Recebi um texto que faz a reflexão de “O Fantasma da Ópera” na perspectiva de uma pessoa muito querida, talvez ela me colocando na posição do Fantasma e ela mesma na condição de Christine, a protagonista. Não vou reproduzir na íntegra esse texto que ela me enviou, mas tentarei colocar suas palavras modificadas para o entendimento atual de quem agora está lendo, com o máximo de esforço para não ser infiel aos sentimentos e pensamentos de quem o fez.
Ao ouvir pela primeira vez “O Fantasma da Ópera” apaixonei-me perdidamente. As impactantes notas iniciais e o crescendo em desespero dos acordes finais ressoam no fundo d’alma, tornando-a inesquecível. Assisti ao filme na Net, em muitos momentos a emoção falou mais alto e marejei os olhos. Toda a história ressalta a dualidade presente no ser humano, tais como fortaleza e fragilidade, beleza e feiura, amor e ódio, disfarce e exposição, e outras de caráter antagônicas. Assim também explora a redenção da fera quando obedece ao preceito de abrir, por amor, a mão fechada seguindo um viés da linha de pensamento de Nietzsche quando diz “pois isso é o mais difícil de tudo: fechar, por amor, a mão aberta”.
O querer bem dá a tônica igualitária do abrir ou fechar, aproximando esses pensamentos aparentemente contrários.
A história gótica tocou-me em pontos sensíveis. Pensei em quantos de nós, em algum momento de nossas vidas, não sentimos que em nós mora um outro a quem percebemos como um ponto de extensão pela semelhança no pensar, falar e agir, que sentimos como pessoas afins.
Há passagens fortes na história. Uma delas nos mostra como a dominação/dependência emocional pode ser bem mais forte que a física, quando ela canta:
...e apesar de se afastar de mim para olhar para trás
o fantasma da ópera está lá, dentro da sua mente.
Será totalmente estranho isso? Não nos pegamos vezes sem conta com lembranças recorrentes de alguém em momentos até mesmo inusitados a tonalizar nossos sentimentos e comportamentos? É salutar que identifiquemos noutrem características que admiramos, que sabemos não possuir, ou possuímos, mas que é alavancada por influência alheia e que acabam servindo de cimento nas relações.
Quanto mais essa influência provoca bem estar, mais aceitamos e até mesmo desejamos que continue. Porém, se chega a um ponto de conflito, procuramos incessantemente nos afastarmos da fonte que nos angustia. O fantasma está lá, mas queremos exorcizá-lo.
O momento crucial da percepção de que devemos nos livrar de algo que nos pesa no âmago, que nos prende qual âncora ao fundo do nosso mar interior e que nos impede de seguir em frente, se dá quando a protagonista resolve aconselhar-se com o espírito do pai e vai até a sua cripta no cemitério, confessando a falta que ele lhe faz e do quanto gostaria de sua presença novamente, mesmo sabendo que precisa dizer adeus: ela deve seguir sozinha, sem tutores, sem anjo da música a orientá-la, já que continuar a segui-lo, aceitá-lo como parte integrante do seu ser, seria renunciar ao amor do namorado de infância, com quem pretendia dividir a vida, para desespero e ódio do Fantasma que a sentia como uma extensão de si, mostrando-se ao mundo através dela, exigindo-lhe dedicação integral à música e desenvolvendo o sentimento de posse, o que a fez sentir-se desconfortável, acima mesmo da gratidão por ele guiá-la e protegê-la. De modo pungente ela se posiciona para o pai mostrando que chegou seu limite, mas reconhecendo que precisa de ajuda para poder partir:
...por que o passado não pode simplesmente morrer?
queria que voce estivesse aqui de novo
sabendo que temos de dizer adeus.
...........
basta de lembranças
basta de lágrimas silenciosas
de ficar olhando para os anos perdidos
me ajude a dizer adeus.
