Sióstio de Lapa
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30/04/2020 00h29
CESAROPAPISMO

            Foi tão forte a influência do Estado sobre a Igreja que justificou o conceito de Cesaropapismo. O chefe de Estado, o César, tinha a competência de regular a doutrina, a disciplina e a organização da sociedade cristã, que deveria ser papel do Papa. Exercia as funções imperiais e pontificiais que é o traço característico do Cesaropapismo, a subordinação da Igreja ao Estado.

A ideologia do cesaropapismo assenta-se na ideia imperial política bizantina de querer usurpar a autoridade conciliar e o poder papal sobre a Igreja, na qual a política secular e religião são entidades indissolúveis em que o sagrado é parte do temporal, de que o Imperador ("chefe de Estado") é chefe da Igreja.

O cesaropapismo tem suas origens na concepção romana do poder imperial. Desde Augusto (27 a.C. - 14 d.C.), o imperador era o chefe da religião romana. O culto imperial unia a comunidade dos habitantes do Império Romano em torno de orações pelo imperador, o que incluía cerimônias de sacrifícios. A lealdade política e a fé religiosa estavam ligadas, de modo que aqueles que recusam o culto imperial, como os cristãos, eram vistos como inimigos de Roma.

Paulo de Tarso, por meio da Epístola aos Romanos, determinou que as comunidades cristãs respeitassem as autoridades. Desse modo, os fiéis passaram a orar pelo imperador, considerado um instrumento da vontade divina. Mas os cristãos se recusam a adorar os imperadores, vivos ou mortos.

Em 313, o imperador Constantino decretou o Édito de Milão, que concedeu liberdade de culto ao cristianismo. Esse fenômeno levou Eusébio de Cesareia a descrever Constantino como protegido, amado e amigo de Deus, dotado de piedade e virtudes e que, como servo, fora usado para salvação geral ao ganhar os troféus da vitória sobre os ímpios.

A partir da conversão de Constantino, a Igreja passou a ser favorecida, mas foi colocada em situação de sujeição. Constantino passou a intervir em todos os assuntos da Igreja, convocando e presidindo conselhos, e ditando fórmulas de fé. As decisões conciliares passaram a ser apoiadas por leis imperiais. Constantino afirmava que a providência divina atuava em conjunto com ele, razão pela qual, como representante de Deus na terra, suas decisões seriam sagradas. Como resultado, para ele as decisões religiosas estariam sob sua autoridade. Por outro lado, esse entendimento foi regularmente contestado por dissidentes religiosos e por aqueles que questionam a fé pessoal do Imperador.

Nesse contexto, Constantino convocou o Primeiro Concílio de Niceia, em 325, para solucionar a questão do arianismo. Esse processo de confusão entre o poder temporal e espiritual se acentuou, como consequência, qualquer ataque à Igreja passou a ser equivalente a uma traição a Roma, o que gerou perseguições contra os judeus, praticantes de outras religiões e cristãos dissidentes. A heresia passou a ser um crime passível de ser julgado pelos tribunais civis do Império.

Em 27 de fevereiro de 380, o cristianismo se tornou a religião oficial do Império Bizantino, por meio de Decreto do Imperador Teodósio I (Igreja estatal do Império Romano). A Queda do Império Romano do Ocidente interrompeu o processo de controle da Igreja pelo Estado no ocidente.

O imperador fazia valer seu poder sobre a Igreja emanando normas, sancionando decretos dos concílios ecumênicos, convocando os tribunais eclesiásticos e determinando sua competência, cuidando da exata aplicação das leis canônicas, controlando a correta administração dos bens da Igreja, nomeando os titulares dos ofícios eclesiásticos (patriarca, arcebispos, bispos, abades). No Ocidente, a Igreja tinha a obrigação de informar ao imperador ou a seu representante na Itália, o exarca (autoridade bizantina representante do imperador) de Ravena, o nome do papa eleito (quase sempre gregos ou sírios de nascimento), além de pagar um tributo correspondente.

No período compreendido entre a fim do Império Romano do Ocidente (476) até o século VIII, os imperadores bizantinos nomeavam os patriarcas dentre uma lista tríplice ou por sua livre vontade. A eles cabia julgar os titulares de cargos eclesiásticos podendo depô-los se assim quisesse (vários papas e patriarcas foram depostos pelo imperador).

