O sexo é uma energia potente que envolve nossa vida a partir do corpo físico na qual se manifesta sob a orquestra dos hormônios. É um dos dois principais instintos que possuímos: preservação da própria vida (fome); e preservação da espécie (sexo). Esta então é a finalidade última do sexo: a reprodução dos seres biológicos e assim a garantia da manutenção da vida no campo material.
Estamos acostumados a controlar a força do instinto sexual com a instituição do casamento que leva a formação da família nuclear e o impedimento de sexo com qualquer outra pessoa a não ser a esposa/marido. Esse acordo tácito aceito pelos nubentes e referendado por nossa cultura ocidental é frequentemente rompido, geralmente pelo lado masculino. No entanto, as famílias persistem, sabendo ou não do ocorrido, com forte tendência à hipocrisia, querendo passar aos outros que o compromisso inicial de fidelidade à exclusividade ainda existe, e que todos devem se comportar como tal.
Além desse grande pecado que é a hipocrisia gerada dentro das famílias nucleares, existe a fermentação do egoísmo que tudo quer para si e os parentes, de preferência consangüíneos no grau mais próximo, que é a fonte de todos os males sobre o planeta, a partir da doença moral sobre a humanidade.
Então, já que esse é um padrão que se generaliza sobre a humanidade, mesmo que em certas culturas a formação de famílias nucleares obedeçam a formatos diferentes, vamos sempre observar a geração do egoísmo em suas bases. As lições do Amor Incondicional como pré-requisito na formação do Reino de Deus, como foi ensinado por Jesus, esbarra nessa estrutura familiar, que forma a base da sociedade atual. Por mais que ensinemos o Amor Incondicional nos livros de ética ou de religião, sempre observamos o egoísmo latente, implícito ou explicito dentro das famílias. Os atos de solidariedade que observamos em muitas pessoas a favor dos humildes e miseráveis, são apenas atos de caridade emergencial para a preservação da vida e tentar o resgate da dignidade humana. Os próprios membros das famílias são os protagonistas dessa solidariedade, mas sempre mantendo dentro da sua família nuclear o comportamento egoísta de querer sempre o melhor para si e os “seus”, mesmo que isso prejudique o interesse da muitos.
Foi observando esses aspectos do sexo e da família e não querendo cair no campo da hipocrisia, que eu passei a estudar com mais atenção essa força instintiva e a cultura social que tenta controlá-la. Eu já estava dentro dela, era casado e vivia tranqüilo com minha família nuclear. Porém a força instintiva do sexo me estimulava para outros relacionamentos e como eu já estudava sobre o Amor, vi que eu tinha que resolver essa equação: manter a minha qualidade de vida; viver de acordo com a minha consciência, onde está a Lei de Deus; não cair na hipocrisia de fazer o sexo escondido com outra pessoa e passar a idéia para todos que continuava fiel ao meu compromisso de exclusividade; utilizar o sexo como mais uma ferramenta de expressão do Amor Incondicional.
Com esse propósito passei a estudar em diversos livros, técnicos e espirituais, como resolver essa questão. Entre todos, onde encontrei mais respostas para minhas dúvidas, com coerência e aplicabilidade prática, foram nos livros instruídos dentro da doutrina dos Espíritos. Abaixo coloco duas citações que exemplifica bem o que estou dizendo:
“Ainda assim, mergulhado em deploráveis desvios, pergunta o homem pela educação sexual, exigindo-lhe os programas. Sim, semelhantes programas poderão ser úteis; todavia, apenas quando espalhar-se a santa noção de divindade do poder criador, porque, enquanto houver imundície no coração de quem analise ou de quem ensine, os métodos não passarão de coisas igualmente imundas.” Emmanuel (Pão Nosso – F.C.Xavier – FEB, Lição 94 – Sexo).
“Ao invés da educação sexual pela satisfação dos instintos, é imprescindível que os homens eduquem sua alma para a compreensão sagrada do sexo.” Emmanuel (O consolador – F.C.Xavier – FEB – Perg. 184)
Essas duas citações mostram bem a tônica do estudo que eu precisava fazer, que eu deveria considerar o sexo como uma expressão divina do poder criador e fazer um esforço para a faxina do meu coração, para tirar toda a imundície armazenada, como condição para analisar, praticar e ensinar. Aprender tudo sobre o instinto sexual, de sua importância biológica na preservação da espécie, do intenso prazer que proporciona, mas que é fundamental a educação da alma para a compreensão sagrada desses impulsos biológicos e as relações e compromissos que são formados como conseqüência da prática.