O grande desafio nas relações é equilibrar as porções Fantasma (influenciador) e Christine (influenciada) que temos em maior ou menor grau. Como ela, sabemos que tomar as rédeas da própria vida é necessário, é libertador, mas não deixa de nos provocar anseios. Estaremos expostos a vendavais, muitas vezes inseguros com as escolhas que fazemos sozinhos, desconfortáveis diante do estou aqui que não ouvimos mais. Mas seguimos, é a lei natural, e todo ser tutelado anseia por liberdade e se revolta diante da tentativa de dominação, aprisionamento, sujeição, substituindo os bons sentimentos por maus, o desejo de ficar perto pela urgência em afastar-se, especialmente quando nos frustramos com nossos ídolos de barro em quem confiamos sem reservas:
adeus, meu ídolo caído e falso amigo
anjo da música, voce me enganou
entreguei-lhe a minha mente sem questionar
........
As lágrimas que posso ter derramado pelo seu trágico destino
Tornam-se frias
E transformam-se em lágrimas de ódio
Em pessoas não eminentemente carnais e que priorizam o afeto em desfavor da aparência, são as deformações morais que provocam repulsa e causam piedade as de cunho físico. Quando rejeitados tendemos a pensar que fomos deixados à beira do caminho por nossas feiuras corpóreas, mas quase sempre o comportamento é o responsável por tal, confirmado aqui quando o Fantasma brada:
(...) este rosto, esta infecção que envenena nosso amor.
... referindo-se a ela preteri-lo em função do seu rosto desfigurado de nascença, ao que ela responde:
este rosto assombroso não me causa mais horror
é na sua alma que está a verdadeira distorção
E como ela entende o peso de uma vida de rejeição, e por saber que uma migalha de afeto redimiria aquele homem que fez dela sua vida (como tantos que não tem vida própria e vivem a de outros, sufocando-os) e livraria seu amado da morte, ela aproxima-se e o toca na face deformada, com piedade cristã:
pobre criatura da escuridão
que tipo de vida voce conhece?
Deus me deu coragem de lhe mostrar
que não está sozinho.
E o beija. Diante do olhar surpreso dele ela o beija novamente e um incipiente sorriso de felicidade se transforma em amargura e arrependimento por forçá-la a fazer quase uma “escolha de Sofia”, já que ficando com ele seu amado viveria, mas ela morreria em vida ao seu lado na eterna noite do subterrâneo do Ópera de Paris. Percebe claramente que no gesto dela há piedade por ele e sacrifício pelo outro e é aí que vem a redenção pelo amor: ele a tinha na mão, mas por amor a abriu... e os deixou ir para a vida.
Se há tempos não sentia tanta emoção ao assistir um filme é que também tenho um Fantasma da Ópera dentro da minha mente que fala e não se mostra e mesmo quando silencia continua a falar.
A mim só faltou ao lado uma mão para apertar...
Eis o Fantasma da Ópera cuja alma a minha querida revestiu a minha. Por curiosidade fui procurar no Youtube se existia o filme, ainda não o conhecia, apesar de conhecer tantos filmes. Por ironia encontrei a versão de 1925, a década de lançamento do filme trocada pela década do meu nascimento, 1952. Será que ela estava com a razão? Seria a alma daquele homem semelhante à minha e o que ele fez com Christine eu estaria fazendo a ela?
Sim, reconheci de alguma forma que trago alguma semelhança com esse Fantasma, mas na essência do pensamento, sentimento e ação existem muitas diferenças que o olhar dela não captou e, talvez, como o Fantasma da Ópera, ninguém consiga captar a essência desses meus sentimentos.
Deixarei o meu “Fantasma” falar amanhã, hoje já é muito tarde...
O amor é como um prisma que fraciona a energia dos sentimentos em miríades de vibrações que a partir do coração preenche o nosso corpo, mente e alma e se dilui no espaço por onde caminhamos, com as pessoas que se tornam nossos companheiros, eventuais ou constantes. Existem as vibrações pesadas, ligadas à terra, aos interesses espirituais. Existem as vibrações sutis ligados ao céu, aos interesses espirituais.
