Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
09/10/2021 00h16
O PODER DO MITO – 6 – DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO

            Encontrei na internet a entrevista de Bill Moyers a Joseph Campbell, publicada em 02-11-2019, com 7.145 visualizações, que achei interessante reproduzir partes neste espaço, para refletir junto com meus leitores neste momento em que o Brasil tem na presidência uma pessoa considerada como mito. Será que Joseph Campbell fará alguma associação moderna com o nosso caso Brasil e reflexos no mundo?

BM – Deixe-me dizer como me sinto quando leio essas histórias, seja qual for sua cultura de origem. Fico maravilhado ao ver o espetáculo da imaginação humana simplesmente tentando entender esta vida. Isso também lhe acontece?

JC – Eu vejo a mitologia como a pátria das Musas. As inspiradoras da arte, da poesia. Ver a vida como um poema e ver a si próprio participando de um poema. É isso que o mito nos dá.

BM – O que quer dizer com poema?

JC – Quero dizer um vocabulário, não em forma de palavras, mas de atos e aventuras, que é conotativo, que conota algo transcendente da ação imediata. E que inspira todo o conjunto de modo que você sempre se sente em sintonia com o ser universal.

BM – O que me interessa nisso tudo é que em vez de abalar minha fé, seu trabalho com a mitologia libertou minha fé das suas prisões culturais.

JC – Libertou também a minha. Sei que ele tem esse efeito com as pessoas que realmente entendam a sua mensagem. Cada mitologia, cada religião é verdadeira nesse sentido. Como uma metáfora do mistério humano e cósmico. Mas quando ela fica presa à sua metáfora, então começa o problema.

BM – E a metáfora é...

JC – Veja, Jesus subiu aos céus. Segundo a história, Ele subiu fisicamente aos Céus. Diz a história que sua mãe, ainda viva, adormecida subiu aos Céus. Então, isso é uma metáfora. Não é preciso jogá-la fora. Mas apenas saber o que ela diz.

BM – E o que ela diz?

JC – Diz que Ele não subiu lá para cima, Ele entrou aqui dentro. Que é onde você também deve entrar. E subir ao Céu através do seu espaço interior até chegar à fonte de onde você veio, de onde veio toda a vida.

BM – É esse o sentido da história? Não estaria assim destruindo uma das grandes doutrinas cardeais da fé cristã clássica? A morte, o sepultamento e a ressurreição de Jesus prefigurando a nossa própria, e superando o corpo com uma verdade física superior? 

JC – Eu chamaria isso de uma leitura errônea do símbolo. É uma leitura em termos de prosa, e não de poesia. Seria ler a metáfora em termos de sua denotação (forma de uso e manifestação da linguagem em seu sentido literal) e não conotação (forma de uso e manifestação da linguagem em seu sentido figurado), compreende? É um problema puramente literário.

Existe muitos símbolos ao nosso redor. Procuramos ver numa primeira análise o sentido denotativo, o que ele quer nos dizer literalmente. Passar um camelo por uma agulha é um símbolo de impossibilidade. Temos que alcançar o sentido figurado para gerar a compreensão do que estar sendo dito.

A bandeira nacional, símbolo da nação brasileira, deve ser visto com uma rara percepção da alma que reside em todos os conterrâneos.

Campbell propõe uma percepção ainda mais complexa, quando diz que a ascenção de Jesus para o Céu tem o significado dele entrar no espaço interior de cada um

Publicado por Sióstio de Lapa
em 09/10/2021 às 00h16
 
08/10/2021 00h07
O JULGAMENTO (S7) – PRIMEIRO PECADO (?)

            Como orientação ao meu leitor que chega agora, oriento que procure ver o início desta série de textos indicados com o “S” de sessão para não perder a lógica do raciocínio, e se achar conveniente fazer críticas ou comentários.

            J – O senhor Réu, queira voltar ao banco das testemunhas e continuar seu relato. Entendemos que até aqui o senhor colocou como funcionava a sua mente, considerando os desejos sexuais que sua amiga despertava, seus compromissos conjugais com a Igreja e com o Estado/sociedade, e com as leis de Deus explicadas pelo cristianismo. Até este momento não houve nenhum relato de crime, mas parece que existe uma preparação para isso, nesses cerca de três anos de amadurecimento de uma ideia. Volto a enfatizar que o senhor está sob a sombra do Estado e de Deus e que a Verdade deve ser revelada com prioridade, sob pena de perjúrio caso de desvio dela.