Este foi o caminho que Deus apontou para mim e que aceitei de bom grado, com alegria e Amor no coração, procurando cumprir, sem me intimidar com os obstáculos dos preconceitos. Posso estar errado em muitos aspectos, mas estarei sempre pronto para corrigir qualquer erro, desde que identificado.
Interessante quanto eu consigo observar da dinâmica da vida em toda sua complexidade, do entrelaçamento do mundo espiritual com o mundo material, dos interesses de um e de outro. A Lei Natural surge como a escrita de Deus colocada nas duas dimensões e a qual precisamos interpretar com estudo e dedicação, honestidade e transparência com nossos irmãos do caminho.
Há poucos dias surgiu uma área de conflito nos meus relacionamentos, que entendo como um choque de meus paradigmas com a forma de sentir e agir, dentro da cultura e no campo individual. Esses reflexos vibracionais conturbados chegaram até o grupo de estudos espirituais que realizo toda terça feira, de forma cuidadosa, mas mesmo assim capaz de provocar intenso sofrimento emocional em uma de minhas companheiras que participa do mesmo estudo. Orientei para minha companheira, depois que se recuperou do choque emocional, que procurasse a pessoa e explicasse com carinho e didática, qual a forma de meu relacionamento com ela. Mas essa informação já havia progredido para o nosso coordenador dos estudos e provavelmente para outras pessoas. A minha companheira procurou de imediato o nosso coordenador para explicar a situação e eu estava satisfeito apenas com essa disposição dela fazer os devidos esclarecimentos.
Foi então que, na leitura diária que faço com seis livros, entre eles “O Livro dos Espíritos”, que me deparei com o conhecimento da Lei Natural, no livro terceiro, cap. 1. Vou procurar colocar abaixo as questões e respostas apresentadas, inclusive explicações de Kardec, quando existe, e em seguida fazer minhas considerações de acordo com a minha compreensão e a voz de minha consciência.
Questão 619: Deus deu ao homem os meios de conhecer sua lei?
Resposta: Todos podem conhecê-la, mas nem todos a compreendem. Os que a compreendem melhor são os homens de bem e aqueles que querem procurá-la. Entretanto, todos a compreenderão um dia, porque é preciso que o progresso se cumpra.
Explicação de Kardec: A justiça das diversas encarnações do homem é uma conseqüência desse princípio, visto que, a cada nova existência, sua inteligência está mais desenvolvida e ele compreende melhor o que é o bem e o que é o mal. Se tudo devesse se cumprir para ele numa só existência, qual seria a sorte de tantos milhões de seres que morrem cada dia no embrutecimento da selvageria ou nas trevas da ignorância, sem que tivesse dependido deles se esclarecerem?
Acredito que eu cumpra esses dois pré-requisitos para compreender melhor a Lei Natural: ser um homem de bem e procurar compreendê-la. Como eu decidi entrar num caminho diferente do cultural para melhor cumprir essa Lei, no meu entendimento, é provável que eu tenha uma inteligência mais “desenvolvida” no que é o bem e o mal, adquirida de outras existências, e que deram agora o suporte para eu entrar no atual paradigma de vida que entendo, defendo e pratico.
Questão 620: A alma, antes da sua união com o corpo, compreende melhor a Lei de Deus do que após sua encarnação?
Resposta: Ela a compreende segundo o grau de perfeição que alcançou, e conserva, intuitivamente, a lembrança após sua união com o corpo. Mas os maus instintos do homem fazem-na esquecer.
Essa compreensão da Lei de Deus que adquirimos com a inteligência e experiência, e que fica guardada em nosso inconsciente em novas encarnações, é a justificativa que tenho por ter atravessado fortes tempestades do apelo da carne e não ter me comprometido com fortes desvios da Lei. Atualmente, mais amadurecido, eu posso fazer essa reflexão e entender que, apesar de todas as dificuldades, eu estou colocando em prática aspectos importante da Lei de Deus que estão escritos na Natureza.
Questão 621: Onde está escrita a Lei de Deus?
Resposta: Na consciência.
Esta é a resposta que me deixa mais confiante frente aos conflitos que muitas vezes ocorrem ao meu redor devido ao meu comportamento, como esse imbróglio atual. A minha consciência não acusa nenhum desvio e incentiva para que eu siga avante e inclusive divulgue o máximo possível, pois essa é a minha missão nesse atual estágio de vida.
- Posto que o homem carrega na sua consciência a Lei de Deus, que necessidade haveria de a revelar?
