Por sugestão de Olavo de Carvalho, nosso grande filósofo brasileiro, encontrei a poesia de Vicente de Carvalho, que reproduzo abaixo, para motivar nossa reflexão...
Felicidade
Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada:
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim : mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
Essa ideia de Felicidade que ele descreve em seu soneto tem um quê de nunca alcançar e o que nos move é a esperança nessa direção. Imaginamos uma situação maravilhosa, a “árvore de dourados pomos”, mas nunca a alcançamos.
Mas por que não podemos nos projetar para dentro dessa construção cognitiva onde possamos estar em contato com a árvore e seus dourados frutos, verificar a nossa capacidade de os colher, se estão ao alcance de nossas mãos, se estão maduros para ser consumidos, se são saudáveis ou não.
Por que não colocamos a árvore onde nós estamos? Essa é a grande crítica que raciocínio do grande filósofo captou, com a aplicação no meio social, político.
Quando dizemos que nosso povo é leviano, corrupto, fútil, inconsequente, irresponsável, estamos usando essas expressões para explicar a conduta alheia, não a nossa. Estou plantando uma “árvore de frutos podres” onde não estamos.
Este é o sentido, pois se eu me coloco para alcançar a Felicidade no mesmo local onde coloquei minha “árvore de dourados frutos”, por questão de justiça e coerência eu devo me colocar no mesmo local onde está a “árvore de frutos podres”.
Não serei digno de alcançar a Felicidade com a manutenção e usufruto da “árvore de dourados pomos” se não consigo corrigir a podridão que percebo em mim mesmo quando estou de frente a “árvore de frutos podres”.
Ao pegar nos livros de história sempre observamos que há guerras em algum local dentro da humanidade. Guerras que se tornam mais sofisticadas à medida que evoluímos técnica e cientificamente. Por mais que observemos pessoas, personalidades de índole pacata, com justiça e ética no comportamento, tais características não conseguem se disseminar por toda a humanidade e transformar de forma majoritária o nosso comportamento.
Dentre todas as personalidades dentro da humanidade com esse perfil de justiça e paz, com potencial de se espalhar por todo o planeta, que ofereceu e ainda oferece maior sucesso foi Jesus de Nazaré.
Quando Jesus chegou entre nós já vivíamos dentro de uma civilização sofisticada, o Império Romano, que guerreava com seus vizinhos, escravizava e mantinha espetáculos em arenas sangrentas com as armas dos gladiadores, ou simplesmente levando pessoas humildes, como os cristãos, para serem devorados pelas feras ou incendiados como tochas humanas sob o aplaudo de governantes e público presente.
A mensagem que Jesus trouxe para nós foi forte o suficiente para abrandar o furor das guerras que iniciam dentro do nosso íntimo, em nossos instintos, representados pelo monstro bíblico citado no livro de Jó, com o nome de Behemoth.
Esta lição é bem simples, conforme Ele ensinou quando lhe perguntaram qual era a principal lei, a que estava acima de todas as outras: “Amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo”.
Cada pessoa aceitando essa lição e praticando o amor entre os irmãos (todos que foram criados por Deus), bloqueia de imediato a tendência biológica, instintiva de querermos além de nossas necessidades e sem a preocupação de prejudicar o próximo, o nosso irmão. Elimina a motivação biológica de pegar em armas para defender nossa vontade, destruindo a moral ou a vida de quem está no caminho.
Talvez seja difícil para alguns fazer esse discernimento, de até onde o nosso comportamento é errado, que traz prejuízos sem justificativa para o próximo, que visa principalmente os nossos interesses individuais.
Para isso Jesus ensinou como agirmos, escolhendo o Caminho da Verdade que deve garantir a justiça de nossos relacionamentos dentro dos interesses materialistas, científicos, tecnológicos. E foi mais além, conectando o trabalho que desempenhando aqui na dimensão material com resultado que obteremos ao voltar a dimensão espiritual, onde se realiza a verdadeira vida de natureza eterna. É aqui na dimensão espiritual que a essência de Deus, a força construtiva do Amor orienta o processo evolutivo.
A pessoa que consegue se comportar dentro do Caminho estreito da Verdade, fazendo a vontade do Criador, amando a todos os irmãos como se cada um deles fosse a ela mesma, verá que a sua Vida na dimensão espiritual está mais perto da fonte original do Amor, o próprio Deus.
“E nos últimos dias acontecerá, diz o Senhor, que do meu Espírito derramarei sobre toda carne; os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, vossos mancebos terão visões e os vossos velhos sonharão sonhos.”
(ATOS, capítulo 2, versículo 17.)
