Jesus é considerado pela doutrina espírita como o governador espiritual da Terra. É bem interessante, lógico e prático esse conceito. Como observamos uma hierarquia temporal no mundo material onde cada região tem seus níveis de gerenciamento político, como prefeito, governador, presidente, etc., no mundo espiritual, onde a vida real acontece com mais profundidade e proximidade com Deus, deve ser essa dimensão espiritual superior à dimensão material. Como sabemos que Jesus veio ao mundo material em missão dada pelo Pai, para ensinar o caminho, a verdade e a vida, e como ele é considerado por todos que conhecem a sua vida e as suas lições, como a personalidade mais evoluída que já viveu entre nós, podemos concluir que ele exerça no mundo espiritual um alto cargo político e gerencial para nossas vidas em qualquer plano da existência. O cargo de governador do planeta não agride nossa inteligência ou à lógica. Em decorrência disso, todos que estamos engajados na vida, encarnados ou não, que procuramos seguir suas lições, também passamos a exercer um cargo espiritual que deve ser ligado a ele e hierarquicamente superior a qualquer cargo que venhamos exercer no mundo material e que nos permite viver com dignidade.
Vou colocar como exemplo o meu caso. Fui educado e me capacitei a exercer uma profissão dentro do mercado de trabalho da minha comunidade. Mas além desses cargos também exerço tarefas que cumprem as exigências espirituais. Tenho a tarefa de estudar para sair da ignorância e me aproximar cada vez mais da verdade, como faço nos estudos espirituais das terças feiras à noite; tenho um trabalho de educação espiritual e emocional aos dependentes químicos nas noites de sexta-feira, na Cruzada dos Militares Espíritas, onde exerço a caridade, principalmente; tenho um estudo prático nas quartas feiras à noite, na Casa de Caridade, onde procuro desenvolver minhas habilidades mediúnicas. Porém, é no trabalho das quintas feiras à noite na Associação de Moradores e Amigos da Praia do Meio (AMA-PM) que mais me aproximo dessa hierarquia política onde Jesus é o governador. O nosso grupo está consciente que foi convocado por Deus para executar as tarefas necessárias sob o comando de Jesus. O presidente da Associação corresponde ao prefeito da comunidade e cada companheiro que assume uma determinada tarefa é considerado seus secretários. A minha participação nessa hierarquia está mais coerente com o trabalho de um profeta de Deus ou apóstolo de Jesus. Alguém que tem a responsabilidade de trazer para o grupo textos que representam a vontade de Deus ou as ordens de Jesus. Isso ficou muito claro ao ser elaborado o Projeto Foco de Luz que deu início a tudo e no qual foi incluída como observação importante a ser cumprida por todos, as normas de conduta que são todas baseadas no Evangelho. Da mesma forma, quando foi construído o Estatuto Social da AMA-PM foi incluída em posição de destaque essas mesmas Normas de Conduta de natureza evangélica.
Reflito ainda que a minha participação no grupo parece mais com aquela do profeta Samuel que com a permissão de Deus ungiu o primeiro rei de Israel, Saul, e depois, com a mesma orientação divina foi à procura do segundo rei, aquele que deveria substituir Saul, numa família de pastores, o pequeno Davi.
Dessa forma sinto orgulho de sentir que desempenho essa tarefa e cargo espiritual, sob o comando do meu governador, Jesus, muito mais que as minhas conquistas acadêmicas e financeiras no campo material, pois deixo tudo isso subordinado aos valores espirituais.
O livro com o título acima, do Pe. Ferrari M. P. e equipe, fala do martírio na América Latina, mas sabemos que o martírio está em qualquer lugar deste planeta que exista a participação do homem nas suas relações com o próximo. Vejamos como exemplo o Oriente Médio e até civilizações que são consideradas as mais evoluídas e desenvolvidas, técnica e financeiramente, como os Estados Unidos, e no entanto observamos o martírio dentro delas também.
Mas vamos focar nossa atenção hoje nesse trabalho do Pe. Ferrari que fala da nossa região e do trabalho do santo Oscar Romero, que nasceu em 15-08-1917, em Barrios, perto de El Salvador. Foi assassinado no dia 24-03-1980, enquanto oficiava uma missa na capela do Hospital da Divina Providência.