            Desta forma o Cristianismo foi impregnado dos valores mundanos, do poder temporal, formando sua hierarquia e mantida até hoje. Saber quais são os ensinamentos de Jesus e aplica-los, é um desafio para o cristão que está dentro desta sociedade religiosa.

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em 30/04/2020 às 00h29
 
29/04/2020 00h27
ÉDITO DE TESSALÔNICA

            Após sair da clandestinidade, no império Romano, o cristianismo passou a se firmar com o apoio do imperador constantino, mas guardando questões como dogmas, que a racionalidade não podia penetrar. O próximo passo para fortalecer o cristianismo, mas carregado de dogmas e poderes, foi a sua oficialização. Para isso vamos observar o Édito de Tessalônica, como está mostrado na Wikipédia.

O Édito de Tessalônica ou Salonica, também conhecido como Cunctos Populos ou De Fide Catolica foi decretado pelo imperador romano Teodósio I a 27 de fevereiro de 380 d.C. pelo qual estabeleceu que o cristianismo tornar-se-ia, exclusivamente, a religião de estado, no Império Romano, abolindo todas as práticas politeístas dentro do império e fechando templos pagãos.

O imperador Teodósio herdara um império dividido e sumido numa profunda crise. Após longos anos de desordem do século anterior, Diocleciano iniciara a divisão do império em uma metade oriental, mais rica e politicamente estável, e uma metade ocidental menos pujante na sua economia e acossada pela pressão dos povos bárbaros procedentes da Germânia. Apesar da reunificação de Constantino, a queda da metade ocidental e a perda nesta da autoridade imperial eram já iminentes.

O Édito de Tessalônica

A 24 de novembro de 380 d.C., fazia-se público o édito nos seguintes termos:

Édito dos imperadores Graciano, Valentiniano (II) e Teodósio Augusto, ao povo da cidade de Constantinopla.

"Queremos que todos os povos governados pela administração da nossa clemência professem a religião que o divino apóstolo Pedro deu aos romanos, que até hoje foi pregada como a pregou ele próprio, e que é evidente que professam o pontífice Dámaso e o bispo de Alexandria, Pedro, homem de santidade apostólica. Isto é, segundo a doutrina apostólica e a doutrina evangélica cremos na divindade única do Pai, do Filho e do Espírito Santo sob o conceito de igual majestade e da piedosa Trindade. Ordenamos que tenham o nome de cristãos católicos quem sigam esta norma, enquanto os demais os julgamos dementes e loucos sobre os quais pesará a infâmia da heresia. Os seus locais de reunião não receberão o nome de igrejas e serão objeto, primeiro da vingança divina, e depois serão castigados pela nossa própria iniciativa que adotaremos seguindo a vontade celestial. Dado o terceiro dia das Kalendas de março em Tessalônica, no quinto consulado de Graciano Augusto e primeiro de Teodósio Augusto.

Com este édito, o Império Romano na íntegra passava a ter uma nova religião oficial depois de 67 anos de liberdade de culto. O Panteão Romano fora complementado ao longo de muitos séculos com os deuses, deidades e lares domésticos, com o culto aos próprios antepassados e até mesmo com divindades pré-romanas que foram assimiladas durante o processo de romanização em muitos lugares do império. Tudo isto devia ser agora abandonado no culto a uma religião monoteísta e as normas morais que a acompanhavam.

A partir daí o cristianismo passa a se difundir por todos os países com essa vinculação ao Estado, cheio de poderes, orgulhos e vaidades por todo o clero. Isso gerou uma série de comportamentos contrários aos ensinamentos de Jesus, guerras santas e perseguições religiosas..., mas quem queria cumprir os ensinamentos evangélicos? Até hoje observamos as diversas igrejas de denominação cristã cumprindo esses rituais cheios de dogmas, orgulhos e vaidades, mas muito longe do cumprimento das lições do Cristo. Até quando?

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em 29/04/2020 às 00h27
 
28/04/2020 00h27
PRIMEIRO CONCÍLIO ECUMÊNICO

            Este primeiro concílio, motivado e facilitado por Constantino, movido por projetos de natureza material, egoísta, sob influencia de espíritos negativos (com relação a evolução espiritual), foi quem fez o desvio da rota que o Cristo ensinou.

