No dia 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) adotou e proclamou a Declaração Universal dos Direitos humanos, e em 1950 o dia 10 de dezembro foi estabelecido como o Dia Internacional dos Direitos Humanos pela ONU.
A Declaração considera o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis como fundamento da Liberdade, da Justiça e da Paz no mundo. Todo o documento tem a preocupação de cercear os efeitos do egoísmo nas relações humanas. Apesar dos países a aceitarem e dizer obedecer aos seus princípios, observamos por toda a face do planeta a falta de respeito com a dignidade humana, de pessoas morrendo de fome, vítimas de violências, de pestes, de guerras, e os países signatários da Declaração se mostram impotentes e as vezes partícipes e geradores dessa incoerência. A administração humana mostra assim o seu colapso, a falta de motivação, de apoio e de empenho no cumprimento de suas determinações. A força do poder fala mais alto, a ideologia humanística de grupos engajados na transformação da miséria da sociedade, ao atingirem o poder esquecem o que defendiam e passam a fazer o que combatiam. Mesmo com toda evolução tecnológica que conseguimos, esse comportamento humano não foi modificado. A raiz egoísta que o mantém não consegue ser atingida por esses decretos, os dirigentes quando bem intencionados e atuantes, não colocam os princípios em prática, tendo em vista a forte corrente contrária.
A outra opção que temos é voltar a atenção aos ensinamentos de Jesus. Começar a transformação da sociedade a partir da transformação dos nossos corações, da Reforma Íntima e reconhecendo o dirigente maior, a hierarquia superior de Deus, que a tudo preside e de cuja justiça não se pode esquivar. Fazendo assim, acredito, caminharemos em direção aos Direitos Humanos aplicados na face da terra e a construção, enfim, do Reino de Deus.
Hoje é o dia internacional contra a corrupção. Dom Pedro Casaldáliga fazia uma oração que ele intitulava Deus de toda vida... que era assim: “Deus de toda vida, único Senhor da terra, Pai-mãe da família humana! Tu nos queres vivendo em irmandade, sem medo e sem violência, sem egoísmo e sem corrupção: na justiça, na solidariedade e no amor. Teu é o Reino e a Glória para todo o sempre. Amém.”
Corrupção do ponto de vista etimológico, significa deterioração, quebra de um estado funcional e organizado. Vem do latim corruptus, que significa quebrado em pedaços. O verbo corromper significa tornar pútrido.
A corrupção também pode ser definida como utilização do poder ou autoridade para conseguir obter vantagens e fazer uso do dinheiro público para o seu próprio interesse, de um integrante da família ou amigo. É caracterizado pelo favorecimento de alguém prejudicando outros. Toda sociedade corrupta sacrifica a camada pobre, que depende puramente dos serviços públicos. Quando o governo não tem transparência em sua administração é mais provável que haja ou que incentive essa prática , e quando a população é mais esclarecida acerca dos seus direitos, é mais difícil de ser enganada.
Parece que esse comportamento corrupto é uma característica indelével do mundo material, porém como a oração de Dom Pedro Casaldáliga a inclui, posso também a imaginar nas relações espirituais.
O amor que eu recebo de Deus tenho que o distribuir com justiça, transparência e caridade. Devo seguir a hierarquia nessa distribuição: Deus, eu e o próximo. Devo amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a mim mesmo. Esta é a regra básica por onde flui a Lei do Amor. Caso eu não a obedeça, estarei também sendo corrupto no campo espiritual.
A corrupção maior é não reconhecer o meu Criador o que me criou e me mantém no amor. Por atendimento à Justiça é preciso que eu devote a maior parte do meu amor para Ele. Depois disso, devo dirigir o amor a mim próprio, pois como ser vivo, consciente e com livre arbítrio, e feito à semelhança de Deus, sou quem merece a distribuição do amor em segundo plano.
