Existe uma crítica muito severa que dura vários séculos e que já foi motivo de conflitos conceituais dentro da igreja católica. É a questão de Maria, Nossa Senhora, ser ou não a mãe de Deus. Por uma questão de lógica, Deus como ser supremo, incriado, que sempre foi formado, Deus não pode ter sido criado por ninguém.
No livro de Taylor Caldwell, “O grande amigo de Deus”, ocorre um diálogo quanto a isso que mostra a opinião de Paulo e de certo modo a opinião da igreja que o venera:
Como Elias foi levado para o Céu no carro de fogo – disse Barnabé – e Nosso Senhor ascendeu perante nossos olhos, também Maria subiu quando morreu na casa de João. Estávamos lá quando ela faleceu e foi amortalhada, ajoelhamo-nos junto do seu leito, rezando, ouvindo-se repentinamente um barulho enorme, maior que qualquer trovão, pois sacudiu a pequena casa, viu-se um a luz mais forte que a do sol e caímos de rosto no chão, mudos, cegos e sem sentidos. E quando nos erguemos, aturdidos, o leito estava vazio, com apenas um resplendor de luz nele, que esmaeceu enquanto o olhávamos.
Saul ficou instantaneamente incrédulo, embora os outros tenham curvado as cabeças, ficando de rostos iluminados.
- Como! - Exclamou. – Uma simples mulher recebeu honra tão divina! Não acredito. Voce estava louco de dor e desejando muito um milagre...
- Por que então – perguntou Barnabé – seu corpo desapareceu?
- Quem sabe? – respondeu Saul, encolhendo os ombros. – Os que queriam um milagre ou desejavam mostrar coisas sobrenaturais levaram-na enquanto voce estava meio aturdido
Subitamente. Lembrou-se ter proferido palavras semelhantes quando seu primo Tito Milo lhe contara a ressurreição do Messias. Mas encolerizou-se. Que tinha uma mulher, uma simples mulher, a não ser dar seu corpo virgem ao Senhor? Apesar de Lia, Judite, Raquel, Rute e Sara, amadas por Deus, tivera favores tão divinos. Ele havia rezado inúmeras vezes no túmulo de Raquel em Jerusalém e pensou que , apesar de sua excelente nobreza e grandeza, ela morrera e apodrecera como milhares de mulheres antes dela. Era verdade que Maria tinha sido escolhida entre todas as mulheres para dar nascimento ao Messias e O cobrira com sua carne, deu-Lhe seu sangue e seu leite, mas fora apenas, como Lucano lhe dissera, “a criada do Senhor”, uma humilde moça galiléia, embora da casa de Davi. Não passara de uma mulher, de pouca confiança, o rio no qual a Graça tinha viajado como uma nave branca. Quem honrava as águas que conduziam a velas e o Passageiro? O rio não passava do caminho inevitável.
Foi aí que uma fria tristeza espalhou-se pelos rostos das visitas.
- Voce esqueceu – disse Barnabé. – Mesmo Deus esperou seu consentimento – daquela mocinha recém-saída da puberdade – para gerar Seu Filho! Aquela menina virgem fora anunciada havia séculos. Ela nutriu Deus em seu seio, ensino-O a andar; ouviu Suas primeiras palavras infantis. Fez Suas roupas; embalo-O nos braços; conversou com Ele como só as mães sabem fazer ternamente com os bebês que ouvem confiantes e felizes. Ela cozinhou Seus alimentos; fez Seu pão. Ordenhou as cabras para ele e colheu frutas. Atendeu às necessidades do Seu corpo humano. Durante trinta anos Ele pertenceu somente a Ela e quantas maravilhas lhe devem ter sido reveladas! E como deve ter meditado e chorado em Seu berço, sabendo que um dia Ele precisaria abandoná-la para levar as sagradas novas à humanidade e que teria de morrer sob aterradoras circunstâncias. Os apóstolos e Lucano falaram-nos dessa coisa. O Senhor fez Seu primeiro milagre ao amoroso pedido dela. Foi Ele que a fez mãe de todos os homens, enquanto pendia moribundo na cruz infame. Ela estava presente quando o fogo do Pentecoste caiu sobre Seus apóstolos e discípulos chorosos. O fogo foi cuidadosamente evitado de se abater sobre a mãe?