- Ele a esquecera e menosprezara: Deus quis que ela lhe fosse lembrada.
Como todos nós possuímos a mesma Lei em nossa consciência, é preciso que haja ações por parte dos mais esclarecidos sobre aspectos dessa Lei que estão esquecidos ou menosprezados por outros. Nesse processo de esclarecimento, como ninguém é dono da verdade, todos aprendem mutuamente com todos, aspectos diversificados da mesma Lei.
Questão 622: Deus deu a certos homens a missão de revelar sua Lei?
Resposta: Sim, certamente. Em todos os tempos, homens receberam essa missão. São os espíritos superiores encarnados com o objetivo de fazer a humanidade avançar.
Fica claro que Deus não quer que a Lei que nos foi revelada, mesmo que por esforço, dedicação e sacrifício, não seja divulgada para todos.
Questão 623: Os que pretenderam instruir os homens na lei de Deus não estavam, algumas vezes, enganados e, frequentemente, não os extraviaram por meio dos falsos princípios?
Resposta: Aqueles que não estando inspirados por Deus e que se deram, por ambição, uma missão que não tinham, certamente, puderam transviá-lo. Entretanto, como, em definitivo, eram homens de gênio, no meio mesmo dos erros que eles ensinaram, frequentemente se encontram grandes verdades.
É verdade, eu posso estar enganado. Não ouvi, vi ou percebi por quaisquer órgãos dos sentidos que Deus falou para mim essa verdade que eu entendo assim. Tenho apenas a aprovação de minha consciência e o consolo que no meio de tantos erros, alguma grande verdade possa ser encontrada.
Questão 624: Qual é o caráter do verdadeiro profeta?
Resposta: O verdadeiro profeta é um homem de bem inspirado por Deus. Pode-se reconhecê-lo por suas palavras e por suas ações. Deus não pode se servir da boca do mentiroso para ensinar a verdade.
Isso me deixa “arrepiado”, pois me considero um homem de bem e em algumas ocasiões inspirado por Deus. Então sou profeta??? O que me deixa aliviado é que eu vejo também ao meu lado muitos homens de bem e muitos deles com inspiração divina. Então ser profeta nesses termos e nos tempos atuais não é uma coisa tão excepcional como estamos acostumados a interpretar na Bíblia. Mas eu não posso me considerar como tal, a não ser que minhas palavras e ações falem por mim.
Questão 625: Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo?
Resposta: Vede Jesus.
Explicação de Kardec: Jesus é para o homem modelo da perfeição moral que a humanidade pode pretender sobre a Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a mais pura expressão da sua Lei, porque ele estava animado de espírito divino e foi o ser mais puro que apareceu sobre a Terra.
Se alguns daqueles que pretenderam instruir o homem na lei de Deus, algumas vezes a extraviaram por meio de falsos princípios, foi por se deixarem dominar, eles mesmos, por sentimentos muito terrestres e por terem confundidos as leis que regem a vida do corpo. Vários deram como leis divinas o que não eram senão leis humanas, criadas para servir às paixões e dominar os homens.
Importante, reconhecer Jesus como modelo de moral e evitar se deixar dominar pelas paixões humanas. Este último é um risco sempre real, pois as paixões carnais estão ainda em predomínio no corpo humano.
Questão 626: As leis divinas e naturais, não foram reveladas aos homens senão por Jesus? Antes dele, delas não tinham conhecimento senão por intuição?
Resposta: Não dissemos que elas estão escritas por toda parte? Todos os homens que meditaram sobre a sabedoria puderam compreendê-las e as ensinaram desde os séculos mais remotos. Pelos seus ensinamentos, mesmo incompletos, eles prepararam o terreno para receber a semente. As leis divinas, estando escritas no livro da Natureza, o homem pôde conhecê-las quando quis procurá-las e é por isso que os preceitos que elas consagram foram proclamados em todos os tempos pelo homens de bem e é por isso, também, que se encontram seus elementos na doutrina moral de todos os povos saídos da barbárie, embora incompletos ou alterados pela ignorância e superstição.
Volta a ressaltar a importância da procura, pois a Lei está a disposição de todos, escrita na Natureza.
Questão 627: Visto que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus, qual é a utilidade do ensinamento dado pelos espíritos? Terão a nos ensinar alguma coisa a mais?