            R – Sim, Meritíssimo Juiz, desde que entendi que o Cristo é a Verdade, o Caminho e a Vida, como ele declarou, passei a respeitar e praticar a Verdade com muito mais afinco que antes, quando minhas tendências inatas já apontavam para este comportamento, de ser verdadeiro em tudo que eu fizesse. Uma prova disso é que estou aqui, neste tribunal, na condição de réu, sabendo que assim aconteceu por eu ter usado a Verdade e não a mentira. Não teria este momento nenhuma motivação forte o suficiente para que eu desviasse do caminho da verdade, pois este é o caminho ensinado pelo Cristo. Irei falar sobre o meu comportamento que todos podem anotar como o primeiro pecado, observando as leis morais do Estado, dos costumes, da cultura. Mas, que eu considero a primeira obrigação com Deus, de seguir a sua lei do amor, incondicional, obedecendo a bússola comportamental do Cristo. Foi isto que eu observei antes de dar esse primeiro passo: eu iria transgredir a lei humana, mas iria obedecer a lei divina. Não havia muro para eu ficar em cima. Se ficasse parado onde eu estava, sabia que não estava obedecendo a lei de Deus. Se eu fosse sair para namorar com minha amiga fazendo uma relação extraconjugal, estaria cometendo o crime do adultério, mas com a justificativa que estava totalmente dentro da lei de Deus, pois até a resistência do Behemoth de não dar o mesmo direito a minha esposa, eu havia vencido, para não corromper a balança do Cristo, que passou a ser usada frequentemente por mim. Mas devo explicar com detalhes, à luz da verdade, como foi esse primeiro passo. Aceitei o convite da minha amiga para namorarmos. Não seria um namoro convencional, onde duas pessoas se encontram para trocar afetos de forma clara, no meio de toda a sociedade. Sabíamos que estávamos cometendo um delito cultural, que devíamos ser discretos, não deixar ninguém perceber a nossa condição de namorados e com uma finalidade já definida de intercurso sexual. Ela tinha a satisfação de atender os seus desejos eróticos, fato que o seu marido não mais fazia, interessado que estava em fazer tudo isso de forma mais prazerosa, com outras pessoas que ofereciam a novidade da relação. Este fator de novidade, importante para o Behemoth que habita o homem, pois tem interesse em espalhar filhos por onde passasse, uma forma de manter a sua existência além do tempo permitido para uma só vida. Senti que ela estava satisfeita, estava saindo com uma pessoa que ela desejava e que iria lhe respeitar em todas as circunstâncias. Eu, por outro lado, estava bem consolidado nos ensinamentos cristãos que haviam dado os motivos para o ato que estava realizando. O que me trazia incômodo era o fato de minha esposa não saber, pois ela não me perguntara e eu omitira o que estava pensando e agora realizando. Foi um momento especial para mim e minha amiga. O sexo se desenvolveu dentro da normalidade trazendo todo o prazer que esperávamos. Não havia outro compromisso entre nós, a não ser ficarmos juntos e repetir essa experiência, enquanto fosse conveniente. Sabíamos que éramos casados e que não queríamos acabar com a relação com nossos cônjuges em função do que estávamos vivendo. Eu gostava dela, e ela de mim. Não havia paixão entre nós. Mas sabíamos que existia amor, eu mais do que ela. Ela dava mais enfoque ao prazer sexual que sentia. Eu dava mais enfoque a sensação do amor que o prazer sexual consolidava. Tivemos vários encontros dentro dessas perspectivas. Nos afastamos devido mudanças no nosso trabalho que fazíamos juntos, e não sentimos necessidade de procurar vencer novos obstáculos para mantar a nossa relação. Entendemos que essa experiência que tivemos foi muito válida, que não deixou nenhum tipo de ressentimento entre nós. Pelo contrário, o que ficou foi um sentimento de gratidão, de parceria, de companheirismo momentâneo de um com o outro. Senti que depois disso, a minha relação conjugal com minha esposa melhorou muito. Eu não a considerava como minha carcereira, pois podia ter outras experiências sexuais fora do casamento, quando assim as circunstâncias se oferecessem e não houvesse impedimento do amor incondicional para que eu usasse a balança comportamental nesse sentido. Acredito que com a minha amiga tenha acontecido da mesma forma. Seu casamento ficou mais equilibrado, pois o mesmo direito que o seu marido tinha de atender o Behemoth dele, ela também havia conquistado. Só que havia ainda um elemento de distonia. Era a verdade que não era conhecida por nossos cônjuges. Vivíamos na clandestinidade para eles. Para a minha amiga não havia disposição de confessar isso para o marido, e eu entendia suas razões, a brutalidade dele, a violência, o machismo. No meu caso, não. Eu pretendia confessar à minha esposa, mas como sabia que isso iria fazê-la sofrer, eu adiava. Mas, a minha consciência estava tranquila. Eu sabia que estava cumprindo a lei de Deus em um nível difícil, pois me colocava contrário a lei humana, de ser um adúltero. E eu entendia que a lei eterna de Deus tinha prioridade frente a lei humana, efêmera. 