Ela não foi uma ‘mera mulher’, Saul. Era a Mãe de Deus. Ele a amou antes de amar a outros em Sua forma humana. Correu para o lado dela como uma Criança; foi irremediavelmente dependente dela para se alimentar. Nós, homens, amamos e reverenciamos nossa mãe. Quanto mais, então, deve Deus amar e bendizer a Sua Mãe! Nada é impossível para Deus. Se Ele escolheu levar seu corpo impoluto até ela, como foi levado o Messias, quem ousará discutir? Embora – disse Barnabé, sem alegria no rosto ao olhar Saul – fosse apenas uma mulher.
Saul refletiu. Contra a vontade, admitiu todos os argumentos de Barnabé. Era um mistério. Todavia, Maria não passara de uma mulher e as mulheres não eram muito consideradas pelos profetas e patriarcas, apesar de todas as Mães de Israel. Eram propensas à fraqueza da carne e da vontade. Pensou em sua própria mãe, em Dacyl e nas outras que conheceu. Então lembrou-se de ter visto Maria uma vez, quando jovem em Jerusalém, e que ela cochilara, cansada, perto dele, esperando o filho. Lembrou-se da terna veneração do Messias; Ele a alimentara com Suas próprias mãos. Mostrara tristeza e preocupação com ela. Chamara-a emi (mãe). Se o Senhor honrava e amava tanto a Sua Mãe, por que deviam os homens objetar? Ele não tinha gritado; “Todas as gerações devem me chamar abençoado?” Saul balançou a cabeça.
- É um mistério – murmurou apreensivo. – Preciso meditar a respeito.
Esse pequeno trecho também me levou à reflexões. Também eu pensava de forma fechada e irremovível que existia esse erro conceitual ao ser chamada Maria de Mãe de Deus. Mas vejo agora, pelas palavras de Barnabé, que não devo ser tão radical na minha forma de pensar mais aprofundada. Jesus ensinou que todos nós podemos ser deuses, ou já somos deuses, basta despertar dentro de nós uma sintonia imaculada com o Pai. Neste sentido, podemos considerar Jesus como Deus, pois ele nos provou que tinha essa sintonia imaculada com o Pai, que nem mesmo os piores castigos e tentações fizeram Ele pensar ou agir diferente. Portanto devo ser tolerante quando ouvir a conceituação de mãe de Deus com relação a Maria, como também devo imaginar que posso também chamar assim a mãe de cada ser humano que tenha demonstrado uma sintonia aproximada com Deus, mesmo que tenha sido maculada por algum aspecto, ou tardia por falta da devida compreensão da vida real e seus aspectos evolutivos. Lembro assim de diversos personagens de nossa história, como Santo Agostinho, Francisco de Assis, Gandhi, Tereza de Calcutá... o próprio Paulo de Tarso.
Todos nós agimos de determinada maneira por termos desenvolvido na consciência um modelo onde de realidade dentro da qual podemos operar com nossos valores. Algumas vezes, por motivos diversos, estamos agindo de forma equivocada por não termos conhecimento da verdade que ainda não chegou a nossa consciência.
Quando passamos a ter o conhecimento da verdade e mesmo assim continuamos agindo de forma equivocada, que causa desarmonia no meio coletivo, é porque algum benefício justifica a manutenção do paradigma reconhecidamente errado. Isso é sinal que a pessoa conscientemente está envolvida em ações deletérias ao corpo social em benefício do seu particular, de seus parentes e amigos. Podemos considerar essas pessoas como marginais as leis que protegem à comunidade, pois elas prejudicam o coletivo conscientemente, e para elas devem ser aplicadas as leis.
Por outro lado, temos os cidadãos honestos que ao ver a verdade se contrapor aos seus atos, isso lhe repugna a razão. Compreende de forma diferente o que está sendo operacionalizado como correto e se posiciona de acordo com a nova coerência que a verdade lhe trouxe.
Isso foi o que aconteceu comigo com relação ao PT. Acreditei nas suas promessas de moralização das instituições públicas e na correção dos desníveis sociais que a minha consciência aprovou como corretas. Logo, no grande escândalo que veio à público, na compra de parlamentares para aprovar os seus projetos, esse fato foi de encontro aos paradigmas de honestidade que eu havia formado junto a esse partido. Então, naturalmente a minha consciência retirou o apoio a esse partido, mesmo sabendo que ele estava implementando recursos para minorar a miséria do nosso povo carente, onde o item mais emblemático é a bolsa-família, item este já estudado e colocado em prática no governo anterior sob críticas hipócritas de quem hoje passa a oferecê-las abusivamente e com o intuito de obter o resultado de votos que antes com tanta veemência criticava.