Resposta: A palavra de Jesus era frequentemente alegórica e em parábolas, porque falava segundo os tempos e os lugares. É necessário agora que a verdade seja inteligível para todo o mundo. É preciso bem explicar e desenvolver essas leis, visto que há tão pouca gente que as compreende e ainda menos que as pratica. Nossa missão é impressionar os olhos e os ouvidos para confundir os orgulhosos e desmascarar os hipócritas: aqueles que tomam as aparências da virtude e da religião para ocultarem suas torpezas. O ensinamento dos Espíritos deve ser claro e inequívoco, a fim de que ninguém possa pretextar ignorância e cada um possa julgá-lo e apreciá-lo com sua razão. Estamos encarregados de preparar o reino do bem anunciado por Jesus; por isso, não é preciso que cada um interprete a lei de Deus ao capricho de suas paixões, nem falseie o sentido de uma lei toda de amor e caridade.
Excelente essa advertência de que é preciso desenvolver a Lei de Deus, visto que há tão pouca gente que as compreende e ainda menos que as pratica. Perfeito!
Questão 628: Por que a verdade não foi sempre colocada ao alcance de todo mundo?
Resposta: É preciso que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: é preciso nos habituar a ela, pouco a pouco, de outra forma ela nos deslumbra.
Explicação de Kardec: Jamais ocorreu que Deus permitisse ao homem receber comunicações tão completas e tão instrutivas como a que lhe é dado receber hoje. Havia, como sabeis, na antiguidade, alguns indivíduos possuidores do que consideravam uma ciência sacra, e da qual faziam mistério aos profanos, segundo eles. Deveis compreender, com o que conheceis das leis que regem esses fenômenos, que eles não recebiam senão algumas verdades esparsas no meio de um conjunto equívoco e a maior parte do tempo simbólico. Entretanto, não há para o estudioso, nenhum sistema filosófico antigo, nenhuma tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque tudo contém os germes de grandes verdades que, ainda que pareçam contraditórias umas com as outras, esparsas que estão no meio de acessórios sem fundamentos, são muito fáceis de coordenar, graças a chave que nos dá o espiritismo para uma multidão de coisas que puderam, até aqui, vos parecer sem razão e da qual, hoje, a realidade vos é demonstrada de maneira irrecusável. Não negligencieis, portanto, de haurir objetos de estudo nesses materiais; eles são muito ricos e podem contribuir poderosamente para a vossa instrução.
Eis o que Deus me coloca às mãos nesse momento tão propício. Serve para a interpretação do que estou fazendo e tentando realizar à luz da Lei divina, a Lei da Natureza. Não posso ficar com esse conteúdo apenas no círculo de minhas reflexões e de quem se dispõe a ler neste espaço literário da net (Recanto das Letras, Sióstio de Lapa, Diário). Devo apresentar a proposta ao coordenador do nosso grupo de estudos espirituais, da apresentação desse trabalho de forma didática, colocando a formação de paradigmas que aparentemente servem a construção do Reino de Deus, na minha ótica, para ser discutido, criticado e sugerido, para o crescimento consciencial de todos, à luz da caridade!
Com esse título é publicada em 26-11-13 a primeira exortação apostólica do Papa Francisco, que inicia dizendo que a alegria do Evangelho (Evangelii Gaudium) enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Desejo dirigir-me aos fiéis cristãos – escreve o papa - para convidá-los a uma nova etapa de evangelização marcada por esta alegria e indicar direções para o caminho da igreja nos próximos anos.
O Papa convida a "recuperar a frescura original do Evangelho”, encontrando "novas formas" e "métodos criativos", sem deixarmos enredar Jesus nos nossos "esquemas monótonos". Precisamos de uma "uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão". Requer-se uma "reforma das estruturas" eclesiais para que "todas se tornem mais missionárias". O Pontífice pensa também numa "conversão do papado", para que seja "mais fiel ao significado que Jesus Cristo lhe quis dar e às necessidades atuais da evangelização". Nesta renovação não se deve ter medo de rever costumes da Igreja "não diretamente ligados ao núcleo do Evangelho, alguns dos quais profundamente enraizados ao longo da história".
Posso colocar o pensamento do papa completamente dentro do meu pensamento e forma de agir. Eu tenho como missão ajudar na construção Reino de Deus aplicando o Amor Incondicional em todos meus relacionamentos, principalmente os afetivos mais íntimos, com a prática da inclusão de todos dentro de uma família ampliada, protótipo da família universal. Foi isso que Jesus nos ensinou, que devêssemos amar da forma mais pura, que só pode ser encontrado no Amor Incondicional. Tenho o coração cheio de alegria ao me comportar dessa forma, que entendo ser a nova etapa de evangelização proposta pelo Papa para os próximos anos. Cumpre os requisitos de “nova forma” e “método criativo”, sem deixar Jesus paralisado no esquema monótono da família nuclear. É necessário que haja essa conversão de paradigmas, para que sejamos mais fieis aos ensinamentos que Jesus nos passou. Nessa renovação não se deve ter medo de rever os costumes da igreja e da sociedade, que não estejam diretamente ligados ao núcleo do Evangelho (Amor Incondicional), alguns como a família tradicional, profundamente enraizados ao longo da história.