            Vejamos o que diz a Wikipédia sobre o assunto:

O Concílio I de Nicéia é o primeiro Concílio Ecumênico, que significa universal, já que dele participaram bispos de todas as regiões onde havia cristãos. Teve lugar quando a Igreja já tinha conseguido a paz estável e dispunha de liberdade para reunir-se abertamente. Aconteceu do 20 de maio ao 25 de julho de 325. Dele participaram alguns bispos que ainda tinham no seu corpo os sinais dos castigos que tinham sofrido por serem fiéis nas perseguições passadas, que eram recentes.

Para essas datas o imperador Constantino, que ainda não tinha sido batizado, facilitou a participação dos Bispos, colocando à sua disposição os serviços do exercito imperial para as viagens e os translados e ofereceu seu palácio em Nicéia de Bítinia, que estava perto da sua residência de Nicomédia. De fato, ele considerava que era oportuna essa reunião, pois no ano de 324, depois da vitória contra Licínio, tinha conseguido unificar o império, e desejava que a Igreja também estivesse unida. Nesses momentos ela estava sofrendo as consequências da pregação de Ario, um padre que negava a verdadeira divindade de Jesus Cristo. Desde o ano de 318 Ário enfrentava-se com seu bispo Alexandre de Alexandria, e fora excomungado no sínodo de todos os bispos do Egito.

 Ário fugira e estava em Nicomédia, junto ao bispo Eusébio, que era seu amigo. Entre os Padres Conciliares encontravam-se as figuras eclesiais de maior importância no momento. Estava Osio, Bispo de Córdoba, que, ao que parece, foi quem presidiu as sessões. Assistiram também Alexandre de Alexandria, ajudado pelo diácono Atanásio, Marcelo de Ancira, Macário de Jerusalém, Leôncio de Cesárea de Capadócia, Eustácio de Antioquia, e alguns presbíteros representantes do Bispo de Roma, que não pode estar presente devido à idade avançada.

Além de Ário, também participaram seus amigos Eusébio de Cesárea, Eusébio de Nicomedia e outros. Em total participaram ao redor de 300 bispos.

Os partidários de Ário tinham a simpatia do imperador Constantino, pensavam que depois de expor seus motivos a assembleia concordaria. Mas quando Eusébio de Nicomédia tomou a palavra para dizer que Jesus Cristo nada mais era do que uma criatura, ainda que excelsa e eminente, e que não era de natureza divina, a imensa maioria dos participantes percebeu que essa doutrina atraiçoava a fé que tinham recebido dos Apóstolos. Os Padres Conciliares, para evitar as consequências de uma confusão tão grave, decidiram redigir, baseados no Credo batismal da Igreja de Cesaréia, um símbolo de fé que fosse o reflexo, de forma sintética e clara, da confissão genuína da fé recebida e admitida pelos cristãos desde as origens. Nele consta que Jesus Cristo é "da substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado e não criado, homoousios tou Patrou (consubstancial ao Pai)". Todos os Padres Conciliares, menos os dois Bispos, no dia 19 de junho de 325, autenticaram esse Credo, que é o Símbolo de Niceno.

Além desta questão fundamental, em Nicéia fixou-se a celebração da Páscoa no primeiro domingo depois da primeira lua cheia da primavera, seguindo a práxis habitual na Igreja de Roma e em outras. Também foram tratadas algumas questões disciplinares de menor importância, pois eram referentes ao funcionamento interno da Igreja.

Quanto ao tema que era de maior importância, a crise ariana, depois de um tempo Eusébio de Nicomédia, com ajuda de Constantino, conseguiu voltar à sua diocese, e foi o próprio imperador quem ordenou ao Bispo de Constantinopla que admitisse Ário na comunhão. Entretanto, após a morte de Alexandre, Atanásio fora nomeado Bispo de Alexandria. Foi uma das maiores figuras da Igreja do séc. IV, pois soube defender a fé de Nicéia com grande altura intelectual e esse foi o motivo pelo qual o imperador o exilou.

O historiador Eusébio de Cesaréia, que simpatizava com as teses arianas, exagera nos seus escritos ao falar sobre a influência de Constantino no Concílio de Nicéia.

