquelas que eles querem anunciar como corretas.
Quem está disposto a se comportar orientado pela verdade, deve procurar analisar todas as narrativas existentes e confrontar com a realidade. Daí podemos ter um diagnóstico mais preciso para adotar a narrativa mais coerente. Vejamos um novo texto colocado dentro da atual polêmica dos “Médicos” cubanos:
Pequeno guia para não falar bobagem sobre o Mais Médicos
16 de novembro de 2018
Por Lara Stahlberg
Ponto 1 – O PMM não é um programa de contratação de médicos. É um programa global de fortalecimento da atenção básica no país e, para isso, conta com três eixos: infraestrutura (requalificação das unidades básicas para que tenham a estrutura necessária para o atendimento); readequação e expansão da formação médica (revisão dos currículos das universidades visando focar na medicina preventiva e não curativa, além de ampliar e descentralizar a oferta de vagas em cursos de medicina, prioritariamente pela rede pública) e, finalmente, o provimento emergencial de médicos (ou seja, “contratação” de médicos).
Ponto 2 – Os médicos do programa, todos eles, saem, depois de dois anos, com um título de especialização. Assim sendo, o médico do PMM não tem vínculo empregatício, pois integra um programa de formação em serviço. Logo, não faz sentido falar em CLT.
Ponto 3 – Os médicos cubanos atuam, em sua maioria, em locais em que brasileiros não querem atuar. Quando as vagas do programa são abertas, os primeiros a ser chamados nos editais são os médicos brasileiros formados no Brasil (com CRM); depois, os chamados intercambistas individuais, médicos brasileiros formados no exterior (importante notar aqui que são médicos que não têm CRM. Logo, não passaram pelo revalida que o presidente eleito quer forçar os cubanos a passarem). Só em caso de não preenchimento das vagas anteriores é que os médicos cooperados (no caso, os cubanos) são convocados.
Ponto 4 – Os médicos estrangeiros chegam não apenas para ocupar vagas que os brasileiros não querem ocupar (o que também é verdade), mas porque a formação médica atual não consegue atender à demanda de médicos no país.
Ponto 5 – A formação cubana em saúde é referência no mundo. Durante o governo Obama até os EUA tinham desenvolvido parcerias na área. A ELAM, escola de medicina da ilha, forma profissionais do mundo inteiro, incluindo brasileiros. Ainda assim, quando chegam ao Brasil, os médicos passam por um período de acolhimento, no qual são capacitados sobre o funcionamento do SUS, temas de saúde e português. Ao final desse período ainda passam por uma prova de admissão final. Logo, a revalidação demandada é surreal.
Ponto 6 (e talvez um dos mais importantes) – Os termos da cooperação são pactuados entre a Organização Pan-Americana da Saúde e o Ministério da Saúde de Cuba. Ninguém é “escravo” ou “obrigado a trabalhar” no Brasil. Os médicos recrutados são, em sua maioria, profissionais que já tiveram atuação humanitária em diversos países do mundo (como a crise do ebola na África ou países centro-americanos. Cerca de 25 mil profissionais atuam fora do país atualmente.
*Lara Stahlberg é Mestre em Brasil em Perspectiva Global pelo King’s College London. Tema da dissertação: International cooperation and health policy: An analysis on the design and implementation of the Mais Médicos Programme in Brazil.
Parece que estamos falando de dois tipos de medicina: uma focada nas especialidades, que aprofundam o conhecimento, da fisiopatologia das células, órgãos e sistemas, do desenvolvimento de novas técnicas terapêuticas, psíquicas, químicas e fisiológicas, que implicam em laboratórios e hospitais com gente bem treinada e equipamentos de ponta; a outra medicina é focada nas necessidades básicas da população, nas doenças causadas por falhas na educação, higiene, condições socioeconômicas, etc. A primeira medicina exige um tempo de graduação de 6 anos, de pós-graduação de 4 anos, e talvez pós-doctor e outros treinamentos dentro e fora do pais ao longo da vida profissional. A segunda medicina necessita de um tempo menor, em torno de 4 anos, para apresentar ao futuro profissional as doenças que acometem a população de baixa ou nenhuma renda, de baixo ou nenhuma escolarização, como tratar e/ou encaminhar esses casos e que possam residir no local de trabalho. Isso justificaria nenhum desses médicos terem a competência para assumir um cargo num hospital preferido pelas autoridades que os equiparam com os primeiros, e correm para uma assistência tipo Sírio-Libanês.
Focando esse aspecto, seria necessário o esclarecimento do tempo de formação de cada profissional que viesse a trabalhar conosco, com suas devidas denominações. Seria também importante que o país tivesse a preocupação de formar esses profissionais com um menor tempo de estudo para o enfrentamento das doenças de nossa população carente, mas sem desvirtuar o compromisso da Universidade com a especialização e o avanço da ciência médica. Seria mais eficaz, mais honesto, mais econômico e mais seguro a formação desses profissionais dentro do Brasil, sabendo a carga horária que eles teriam de cumprir, o local onde iriam atuar e o salário que iriam receber. Acredito que não iria faltar candidatos, professores e a própria Universidade poderia gerir dentro da academia a formação desses novos profissionais.
O PMM do jeito que está sendo aplicado, principalmente em relação a Cuba, ao meu ver, está indo de encontro aos direitos fundamentais daqueles profissionais que chegam até nós e dos nossos compatriotas, pela falta de transparência de que tipo de profissional está chegando, que desperta o nosso alerta de defesa de nossa soberania.