O Papa aponta as "tentações dos agentes da pastoral": o individualismo, a crise de identidade, o declínio no fervor. "A maior ameaça" é "o pragmatismo incolor da vida quotidiana da Igreja, no qual aparentemente tudo procede na faixa normal, quando na realidade a fé se vai desgastando". Exorta a não se deixar levar por um "pessimismo estéril" e a sermos sinais de esperança aplicando a "revolução da ternura".
Defender a aplicação prática do Amor Incondicional é a verdadeira revolução da ternura, pois não existe individualismo, todos sabemos nossa identidade e a identidade do próximo para quem doamos o nosso amor como se fosse a nós mesmo, e caminharemos com fervor numa estrada que reconhecemos ser a vontade de Deus. Cada vez que avançamos nesse caminho a fé se fortalece, pois os frutos saudáveis que produzimos afasta qualquer pessimismo e desenvolve a esperança de cada dia nos aproximarmos cada vez mais do Pai.
O Papa lança um apelo às comunidades eclesiais e que serve para todos, para não caírem em invejas e ciúmes: “dentro do povo de Deus e nas diversas comunidades, quantas guerras!". "A quem queremos nós evangelizar com estes comportamentos?". Sublinha a necessidade de fazer crescer a responsabilidade dos leigos, mantidos "à margem nas decisões" por um "excessivo clericalismo". Afirma que "ainda há necessidade de se ampliar o espaço para uma presença feminina mais incisiva na Igreja", em particular "nos diferentes lugares onde são tomadas as decisões importantes". "As reivindicações dos direitos legítimos das mulheres ... não se podem sobrevoar superficialmente". Os jovens devem ter "um maior protagonismo".
As mulheres tem um lugar de destaque nessa nova forma de evangelização, pois cabe a elas fazer a faxina nos corações para deixar entrar a fraternidade e a inclusividade; evitar o ciúme e a vaidade; os jovens após conhecerem a nova forma e método, reconhecerão neles uma nova bandeira para nutrir um maior protagonismo social.
Falando dos desafios do mundo contemporâneo, o Papa denuncia o atual sistema econômico, que "é injusto pela raiz". "Esta economia mata" porque prevalece a "lei do mais forte". A atual cultura do "descartável" criou "algo de novo": “os excluídos não são ‘explorados’, mas ‘lixo’, 'sobras'". Vivemos uma "nova tirania invisível, por vezes virtual" de um "mercado divinizado", onde reinam a "especulação financeira", "corrupção ramificada", "evasão fiscal egoísta".
O Papa não chega a denunciar com objetividade “quem é essa raiz” que cria tanta desarmonia nos relacionamentos e impede a progressão humana para o Reino de Deus: a família nuclear e toda forma de egoísmo que ao redor dela é gerado.
O Papa reafirma "a íntima conexão entre evangelização e promoção humana" e o direito dos Pastores a "emitir opiniões sobre tudo o que se relaciona com a vida das pessoas". "Ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião à secreta intimidade das pessoas, sem qualquer influência na vida social". "A política, tanto denunciada" - diz ele - "é uma das formas mais preciosas de caridade". "Rezo ao Senhor para que nos dê mais políticos que tenham verdadeiramente respeito à vida dos pobres!" Em seguida, um aviso: "qualquer comunidade dentro da Igreja" que se esquecer dos pobres corre "o risco de dissolução".
Ele toca assim no núcleo do problema, a secreta intimidade das pessoas e a influência na vida social; que a política deve denunciar o que está errado é uma das formas mais preciosas de caridade.
O Papa convida a cuidar dos mais fracos: "os sem-teto, os dependentes de drogas, os refugiados, os povos indígenas, os idosos cada vez mais sós e abandonados" e os migrantes, em relação aos quais o Papa exorta os Países "a uma abertura generosa". "Entre estes fracos que a Igreja quer cuidar" estão "as crianças em gestação, que são as mais indefesas e inocentes de todos, às quais hoje se quer negar a dignidade humana". "Não se deve esperar que a Igreja mude a sua posição sobre esta questão... Não é progressista fingir resolver os problemas eliminando uma vida humana". Neste contexto, um apelo ao respeito de toda a criação: "somos chamados a cuidar da fragilidade das pessoas e do mundo em que vivemos".
