Francisco de Assis por sua imensa fé e esforço sobre-humano para ser a imitação do Cristo, passou a sofrer os mesmos ferimentos que o Cristo sofreu em sua crucificação. Nas mãos e pés os sinais dos cravos e do lado direito uma cicatriz como que transpassado por uma lança. Com muito empenho escondia essas coisas dos estranhos,ocultava-os com muita cautela dos mais próximos, de modo que os irmãos, devotíssimos seguidores, por muito tempo as ignoraram. Para que o aplauso humano não roubasse a graça que lhe fora concedida, esforçava-se por escondê-las. Experimentara que era grande mal comunicar tudo a todos, que não podia ser espiritual aquele cujos segredos não são mais perfeitos e mais numerosos do que aqueles que se veem no rosto e que podem pela aparência ser julgado em toda parte pelos homens. Pois ele havia encontrado alguns que concordavam exteriormente com ele e discordavam interiormente, aplaudindo na frente e rindo por trás; estes fizeram com que os corretos lhe fossem suspeitos. Concluía que, muitas vezes, a malícia procura denegrir a pureza, e por causa da mentira, que é amiga íntima de muitos, não se crê na verdade de poucos.
É incrível essa percepção de Francisco, o quanto me traz de lições para o meu comportamento, como eu seria mais prudente no uso da verdade, no esquivar da mentira, se eu tivesse lido esse trecho antes. A graça que o Pai me deu, de perceber a realidade da vida e dos relacionamentos de acordo com os ensinamentos de Jesus para a construção Reino de Deus, eu teria tido mais cuidado em dizê-los de forma tão transparente em nome da verdade. Iria saber que muitos que me elogiaram na presença, por trás entraram na galhofa, na ironia, no riso sarcástico; iria saber que da verdade pura e transparente que eu disse, apenas iriam ser ressaltados os aspectos negativos, transformados em pejorativos e alimentados nos preconceitos. Não teria o desgosto de ver a pureza do que comunicava ser denegrida pela malícia, de ser construída em cima disso a mentira que é cúmplice de muitos, de ver desacreditada a verdade.
Devo absorver com competência essa lição de Francisco, afinal ele foi competente em ocultar a graça recebida, mesmo estando exposta em seu corpo, por que então não consigo fazer o mesmo com a minha graça dentro dos meus pensamentos? Não quero dizer com isso que irei privilegiar a mentira, jamais! Irei sim, ser prudente em não colocar a verdade que vai ao meu coração, pensamentos e sentimentos para todos, devo fazer uma triagem rigorosa nesse sentido e omitir a graça que sinto ter sido merecedor. No entanto, em qualquer momento que a verdade for convocada, jamais ela será repudiada, mesmo que as consequências sejam por demais dolorosas.
Passamos a vida toda experimentando a força da gravidade sem associar os fatos a ela. Notamos por exemplo que os objetos “caem para baixo” como a maçã madura que despencou da árvore e impressionou o físico inglês Isaac Newton. Em função disso, ele foi o primeiro a apresentar em 1686, uma descrição correta do funcionamento dessa força na terra e no sistema solar, propondo que valesse para todo o Universo. Segundo Newton, todo corpo existente no Universo atrai e é atraído por todos os outros corpos. Ele concluiu ainda que, além de ser essa a força que puxa os corpos em direção ao centro da terra, é também ela a responsável pelo fato de a lua ficar em órbita ao redor do nosso planeta, que, por sua vez, gira em redor do sol. Ninguém sabe ainda explicar como essa força misteriosa funciona.
Existe outra força também difícil de explicar, mas de fácil comprovação, o amor. É a força mais abstrata e também a mais potente que há no mundo. Tem suas semelhanças com a força da gravidade, pois pensadores como o filósofo grego Empédocles (490-430), por exemplo, motivado pela vitalidade poderosa do amor, definiu-o como sendo “a força que preside a ordem no mundo”, incidindo, sem dúvida, no conceito de que a Divindade é amor, enquanto a criação resulta de um ato de amor. Sócrates (469-399), outro filósofo grego, na sua doutrina Maiêutica, distinguia-o pela feição divina, aquela que reúne todos e tudo. Portanto, parece que o amor, como a maior força e responsável pela manutenção do Universo na união dos elementos em todas as dimensões, origina a nível físico a força da gravidade para promover o mesmo efeito nos elementos materiais. Então, no campo físico, material, observamos a atração feita pelos grandes corpos celestes através da força da gravidade, estrelas, planetas, satélites, etc. No campo transcendental, abstrato observamos a força do amor, principalmente nos relacionamentos humanos, que provoca a aproximação, a inclusão, a solidariedade entre todos. O que dificulta o processo é que foi formado organismos biológicos compostos por trilhões de células, cada uma empenhada em sua própria sobrevivência e dessa forma gera uma outra força local que se contrapõe ao amor: o egoísmo. Mas, com o processo educativo, de esclarecimento das consciências, de erradicação da ignorância, o amor pode ser usado em plenitude e chegar até a posição ideal da criação do Reino de Deus.