Vejamos agora uma narrativa que circula na internet e que inclui a formação de “médicos” em alguns países de orientação comunista/socialista:
AS ORIGENS DOS “MÉDICOS” CUBANOS
Na antiga União Soviética (URSS) existia uma figura no serviço público de saúde denominada "Feldsher", ou Feldscher em alemão, cujo significado literal era "aparador do campo". Os feldsher soviéticos eram profissionais da saúde, formados em "saúde básica", que intermediavam o acesso do povo à medicina oficial, em especial nas áreas remotas, rurais e periferias soviéticas, sendo uma espécie de práticos de saúde, ou paramédicos como são chamados hoje em dia, e exerciam cuidados básicos em clínica, obstetrícia e cirurgia às populações dessas regiões.
Sua inspiração e nome derivavam dos feldscher alemães que surgiram no século XV como operadores de saúde (cirurgiões barbeiros) e com o tempo se espalharam ao longo do que foi o império prussiano e territórios eslavos, compondo a linha de frente também nas forças militares, sendo uma espécie de força militar médica nesses exércitos eslavos e saxões.
Em vários países foram adotados como profissionais da linha de frente, atuando sempre nos cuidados básicos e em alguns casos chegando a se especializar em alguma prática específica, como optometria, dentista e otorrinolaringologia. Na Rússia começaram a se popularizar a partir do século XVIII.
Diferentemente dos médicos, os feldsher possuíam uma formação mais curta e limitada. A duração do curso era de 4 anos e envolvia basicamente treinamento em ciências básicas e treinamento simples em ciências médicas clínicas, em especial medicina interna, serviço de ambulância e emergência pré-hospitalar e sempre tinha um espaço para treinamento militar, em campo de treinamento do exército, pois os feldsher estavam na linha de frente da nação, nas fronteiras.
Eram 8 anos de colégio mais 4 em treinamento prático, considerados, portanto de nível técnico. Era um treinamento um pouco melhor que a de enfermeira, cujo foco era mais os cuidados básicos de saúde e técnicas/procedimentos de enfermagem.
Os médicos soviéticos, ao contrário, levavam pelo menos 10 anos de colégio mais 7 anos de faculdade com carga horária total pelo menos duas vezes maior (estudavam todos os sábados). Apesar do tamanho valor de formação, seus salários eram ridículos, pois o regime socialista os considerava "servos do povo".
O sistema cubano de ensino médico reproduziu, a partir do encampamento da Revolução Cubana pela URSS em 1961, esse sistema de formação em saúde. Os médicos cubanos, de verdade, ficam lá em Cuba, em sua maioria. O que Cuba "fabrica" aos milhares, todos os anos, com projetos como a ELAM e demais faculdades, em cursos de 4 anos, não são nada além da versão cubana dos "feldsher" soviéticos. São paramédicos treinados para atuar em linha de guerra, campos remotos e áreas desprovidas em geral.
A diferença é que Cuba "chama" esses feldsher de "médicos", inflando artificialmente a sua população de médicos. Com essa jogada, Cuba possui um dos maiores índices de médicos por habitante do planeta. E isso permitiu outra coisa ao regime cubano: usar esses feldsher como agentes de propaganda de sua revolução e seus interesses não apenas dentro, mas fora de seu território.
Ao longo de décadas o regime cubano vem fazendo uso do empréstimo de mão-de-obra técnica, paramédica, porém "vendida" como médica, para centenas de países a um custo bilionário que fica todo com o regime cubano. Literalmente, como na URSS, os feldsher são "servos do povo" (no caso, leia-se "povo" como Partido Comunista de Cuba).
Recentemente a presidente Dilma lançou um demagógico e absurdo projeto de "resgate da saúde" do povo brasileiro às custas apenas da presença de "médicos" em locais desprovidos dos mesmos, aliás, por culpa do próprio governo.
Em vez de pegar os médicos nacionais, recém-formados ou interessados, e criar uma carreira pública no SUS e solidificar a presença do médico nesses povoados, ela resolveu importar feldsher cubanos a um preço altíssimo, travestidos de médicos, ao que seu marketing chamou de "Mais Médicos". Diante da recusa inicial, simulou-se uma seleção de nacionais, dificultada ao extremo pelo governo, para depois chamar os feldsher.
O objetivo aqui é claro: o alinhamento ideológico entre os regimes, o uso de "servos do povo" para fazer propaganda do governo, encher o bolso dos amigos cubanos de dinheiro e evitar a criação de uma carreira pública que poderia ser crítica e demandadora de recursos. Como não podiam se assumir como feldsher, jogaram um jaleco, os chamaram de médicos e os colocaram para atuar como médicos de verdade.
Por isso as “cubanadas” não param de crescer. Por isso os erros bizarros, os pânicos diante de pacientes sintomáticos. Os cubanos não são médicos, são feldsher - agentes políticos com treinamento prático em saúde - que vieram ao Brasil cumprir uma agenda política e, segundo alguns, eventualmente até mesmo militar.
São paramédicos. Isso explica as "cubanadas". Se houvesse decência no Ministério da Saúde da gestão petista, retirariam o termo "médico" desse programa e seria mais honesto. Mas honesto não ganha eleição nesse país."
Fonte: Portal do Conselho Federal de Medicina em http://portal.cfm.org.br
De todo esse texto, parece que observamos que uma afirmativa, a última, “Mas honesto não ganha eleição nesse país.”, não é verdadeira, isto é, a última eleição mostrou que uma pessoa honesta pode ganhar a eleição no país, mesmo que tenha tido o “Dedo de Deus”. Felizmente essa pessoa também tem a visão militar e compreendeu bem a estratégia que estava sendo montada para dobrar os joelhos da nação à ideologia castradora do socialismo.