Sua ação pastoral visava ao entendimento mútuo entre os salvadorenhos. Para ele, era preciso mudar a realidade injusta e opressiva e evitar uma guerra civil. Denunciava, através de escritos e homílias, os detentores do poder, cujos mecanismos de repressão semeava o pânico, a violência e a morte entre a população mais carente. Criticava duramente tanto a inércia do governo, as interferências estrangeiras, como as injustiças praticadas pelos grupos “revolucionários”. Certo dia, ao ver o exército cercando a catedral para intimidá-lo, afirmou: “Como deve ser mau este sistema que é capaz de lançar o pobre contra o pobre, o camponês com uniforme do exército contra o camponês trabalhador.”
Algo muito parecido aconteceu em 29-05-1978, quando índios foram assassinados quando se dirigiam pacificamente a Panzós, para saber das autoridades o paradeiro de companheiros seus, sequestrados pelo exército. Iam exigir o direito de cultivar a terra que era de seus antepassados.
Na manifestação havia gente de várias aldeias: de Cohaboncito, de Chipate, de Soledad. Eram homens, mulheres, crianças, anciãos. Ao chegarem a localidade o exército já os aguardava. A repressão foi violenta, cruel e sangrenta. Todos, inclusive as crianças, os velhos, as mulheres, foram fuzilados, metralhados e despedaçados por granadas.
Apesar da repressão e da exibição truculenta de poder e força contra os pequeninos deste mundo, a luta continuou. Muitos outros haveriam de tombar nos anos que sucederam. Somente em 1980, 59 advogados foram assassinados.
Como é parecido esse martírio de El Salvador, Panzós, com o que parece se esboçar no Brasil de hoje, quando as forças políticas que estão no poder, praticam atos de corrupção generalizada e maciça, divide a população pelo ódio e faz exibição de força com exércitos clandestinos que vão as ruas armados de foices, facões e coquetéis molotov. Espero que consigamos abortar esse martírio da América Latina que começa chegar perto e dentro de nossa pátria.
Reunião no dia 28-05-15 com a presença das seguintes pessoas: 1. Francisco 2. Adriana 3. Paulo Henrique 4. Josineide (mãe de criança do futebol) 5. Ezequiel 6. Jorbão (pai de aluno do futebol) 7. Davi 8. Joana D’Arc 9. Cíntia 10. Luzimar (que teve necessidade de sair antes, mas voltou no término da reunião) 11. Jailson (pai de aluno do futebol) 12. Silvana 13. Nivaldo 14. Sandra 15. Isabel 16. Damiana 17. Maria da Luz 18. Lucy 19. Radha 20. Edinólia 21. Lucineide 22. Netinha 23. Jéssica 24. Nazareno 25. Francisca e 26. Marília. Antes da reunião foi feita uma roda de conversa com os pais dos alunos do futebol que se achavam presentes. Foram colocadas as dificuldades do futebol com as crianças por faltar gente para trabalhar junto com Ezequiel. Jorbão falou de Neto, o responsável pelas atividades do futebol nas Rocas e ficou acertado que ele faria contato com ele e passaria o telefone para Paulo e convidá-lo para ele apresentar sua experiência para nós. No início da reunião, as 19h, aprovamos a pauta com três itens: 1. Estatuto; 2. Futebol infantil; e 3. Informes diversos. 1. Estatuto. Foi explicado por Francisco que iria ser lido um adendo ao Estatuto Social da AMA-PM, que trata das normas de conduta. Após a leitura todos concordaram com os termos, sem nenhuma rejeição ou correção e fizeram a aprovação por aclamação. 2. Futebol. Ezequiel coloca as dificuldades do trabalho que realiza com as crianças por dois motivos: por se sentir sozinho e por não ter conhecimentos técnicos. No entanto considera importante este trabalho, pois retira as crianças do risco de usar drogas ou se envolver com gangues em conflitos mortais com outras. Lucineide, a mãe de uma das crianças, comenta que seu filho foi jogar bola na praia com a advertência de não tomar banho de mar, e, no entanto, chegou em casa todo molhado. Ezequiel disse que realmente isso havia acontecido, mas que ele estava tentando manter o controle da situação. Foi colocado esse caso como um exemplo da necessidade de mais voluntários que possam fazer essa cobertura no comportamento das crianças, enquanto Ezequiel conduz o futebol. Ficou o convite aberto a todos os presentes na reunião para que dentro das condições de cada um colaborem com essa ajuda para melhor controle dessa atividade tão importante como o futebol. Paulo entrega para ser lido o modelo de Cadastro de alunos do futebol feito por Davi onde consta um Termo de Responsabilidade Conjunta, entre os Pais e Associação, e que prevê as medidas educacionais corretivas necessárias. 3. Informes. Francisco informa da audiência pública que está sendo organizada através do gabinete do vereador Ubaldo e que deve abordar os temas do Turismo, Segurança e Esportes. Edinólia informa das providências que estão sendo feitas para o Arraial da Praia do Meio que está previsto para o dia 27-06-15, ao lado do Hotel Reis Magos, onde haverá a apresentação de Quadrilhas e a rifa de cinco balaios juninos e que está entregando os carnês em número de 10 bilhetes, cada um a 2,00 reais. Ezequiel fala da importância desse evento para a comunidade, pois será a primeira vez que o bairro irá se mostrar para a cidade e para os turistas que nos visitam. Ana Paula informa das diversas comissões que estão sendo formadas para organizar o evento e que devem funcionar com competência e determinação para tudo sair à contento. Disse também que as pessoas que estiverem dentro dessa organização receberão um crachá para sua identificação no momento da festa. As 20h como foi esgotada a pauta, a reunião foi encerrada com a oração do Pai Nosso conduzida por Cíntia. Todos ficamos em posição para a foto coletiva oficial e saboreamos o chá, café e biscoitos trazidos por Paulo.