Agora, é na relação com o próximo que existe o maior risco de corrupção, como acontece no mundo material. Primeiro, porque o próximo não pode ter rótulo de inclusão ou de exclusão. Todos merecem ser incluídos, ninguém merece ser excluído, desde que todos são feitos semelhança de Deus, e o que eu faça a qualquer um que esteja próximo, estarei fazendo também a Deus. Pois aqui acontece as grandes corrupções no campo espiritual e que se reflete no campo material. A minha tendência é direcionar todo o meu amor para as pessoas que tem um significado biológico, quer seja um pai, uma mãe, um irmão, uma companheira, tudo com um forte componente exclusivista. Já não me incomoda ver o próximo passar pela vida despercebido, sem carinho, sem amor... todo o amor que tenho deve ser direcionado para meus parentes! Existe ainda um policiamento, todos já adquiriram essa prática do exclusivismo na distribuição do amor e se eu vou distribuir o meu amor alhures e deixo meus parentes sem o meu amor nesse momento, sou vítima de críticas, de admoestações, até de represálias, como ser expulso de casa como já aconteceu duas vezes.
Mas eu evito a corrupção, tanto no campo material quanto no campo espiritual. Todo o amor que eu tenho e que recebo em abundância do Pai, jamais o distribuirei para somente alguns em detrimento de outros, assim como faço com o dinheiro que chega aos meus bolsos. Se meu destino ao me comportar assim é viver pobre e sem companhia, já estou preparado para isso. Todo sofrimento que vier sobre mim em decorrência disso, terei a compensação no mais íntimo do meu coração, de que estou fazendo a vontade do Pai e obedecendo a Sua Lei, sem corrupção!
Ninguém duvida da importância do trabalho para conquistarmos o direito de alimentar o corpo e assim sobreviver. Existem diversos tipos de trabalho e no meu caso quero ressaltar um que me tira da proximidade das pessoas que tenho convivência íntima: o plantão. Sempre que vou para o hospital em função de um plantão, fico 6, 12 ou mesmo 24 horas longe das pessoas que amo com mais profundidade devido os laços de intimidade. Todas entendem essa necessidade, ninguém fica chateada, ressentida, porque coloco parte do meu tempo no acolhimento com outras pessoas, ajudando de forma técnica e procurando amar cada um como a mim mesmo. Todas entendem que este tempo gasto nessa atividade é o que vai proporcionar alimento para o meu corpo e para os meus dependentes. Longe de me criticarem por causa disso, todas me elogiam, que eu não sou preguiçoso, que sou trabalhador, e dessa forma alimentam mais ainda o meu amor por mim.
Por outro lado, sei da importância do mundo e da vida espiritual. Sei que minha passagem pelo mundo da matéria é fugaz, um simples momento de aprendizagem, nada mais! A verdadeira vida é desenvolvida no plano espiritual para onde voltarei após a falência deste meu corpo físico. Portanto, o alimento do corpo é importante, porque garante que meu instrumento material por onde o meu espírito se qualifica, se mantém em boas condições de operacionalidade. Mas, o mais importante é que eu consiga o alimento espiritual para a minha alma, este é o objetivo maior. A maior fonte de alimento para a alma é o amor. Amor este dirigido para Deus em primeiro plano, como arquiteto do universo e Criador de toda a Natureza e criaturas. Em segundo plano para mim mesmo, reconhecendo o meu corpo e meu espírito como elementos que seguem o meu livre arbítrio na direção do que eu considero como mais importante. Em terceiro plano o próximo no qual eu vejo também a presença de Deus que deve ser amado tanto quanto eu. Nessa relação com o próximo pode surgir o interesse tanto material (reprodutivo) quanto espiritual (evolução afetiva e moral) de uma integração maior, de um nível de intimidade que pode chegar ao máximo na troca de fluidos, na relação sexual. Eis a fonte do alimento para a alma, em qualquer um dos três níveis.