Se somente existisse essa fonte, seria possível pensar que o Imperador, além de pronunciar as palavras de abertura no começo das sessões, teve um protagonismo ao tentar reconciliar os adversários e restaurar a concórdia, impondo suas opiniões nas questões doutrinais por cima dos bispos que participaram do Concílio. Trata-se de uma versão parcial da realidade. Tendo em conta todas as fontes sabe-se que Constantino, com certeza, propiciou da realização do Concílio de Nicéia e teve influência dando todo seu apoio. Porém, o estudo dos documentos mostra que o imperador não influenciou na formulação de fé que foi feita no Credo, já que não tinha capacidade teológica para dominar as questões que ali estavam sendo debatidas, e sobretudo porque as fórmulas que foram aprovadas não coincidem com suas inclinações pessoais que eram na linha ariana, isto é, considerar que Jesus Cristo não é Deus, mas uma criatura excelsa.

BIBLIOGRAFIA

GRILLMEIER, Alois. Cristo en la tradición cristiana: desde el tiempo apostólico hasta el concilio de Calcedonia (451), Sígueme, Salamanca 1997.

PAREDES, Javier (ed.) et al. Diccionario de los Papas y concilios, Ariel, Barcelona 1998.

            Colocando-me dentro desse Concílio como uma das pessoas em condições de refletir e decidir pela questão, sinto-me mais inclinado a seguir a opinião do padre Ário. Não posso compreender Jesus como a mesma identidade de Deus, pelo próprio comportamento de Jesus. Se ele fosse o próprio Deus, por que seria necessário ele orar com tanta frequência ao Pai? Por que sempre dizia que foi o Pai que o enviou? Que repreendia o “pai adotivo” quando dizia que estava no Templo cuidando dos interesses do seu Pai? Tudo isso indica que Jesus não era consubstanciado com Deus, mas um ente excelso, bastante evoluído espiritualmente, que estava aqui cumprindo uma missão determinada por ente mais superior. A maioria dos padres formaram suas opiniões, seguindo as informações dadas pelos apóstolos que não tinham uma boa compreensão de quem era Jesus. Mostra isso a pergunta que o próprio Jesus fez para eles: quem vocês acham que sou? Somente Pedro se aproximou da resposta correta: tú és o Messias, filho de Deus. Jesus aprovou e disse que ele havia sido intuído para responder corretamente.

            São essas informações que fazem eu pensar assim, de forma racional. Os padres participantes do I Concílio de Niceia, absorveram as informações apostólicas com a fé exclusiva. Porém, isso não é o mais importante, e sim as lições que o Mestre deixou, sendo ele o Filho de Deus mais evoluído entre nós ou o próprio Deus. Se todos os padres presentes no Concílio tivessem seguindo essas lições e não se deixassem envolver pelo orgulho ou vaidade, certamente uma solução conciliatória mais apropriada teria sido encontrada, como pretendia o imperador Constantino. Por exemplo, deixar as duas formas de compreender a situação dentro de uma forma de receptáculo divino, onde cada padre podia acessar sem condenação, aceitando que nossa sabedoria é insuficiente para encontrar a verdade definitiva. O importante seria o cumprimento honesto das lições de Jesus, construir a família universal e, consequentemente, o Reino de Deus. 

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em 28/04/2020 às 00h27
 
27/04/2020 00h25
ÉDITO DE MILÃO

            O Édito de Milão foi o documento que tirou o cristianismo da clandestinidade, da perseguição, mas ao mesmo tempo abriu as condições para o colocar num desvio de meta que até hoje se perpetua. As lições do Cristo, de humildade e amor, foram substituídas pelo orgulho e egoísmo. Vejamos o que traz a Wikipédia sobre o assunto:

Em 303, o imperador Diocleciano decretou aquilo que veio a se nominar como A Grande Perseguição com o intuito de restaurar a unidade estatal, que, segundo o próprio, estava ameaçada pelo cristianismo.

A grande perseguição acabou se tornando entretenimento para a sociedade romana da época, onde os perseguidos, em especial cristãos, eram jogados aos leões e ursos em arenas ou obrigados a lutar contra gladiadores, em um costume que começou séculos antes com o imperador Nero em 64. Além disso, Diocleciano ordenou que fossem demolidas todas as igrejas cristãs, queimadas as cópias da Bíblia, as autoridades eclesiásticas levadas à morte, cristãos privados dos cargos públicos e direitos civis, teriam que fazer sacrifícios aos deuses pagãos sob pena de morte, entre outros encargos.