Quando o amor funciona gera dentro de nossa consciência todos os efeitos vibracionais dos sentimentos, grosseiros ou sutis. Como fazer para separar as vibrações grosseiras que nos arrastam para baixo, para o inferno da materialidade, e deixar prevalecer as vibrações sutis, que elevam nossa alma em direção a Deus? Se essas vibrações estão intricadas umas dentro das outras? Como amar e odiar ao mesmo tempo? Como viver no paraíso e logo em seguida mergulhar no inferno? Se não soubermos separar e administrar com justiça e firmeza essas vibrações que surgem às vezes com a força das paixões, iremos irremediavelmente cair dentro dessa gangorra existencial.
Um exemplo disso que estou querendo relatar é a obra literária de Gaston Leroux, “O Fantasma da ópera”. Ele é um ser deformado que se esconde atrás de uma máscara e vive nos subterrâneos de uma ópera em Paris, onde tudo de ruim que acontece é sua a culpa. Exige dos administradores uma quantia para que os espetáculos possam ser exibidos e que seja reservado o camarote número cinco.
Christine, a bailarina, descobre que o seu guia, um “Anjo da Música” é na verdade Erik, o fantasma que aterroriza a ópera. Descobre que ele é fisicamente deformado, razão pela qual usa uma máscara para esconder a sua deformidade. Vendo a verdadeira imagem de Erik, ela entra em choque, e Erik decide prendê-la em seu mundo, dizendo que somente a deixará partir se ela prometer não amar ninguém além dele e voltar por vontade própria.
Acontece que Christine passa a enfrentar uma luta interna entre o seu amor por Raoul, desde a infância, e a fascinação pelo gênio musical do Fantasma. Ela decide se casar com Raoul em segredo e fugir de Paris e do alcance do Fantasma. Mas o seu plano é descoberto e termina sendo raptada do palco pelo Fantasma e levada para os labirintos embaixo da ópera. Raoul tenta salvar Christine que está sendo forçada a fazer uma escolha entre o Fantasma e ele. Christine escolhe Erik com o intuito de salvar a vida das pessoas da ópera, dizendo ao Fantasma que concordará em ser a sua esposa se ele libertar Raoul.
Christine se comporta como uma verdadeira noiva para o Fantasma. Ele lhe dá um beijo na testa e ela aceita sem rejeitá-lo ou demonstrar horror. Esse ato simples faz o nível vibracional do amor do Fantasma modificar radicalmente e lhe traz uma alegria imensa. É a primeira vez na sua vida que foi tratado como uma pessoa comum. Nesse momento a qualidade etérea do amor mostra toda sua magnitude. Faz ele mudar de ideia e diz que Christine pode ir embora e se casar com Raoul, e que ele, Erik, não passa de um animal aos seus pés, pronto para morrer por ela.
Podemos ver assim toda a dimensão vibracional do amor fazendo as pessoas se comportarem como anjos ou demônios.
Cada pessoa tem o seu prisma de amor incrustado em conceitos e preconceitos, que fazem esse prisma desviar para mais ou para menos os sentimentos vibracionais que motivam comportamentos coerentes ou incoerentes.
O trabalho é visto como uma ação necessária, que todas as pessoas competentes devem realizar, nos mais diferentes níveis e especializações. É o motor que dinamiza e faz avançar a sociedade, da mesma forma que faz avançar cada indivíduo.
Desde pequeno, quando eu ainda era criança, estava envolvido com o trabalho. De início era um trabalho doméstico, de arrumar a casa, varrer, lavar pratos... mesmo sendo menino, não tinha nenhum prurido em fazer esses trabalhos de características femininas, até gostava de fazer, e o fazia com esmero, cuidado, dedicação. Tudo que eu fazia era digno de elogio, pois ficava na perfeição que eu conseguia alcançar. A medida que eu crescia, outros trabalhos eu ia assumindo: carregar água nas costas, com um galão que suspendia duas latas de 20 litros, para dentro de minha casa e para vender aos vizinhos; trabalhava também vendendo balas e cigarros num carrinho que eu podia levar pela cidade e estacionar onde tivesse mais fluxo de gente. Esse local era geralmente o pequeno e disputado cinema de minha cidade, Macau. Acostumei com esse trabalho a ter contato com os cartazes do cinema, com as revistas, guris e semanários femininos, as românticas, Sétimo Céu, Capricho, etc. Daí formou-se no meu psiquismo uma boa associação do trabalho com o cinema e a literatura.