No dia de Pentecostes, Jerusalém estava repleta de forasteiros. Filhos da Mesopotâmia, da Frigia, da Líbia, do Egito, cretenses, árabes, partos e romanos se aglomeravam na praça extensa, quando os discípulos humildes do Nazareno anunciaram a Boa Nova, atendendo a cada grupo da multidão em seu idioma particular.
Uma onda de surpresa e de alegria invadiu o espírito geral. Não faltaram os cépticos e irônicos, no divino concerto da luz espiritual, atribuindo à loucura e à embriaguez etílica dos Apóstolos, a revelação observada e permitida por Deus.
Simão Pedro destaca-se e esclarece que se trata da luz espiritual prometida pelos céus e trazida por Jesus, para iluminar à escuridão da carne que vive mergulhada nos instintos biológicos.
Desde esse dia, as claridades do Pentecostes, das luzes espirituais jorram sobre o mundo, incessantemente, de forma mediúnica, onde podemos fazer a mediação entre o mundo material e o espiritual, principalmente nas igrejas que obedecem à principal lei que Jesus ensinou para seguirmos: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Até aí, os discípulos eram frágeis e indecisos, mas, dessa hora em diante, quebram as influências do meio, curam os doentes, levantam o espírito dos infortunados, falam aos reis da Terra em nome do Senhor.
Este é o poder que Jesus nos concede, desde o passado com os primeiros apóstolos até hoje, conosco, simples discípulos trabalhadores na seara da Praia do Meio, dentro de uma Associação Cristã de Moradores e Amigos e onde rogamos à absorção da Luz Divina para fortalecer nossa fé e às energias reduzidas.
Estamos dentro da era da mediunidade, espírito-matéria, alicerce de todas as realizações do Cristianismo, através dos séculos.
Contra esse fluxo Divino, trabalham, até hoje, os prejuízos morais que avassalam os caminhos do homem, dos irmãos perdidos nas trevas da ignorância, que não sabem que têm um Pai celestial, bondoso, misericordioso e justo.
Este é o nosso trabalho, informar sobre a gloriosa luz dos céus oferecida às criaturas, testemunhada na mediunidade do Pentecostes, e onde se edificam as construções espirituais de todas as comunidades sinceras da Doutrina do Cristo, que se amplia cada vez mais, com discípulos, moradores e amigos.
UFRN/CCS/HUOL/DMC/Foco de Luz/AMA-PM/Conselho Consultivo em 17-02-25
Lembro com nostalgia os sonhos que foram gerados em minha mente na adolescência. Dentre eles o que mais surgia com força suficiente para me deixar refletindo nos frequentes momentos de solidão, era uma garota que estudava comigo, dentre todas a mais bela. Logo fiquei apaixonado, mas minha baixa estima associada a introspecção e inibição/fobia social, criaram uma barreira intransponível, a ponto de me manter à distancia, e se ela bem observasse imaginaria que eu apresentava algum tipo de ojeriza por ela. Jamais ela poderia imaginar que eu estava apaixonado por ela e que temia que uma simples troca de olhar denunciaria sem palavras o que meu coração sentia.
Esta paixão platônica me acompanhou durante os anos de ensino médio, todos repletos de sonhos românticos onde minha alma livre dos preconceitos e/ou transtornos que me aprisionavam, criava cenas e situações onde todo o amor que eu tinha represado no peito explodia na mente como fogos de artifício, belos e fugazes.
Mas, Cupido às vezes é teimoso e quer tentar o milagre de fazer falar um coração que se tornara um mudo seletivo, que não encontra palavras para se declarar a quem é fonte do seu amor. Pois essa menina, agora uma mulher tanto mais bela quanto antes, foi fazer o mesmo curso médico que eu. Talvez a minha percepção de tão forte bloqueio mental na minha alma, tenha me induzido a me especializar em Psiquiatria. Porém não havia mais espaço para a realização dos desejos de Cupido, pois tanto eu quanto ela estávamos casados.
A vida seguia o curso da evolução, tanto eu como ela, e com as pessoas que Deus colocava em nossos caminhos para testar a boa seiva dos nossos comportamentos. Aqueles sonhos da adolescência nunca se dissipavam e a minha memória criava uma realidade virtual e individual da qual somente eu tinha acesso. No curso médico e depois durante o exercício de nossas profissões, eu já conseguia falar com ela, como colega. Já não temia que meu olhar denunciasse o meu sentimento, até fazia torcida para que isso acontecesse, já que meu coração continuava mudo.