Diocleciano se aposentou em 305 deixando vago o cargo de imperador. Entre os postulantes ao cargo, estava Constantino, à época com 25 anos. Antes de se tornar imperador do Ocidente, Constantino casou-se com Fausta, filha do imperador Maximiano e irmã de Magêncio, com quem travaria a batalha pelo poder, vencendo-o em 312 Foi nesta batalha que Constantino teria tido a visão do símbolo Chi Rho junto à inscrição latina In hoc signo vinces (“Com este sinal vencerás"), tendo-o gravado nos escudos dos soldados e, no dia seguinte, sagrando-se vencedor da batalha junto a Magêncio.

Em janeiro de 313, Constantino saiu de Roma com destino a Milão para presenciar o casamento de sua irmã com Licínio. Em março do mesmo ano, o Édito de Milão foi redigido e postado, em forma de carta endereçada ao governador da Bitínia, por Licínio em sua ida a Nicomédia, em 13 de junho de 313. A expressão Édito de Milão, pelo qual ficou conhecido tal documento, teria surgido apenas no século XVII.

Nós, Constantino e Licínio, imperadores, encontrando-nos em Milão para conferenciar a respeito do bem e da segurança do império, decidimos que, entre tantas coisas benéficas à comunidade, o culto divino deve ser a nossa primeira e principal preocupação. Pareceu-nos justo que todos, os cristãos inclusive, gozem da liberdade de seguir o culto e a religião de sua preferência. Assim qualquer divindade que no céu mora ser-nos-á propícia a nós e a todos nossos súbditos.

Decretamos, portanto, que, não obstante a existência de anteriores instruções relativas aos cristãos, os que optarem pela religião de Cristo sejam autorizados a abraçá-la sem estorvo ou empecilho, e que ninguém absolutamente os impeça ou moleste... Observai, outrossim, que também todos os demais terão garantia a livre e irrestrita prática de suas respectivas religiões, pois está de acordo com a estrutura estatal e com a paz vigente que asseguremos a cada cidadão a liberdade de culto segundo sua consciência e eleição; não pretendemos negar a consideração que merecem as religiões e seus adeptos. Outrossim, com referência aos cristãos, ampliando normas estabelecidas já sobre os lugares de seus cultos, é-nos grato ordenar, pela presente, que todos os que compraram esses locais os restituam aos cristãos sem qualquer pretensão a pagamento... [as igrejas recebidas como donativo e os demais que antigamente pertenciam aos cristãos deviam ser devolvidos. Os proprietários, porém, podiam requerer compensação.]

Use-se da máxima diligência no cumprimento das ordenanças a favor dos cristãos e obedeça-se a esta lei com presteza, para se possibilitar a realização de nosso propósito de instaurar a tranquilidade pública. Assim continue o favor divino, já experimentado em empreendimentos momentosíssimos, outorgando-nos o sucesso, garantia do bem comum.

O Édito de Milão ou Mediolano (em latim: Edictum mediolanense) promulgado em 13 de junho de 313 foi um documento proclamatório para no qual se determina que o Império Romano seria neutro em relação ao credo religioso, acabando oficialmente com toda perseguição sancionada oficialmente, especialmente aos cristãos. Tal documento, publicado em forma de carta, transcreveu o acordo entre os tetrarcas Constantino (imperador do Ocidente) e Licínio (imperador do Oriente).

Além da liberdade religiosa, a aplicação do Édito fez devolver os lugares de culto e as propriedades que tinham sido confiscadas aos cristãos e vendidas em hasta pública: "o mesmo será devolvido aos cristãos sem pagamento de qualquer indenização e sem qualquer fraude ou decepção". Deu ao cristianismo, e a todas as outras religiões, o estatuto de legitimidade (latim: religio licita), comparável com o paganismo e com efeito destituiu o paganismo como religião oficial do Império Romano e dos seus exércitos.

Anos depois, na tentativa de consolidar a totalidade do Império Romano sob o seu domínio, Licínio em breve marchou contra Constantino. Como parte do seu esforço de ganhar a lealdade do seu exército, Licínio dispensou o exército e o serviço civil da política de tolerância do Édito de Milão, permitindo-lhes a expulsão dos cristãos. Os cristãos perderam consequentemente propriedades e muitos a vida.