Continuei os meus estudos e cada vez ia me capacitando a exercer cargos e trabalhos mais complexos. Fui servir à Marinha do Brasil aos 18 anos e esta minha disposição pela leitura, pelo conhecimento, fez com que eu desse um salto qualitativo nesse trabalho. De uma previsão de servir à Marinha como taifeiro ou barbeiro, saltei para a sala da secretaria do Hospital Naval de Natal, onde devido a minha boa pontuação na Escola de Formação de Marinheiros eu pude escolher, ao invés de embarcar num navio. Pude assim continuar a estudar em terra e me capacitar para a profissão de médico.
Comecei a trabalhar como médico em comunidade recém criada no meu município e aliei ao meu trabalho profissional a atividade política. Fui presidente de Conselho Comunitário do Conjunto Santa Catarina e secretário do Partido Democrático Trabalhista em minha cidade.
Atualmente estou colocando cada vez mais a força do meu trabalho naquilo que considero ser a vontade de Deus. Portanto, o meu trabalho não tem o objetivo de ser acumulado na forma de poupança e bens materiais. Tudo que adquiro como fruto do trabalho considero que foi Deus que colocou em minhas mãos, através do meu corpo que Ele usa como Seu instrumento, com a minha permissão. Claro que não serei irresponsável com esses recursos que tenho que administrar, pois o Pai está sempre observando minhas ações e sondando meu coração. Não permitirei que eu seja usado por quem quer que seja para usufruir bens ou qualquer tipo de vantagem em detrimento de outras pessoas, que tenha um caráter de injustiça.
Sei que essa visão e forma de me comportar exige que eu execute um trabalho extra para cobrir compromissos extras que surgirão. Sei que esse esforço não está me trazendo nenhum benefício material, pois eu não procuro retê-lo, sem utilidade, ao meu à dispor a qualquer hora. Tenho sim, reservas estratégicas, mas nada de forma exagerada, que não tenha um caráter solidário... divino.
Sei que essa é mais uma característica do meu comportamento que difere da “normalidade” do resto das pessoas. Não vejo também ninguém ao meu lado que se comporte dessa forma com o fruto do seu trabalho. Mas vejo que tudo isso está devidamente coerente com a vontade de Deus que eu já absorvi na minha consciência como se fosse a minha vontade.
Recebi a indicação de um colega para a leitura do livro “Escritos de Santo Inácio de Loyola – Exercícios Espirituais”. Não encontrei nas livrarias, mas fiz o pedido e o livro chegou no fim do mês passado. No começo da leitura vi que foi mais uma ação de Deus a favor de meu crescimento espiritual e da minha disposição de caminhar em Sua direção. O livro chega exatamente neste mês que pretendo fazer a quarentena espiritual a partir do dia 18, com um rigor maior do que fiz no ano anterior.
Observei que o livro está disposto para ser usado em quatro semanas, com toda metodologia voltada para a educação do espírito em sintonia com o Criador. Sugere que a pessoa que vai ser instruída, tenha um preceptor para orientar os estudos práticos e teóricos. No meu caso, penso em evocar o meu Anjo da Guarda para me servir intuitivamente como preceptor, já que seria impraticável para eu ir à busca de um preceptor presencial. O texto não fala de “retiro”, mas tem essa conotação quando se entende a pessoa dentro dos Exercícios Espirituais. Fala “daquele que recebe os Exercícios” e “daquele que dá os exercícios”, implicando que existe uma relação aluno-professor. Por isso, vou iniciar os exercícios com a compreensão que estarei sempre intuído pelo meu Anjo da Guarda como “aquele que me dá os exercícios”, o meu preceptor.