O Senhor é o meu rochedo, minha fortaleza e meu libertador. Meu Deus é a minha rocha, onde encontro o meu refúgio, meu escudo, força de minha salvação e minha cidadela. (Sl, 17, 3)
Quando assumi na consciência a existência de Deus, conquistei a dupla cidadania com o mundo espiritual e deixei de ser órfão existencial, passei a ter acesso à Fortaleza de Deus que o salmista refere acima.
Então, hoje me considero mais seguro, mais adaptado, mais confiante do que antes. Posso entender a crítica que me fazem direta ou indiretamente, de que acredito em coisas que não existem, que perco meu tempo com leituras e práticas que não trazem lucros financeiros, materiais... Quando observo essas críticas e comparo o meu ontem com o hoje, percebo o quanto evolui dentro da minha dupla cidadania e de filho de Deus. Essas críticas não me trazem nenhum sentimento de humilhação, por ser considerado um néscio, um inocente, um bobo, por essas pessoas, pelo contrário, desenvolvo um sentimento de compaixão por elas, que não consideram o mundo que não veem, no Pai que não acreditam e passam seus efêmeros dias na terra preocupados apenas com as coisas ilusórias... não participam da eternidade da vida.
Muitos deles já foram à Europa, ao Oriente, conheceram tantos países... eu nunca sai do Brasil, mas acredito que esses países existem, pois eles me trazem fotos, vejo nos jornais, nas televisões; acredito também que exista uma entidade internacional chamada ONU, Organização das Nações Unidas, que congrega todos os países com vista aos seus desenvolvimentos e resolução de conflitos. Acredito que posso me direcionar a qualquer um deles e os conhecer quando assim me aprouver. Acontece que eu também acredito no mundo transcendental que abrange todo o Universo e que pertence a eternidade. Sei que irei logo para lá e que devo me abastecer com todo o ensinamento que puder adquirir que possa contribuir para minha evolução moral. Não posso considerar que tudo isso é fantasia da minha cabeça ou lavagem cerebral imposta por terceiros, pois da mesma forma que recebo provas de outros países, da ONU, do átomo, coisas que nunca vi, também recebo provas com a mesma fidedignidade dentro dos meus critérios éticos, da existência do mundo espiritual e dos seus habitantes.
Então eu escolho a opção, ao invés de dar prioridade à viagem para outros países, onde eu tenho que aprender a língua, trocar a moeda, adquirir o passaporte, eu escolho me prepara para o mundo espiritual, onde a realidade não é aparente, onde a vida não é efêmera, onde a lei não é deturpada, onde os sentimentos são virtuosos, onde mora meu Pai, minha Fortaleza.
Não há uma maneira adequada de explicar o conceito cristão de Trindade. É impossível de ser compreendido por qualquer ser humano, quanto mais explicado. Deus é infinitamente maior do que nós, por isso não somos capazes de compreendê-Lo totalmente. A palavra Trindade não é usada nas Escrituras, mas mesmo assim o conceito se encontra implícito, tanto nas formas gramaticais usadas quanto na referência dos relacionamentos. Por exemplo, Jesus fala ao Pai para enviar um Ajudador, o Espírito Santo. Isso demonstra que Jesus não considerava a Si mesmo como sendo o Pai ou o Espírito Santo. As Escrituras mostram que o Espírito Santo é subordinado ao Pai e ao Filho, e o Filho é subordinado ao Pai. Também mostra que o Pai é a fonte máxima ou causa do Universo, que o Filho é o agente através do qual o Pai faz a manutenção do Universo, e que o Espírito Santo é o meio pelo qual as obras são realizadas.