Ontem, o mudo chorou... Nossa turma de medicina se reuniu em um almoço que há tanto tempo não fazíamos e senti a ausência dela e perguntei a amiga próxima. Foi dito que ela estava vítima do Mal de Alzheimer, que não reconhecia as pessoas íntimas, não conseguia fazer suas necessidades sozinha. Ainda bem que o coração não chora para fora, senão o meu pranto teria estragado a reunião festiva do almoço. Tentei descobrir, de forma sutil, qual era o seu endereço.
Este agora é o meu sonho atual. Chegar no seu apartamento onde ela está na companhia de cuidadoras e dizer quem sou. Dessa fez o coração mudo não tem importância, as palavras não tem mais como serem codificadas. Dessa vez é o meu olhar que tentará falar com sua alma, que tentará dizer o quanto amor eu sinto por ela e pedirei perdão, a ela e a mim, por nunca ter confessado. Sei que nesse momento as lágrimas não poderão ser contidas, como acontece neste momento de digitação.
As palavras agora não têm significado. Nossas almas se comunicam apenas com o olhar. Eu repassarei para ela todos os anos de amor platônico, e perceberei uma risada juvenil, como a dizer “que bobo, eu gostava de você, mas pensava que você tinha raiva de mim por alguma coisa que eu não sabia o que era”. Eu pegaria na sua mão pela primeira fez, como jamais tivera coragem de fazer, e diria que nosso tempo de gerenciar os nossos corpos estava acabando, que não tivemos oportunidade de gerenciar um possível amor carnal entre nós, mas tivemos outras oportunidades com tantas pessoas que passaram por nossas vidas.
Formaríamos um contrato entre nós, que no próximo encontro que tivermos, no mundo espiritual, que levarei comigo e ela consigo, todos os amores que cultivamos ao longo de nossa vida material que o bom Deus nos concedeu.
Faremos uma grande festa no Céu!
1980...
Parece que foi ontem, mas nossos cabelos que ainda restam, tingidos ou não, são testemunhas de que já se vão chegando os 45 anos, onde 100 jovens ingressavam no mercado de trabalho com o diploma do curso de medicina concluído na UFRN.
Uma pequena parte desse grupo, menos de 20%, resolvemos almoçar juntos no restaurante Zeh, no shopping Midway. Foi um desafio para mim, que beiro a síndrome de Asperger, avesso à vida social. Mas todos nós já estamos dentro ou próximo dos 70 anos, o nível de sabedoria e compaixão aumenta, o medo fica mais atenuado.
Vesti a minha melhor roupa e sosseguei o meu coração, afinal nos comunicamos frequentemente pelo grupo no Zap. O problema seria reconhecer os colegas, pois o tempo é implacável e deixa suas marcas. Como foi reservado uma mesa com 20 lugares, procurei me orientar pelo tamanho. Vi alguns rostos familiares, mas não tive certeza, mas logo o aceno sinalizou que eram os meus amigos.
Interessante, como aprendemos a cada dia... observei todos na mesa, nos cumprimentamos, a mente através do cérebro fazia a varredura, do corpo, do rosto, da fisionomia, da aparência de cada um... procurava em cada traço investigado a correspondência com o passado. Mas não foi a mente que fez a conexão, foi o coração. A cada fala, cada sorriso, cada olhar, era o coração que sentia, identificava e iluminava a minha mente, espantava a minha teimosa inibição e fazia jorrar os meus conhecimentos, sentimentos e fé na participação e integração com todos.
Comentamos e nos gratificamos mutuamente pelos frutos dos nossos corpos, através dos filhos, netos e bisnetos que já integram a humanidade com o toque de nossa educação; ouvimos e aplaudimos poesias intuídas no coração com o reforço da fé, do amor e do exercício da profissão; comentamos e nos ressentimos pela perda precoce de alguns colegas e de outros atingidos por doenças e que não conseguem mais nos reconhecer; comentamos e sentimos falta de tantos que por tantos motivos não estão presentes conosco.
Lembrei como nunca daquela lição que Jesus nos deixou, quando falou para seus ouvintes, que, quem eram sua mãe e seus irmãos, eram aqueles que estavam com Ele e que queriam fazer a vontade do Pai. Olhei para meus amigos e percebi a sabedoria do Cristo; sim, eu estava exatamente dentro da Família Universal que Ele ensinou, cada amigo ali presente, reconhecia Deus como Pai e cada um queria obedecê-Lo, amando ao próximo como a si mesmo.
Pedi permissão para sair, tirei a última foto do dia com alguns amigos mais próximos, e reforcei o empenho para que possamos fazer novos encontros como este.
Sai agradecendo a Deus pela oportunidade de me sentir incluído na Sua Família Universal, e que derrame a Sua graça por toda a humanidade, para que reconheçam a Sua existência, o Seu amor e Sua justiça, principalmente nossa turma, Médicos-1980-UFRN.