A expressão “Exercícios” quer referir-se a todos os elementos humanos que surgem na consciência do exercitante, para que aconteça a morte do eu egoísta e uma abertura total para Deus. Devo me deparar com as afeições desordenadas, as aspirações profundas, os instintos animais, que tendem a me distanciar de Deus.
Buscar e encontrar a vontade divina é a finalidade última dos Exercícios Espirituais, mesmo que eu já possua certa clareza com relação a esta vontade para a minha vida.
Os Exercícios Espirituais são, no seu conjunto orgânico, uma pedagogia espiritual mediante a qual se dá espaço para que os Espíritos Superiores (sob o comando do Espírito Santo de Deus) possam atuar, instruindo, movendo e robustecendo o exercitante. É preciso que o Espírito Santo seja o mestre interior que orienta a pessoa: ora chamando a atenção para um aspecto do assunto proposto; ora despertando sua memória para algo já conhecido, relacionando com o que está aprendendo; ora iluminando ou propondo algo para a vida através das moções espirituais.
Toda luz desce do alto, do Sol da Inteligência divina. É ela que nos ilumina e nos faz participar dos dons divinos. Isso quer dizer que o meu Anjo da Guarda, na condição do meu orientador ou preceptor, não deve interferir de maneira alguma na comunicação divina, de Deus para comigo. O meu Anjo da Guarda não pode transmitir inadvertidamente, suas próprias convicções para mim. Eu devo agir sempre sob a graça de Deus, tentando descobrir com clareza o que Ele espera de mim.
Nos Exercícios, a comunicação pessoal com Deus se estabelece pela união das vontades, a minha e a dEle, pela comunhão vital do Amor Incondicional. A minha vontade é uma inclinação da minha alma que me leva em direção ao Amor, que é a essência do Criador. Por causa desse contato mais íntimo, do diálogo mais pessoal, devo exigir da minha parte maior respeito e reverência para com Deus, pois Ele vai se encontrar muito mais presente na minha vida durante todo esse retiro espiritual, que consiste a aplicação desses Exercícios.
Entrei numa fase em que passou a existir um forte apelo pela militância política, tendo em vista o alto grau de corrupção e de desmantelamento das instituições democráticas, com o atrelamento partidário de setores importantes da máquina estatal. Observando o que acontece nos países vizinhos e percebendo que existe todo direcionamento para fortalecer aquele tipo de política ali empregada, inclusive trazendo o modelo para o meu país, recebi um vídeo de uma militante latino-americana que abordava esse assunto e que vou reproduzir abaixo, devido ao seu alto conteúdo educacional e esclarecedor para a consciência política dos cidadãos.
“Muito obrigada a todos, ao Comitê Organizador, a todas as instituições de Zaragoza que nos receberam aqui.
Queridos amigos e companheiros latino-americanos. Creio que os desafios que temos neste primeiro Parlamento Líbero Americano são bem grandes, e a proposta que quero fazer, especialmente retomando o que o Dr. Florentino acaba de nos passar, é acabar com o Populismo através da tecnologia. E vou explicar por que.
Há debates sobre esquerdas e direitas, o que de fato é muito utilizado pelos populistas, do que pelas pessoas que estão tentando resgatar as instituições.
O Populismo que é praticado com as pessoas que convivemos, e compartilhado com as pessoas que interagimos, a primeira ação que faz é acabar com as instituições, pouco a pouco. Reescrever constituições para poder adequá-las aos desejos de diferentes líderes, corruptos, que temos na América Latina.
O Populismo, no entanto, não existe por casualidade. E também cabe a nós, não só denunciar as atrocidades que o Populismo comete contra as nossas instituições, mas também reconhecer o péssimo trabalho dos sistemas governamentais anteriores, que levaram à crise absoluta, às pessoas e às populações, que em desespero recorreram a esses líderes. Às vezes por vias democráticas, e que por isso, justificam sua permanência no poder.