Não há como atacar esse problema de frente, sem mudar o paradigma social de família nuclear para família ampliada com base na inclusão de todos, principalmente os mais afetivos e mais íntimos, mas ninguém será excluído. Essa nova forma e método garante isso, pois é a comunidade do Reino de Deus.
Quanto ao tema da paz, o Papa afirma que é "necessária uma voz profética" quando se quer implementar uma falsa reconciliação "que mantém calados" os pobres, enquanto alguns "não querem renunciar aos seus privilégios". Para a construção de uma sociedade "em paz, justiça e fraternidade" indica quatro princípios: "trabalhar a longo prazo, sem a obsessão dos resultados imediatos"; "operar para que os opostos atinjam "uma unidade multifacetada que gera nova vida"; "evitar reduzir a política e a fé à retórica; colocar em conjunto globalização e localização.
Em resumo, ele quer dizer dessa forma que devemos construir a família universal, pois somente ela pode curar essas feridas sociais.
"A evangelização - prossegue o Papa - também implica um caminho de diálogo", que abre a Igreja para colaborar com todas as realidades políticas, sociais, religiosas e culturais. O ecumenismo é "uma via imprescindível da evangelização". Importante o enriquecimento recíproco: "quantas coisas podemos aprender uns dos outros!". Por exemplo, “no diálogo com os irmãos ortodoxos, nós os católicos temos a possibilidade de aprender alguma coisa mais sobre o sentido da colegialidade episcopal e a sua experiência de sinodalidade". "O diálogo e a amizade com os filhos de Israel fazem parte da vida dos discípulos de Jesus". "O diálogo inter-religioso", que deve ser conduzido "com uma identidade clara e alegre", é "condição necessária para a paz no mundo" e não obscurece a evangelização. "Diante de episódios de fundamentalismo violento", a Exortação Apostólica convida a "evitar odiosas generalizações, porque o verdadeiro Islão e uma adequada interpretação do Alcorão se opõem a toda a violência". Contra a tentativa de privatizar as religiões em alguns contextos, o Papa afirma que "o respeito devido às minorias de agnósticos ou não-crentes não se deve impor de forma arbitrária, que silencie as convicções das maiorias de crentes ou ignore a riqueza das tradições religiosas". Reafirma, assim, a importância do diálogo e da aliança entre crentes e não-crentes.
Essa construção do Reino de Deus implica no diálogo amplo com toda a humanidade, pois a todos diz respeito. O ecumenismo, o aprendizado recíproco, a não-violência, a religião pública, tolerante e servil na base evangélica, são os tijolos básicos dessa construção.
O último capítulo é dedicado aos "evangelizadores com o Espírito", aqueles "que se abrem sem medo à ação do Espírito Santo", que "infunde a força para anunciar a novidade do Evangelho com ousadia, em voz alta e em todo o tempo e lugar, mesmo em contracorrente". Trata-se de "evangelizadores que rezam e trabalham", na certeza de que "a missão é uma paixão por Jesus, mas ao mesmo tempo, uma paixão pelo seu povo": "Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros". "Na nossa relação com o mundo – esclarece o Papa - somos convidados a dar a razão da nossa esperança, mas não como inimigos que apontam o dedo e condenam". "Pode ser missionário - acrescenta ele - apenas quem busca o bem do próximo, quem deseja a felicidade dos outros": "se eu conseguir ajudar pelo menos uma única pessoa a viver melhor, isto já é suficiente para justificar o dom da minha vida".
Assim, o papa finaliza fazendo a minha convocação, que eu me associe ao Espírito, que enfrente a luta sem medo, pois o Espírito Santo está ao meu lado. Ele infunde a força para eu anunciar essa novidade do Evangelho com ousadia e em voz alta, em todo o tempo e lugar, mesmo sendo criticado, admoestado. Devo evangelizar e trabalhar na certeza de que é uma missão dada pelo Pai, comandada por Jesus e que culmina no Amor pelos semelhantes, às criaturas de Deus, nossos irmãos. Meu Comandante, Jesus, quer eu toque a miséria humana, a carne sofredora do próximo, que eu tenha empatia pelo ignorante que sofre. Nessa relação com o mundo, devo mostrar a razão da minha esperança, de como o Amor Incondicional pode ser aplicado e vencer qualquer outro tipo de amor exclusivista, de não considerar o outro como inimigo ao qual devo apontar o dedo e condenar, pois a fonte de egoísmo que todos têm dentro do coração animal, eu também tenho. Eu posso ser missionário, acrescenta ele, pois eu busco o bem do próximo, a felicidade dos outros, e se eu conseguir ajudar pelo menos uma pessoa a viver melhor, isso já é uma prova de que estou no caminho correto.