            AA – Observem, senhores jurados, a confissão do primeiro crime cometido pelo réu, na sagrada instituição do casamento, violando as leis de Deus e do Estado, sendo um adúltero e promovendo o mesmo em outras pessoas. Violou a confiança que seus cônjuges tinham neles e prejudicou o desenvolvimento familiar, moral e ético dos seus filhos. Anotem que essas ideias extravagantes do réu permaneceram e se ampliaram no seu psiquismo, trazendo vários prejuízos sociais e sofrimentos individuais no meio social. 

            AD – Queiram anotar, senhores jurados, que nenhum mal foi praticado a nenhuma pessoa até este momento. Os dois se relacionaram com harmonia e prazer. O conjunto da vida familiar de ambos foi beneficiado pela melhor sintonia psíquica dos dois amantes no seio de suas respectivas famílias. Se tivéssemos que julgar agora, somente com essas informações, tudo foi positivo, e acredito que a primeira vítima não iria contestar e sim afirmar, se tivesse capacidade de avaliar o fluxo comportamental nesse período pré e pós o envolvimento extraconjugal dos dois amantes. 

            AA – Mesmo não tendo acontecido de ninguém se declarar vítima do que estava acontecendo, um ilícito acontecia. E todo ilícito traz prejuízo para alguém, mesmo que esse alguém não saiba ainda que está sendo vítima. Os dois criminosos passaram a viver dentro do ilícito, com perfeita compreensão do que estavam fazendo. Só essa situação, de se viver uma mentira, já é um crime frente às leis humanas e principalmente as leis divinas.

            AD – Acredito que os jurados tenham tido a compreensão e justificativa do porquê essas leis humanas foram violadas pelos dois amantes, que atendiam a justiça e a prática do amor incondicional. Mas é verdade, o meu representado estava vivendo uma mentira, o que para ele é incoerente frente a lei de Deus que ele diz tanto respeitar. Vou solicitar que ele explique essa incoerência...

            J – Pelo avançado do tempo, terminarei aqui esta sessão e continuaremos na próxima.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 08/10/2021 às 00h07
 
07/10/2021 22h21
LIDANDO COM A CORRUPÇÃO

            Encontrei um diálogo no filme “Santo Agostinho”, veiculado pela plataforma Lumine, que nos mostra uma forma firme de lidar com a corrupção.

Secretário – O Ciríaco está aqui.

Agostinho – O Ciríaco?

S – Sim, o mercador de cereais. Os navios dele vão para Roma, para o Egito, para a Grécia, até os portos da Gália.

A – Sim, eu o conheço. Deixe-o entrar.

Ciríaco – Saudo-lhe e lhe desejo muita prosperidade.

A – Obrigado, mas a prosperidade não é preocupação para mim.

C – Você tem sorte. Preciso dizer que da nossa parte sempre lhe poupamos este tipo de preocupação.

A – Não entendo.

C – Fico constrangido por ter de lembrar. Sempre ajudei a sua igreja, os seus presbíteros, sacerdotes, sempre viajaram gratuitamente nos meus navios.

A – Sou-lhe muito grato por isso. Foi seu pai, um pagão sábio e honesto que estabeleceu este costume sem pedir nada em troca.

C – Sempre respeitei a vontade de meu pai. É verdade que sou pagão e que conservo em casa as estátuas dos deuses que meus antepassados trouxeram de Roma para África, mas sabe que eu respeito a sua religião.

A – Sim, eu sei.

C – Fico feliz que fale isso, porque quero lhe pedir um favor.

A – Se veio por isso, estou à sua disposição.