Em todas as áreas de minha vida e que funcionam com os meus paradigmas, em qualquer setor e a qualquer momento eu posso e devo sempre manter um olhar crítico sobre o que estou fazendo, se possui coerência com a linha mestra das minhas intenções.
Sei que o principal foco que direciona minhas ações na superestrutura dos paradigmas, é a aplicação a mais severa, honesta e transparente possível do Amor Incondicional, seguindo sem preconceitos ou qualquer tipo de barreira as lições que Jesus ensinou, principalmente com a bússola comportamental: amar a Deus sobre todas as coisa e ao próximo como a si mesmo.
Ontem foi o primeiro dia que faltei uma reunião do Projeto Foco de Luz / AMA-PM. Inicialmente parecia um motivo fútil, mas logo foi se desenvolvendo como mais uma circunstância armada por Deus para minha base de conhecimentos e de caminhos que podem ser trilhados a partir de hoje, com novos amigos e novas instituições.
Atendi uma garota que foi levada pela mãe. Vi logo na entrevista uma pessoa que é muito ligada às artes, que pode colaborar com a AMA-PM, junto ao grupo musical de S., com composições, talvez vocalizações. Ela demonstrou ter boa voz e boa composição. Ao conversar com a mãe dela, recebi o convite de participar do lançamento do seu livro de poesias, que iria ser ontem na cidade de Macaíba. Aceitei o convite, se houvesse disponibilidade para isso. Sabia que iria ser difícil, pois coincidia com o dia da reunião da AMA-PM.
No dia anterior a autora faz contato comigo querendo a confirmação da minha presença. Avaliei que seria bom, para rever a sua filha, minha paciente e também ficar mais perto de um evento, “lançamento de um livro”, algo que pretendo fazer com brevidade. Seria uma boa oportunidade de ter essa experiência, bem próximo do autor. Confirmei, mas condicionando a possibilidade de ajustar meus compromissos do dia. Ainda não percebera a “mão de Deus” sobre essa movimentação. Disse para mim mesmo que iria dar os primeiros passos para isso e se fosse positivo era o sinal que eu deveria ir. Falei então com meu filho Ml. Se ele poderia dar suporte na carona as minhas duas companheiras de Natal, o que sempre faço após essa reunião. Ele confirmou que poderia e assim eu obtive a minha confirmação que poderia ir. Passei em Ceará Mirim e levei a minha companheira de lá, junto com duas sobrinhas suas. Chegamos pontualmente no evento. A autora me apresentou aos seus amigos que já estavam presentes e ao cerimonial, que disse como estava planejado o momento e qual seria a minha participação, a declamação de uma das poesias do livro, escolhido pela autora para mim, e que tinha o título “Cedo”.
Percebi que essa poesia fazia sintonia com o que eu senti há cerca de cinco anos, quando fui expulso de casa pela minha esposa, que transformou o seu amor por mim em rancor. Por mais que eu dissesse, em silêncio, das flores e do amor que eu sempre demonstrei.
Eu fui o terceiro a ser chamado no palco para a declamação. Antes de fazer a declamação, fiz uma introdução improvisada no momento. Disse que a vida era cheia de surpresas, que vivíamos mergulhados num mar de opções aparentemente caóticas, sem significados, mas se observássemos bem, tudo teria um sentido e por trás de tudo a “mão de Deus” nos oferecendo o melhor para a nossa existência e evolução.
Este evento – dizia eu -, é uma boa amostra disso. Há 30 dias eu não conhecia a autora deste livro. Hoje sou convidado dela para esse evento tão especial, numa posição tão especial: de declamar uma poesia da sua escolha. Uma poesia que traduz uma linguagem do seu coração para o coração de quem a ler, de quem a escuta... sei que tocou o meu coração e também tocará o coração de todos que lotam hoje este auditório. Talvez com tanta força e profundidade como aconteceu no momento que a autora a escreveu... sei que comigo foi assim. E certamente, com muitos de vocês acontecerá o mesmo. Pois vejam o que diz o coração da autora:
CEDO
Diga-me se chegou a hora de mandar-me embora da sua vida.
Fale-me e não se cale diante de mim
Responda o que indago sem falar
Descreva!
Grite, se preciso for, mas não me responda com silêncio.