Avaliei ontem a minha disposição e a de Paulo de servir a Deus, de ser o Seu instrumento na Terra, no relacionamento com a Natureza, principalmente com o próximo, em qualquer nível de afetividade. Notei que o meu comportamento com relação as mulheres e a possibilidade de relacionamento íntimo que sempre está potencialmente presente, é diametralmente oposto ao de Paulo. Ele foi criado e educado dentro dos templos; eu fui criado e educado dentro dos bordéis. Só este simples fato já diria para todos que Paulo é quem está correto. Mas continuo a receber mensagens de cunho espiritual que reforça a minha postura comportamental e não a dele. Pois vejamos o que foi lido em todas as igrejas católicas no dia 26-05-15:
EVANGELHO: Marcos 10, 28-31
Pedro começou a dizer-lhe: “Eis que deixamos tudo e te seguimos.” Respondeu-lhe Jesus: “Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições – e no século vindouro a vida eterna. Muitos dos primeiros serão os últimos, e os últimos serão os primeiros.”
COMENTÁRIO
A inquietação da perfeição ou da pureza é uma das formas mais enganadoras dessa ilusão (de se ficar olhando para o céu). É preciso servir a Deus a moda humana e segundo os tempos, esperando um dia fazê-lo à moda divina e segundo a eternidade, dizia São Francisco de Sales. Essa pressa impaciente dos desejos “de certa perfeição cristã” que pode ser imaginada, mas não pode ser praticada, e da qual muitos tiram lições, mas ninguém nunca transforma em ações, é até oposta ao dever cristão: a mínima execução é mais útil do que os grandes desejos das coisas afastadas do nosso poder. De nós, Deus quer mais a fidelidade às pequenas coisas que Ele coloca ao nosso alcance do que o ardor dos grandes desejos que não dependem de nós. Nós, às vezes, nos divertimos tanto em ser bons anjos que deixamos de ser bons seres humanos. Quando não se coloca mais o centro da gravidade da vida na vida, mas além dela – no nada – tirou-se da vida o seu centro de gravidade (E. Mounier).
Veja caro leitor, você conhecendo a minha história e a de Paulo como aqui foi relatado, hoje e ontem, e tendo de decidir a qual dos dois esse texto que reproduzi acima leva admoestações? Acredito que seja à Paulo!
Sou eu que procuro servir a Deus à moda humana. Não procuro a perfeição cristã, sei que está fora do meu alcance neste atual momento. Procuro transformar em ações o pouco que eu posso fazer. Procuro ser um bom ser humano, ao tratar o próximo sem preconceitos ou discriminação, da forma que eu gostaria de ser tratado, inclusive dentro da intimidade. Considero o ato sexual uma ação de Deus dentro da Natureza, que serve para compensar todo o trabalho de geração de novos seres humanos.
Ao invés de culpa sinto júbilo, quando Deus favorece a minha existência e permite que eu tenha experiência sexual semelhante àquela de Paulo. Sinto que estou sendo fiel às pequenas coisas que Ele coloca ao meu alcance, não estou embriagado por grandes desejos espirituais que me levem mais próximo de Deus, pois sei que está acima de meu potencial.