C – Bem, o vigário imperial de Cartago vai enviar trigo às milícias mercenárias acampadas nas costas espanholas. Outros transportadores estão disputando este negócio. Uma palavra sua, uma carta sua seriam de grande ajuda para vencer a empreitada.

A – Mas não entendo do seu negócio.

C – Basta que fale a verdade ao vigário, que eu sempre respeitei a igreja, o império cristão, e os bispos cristãos são honrados pelo império.

A – E então?

C – Uma carta sua...

A – Uma carta para fechar um grande negócio, combinar uma negociata!

C – Sim.

A – Continue.

C – Se escrever a carta, eu...

A – O que quer dizer?

C – Quero dizer que posso ajudar você e a sua comunidade.

A – Não. A riqueza e o comércio estão bem longe dos meus interesses. Minha vocação é fazer entender a palavra de Deus a todos os que querem ouvir. Hoje você tem muitos navios e muitos bens. Amanhã, a morte tomará tudo de volta e você vai se apresentar diante de Deus. As contas que prestará lá não serão as do seu comércio. Desculpe, mas não posso fazer o que me pede.

C – Por um lado entendo, por outro não entendo você. Reflita. Se mudar de ideia, mande me dizer. Peço só que escreva, dizendo que eu respeito a igreja.

A – Não insista Ciríaco, você sabe que não vou mudar de ideia.

            O comportamento de Santo Agostinho, um pecador que se converteu a fé católica, no dá com esse diálogo o que um homem cristão pode colaborar com a ética, evitando os convites para a corrupção, mesmo que isso seja muito sutil. Aparentemente, não custaria nada Agostinho fazer a carta dizendo a verdade, que o interessado era uma pessoa que respeitava e até ajudava a igreja católica, agora bem conceituada no governo romano. O que o pai do empresário fazia de ajuda à igreja católica, dando passagens gratuitas nos seus navios, o filho agora quer condicionar a uma troca de favores. Seria um tipo de pagamento, o que Agostinho recusou, muito acertadamente. Se ele tivesse feito a carta, estaria associando o trabalho cristão com lucros comerciais, em detrimento de quem poderia oferecer o serviço com melhores preços para o Estado, para o cidadão que paga impostos. Isso ficou muito parecido com o que aconteceu no Brasil, quando o filho de um empresário passou a fazer acordos criminosos, com corrupção massiva com os chefes do Estado brasileiro da época. Prejuízo este que até hoje estamos pagando, tanto com juros e dinheiro emprestado que não foi devolvido, como militantes que foram colocados em pontos estratégicos e que até hoje continuam favorecendo as iniquidades, com toda sorte de desvios da ética e moralidade. 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 07/10/2021 às 22h21
 
06/10/2021 00h05
A VELHICE EXISTE?

            Um texto tirado de “Mr QUAC Produções” que merece ser reproduzido e refletido...

            Alguns de nós envelhecemos de vez, porque não amadurecemos. Envelhecemos quando nos fechamos à novas ideias e nos tornamos radicais. Envelhecemos quando o novo nos assusta.

            Envelhecemos também quando pensamos demais em nós mesmos e nos esquecemos dos demais.

            Envelhecemos se deixamos de lutar.

            Todos nós estamos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o Tempo.

            A vida só pode ser compreendida se olharmos para trás. Mas só pode ser vivida se olharmos para a frente.

            Na juventude aprendemos; com a idade compreendemos.

            Os homens são como os vinhos: a idade estraga os ruins, mas aprimora os bons. 

Envelhecer não é preocupante. Ser visto como um velho sim, que é.

Envelhecer com sabedoria não é envelhecer.

Nos olhos do jovem arde a chama, nos do velho brilha a luz.

Sendo assim, não existe idade, somos nós que a criamos. Se não crês na idade, não envelhecerás até o dia da sua morte.

Pessoalmente, eu não tenho idade: tenho vida!

Não deixes que a tristeza do passado e o medo do futuro te estraguem a alegria do presente.

A vida não é curta; são as pessoas que permanecem mortas tempo demasiado.

Faça da passagem do tempo uma conquista e não uma perda.

(Acompanha o desenrolar do link com a música melódica “Como han passado lo dias”) 

O texto traz muitas frases com sabedoria, mas desperta uma certa confusão, que parece inevitável. Por exemplo, diz que não envelhecemos se adotarmos posturas positivas, conosco e com o próximo, mas noutro verso diz que “nos olhos do jovem arde a chama, nos do velho brilha a luz.”