“Eu, Mnar, o guardião do Cocheiro, presencio tudo, anoto todos os fatos, tudo o que vejo e deixo os meus relatos para o crescimento das civilizações. Minha função é registrar, sem interpretações pessoais. Que as futuras gerações dos capelinos julguem e que a luz sideral registre indelevelmente os acontecimentos de nossa raça.” (Fragmentos das memórias de Mnar, o capelino – Livro Crepúsculo dos Deuses, Robson Pinheiro, Casa dos Espíritos Editora, 2010).
Achei interessante essa função de Mnar, de presenciar e anotar tudo o que ver. De certa forma eu também faço isso, procuro notar tudo que vejo, sinto e penso realizar, com o objetivo de promover a minha evolução e contribuir para a elevação do pensamento coletivo. Tem uma diferença com relação as minhas anotações, pois eu procuro colocar minha opinião dentro dos fatos, internos ou externos.
Um exemplo disso foi o que ocorreu ontem. Coloquei o despertador para levantar de 4 horas e fazer uma série de trabalhos que estão atrasados. O despertador tocou na hora desejada, mas por um movimento equivocado ao invés de deixar a máquina no modo “soneca”, pois assim ele despertaria dentro de 15 minutos mais uma vez, eu o desliguei. Então como era de se esperar eu voltei a dormir e o meu trabalho estava ameaçado. Acontece que por volta dos 15 minutos, o tempo que o despertador tocaria se eu tivesse colocado em “soneca”, eu ouço alguém chamar o meu nome. Despertei com essa sensação bem nítida de ter sido chamado, fiquei curioso e um tanto assustado, pois ainda eram 4:15h. Abri a porta do quarto bem temeroso e fui até a porta de saída ver pelo olho mágico. Não havia ninguém. No entanto eu estava pronto para fazer o trabalho que eu pretendia fazer.
Outro exemplo é que, uma série de ocorrências desencadeou um conflito sério em uma de minhas companheiras. Ela soube que eu estava com outra companheira de mãos dadas e trocando afetos em público. Jogou sobre mim uma série de acusações, inclusive de não colocar em prática o que escrevo aqui. Demonstrou o quanto estava sofrendo e que decidira se afastar de mim para não se sentir tão humilhada como estava, se sentindo uma palhaça por todos olharem para ela de forma irônica. Ouvi toda sua descarga emocional com paciência e tolerância. Fazia também a pergunta íntima, se eu estava fazendo relacionamentos afetivos sem exclusividade, como forma de construção do Reino de Deus, que eu pretendo fazer.
Tanto no primeiro quanto no segundo caso eu poderia fazer a pergunta: será que é Deus que está promovendo tudo isso? A resposta não poderia ser outra: sim! Mesmo que Deus não sirva de despertador ou fofoqueiro, Ele usa todos os recursos de Sua criação para atingir os objetivos que Ele deseja, fazer a valer a Sua vontade.
No primeiro caso Ele percebe minha intenção em levantar cedo e fazer o trabalho que é necessário. Percebe também a minha fraqueza quanto o enfrentamento da preguiça. Percebe que no momento crucial, por mecanismo inconsciente eu sou boicotado por meu próprio corpo e faz que eu desligue o despertador sem tal passar pelo crivo da minha vontade. Então Ele motiva algum dos seus filhos obedientes, encarnados ou desencarnados, para vir até o meu apartamento e gritar o meu nome. Fazendo assim, Ele não está abusando do meu livre arbítrio, pois era isso mesmo que eu queria.
No segundo caso acontece um teste de realidade com relação aos candidatos de construtores do Reino de Deus onde existe a primazia da harmonia, tolerância, fraternidade, tudo isso orquestrado pelo Amor Incondicional. Eu acredito que tenha passado no teste, pois suportei toda desarmonia de minha companheira com paciência e acatando o que ela achava mais conveniente para ela: o afastamento afetivo de mim. Com essa decisão dela, eu vejo que o seu livre arbítrio toma decisões influenciado pela emoções que ainda estão vibrando no nível do egoísmo, do amor romântico e assim se deixa contaminar pelo orgulho, ciúme, ressentimento de tudo que imagina como errado nas minhas ações e palavras. Se o pensamento dela vibra nessa dimensão, não pode conviver com o meu espírito, pois tudo será visto como falso, mentiroso. Eu continuo com a minha consciência tranqüila de que procuro falar sempre a verdade, de fazer com transparência o que é correto, é tanto que não procuro me esconder de ninguém, pelo contrário, procuro mostrar o meu comportamento afetivo com todos, sem fugir de ninguém.