Tenho uma compreensão um pouco diferente dessas forças espirituais que formaram e conduzem as coisas do Universo. O Pai está identificado corretamente como Deus(a) e Criador do Universo, cuja imponência existencial é inalcançável por minha limitadíssima mente. O Filho é o agente mais evoluído em um determinado setor do Universo, que fica responsável por sua evolução, assim como Jesus ficou responsável pela evolução da terra na condição de governador espiritual. Cada orbe tem o seu governador e como existem bilhões, trilhões... não sei, de orbes no Universo e que cada dia se expande mais, existem incalculáveis Filhos gerenciando em nome do Pai e que cada dia aumenta mais. O Espírito Santo é o meio pelo qual o Pai e o Filho operam na realidade material e transcendental; o Pai cria entidades inteligentes, mas ignorantes, que por seus próprios esforços adquirem estrutura moral para administração dos mundos alcançado o conceito de Filho. O Filho se posiciona no meio desse escalonamento hierárquico entre a inteligência máxima do Pai e a ignorância máxima dos seres espirituais recém formados. Tem a responsabilidade de contribuir com o seu aprendizado e viabilizar uma evolução mais rápida, como fez Jesus aqui na terra. O Filho tem assim, a mesma origem da massa dos espíritos recém criados e que estão sob sua responsabilidade. São, portanto Irmãos. Dessa forma a descrição dessas forças da Trindade, na minha compreensão, pode ser mais bem discriminada assim: Pai, Filhos e Irmãos.
O conceito de Pai nessa compreensão se adéqua às Escrituras, já o conceito de Filho não. O Pai tem alcance ilimitado por toda sua criação, por todo o Universo, já o Filho, por mais evoluído que seja não tem o mesmo alcance. Não consigo imaginar Jesus em sua missão redentora aqui na terra, em plena tortura no calvário, e também administrando um planeta há milhares de anos-luz da terra, quanto mais todos os planetas do Universo. O conceito de Espírito Santo deixa de ter uma identidade e passa a ser a essência, o próprio “corpo” do Pai do qual libera as centelhas para animar a matéria e cada uma adquirir consciência e atributos morais à sua semelhança onde em estágio bem superior atinge a denominação de Filho. As infinitas centelhas de Deus espalhadas pelo Universo, os Irmãos em processo de aprendizado para superar a ignorância inercial, pululam nos diversos orbes em constante transformação da matéria, para o bem, para o mal, mas sempre submetidas ao poder corretivo para o bem, que os Filhos implementam obedecendo ordens do Pai.
No Evangelho de João é citado um trecho que diz: Surgiu um homem enviado por Deus, chamado João. Ele veio como testemunha, para testificar a respeito da luz, a fim de que por meio dele todos os homens cressem.
A mensagem de João foi: “Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo.” Em outras palavras, o Messias chegaria e inauguraria seu domínio. A fim de estarem prontas para a sua chegada, as pessoas deveriam se arrepender e receber o batismo de arrependimento de João para o perdão dos seus pecados. Muitos responderam ao seu apelo. Confessando seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão.
Observo que o objetivo final de toda essa movimentação é a formação do Reino dos céus e que para isso depende da transformação interna de cada um, de um novo renascer consciencial. Jesus é o principal fermento dessa movimentação, com seus ensinos e principalmente com seu exemplo. É considerado o governador espiritual do nosso planeta e todo aquele que adquire esse novo nascer se capacita a ser um dos seus súditos, um cidadão do Reino.
Para tudo isso atingir uma massa crítica é necessário que haja número suficiente de consciências renascidas. Daí a importância de tantos profetas ao longo do tempo, sinalizando para que seja acatada a vontade de Deus e que viria um Messias para fechar todo esse processo de informação.
Do meu insignificante ponto de vista, dado a magnitude de tão amplo projeto de Deus para a terra, me sinto convocado pelo Mestre Jesus que mais uma vez está próximo de nós organizando o trabalho que precisa ser feito. Sei que não tenho a têmpora de um Francisco de Assis ou Paulo de Tarso, mas minha consciência acusa com clareza o que precisa ser feito e onde a minha capacidade inata e adquirida pode contribuir de forma efetiva. Tenho a coragem de assumir em minha vida boa parte desses princípios dentro dos relacionamentos afetivos, mas sou bastante displicente com o trabalho de caridade em comunidade que também me sinto capacitado e não tenho energia para realizar. O testemunho de João veio antes de Jesus e o preparou para assumir sua missão. Agora Jesus necessita que sua mensagem seja colocada na prática, além da evangelização, do ensinamento das boas novas. É necessário que surja um novo João Batista que opere a construção do Reino dos céus, a partir do interior do coração, dos relacionamentos íntimos e externos, e da reconstrução comunitária.