Exponha-me, se é tarde agora.
Fale-me, se ainda é possível fazer reparos.
Não se esqueça das flores
Não se esqueça das dores que vencemos
Não se esqueça da frequência que vibramos um dia
Fala-me o que foi maior que o amor
Foi a raiva, ou foi o rancor?
Foi o tempo que faltou que transformou em dor?
Cedo, ou tarde?
Conte-me enquanto posso ouvir
Façamos um trato, olhemos para o porta-retratos exposto no quarto, antes de sair.
Façamos um acordo, antes de bater a porta, não façamos do amor uma semente morta.
Fiz silêncio, o tempo de ouvir os aplausos e descer do palco. Fui bem cumprimentado por minha performance, mas sabia que o mérito maior foi o desempenho da autora, foi a linguagem do coração dela que o meu solidariamente interpretou. Foi uma bela noite!
Conheci uma lenda escrita por Taylor Caldwell em seu livro “O grande amigo de Deus” que dizia o seguinte:
Quatro homens foram a um banquete para o qual tinham sido convidados. Um fora de má vontade, mas havia sido convidado pelo rei e não podia recusar. Tinha pouco apetite para os pratos ricos e temperados e para o vinho e teria ficado satisfeito com um pouco de pão, queijo e leite. Era um homem em quem os fluidos da vida não corriam fortes. O segundo comeu com bastante apetite, que, no entanto, era grosseiro; como não fosse muito inteligente, não usufrui a conversa erudita em torno dele. Ficou entediado. Pensou com saudades nas suas dançarinas ausentes. Assim, sentiu-se insatisfeito, ofendido, bocejando, nada encontrando de interesse à sua volta. O terceiro divertiu-se e esperou que o banquete continuasse até o amanhecer, pois os pratos eram deliciosos, o vinho inebriante e lamentou que aquilo finalmente acabasse, ficando triste em certos momentos ao pensamento da rápida passagem daquelas delícias.
E o quarto homem ficou satisfeito por ter sido convidado para o banquete e agradecido ao seu real anfitrião, pois tudo em volta dele era beleza, música, vistas majestosas, que comoviam sua alma. As carnes, as frutas, os pães, o vinho permaneciam agradavelmente em seu paladar. Suas reflexões excitaram-se com as trocas de ideias e sua mente ficou acesa, participando da conversa com estranho prazer. Não lamentou por aquilo ter de acabar. Sabia que teria, mas era suficiente sua permanência momentânea. E sua gratidão ao anfitrião aumentou muito com isso. Sentiu-se realmente acolhido pelo mais solícito dos amigos e seu coração transbordou.
Ora, o primeiro homem, que não tinha muita inclinação pela boa comida, nem mesmo a reconhecendo como tal, resolveu pedir licença para sair. O rei ficou triste, mas deu-lhe permissão. O segundo estava farto, pois tinha comido e bebido demais, bocejava de enfado, não ouvira a música nem ela lhe interessava e queria dormir. Também ele pediu permissão para partir e o rei, ficando mais triste, consentiu. O terceiro protelou, na esperança do banquete não terminar, olhado a espera de novos prazeres nos pratos e mãos dos criados, embora seu rosto começasse a demonstrar cansaço e suas mãos tremessem de fadiga. Ficou olhando entre as colunas, temendo ver a manhã. O rei, observando-o, suspirou e disse-lhe: ‘Meu hóspede, já é tarde. O senhor deve partir.’ O convidado tentou protestar, mas o rei, gentilmente, fez-lhe ver que precisava erguer-se e partir, o que ele fez, chorando, embora exausto.
Mas o quarto homem, foi subitamente atacado por uma sensação de pena e vazio, deixando de se interessar pela música e pelos sorrisos dos amigos, desejando apenas deitar-se em algum lugar escuro e silencioso, sem querer saber de mais nada. A comida e o vinho haviam se tornado repugnantes para ele. seu desejo desaparecera sem que ele soubesse por quê. Uma enorme solidão o envolveu, uma sensação de abandono e de nada mais desejar, não, nada mais no mundo inteiro, nenhum prazer, e ficou desolado. Sentiu uma dor no coração. Ao sentar-se no sofá, achou que ela estava acima de suas forças; perdeu a fala. ‘Estou empanturrado. Comi demais’, pensou. ‘O banquete tornou-se intolerável para mim.’ O vinho sabia-lhe a vinagre. As vozes dos amigos doíam em seus ouvidos. ‘Nada mais desejo’, pensou, imaginando se o rei iria achar descortês se ele pedisse para retirar-se. Tudo havia perdido cor, beleza e significado para ele.