Por isso, creio que mais que a batalha entre a esquerda e direita, nós que somos contra o Populismo, devemos falar de Populismo versus República. Por que a República é que realmente garante a institucionalidade do Estado.
Desde os tempos antigos dos gregos, filósofos como Sócrates e Aristóteles, viram os defeitos da Democracia. E por que viram? Porque há três direitos fundamentais e irrenunciáveis a cada um de nós. Nossa vida, através da qual podemos exercer nossos projetos. Nossa liberdade, através da qual podemos nos expressar, podemos comercializar, podemos trabalhar, podemos nos mobilizar para possuir a crença de nossa preferência, e poder expressar assim também nossos sistemas políticos, e o que esperamos de um governo. E por último, nossa propriedade privada. E nossa propriedade começa pelo nosso corpo. Pela nossa integridade. Nossa propriedade é o acúmulo desde o dia em que nascemos até o dia em que morremos, de todas as coisas que conseguimos realizar.
Estes três direitos, no entanto, podem existir em cada um de nós sem impedir os direitos de outra pessoa. Agora, e quanto aos outros direitos? Como por exemplo, direito à saúde, à educação, à vestimenta, e a uma série de direitos que foram exigidos pelos povos de cada um dos nossos países, e que não foram atendidos.
O problema desses direitos, e que os gregos já viam desde aquela época, é que eles precisam de uma renúncia prévia, do direito de propriedade de alguém, antes de serem outorgados. E é aí que nossos governos falharam. Porque ao falar que todos têm direito a essas coisas, nunca foi estipulado quem deveria renunciar a certos direitos para outorgar aos outros. E desse mal estar, é que nossos povos decidiram recorrer aos regimes totalitários e populistas que vemos hoje. Independente da nossa ideologia política, sejamos liberais, ou sejamos social-democratas, devemos reconhecer que esse é um debate necessário para a região. Se vamos dar direitos, de onde vamos tirá-los? E com que recursos vamos pagá-los? Por que se isso não for estabelecido, nossos povos vão seguir interminavelmente vendo nestes líderes a resposta e a solução.
Gostaria de retomar o que disse o Sr. Florentino sobre sua definição de Populismo. Ele disse que é o atalho pelo qual jogamos com paixões, ilusões e ideais do povo, para prometer o impossível, aproveitando-se da miséria das pessoas, deixando de fora, absolutamente, toda a razão e a lógica na tomada de decisões. Joga com a necessidade, para simplesmente impor uma ditadura. Joga com a necessidade dos nossos povos, e isso foi algo que os gregos previram. Desde que disseram: “Há três tipos de governo.” Onde há um governante, que se chama Monarquia, e pode acabar virando Ditadura. Onde governa um grupo, que se chama Aristocracia, e pode acabar virando Oligarquia. E nós da América Latina conhecemos bem isso. Porque nossos aristocratas, nossas elites, acabaram virando Oligarquias. Ou há uma Democracia, onde todos governam, que acaba degenerando numa Demagogia, algo que nós também conhecemos.
Quando os gregos viram essas três formas de governo, se deram conta que a República era a resposta. Porque a República dava essas três institucionalidades. O monarca na forma de presidente, a Aristocracia na forma de um Parlamento, e a Democracia como veículo e via de comunicação. É por isso que a República anula os vícios de cada uma das três formas de governo, para agrupar as três, e formar a institucionalidade que o Populismo, hoje, está destruindo.