Sei que estou mais empenhado em ser um bom ser humano do que ser um bom anjo.
Este termo parece meio estranho, como ser amigo de um “Ser” imensamente diferente de mim? Que não foi criado e que não existe controle do tempo sobre Ele, está em todos e em tudo, e a máxima compreensão que posso ter de Sua existência é uma energia criadora que faz surgir e funcionar com harmonia todos os Universos possíveis? E o máximo que posso sentir dessa energia criadora é no sentimento de Amor, que ainda por cima corre o risco de ser contaminado por meus desejos instintivos da sobrevivência do meu corpo material. Portanto, a sensação não seria bem uma “amizade” entre mim e Deus, mas sim um sentimento de obediência, agradecimento, e vontade de compensar um pouco do tanto que recebi, procurando fazer ao máximo a vontade dEle.
Estou fazendo essa reflexão porque comecei a ler o livro de Taylor Caldwell, “O grande amigo de Deus” que é sobre a vida do apóstolo Paulo. Ele sempre foi uma pessoa estudiosa, que respeitava com máxima disciplina o Deus que lhe ensinavam. Certamente foi essa dedicação à vontade de Deus que inspirou os tradutores da obra da autora a colocar esse título de Paulo como “Amigo de Deus”, uma vez que o original é diferente: “Great Lion of God”, que significa: “O grande Leão de Deus”. Talvez fosse mais pertinente colocar o epíteto de Leão do que de Amigo, pois não implicaria numa intimidade com Deus difícil de entender. Leão dá um sentido melhor de subordinação e de determinação de fazer à vontade de Deus, melhor do que um entendimento mais nivelado como Amigo deixa transparecer.
Mas, aonde quero chegar com essas reflexões é que, da mesma forma que Paulo estava convicto de fazer a vontade de Deus, eu também adquiri essa convicção. Talvez nem tanto com o aspecto feroz e determinado de Paulo, o que justificaria o epíteto de Leão pela autora, mas muito mais com um aspecto tímido, medroso, que justificaria mais o epíteto de ovelha que a autora poderia colocar em mim. Mas vamos chegar ao centro de minhas reflexões. Eu posso me considerar, mesmo na aparência de uma ovelha, como mais um amigo de Deus, talvez, ou com certeza, não tão grande como Paulo. Então, assim considerando, o meu comportamento não deveria ser bem parecido com o de Paulo em todos os aspectos? Pois o meu comportamento é diametralmente oposto ao de Paulo quando se trata de relacionamentos de gêneros, quando envolve a possibilidade de uma intimidade que possa chegar ao ato sexual.
Pois vejamos um trecho do livro de Taylor Caldwell, quando ela relata um encontro de Saulo, adolescente, com Dacyl, uma pretensa namorada. Ele acabara de salvar a vida dela, dentro de uma lagoa, da mordida de um chacal infectado pela raiva:
“O rapaz sentiu o animal moribundo relaxar e ficar flácido, porém tornou novamente a enfiar-lhe a pedra no olho esquerdo, usando suas últimas forças. O chacal submergiu lentamente, em ondas vermelhas, e morreu, as pernas e o corpo flácidos à deriva.
Saulo tornou a estremecer vendo aquilo. Jamais matara qualquer ser. No silêncio, podia ouvir sua respiração, ofegante e rouca. Afastou-se do local onde o animal morreu e começou a lavar braços e mãos com água limpa, por medo das gotas de sangue neles, da saliva letal e de qualquer salpico de espuma que pudessem tê-los atingido.
Então, pensou em Dacyl. Virou-se e começou a nadar para a margem. A escrava tinha caído na terra quente, num amontoado de roupas molhadas, o rosto imóvel e silencioso ao vê-lo aproximar-se. A moça não conseguia se mover. Mesmo quando ele chegou ao seu lado, só pôde olhá-lo, numa palidez mortal, os olhos escuros escancarados.
- O animal está morto – disse Saul. – A lagoa está envenenada. Pobre Dacyl. Tudo acabou. Agora não precisa mais ter medo.
Dacyl estendeu a mão, em silêncio, em busca da dele. O rapaz pegou-a e procurou aquecê-la entre as suas, molhadas e frias. Ela estava tentando falar. Saul curvou-se carinhosamente para ouvi-la.
- Hércules – disse a moça, com um sorriso fraco. – Perseu. Odisseu.
Saul colocou o corpo trêmulo da moça em pé e tentou rir.