Foi então que o rei olhou-o e disse: ‘Seus três amigos já foram. Deseja também retirar-se?’
Como podemos compreender essa lenda?
O rei convidou seus súditos para um banquete, divertindo-se em suas companhias. O primeiro em nada tinha na alma com que corresponder, ou teria atenuado sua reação com um comportamento modesto e a recusa de olhar a beleza da vida à sua volta, uma vez que tinha perdido a capacidade de vê-la. Por isso deixou o banquete cedo. O segundo tinha-se empanzinado cedo demais, comera vorazmente e assim quando não conseguiu comer mais, não ficou quieto e contemplou a graça em torno dele, pois todos os seus apetites tinham sido grosseiros na vida e acreditava que, uma vez empanzinado, só lhe restava partir com o prazer do corpo e não da mente e por isso não ouviu a conversa nem sabedoria. Assim, para que permanecer?
O terceiro homem temia o fim do prazer, pois saboreara a vida descuidadamente, usufruíra o banquete real e não podia ter-se agarrado bastante a existência nem vivido o suficiente, embora estivesse paralisado e precisasse de descanso. Temia a manhã porque esta significava o fim do banquete e porque nada tinha para ele. por isso chorou quando o rei se compadeceu e sugeriu-lhe que partisse para onde pudesse deitar e descansar, ele que odiava repouso e tranquilidade.
E o quarto homem, grato ao rei pelo convite para o banquete, tendo se divertido nele, e se encantado com o gosto, cheiro, tato, som e visão, a princípio pensou que o banquete era delicioso e sua gratidão aumentou, adorando o rei por sua extrema bondade. Mas uma nuvem e uma angústia o envolveram, escurecendo sua vista. Mas relutou em pedir ao rei que lhe permitisse partir, pois não desejava parecer ingrato, apesar de tudo ter-se tornado enevoado, penoso e cansativo para ele. Contudo, o rei apenas lhe perguntou: ‘Também deseja retirar-se? Sua companhia me agrada e quero que se demore; assim, fique comigo e não peça para ir embora. Sei que está cansadíssimo. Sei da tristeza em sua alma e sou o único que sabe. Mas o convidei e sei por que o fiz. Portanto, fique.’
O grande rei sabe porque convidou Seus filhos para o banquete e ficou triste quando o primeiro não gostou, por culpa exclusiva do convidado; sentiu que o segundo apenas pensou em comer e depois, com ingratidão, nada mais quis, nem mesmo Sua companhia. O terceiro, sem conter-se, demorou demais, pois tinha medo e vivera apenas para o prazer e para a satisfação do eu, mas seu prazer era somente o de um animal e não o de um homem. Assim, por pena, o rei liberou-o.
Quanto ao quarto homem, o Rei quis que ele permanecesse um pouco mais fazendo-lhe companhia. O Rei não obrigou. Apenas pediu: era demais concordar com o pedido até Ele ficar satisfeito e depois solicitar-lhe que partisse?
Por que o Rei por piedade não libertou o último homem? Talvez porque Ele seja piedoso. Ele é o Rei. Conhece Seu banquete. Tem Seus motivos.
Essa lenda coloca os motivos que aqueles filhos de Deus que se sentem desamparados, sozinhos no mundo, sem mais nenhum projeto ou motivação e que pensam na morte, no suicídio, possam fazer suas reflexões. Os três primeiros convidados podem cometer o suicídio, cada qual ao seu modo, porém o quarto, Deus quer que ele permaneça no banquete da vida terrena, pois ele sabe reconhecer todos os atributos da divindade no seio da Natureza da qual ele participa. Deus sabe que algum motivo interferiu em suas emoções e fez com que toda a beleza que ele tanto reconhece, perdesse o valor frente o cansaço que se instala. Este pedido de permanência que o Pai faz ao filho sofredor é no sentido de lhe oferecer uma chance de reconhecer o desvio por onde sua mente entrou e corrigir seu trajeto. Sabe o Pai que os seus filhos coerentes e conscientes desfrutam do banquete da vida com toda a disposição e agradecimento, e fazem à Sua vontade em qualquer momento de suas vidas, na infância ou na velhice, na alegria ou na dor. Quando Ele recebe um pedido para se retirar do banquete antecipadamente é porque sabe que algo interferiu com a sanidade da sua alma querida.