No entanto, observo um grande paradoxo: enquanto todas entendem o meu afastamento para adquirir o alimento para o corpo, ninguém entende o meu afastamento para eu adquirir o alimento para minha alma. Caso eu esteja num plantão todas entendem o meu afastamento e não se incomodam por estar só; caso eu esteja num encontro afetivo com outra pessoa, ninguém que esteja só entende o meu afastamento. Onde estará a raiz desse paradoxo? No plantão quem está só entende que o meu afastamento é para que eu tenha recursos para garantir a sobrevivência física, inclusive dela que está a distância; no encontro afetivo quem está só pensa que está abandonada e que o meu afeto vai ser com exclusividade de outra pessoa. Eis aí a raiz do paradoxo! Como explicar a quem fica só, que a minha alma está se alimentando, que eu estou me fortalecendo com a luz do amor, e que esse resultado também será benéfico para ela que está distante? Como explicar a quem fica só, que esse amor que alimenta minha alma vem através de outra pessoa, mas sua fonte é divina, vem do próprio Deus? Mesmo que tenha um aspecto animal, instintivo, de romantismo, de sexualidade? Alguém acreditará que o amor incondicional que vem do próprio Deus é superior a qualquer outra forma de amor, por mais forte que seja como o amor romântico que pode levar a uma paixão avassaladora? Eu acredito, eu sinto isso, eu pratico isso!
Então, estou em outro patamar de compreensão e de condução da vida quando comparado com a maioria das pessoas, inclusive muitas altamente espiritualizadas. Não quero dizer que sou o dono da verdade e que todas as pessoas que pensam diferente estão erradas. O que quero dizer é que a minha consciência, onde se encontra a Lei de Deus, entende que a vida se procede dessa maneira e que devo realmente priorizar o alimento da alma em detrimento do material. O alimento do corpo é o meio, o alimento da alma é o fim. Não posso direcionar meu comportamento para os meios e sim para o fim. Foi este o objetivo da minha vinda para esta nova encarnação que estou vivenciando. Caso eu abandone minha posição racional de alimento da alma, e passe a praticar apenas ou priorizar as ações que apenas alimentem o corpo, eu não cumprirei minhas obrigações espirituais que devo ter assumido ao reencarnar. Além do mais, se eu desse a prioridade de minhas ações ao alimento material, com certeza ninguém faria tanto esforço para ficar comigo com exclusividade, pois veria que minhas ações seriam apenas para garantir a minha satisfação material e com certeza os prazeres do corpo eu iria encontrar com muito mais abundância em qualquer local desse mundo material. Seria uma pessoa mais jovem, uma bunda maior, um seio mais esculpido, uma pessoa mais rica, e por aí vai. Ninguém se sentiria tão confortável ao meu lado como se sentem agora, quando o meu foco é o alimento espiritual e no qual todos os seres são considerados, principalmente quem tem ou teve um relacionamento íntimo comigo.
Mas, reconheço, conviver comigo que tenho um foco no alimento espiritual, enquanto a pessoa tem um foco ainda forte no alimento material, gera um conflito com potencial devastador para quem não está suficientemente espiritualizada. Tenho o exemplo da minha primeira companheira e da segunda também. Esta última até hoje não consegue me encarar e olhar nos olhos, tamanha é a decepção que ela tem comigo e do ressentimento do que ela poderia ter e que eu nunca poderia ou poderei dar: a exclusividade do meu amor. Tenho que ser cuidadoso nesse aspecto e não deixar muito perto de mim pessoas que sofrem tanto quando estou alimentando o meu espírito com outras pessoas.
Por fim, peço a Deus a sabedoria necessária para entender com segurança a Sua Lei do amor, que eu reconheça os meus erros e que tenha coragem de corrigi-los o mais breve possível; que eu consiga aconselhar e orientar comportamentos e sentimentos das pessoas que me amam tanto e que me querem com tanta exclusividade. Que eu tenha a firmeza de manter o meu comportamento e condições de vida dentro dos padrões exigidos pelo Pai para que eu consiga fazer valer a Sua vontade, não a minha e nem a vontade de quem me acompanha nesta jornada atual da vida.