- Não foi nada – falou. – Não podia abandoná-la. – Cercou-a com seus braços de soldado, apertando-a contra ele num repentino frenesi de alegria e amor. – Então não a amo, minha querida?
A água escorria deles, mas seu alívio e amor os aqueciam e o sol começou a dardejar, quente, sobre seus corpos. Dacyl pegou uma das mãos de Saul e, humildemente, beijou-a. Seu cabelo escuro, molhado, macio como seda, caiu sobre o braço nu do rapaz. Saul tornou a estremecer ao toque dos lábios dela e o desejo o aguilhoou como uma faca. Quando a moça ergueu a cabeça, viu-lhe os lábios, não gentil e agradavelmente como durante os meses anteriores, mas com entusiasmo, lascívia e paixão. Eram suaves contra os seus, úmidos e frescos. Abriram-se, rendendo-se; ela passou os braços em torno do pescoço de Saul, apertou o seu corpo contra o dele, murmurando ele não sabia o quê. Sentiu os seios jovens contra o peito, prementes, tensos e duros. Instintivamente, Saul ergueu a mão até um dos seios, pegando-o em sua palma agora quente e exploradora. A moça tornou a gemer, languidamente, agarrando-se a ele.
Saul jamais havia tocado num seio e sentir aquele em sua mão quase o enlouqueceu. Sempre agarrados, deixaram-se cair na margem quente, em meio ao capim alto e empoeirado. O mundo tornou-se um profundo troar de paixão, de som incoerente, quente, um delicioso combate. Acima deles, a catarata cantava, o sol brilhava, poeira dourada flutuava no ar e havia um bramido agradável nos seus ouvidos.
Saul ficou completamente perdido. Havia obedecido aos instintos do corpo e fora envolvido numa sensação inexplicável e dominadora, angustiosamente agradável, mas terrível em sua premente intensidade. Deitou-se sobre Dacyl, possuindo-a brutalmente. A moça apertou-o, mordeu suavemente seu pescoço e gemeu de gozo e prazer. Seus corpos tinham o calor da chama e, como esta, fundiram-se, só havendo em torno deles o perfume do capim e das flores balançando e o canto da água. Enlaçados, só tinham consciência do seu êxtase. Saul sentiu o corpo de Dacyl mexer-se sob o dele e a cada movimento intensificou mais suas sensações, sem que soubesse se eram de dor ou de êxtase. Sentiu a língua da moça passar ternamente em sua orelha, ouviu-lhe a respiração gemente e sentiu seus movimentos rápidos. Quando o momento culminante chegou, Saul pensou que havia morrido numa explosão de arrebatamento e era uma morte a não se lamentar, pois era maior que a vida, como a explosão de um sol ou uma chuva de estrelas.
Os olhos de Saul estavam fechados. Suando e ofegante, ficou em cima da moça e foi apenas momentos depois que rolou para o lado, completamente dominado pelo que havia experimentado. Não pensou em nada imediatamente. Tinha lembrança apenas de um imenso e incrível arrebatamento e alegria, aos quais nada havia comparável.
Dacyl apoiou o corpo num cotovelo e olhou-o, sorrindo, os lábios rubros e inchados, os cabelos quentes e quase secos sobre os ombros e seios nus. Ele sentiu seu movimento e vagarosamente abriu os olhos, vendo o rosto da moça inclinado sobre o seu, mais bonito do que nunca. Ergueu a mão devagar e encostou-a no rosto da jovem, que virou a face e beijou-lhe a palma. Saul ouviu um riso grave de contentamento e afeto saindo da garganta de Dacyl. Uma perna branca, nua, repousava sobre a dele.
Então, como um punho frio atingindo seu coração, o rapaz pensou. ‘Arruinei, deflorei, violentei e destruí esta criança inocente e por isso estou almadiçoado.’
- Amado, que está acontecendo? – Perguntou Dacyl, assustada pela palidez e rigidez do rosto sob o seu.
Saul virou o rosto para o lado. Queria chorar de desespero, de arrependimento, de vergonha, por ter possuído aquela moça pura, maculando-a, e por ela ter-se submetido à sua luxúria por gratidão e porque não passava de uma escrava, não podendo, por isso, negar-se a um homem necessitado. Na verdade, ele estava amaldiçoado aos olhos de Deus e dos homens; como poderia reparar sua culpa e seu crime? Quem o perdoaria? Merecia uma morte ignominiosa.
Dacyl começou a acariciar seu vasto cabelo ruivo e sua garganta.