Eu sou um dos Seus filhos, que O reconhece como Pai e que procuro fazer a Sua vontade, por mais estranho que o caminho me pareça e aos outros que junto comigo convivem. Ele permitiu que eu me capacitasse em técnico das emoções, em saber como funciona as suas percepções tanto à nível do corpo e da mente, como à nível da alma. Tenho portanto essa tarefa profissional de chegar junto dos meus irmãos e tentar corrigir seus pensamentos alterados que fazem sua retirada precoce da vida, seja qual for o perfil de convidado que essa pessoa tenha no banquete da vida. Posso usar os recursos da química com os diversos medicamentos chamados psicofármacos, assim como os diversos recursos da psicoterapia, e principalmente o incentivo à reforma íntima com base nas lições evangélicas.
São Próspero de Aquitânia, contemporâneo de Santo Agostinho, bispo de Hipona, fez o poema “De um esposo à esposa” pelo qual se julga que fosse, pois dirige-se a mulher nesses termos:
Se o orgulho me elevar, corrija-me. Seja a minha consolação nos sofrimentos. Demos ambos exemplos de uma vida santa e verdadeiramente cristã. Cumpra comigo os deveres que estou obrigado a cumprir com você. Levante-me, se porventura eu cair. Esforce-se por se levantar quando eu corrigi-la,,, não nos contentemos com um só corpo, sejamos também uma só alma.
Sei que a intenção do santo era reforçar a família nuclear e a fidelidade exclusiva do amor de um para o outro dentro do par, exclusivo. Mas, aplicando o Amor Incondicional posso fazer a transposição do poema para a família ampliada ou universal e ficar ainda mais consistente com o espírito das lições do Cristo. Os dois primeiros apelos com relação ao orgulho e consolação não tem problemas, pode ser aplicado tanto dentro da família nuclear quanto na ampliada/universal.
O terceiro apelo, dar um exemplo de uma vida santa e verdadeiramente cristã, serve de encruzilhada para a decisão do caminho a ser tomado: ou pela família nuclear e amor exclusivo, ou pela família ampliada e amor inclusivo. Seja qual for o caminho tomado, esse deve ser trilhado com fidelidade, tanto nos compromissos materiais, junto aos relacionamentos formados, quanto nos compromissos espirituais seguindo a Lei de Deus. Se decido seguir o caminho da família nuclear, devo estar consciente e fiel ao compromisso do amor exclusivo, amor dedicado exclusivamente ao companheiro. Isso implica que devo resistir às pressões emocionais do instinto reprodutivo que gera laços afetivos com pessoas próximas ou até distantes (internet). Esse laço afetivo desperta o desejo sexual que é justamente o “fruto proibido” desse caminho escolhido. A pessoa deve resistir ao máximo a tentação desse desejo, pois caso fracasse não pode esconder a sua falha, é alta traição. Perdeu-se a fidelidade. Este é o caso da sociedade atual. A maioria se dar o direito de comer do “fruto proibido”, mas oculta suas ações e ainda defende aquilo que ele corrompe: o amor exclusivo. Pecado da hipocrisia. Isto não é uma vida santa!
Mas se por outro lado, quero seguir o caminho da família ampliada e do amor inclusivo, obedecendo com mais profundidade a Lei do Amor Incondicional, devo de imediato quebrar os meus próprios preconceitos, como o machismo por exemplo. O direito que eu tenho de desenvolver laços afetivos com outras pessoas inclusive relações íntimas com todas suas implicações, o mesmo direito deve ter a minha companheira e que eu devo absorver com todas as suas consequências, de mesma forma. Este caminho mostra muitas vantagens, uma delas de fundamental importância é a extinção do ciúme, do sentimento de posse de uma pessoa por outra, o que transforma muitas vezes o incipiente sentimento que é chamado de amor em sentimento de ódio e vingança que leva ao assassinato como somos testemunhas de tantos... e ainda é colocado como defesa que se matou por amor!!???
Quando a sociedade perceber com clareza que possui esses dois caminhos a seguir, que cada um pode fazer sua opção com clareza, consciência e honestidade, certamente as famílias poderão se tornar santas, mesmo que cada uma tenha uma orientação diferente, mas que cada uma cumpra com rigor e justiça no particular o que costuma fazer no privado.