No primeiro momento que li esta assertiva de São Francisco de Assis, fiquei meio encucado. Como é que o amor não é amado? De onde ele tirou isso? Fui ver então porque ele afirmava isso e vi que era uma conjectura, talvez mesmo uma contestação, do que aconteceu com Jesus. Ninguém que tenha conhecimento da vida de Jesus, pode contestar que a principal lição que ele estava sempre mostrando em prática e teoria era o amor. Pode assim ser considerado o embaixador do amor, que veio em nome do Pai (Deus) transmitir essa magna lição aos ignorantes nativos deste planeta. Mas, o que aconteceu a Ele? Foi derrotado numa eleição direta quanto viver ou morrer, onde concorreu com um assassino confesso e quem votou de forma aberta foi justamente a massa que Ele tanto cuidou, curou e amou. Depois dessa condenação, seguiu após ser açoitado de forma impiedosa e coroado com espinhos, por uma estrada tortuosa e íngreme, conduzindo um pesado madeiro, apupado pelos curiosos, em direção ao monte onde seria crucificado. Está muito certo São Francisco ao chegar a essa conclusão: o amor, representado pelo Cristo, não é amado pela massa humana que Ele tanto amou, e curava o corpo e a alma.
Posso dizer que passo por experiências parecidas. Considero-me um discípulo do Mestre Jesus e procuro incorporar em minha vida suas lições, principalmente a Lei do Amor. Como Ele fazia também eu procuro fazer. Amar a todos que estejam próximos, indistintamente. Vou até mais além e chego a me envolver intimamente, chego ao ponto de trocar fluidos com a pessoa que naquele momento está sendo amada. Com esse comportamento acredito ficar mais próximo do Reino de Deus, o qual Jesus ensinava nascer no nosso coração e se consolidar na comunidade, nas diversas formas de amar com inclusividade, onde todos são incluídos e não excluídos e daí viabilizar a família universal. No entanto, as pessoas mais próximas, para quem o amor é mais fortemente canalizado, dão o exemplo de que não amam o amor, expulsam com atitudes iradas de suas presenças o agente do amor, pelo simples fato do amor naquele momento não ser dirigido para elas. É uma tarefa difícil, amar tanto e saber que no fim vai ser repudiado pelo outro a quem também dedica amor, justamente devido a isso: amar!
Tenho a consciência da existência dos mundos, material e espiritual. Sei que o mundo espiritual é onde se processa a vida real, a matéria é apenas reflexo de realidade, fugaz, temporária. Passei do mundo espiritual para o mundo material com o objetivo de aprendizado, de conhecer as forças oriundas do interesse reprodutivo e saber domesticá-las de acordo com as necessidades de aprimoramento moral do espírito. Assim, sei que minha existência agora no mundo material, tem o propósito de cumprir uma determinada tarefa de interesse do espírito, cumprir uma missão.
O caminho que leva ao cumprimento da minha missão foi elaborado ao longo do tempo da minha educação, da oportunidade que tive de aprender com diversos professores, acadêmicos, técnicos, místicos, religiosos, etc. Cada um tem igual oportunidade, porém as chances de aprendizado por qualquer tipo de corrente do pensamento, varia muito de indivíduo para individuo, pois uma mesma experiência partilhada por dois indivíduos, mesmo que eles sejam gêmeos idênticos, sempre vai haver alguma perspectiva que um tem, que aprendeu, e o outro não. Isso implica que, mesmo que a pessoa tenha uma proximidade muito grande com os respectivos paradigmas de vida , sempre vai haver algum ponto destoante, por mínimo que seja.
As pessoas que tenham um mínimo de diferença de seus respectivos paradigmas, são os mais capacitados para se tornarem companheiros no jornadear da missão. Ao longo da minha vida encontrei muitas pessoas que despertavam simpatia e motivavam o aprofundamento da relação, mas logo se percebia pontos de profundas distorções com o potencial de impedir o companheirismo harmônico.
Cada vez mais vou adquirindo a consciência de que, qualquer pessoa que passe a morar comigo, ou mesmo conviver com mais intensidade, vai logo despertar esses pontos de distorção de paradigmas, o que gera conflitos, desarmonia e queda da qualidade de vida. Tenho que ter o bom senso de que, quando observar essa ocorrência, cortar de imediato o nível dessa convivência, sob pena de ver transformado o sentimento de amor que antes essa pessoa nutria por mim, por sentimentos negativos, de raiva, ressentimento, talvez até ódio. Não é isso o que deseja um caminhante do amor!