- Você é um verdadeiro herói, meu amado – disse a moça com sua voz infantil. – Sou sua para sempre. Sou sua escrava meu adorado. Nem mesmo Vênus teve um protetor e amante tão possante, mais forte que qualquer outro homem. Como ela deve me invejar, a pérola de Chipre! – disse, beijando seu rosto com ternura.
Acima de sua cabeça, o céu passara a um azul flamejante e a catarata dourada esguichava música líquida, voltando a lagoa a ter a cor de limões novos. A relva e o musgo eram macios sob eles, tornando-os lânguidos. Mas Saul sofria profundamente em sua alma.
- Perdoe-me – disse -, perdoe-me minha querida, se for possível.
Os brilhantes olhos negros de Dacyl arregalaram-se de espanto. Curvou-se para vê-lo melhor, como que incrédula por ele ter dito aquelas palavras. O azul metálico dos seus olhos estranhos cobriu-se de lágrimas e Dacyl ficou assombrada.
- Perdoá-lo! – exclamou. – Você é que deveria me perdoar por colocá-lo em perigo por causa da minha despreocupação! Perdoá-lo! Eu o adoro, meu herói, meu Apolo, com os cabelos como o sol e músculos como couraça! Se a vida, para mim, se reduzisse a apenas esta manhã, ainda assim seria grata aos deuses, que me permitiram deitar com você, confortá-lo e recompensá-lo.
Saul tentou sorrir em face dessa criancice inocente. Acariciou a suave garganta da moça.
- Mas isso a destruiu, querida. Aproveitei-me da sua perturbação. Deflorei-a. quem poderá restaurar sua pureza?
Dacyl sentou-se abruptamente. Olhou-o, maravilhada. Então, depois de um bom tempo, começou a sorrir e era o divertido sorriso de uma mulher e não o de uma garota.
- É isso que o perturba, meu bobinho? – perguntou, com afeto e carinho. – Vamos! Tenho dezessete anos e não sou virgem. Com certeza não me acredita! – Riu com grande ternura. – Deixei de ser virgem aos doze anos. Nessa idade, fui prometida ao capataz da propriedade do meu senhor para casarmos. Fui-lhe entregue por minha senhora, a nobre Fabíola, ganhando nossa liberdade e um bosque de oliveiras. Mas amarei sempre você, mesmo quando deixar de vê-lo.
Espantado, abalado e taciturno, Saul ouvia aquela voz clara e feliz, finalmente compreendendo. Ele estivera pensando como judeu, mas a moça era pagã, tendo nascido e se criado numa atmosfera estranha ao seu conhecimento e à sua compreensão. Para ela, nenhum pecado havia sido cometido. Tivera prazer como alguém que escolhe que escolhe uma bugiganga, durante uma hora de satisfação, e depois, pronto, tudo esquecido. Ela vivera toda a sua vida numa sociedade hedonista, onde tudo era permitido, a honra desprezada, a profanação motivo de riso, o adultério um instante de simples satisfação, a fornicação aceita e a lascívia uma coisa a ser cultivada e procurada. Pertencia a um mundo detestado e temido pelos judeus religiosos, execrado, evitado por eles. E já não era mais Dacyl, a inocente escrava pela qual chorara em segredo, mas a ‘mulher estranha’, cujos lábios eram o portão do inferno. Ele, Saul bem Hillel, havia caído precipitada e sensualmente no poço do seu corpo e estava perdido.
Fora maculado e corrompido além da redenção. Abandonado além da esperança, exceto se devotasse sua vida inteira à penitência, ao remorso e ao arrependimento. Deus havia desviado Seu rosto dele e como poderia reparar isso numa curta vida? Tinha deitado com uma prostituta.”
Eis a profunda diferença entre mim e Paulo. A sintonia que porventura se forme entre mim e qualquer pessoa, seja rica ou pobre, letrada ou analfabeta, será por mim respeitada e todo o afeto fluirá se assim houver interesse de ambos até a intimidade sexual, sem culpas ou preconceitos. Acredito, diferente de Paulo, que Deus quer que eu assim faça a Sua vontade, ao respeitar a Lei da Natureza que Ele criou, desde que o atendimento dos desejos não prejudique a nenhum dos envolvidos numa decisão consciente de cada um. E dessa forma, por caminhos diferentes, acredito que somos amigos de Deus, nos sentido de fazer à Sua vontade de acordo com a Sua lei que está escrita em nossas consciências.