Por isso o chamado que quero propor à vocês, é que acabemos com o Populismo através da tecnologia. E por que através da tecnologia? Porque hoje mesmo falamos, de que as mudanças que estão surgindo nos nossos países, e que estão surgindo com a tecnologia, não estão sendo acompanhados pela educação necessária. E o que acontece se eu passo a receber novas possibilidades, novas formas tecnológicas de me comunicar com o mundo, mas ao mesmo tempo não me educo? Não tenho prioridades claras. Por isso em nossos parlamentos, já não se trocam ideias, a razão e a lógica já perderam a importância que deveriam possuir. Já não há respeito pela discussão, por deixar de fora as falácias. E nossos líderes populistas anulam toda razão e toda lógica de seus argumentos, aumentando paixões. E nós também temos que utilizar uma paixão. Uma paixão pela educação, uma paixão pela troca de ideias, paixão pelo conhecimento, por querer ser pessoas e indivíduos com o poder da verdade. Por que outra coisa que o Populismo faz, é anular a dignidade das pessoas. Faz as pessoas se sentirem incapazes e sem dignidade para governar suas próprias vidas. Faz elas pensarem que precisam de um líder, para controlar absolutamente tudo, para poderem seguir adiante.
A definição do florentino também defende algo que nós do movimento dizemos. O Populismo ama tanto os pobres, que os multiplica. Porque o que busca, é essa multiplicação de miséria, para seguir recebendo um voto, através de qualquer objeto material que naquele momento as pessoas precisem.
Qual o desafio? Como fazemos? Para que um povo onde a Pirâmide de Maslow está no nível mais baixo, veja na República, a resposta institucional que as gerações futuras precisam para não seguir nesse ciclo de pobreza.
A admiração que há em países como o meu, pelo Regime Cubano, pelo Regime Venezuelano, é absurda. Essa admiração não é seguida pela razão e pelo conhecimento. São poucos os guatemaltecos que reconhecem, por exemplo, que em Cuba, um engenheiro civil prefere ser taxista. São poucos os guatemaltecos, as pessoas da América Central, os latino-americanos em geral, que veem no Regime Chavista as atrocidades e as violações de direitos que estão sendo cometidas, porque tudo que veem é: lá tem educação de graça, lá tem saúde de graça. Nada é de graça. Tudo é pago com algum dinheiro. E quando não há institucionalidade, é quando começa a corrupção. E quando ela começa, todo um sistema perde suas virtudes.
No caso de Guatemala, temos eleição ano que vem, e infelizmente, as três pessoas que vão chegar a presidência, os três candidatos que melhor se encaixam, vão pela via populista. Sejam de esquerda ou de direita. Porque outra coisa que temos de reconhecer, é que o Populismo está impregnado em todas as ideologias.
O mecanismo que os populistas usam é seguir com esse discurso. Você está mal, porque alguém está bem. E o que temos que resgatar, é que todos podemos estar bem. Que o fato de que uma pessoa acumula riquezas, não impede a outra de acumular também. Mas para isso precisamos de instituições. Precisamos de segurança jurídica. Precisamos de um Estado correto. E acima de tudo, resgatar nos nossos parlamentos, o respeito e admiração pelo debate de ideias com argumentos baseados na lógica e na razão. Mas um povo que não tem educação, não vai exigir de seus políticos um debate com lógica e razão, com argumentos, e será facilmente manipulado através das paixões.
As ferramentas que proporcionam a Era de Conhecimento são a chave. Utilizar as redes sociais, a tecnologia, e a facilidade de comunicação que temos com apenas um clique entre todo o continente, onde compartilhamos o mesmo idioma, compartilhamos a cultura, que compartilhemos agora uma troca de ideias, para começar a expor e acabar com o Populismo pelo que ele é, uma postergação da pobreza, da ignorância e de manter os povos submissos, sob a ilusão de que só os bens materiais importam ao votar.
É por isso, amigos, que lhes proponho, que no dia de amanhã ao assinarmos a Declaração de Zaragoza, todos, como os líderes latino americanos que somos, nos comprometamos a acabar com o Populismo utilizando a tecnologia, e usando como ferramenta a República, que é o único sistema que realmente resgata as instituições, baseando-se na razão, na lógica, nos argumentos, e na troca de ideias.
Muito obrigada.”
Eis uma palestra bem lúcida, objetiva, que foca os principais problemas que sofremos na atualidade brasileira e latino-americana e que aponta os caminhos mais racionais, sem qualquer tipo de radicalismo inconsequente, para a correção dos nossos rumos políticos.