Assim se manifesta a justiça divina, que sonda nossos corações e nos coloca a prova a qualquer momento para checar se o que dizemos da boca para fora é capaz de se realizar com nossas ações e com a qualidade de nossas reações ao se defrontar com o lado contrário do Amor Incondicional.
Geralmente os frutos da Sabedoria são instruídos pelas palavras. Infelizmente poucas pessoas dão atenção às palavras carreadas de Sabedoria que ouvem. Tem uma história que envolve o ex-presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, que fala sobre essa desatenção com as palavras. Ele não apreciava as longas filas de recepção que precisava aturar na Casa Branca. Reclamava que ninguém realmente prestava qualquer atenção às palavras ditas durante os cumprimentos. Um dia ele decidiu fazer uma experiência. A cada pessoa da fila para apertar a sua mão, murmurava: “Matei minha avó hoje de manhã”. Os convidados respondiam com frases como: “Maravilhoso!”, “Continue assim”, “Deus o abençoe, Senhor”.
A experiência foi bem sucedida ao provar sua teoria. E também provou uma triste realidade: freqüentemente não escutamos com atenção. No livro Provérbios (Bíblia Sagrada) encontramos uma riqueza com respeito ao cuidado que devemos ter com as palavras. “Quem responde antes de ouvir, passa por tolo e se cobre de confusão (18:13); O que você diz pode salvar ou destruir uma vida (v.21); Palavras podem esmagar o espírito, e um espírito esmagado é mais insuportável que um corpo doente (v.14); Palavras podem separar amigos, e um amigo ofendido resiste mais que uma fortaleza (v.19); Devemos dar ouvidos aos fatos, escutar com ouvido de discernimento e desentocar os fatos (v.13); Devemos escutar com ouvidos abertos, não permita que certas palavras e frases gerem o preconceito contra o escutar objetivamente, e não evite escutar coisas que você possa considerar difíceis demais de compreender (v.15); Devemos ouvir os dois lados de uma disputa, é tolo concluir e julgar precipitadamente, os sábios dedicam tempo a discernir (v.17).”
O sentido da instrução é veiculado pela palavra para nos dar condições de absorver Sabedoria. Isso significa que ao prestarmos atenção e discernir com cuidado as palavras que nos chegam aos sentidos, estamos absorvendo assim a essência do Criador: Sabedoria e Amor. Pode ser considerado um culto à Deus. Mas esse culto à Deus é menosprezado pelo ignorante, pelo pecador mergulhado no erro.
Eu, que desejo ardentemente a Sabedoria, sei que devo ser justo com o que aprendo, comigo e com os outros. Vale a lição de Jesus: amar ao próximo como a si mesmo. Se adquiro Sabedoria e aplico com justiça aos outros, devo aplicar com justiça também a mim. Neste ponto de reflexão, vem à minha consciência que devo reformular o julgamento que tenho de mim com relação a preguiça. Estou compreendendo que todo este trabalho que tenho com minha instrução, de ler e ouvir as palavras com atenção serve a um objetivo maior, de adquirir Sabedoria. Não pode ser menosprezado e deixado como uma atividade secundária que não merece ser contabilizada no rol das utilidades. Ao fazer assim surge um tempo significativo que devoto a essa labuta, que tira a forte pecha de preguiça que pairava na minha consciência. Claro que ainda possuo aspectos ligados à ociosidade, a um descanso ou lazer excessivo, mas não é um marcador tão forte de preguiça como estava entendendo antes.
Também chego a conclusão que meus amigos encarnados tinham certa razão quando não concordavam com o meu próprio julgamento de preguiçoso. Agora fica apenas a advertência que eles fazem, de que a minha forma de comportamento, nessa defesa teórica e pratica do Amor Incondicional nos relacionamentos, traz mais mal do que bem nas lições que promovo, nos frutos que distribuo. Aqui se dá o contrário, a minha consciência não acusa culpa, mesmo que eu veja o sofrimento apontado por meus amigos. Mas os espíritos me aliviam dessa culpa quando dizem que cada um será recompensado segundo suas obras, o bem que quis fazer e a retidão de suas intenções.