O autor desenvolve todos os pensamentos desautorizando a existência da velhice em pessoas que seguem a vida positivamente, no entanto, não conseguiu se livrar do termo velho para identificar pessoa velha, mesmo fazendo tudo de positivo. 

Trazendo esses pensamentos para minha realidade, verifico que estou dentro da positividade, mas ao me olhar no espelho vejo a figura de um velho. Mesmo que esteja conservado por não ser usuário constante das duas principais drogas, álcool e cigarro, que são tão usadas. Uso todos os benefícios que a sociedade oferece aos idosos sem constrangimento. 

A o tempo passou como um raio pelo meu corpo deixando suas marcas. Mesmo que eu não as sinta com desprezo ou revolta, reconheço o bem que ele me trouxe à consciência. Só o reconhecimento da paternidade que Deus tem comigo, isso vale por todas as rugas e transformações que sofri no corpo.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 06/10/2021 às 00h05
 
05/10/2021 00h03
VINHA DE LUZ (41) – CREDORES DIFERENTES

            Como habitante deste planeta Terra, encarnado num corpo humano com 69 anos de experiência, compreendo que minha vida está entrelaçada de relacionamentos em todas as direções, alguns positivos outros negativos, gerando amigos e inimigos.

            Mesmo que minha tendência, como a tendência da maioria das pessoas, acredito que seja na formação de amigos e evitar inimizades, mesmo assim, por diversas causas, o resultado do relacionamento pode ser uma inimizade. 

            Essa tendência em criar amigos ou inimigos está bem exacerbada nos relacionamentos dentro dos partidos políticos e suas relações com as comunidades. Cada correlegionário é um amigo e a pessoa que se inscreve em outro partido é um adversário, ou mesmo inimigo. As igrejas que focam nos ensinamentos de Jesus, motivam com a fraternidade e amor universal

            A criação de um inimigo ou amigo não é um ato definitivo, para toda a vida. Um amigo pode se transformar em inimigo e vice-versa.  Mas, o primeiro movimento que faço nas minhas inter-relações é construir amizades. E isso merece estudos acurados e constantes.

            Jesus disse em uma de suas lições para amar o inimigo. Isso não quer dizer que eu deva aderir de pronto à completa união com o adversário no dia de hoje, como Jesus não pôde rir-se com os perseguidores no Calvário, mas ele pôde perdoá-los.

            A advertência do Mestre conclamando-me a amar os inimigos, tem profunda significação em todas as facetas que posso examinar, com os instrumentos de análise comum.

            Sei que sou devedor de altos benefícios a quantos me perseguem e caluniam. Lembro da minha primeira esposa que tanto bem me fez, que tanta paixão carnal e amor romântico desenvolvemos, e por mudança do meu modo de agir e sentir, ela se achou na obrigação de me expulsar de casa, do seu convívio, vivendo amargamente com essa frustração. Ela se tornou assim um instrumento para que eu aplique essa lição do Cristo, para que eu trabalhe a minha individualidade, compelindo-me a renovações de elevado alcance e que raramente compreendo nos instantes mais graves da experiência. São esses momentos de amar ao inimigo que me indicam a capacidade ou a fraqueza, as deficiências e as necessidades do que devo fazer para estar sintonizado com a vontade de Deus que tenho a intenção de realizar.

            Os amigos, em muitas ocasiões, se tornam imprevidentes companheiros, porque contemporizam com o mal para não afetar a relação de amizade. O adversário, o inimigo, por outro lado, não perde a oportunidade de identificar e acusar com vigor a maldade ou erro que estou cometendo ou imaginando fazer, tanto no passado, presente ou futuro.

            Pela rudeza do inimigo, pela miopia do bem que continuo fazendo, surge a tendência de me tornar bravo, indignado e jogar na cara todo o bem que faço, mas consigo me conter e fazer devidas reflexões sobre a veracidade ou não de tais acusações.

            Pela complacência dos amigos aos erros que não são apontados, sinto a vaidade e o orgulho se fortalecerem, por meus acertos e virtudes virem à tona, vezes sem conta.

            Não posso dizer que eu quero cultivar as inimizades, no entanto tenho que reconhecer que são beneméritos credores quando nos proclamas as faltas. São médicos corajosos que nos facultam corretivos.

            É difícil a aceitação de tal verdade, mas é ai que se encontra a razão para o apelo do Cristo: “Amai vossos inimigos”.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 05/10/2021 às 00h03
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