Por volta de 324, Constantino ganhou o domínio de todo o Império, após derrotar Licínio em Adrianópolis e Crisópolis (atual Turquia) e ordenar sua execução por traição.

            Foi assim que o cristianismo deixou a clandestinidade, por ato oficial como deveria ser. Até aí não havia contaminação dos ensinos espirituais do Cristo pelos valores materiais associados ao egoísmo, á conquista e manutenção do poder. Mas, o próximo passo de Constantino irá trazer preocupação cada vez maior a espiritualidade superior, pois denota o desvio da programação reencarnatória do imperador.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 27/04/2020 às 00h25
 
26/04/2020 00h24
ARCO DE CONSTANTINO

     Da mesma forma que Constantino esqueceu seu compromisso reencarnatório e procurou envolver as lições do Evangelho nos seus projetos pessoais de manutenção do poder, a quase totalidade da massa humana em qualquer agrupamento social, iremos ver essas mesma características individualistas ao nosso redor, em qualquer localidade, até mesmo dentro do clero.

Vejamos o que dizia o senado por ocasião da vitória e sua entrada triunfal em Roma:

Inscrição na parte sul do Arco de Constantino

Constantino recebia de presente em memória à sua vitória um Arco triunfal dedicado pelo senado que fora oficialmente aberto em 25 de julho de 315, com cerimônias que envolveram sacrifícios a Apolo, Diana, Hércules, etc. Localizava-se entre o Palatino e o Célio, sobre a chamada Via Triunfal. Ele estava cuidadosamente posicionado de modo a alinhá-lo com a estátua colossal do Sol construída por Nero (r. 54–68) e situada no Coliseu. Dentre os relevos contidos no monumento há imagens representando a deusa Vitória, ao mesmo tempo que não há quaisquer elementos da imagética cristã, embora isso possa ser um ato deliberado do senado, que era pagão. Nele ainda há uma inscrição, exposta nos lados norte e sul, na qual associa-se a vitória à intervenção divina:

imp · caes · fl · constantino · maximo · p · f · avgusto · s · p · q · r · qvod · instinctv · divinitatis · mentis · magnitvdine · cvm · exercitv · svo · tam · de · tyranno · qvam · de · omni · eivs · factione · vno · tempore · ivstis · rempvblicam · vltvs · est · armis · arcvm · trivmphis · insignem · dicavit

Ao imperador César Flávio Constantino, o maior, pio, [e] afortunado, o Senado e povo de Roma, por inspiração [de uma] divindade e sua própria grande mente com seus justos exércitos [derrotou] o tirano e sua facção numa batalha legítima [e] vingou a república, dedicou este arco como um memorial para sua vitória militar.

            Observamos que há todo um clima de respeito e aceitação pela vitória, inclusive com uma participação divina, mas ligadas aos deuses pagãos, muito longe do cristianismo. Constantino coloca o cristianismo em destaque visando o fortalecimento do seu poder, desde a batalha realizada e vitoriosa. O compromisso reencarnatório de melhorar a situação dos cristãos e a divulgação do Evangelho, foi feita de forma distorcida cujos efeitos se estendem até os dias de hoje.

            Por outro lado, Constantino ao voltar ao mundo espiritual, cheio de erros de conduta, inclusive como autor da morte do filho e da esposa, justamente pelo extremo apego ao poder que desenvolveu. Este foi o “calcanhar de Aquiles” de Constantino, o Poder.

            Essa é a nossa problemática reencarnatória. Mesmo saindo do mundo espiritual para o material, com programa a ser cumprido e disso tendo bastante consciência, uma vez dentro do corpo biológico, esquecido dos compromissos espirituais, passa a prevalecer os valores materiais bem caracterizados pelos sete pecados capitais (ira, luxúria, preguiça, gula, inveja, vaidade, orgulho). No caso de Constantino, foi desviado pelo orgulho e vaidade, associados do poder. No meu caso, a preguiça em primeiro lugar, a gula em segundo. Meu espírito tenta combater esses dois gigantes na arena mental, mas, confesso, as derrotas são mais constantes que as vitórias. Não posso criticar Constantino, pois não estou muito distante dele, no sentido de desvio dos compromissos espirituais. No meu caso talvez o caso seja mais grave, pois eu tenho a consciência espiritual que ele não tinha.  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 26/04/2020 às 00h24
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