O 1º dia do mês de outubro celebra-se o Dia do Idoso no Brasil, dia em que foi aprovada a Lei nº 10.741 em 2003, que tornou vigente o Estatuto do Idoso. Lembrar que na Assembleia Geral de 1991, a ONU aprovou a Resolução 46/91 que trata dos direitos dos idosos, e entre estes estão os princípios de auto realização e dignidade.
Auto realização é ter as oportunidades para o total desenvolvimento das suas potencialidades e ter acesso aos recursos educacionais, culturais, espirituais e lazer da sociedade. Dignidade é poder viver com segurança, sem ser objeto de exploração e maus-tratos físicos ou mentais; ser tratado com justiça, independentemente da idade, sexo, raça, etnia, deficiências, condições econômicas ou outros fatores.
Este é o dia reservado para fazermos essa reflexão fundamental sobre a nossa vida, um estágio onde todos nós, favorecidos por Deus com a longevidade, saudável ou não, iremos passar.
Talvez a mais rica, forte e profunda experiência da caminhada humana seja a de ter um filho. Um momento pleno de emoções, por vezes angustiante, ser pai ou mãe é provar os limites que constituem o prazer e a dor de amar alguém com tanta força.
Quando nascem, os filhos comovem por sua fragilidade, seus imensos olhos, sua inocência e sua graça. Basta vê-los para que o coração se alargue em riso e alegria. Eles chegam a nossa vida como uma amostra do que seja Amor Incondicional, se pudéssemos aplicar esse sentimento a cada ser vivo, a cada próximo. Dependem de nossos cuidados, do amor que temos. E retribuem com gestos que enternecem.
Mas os anos passam e os filhos crescem. Escolhem seus próprios caminhos, parceiros, profissões. Trilham novos rumos, afastam-se da matriz familiar.
O tempo se encarrega da formação de novas famílias. Os netos nascem. Envelhecemos... e então algo começa a mudar.
Os filhos já não têm pelos pais aquela atitude de antes. Parece que agora só os ouvem para fazer críticas, reclamar, apontar falhas. Já não brilha nos olhos deles aquela admiração da infância, e isso se torna uma imensa dor para os pais... idosos!
Por mais que disfarcem, todo pai e mãe percebe as mínimas faíscas no olho de um filho. É quando pergunta para si mesmo: “Que fiz eu? Por que o encanto acabou? Por que não sou mais o herói de meu filho?”
Apenas alguns anos se passaram e parece que foram esquecidos os cuidados e a sabedoria que antes era referência para tudo que eles faziam. Aos poucos a atitude dos filhos se torna cada vez mais impertinente. Praticamente não ouvem mais os conselhos. A cada dia demonstram mais impaciência. Acham que os pais têm opiniões superadas, antigas. Implicam com as manias, os hábitos, as velhas músicas. Tentam fazer os velhos pais se adaptarem aos novos tempos, aos novos costumes, com palavras duras.
Quanto mais envelhecem os pais, mais os filhos assumem o controle. Quando bem idosos já não decidem o que querem fazer ou o que deseja comer e beber. Raramente são ouvidos quando tentam fazer algo diferente. Por que tratá-los como se inúteis ou objetos sem discernimento? Mesmo assim, no fundo daqueles olhos cercados de rugas, há tanto amor! Naquelas mãos trêmulas, ainda há o mesmo gesto que abençoa, acaricia.
Não deixe que as leis sejam necessárias para disciplinar o nosso comportamento. Valorize o tempo de agora com os pais idosos, amanhã eles podem não estar conosco. Paciência com eles quando se recusam a tomar os remédios, quando falam interminavelmente sobre doenças, sobre suas crenças, quando se queixam de tudo.
Abrace-os apenas, enxugue as lágrimas deles, ouça as histórias, mesmo que sejam repetidas, e dê-lhes atenção, afeto... Acredite, dentro daquele velho coração brotarão todas as flores da esperança e da alegria que um dia eles cultivaram em você.
Fiquei sempre curioso como era que se desenvolvia a paixão dentro do psiquismo, se isso acontece, aparentemente, sem nenhuma participação da vontade, por pessoas as vezes as mais inconvenientes e inesperadas.
Parece que a paixão é um dos apetites que funciona sob a aura de Behemot, aquele monstro caracterizado pelos instintos animais e que a Bíblia cita como obra prima de Deus. Assim, como a fome de alimentos, que é desencadeada no cérebro quando o organismo percebe que não há mais glicose suficiente circulando no sangue, a paixão é desencadeada também no cérebro quando este percebe a necessidade ou oportunidade de reprodução. Não é que seja tão simples assim, mas na falta de explicação mais complexa... tenho constantemente ao meu redor mulheres que oferecem essa oportunidade de reprodução, e por que não desperta esse sentimento por todas elas, ou então eu direciono para quem desejo me apaixonar? Então esse despertar não é meu. Só pode ser de Behemot.
Quando esse sentimento desperta por determinada pessoa, sinto logo uma pressão diferente no psiquismo no sentido de aproximação, simpatia, amizade... que vai se desenvolvendo no adubo do tempo. Quanto mais o tempo passa mais o sentimento vai se fortalecendo no cérebro e isso causa uma avalanche de inspirações, geralmente no campo poético. Posso sentir esse sentimento crescendo, saber que é paixão e nada poder fazer para que ela não se desenvolva. Sei que a mente promove mecanismos mirabolantes de aproximação, de cuidados, de atenção redobrada. O que consigo fazer e controlar é manter sempre a atenção voltada para o bem estar da pessoa que provoca tudo isso não ficar comprometido. Não posso deixar que esse apetite de Behemot prejudique o alvo da paixão. O Leviatã das palavras falsas para conquistar o que se deseja, mesmo em detrimento do bem estar do outro, não se forma dentro do meu psiquismo. Não posso evitar que surja na consciência os desejos exagerados de Behemot, mas posso controla-los com os princípios espirituais de “não fazer ao outro o que não quero para mim”.
Tive a oportunidade de ficar junto com esta pessoa que desencadeou o início da paixão por cerca de cinco horas. Fiz o máximo de esforço para deixar o meu espírito acima das sensações que se desenvolviam no meu campo mental. Sabia que tudo aquilo que estava sentindo tinha um forte conteúdo carnal, vinha direto das entranhas, do ventre do Behemot, e eu devia conter o meu comportamento para não ser invasivo nos limites do outro. Meu espírito operava essas forças psíquicas de aproximação que o vulgo chama logo de amor, o amor romântico, com os princípios do Amor Incondicional. Era como se essa energia do Behemot passasse para o meu espírito, e assim eu não estava à serviço de Behemot, mas deixava a energia dele a serviço do Amor Incondicional. Poderia ficar anos ao lado dessa pessoa e nunca realizar o sexo, desejo do Behemot, se o espírito considerasse isso inconveniente aos princípios do Amor Incondicional. O sexo só seria realizado se o espírito considerasse ser a ação também benéfica aquela promotora da paixão.
Esse é o ponto em que meus críticos dizem que estou equivocado quando digo que pratico o Amor Incondicional dentro dos meandros da paixão e coloco dentre dele a possibilidade do sexo. Eles não percebem que também pode acontecer o contrário, de eu ficar o tempo que for preciso junto a essa pessoa e não acontecer sexo, se a consciência considera que isso seja inapropriado.
Então, fiquei junto com essa pessoa durante essas cinco horas procurando identificar os possíveis motivos dela ter desencadeado o sentimento da paixão. Não observava nada de extraordinário, não era uma pessoa de dotes anatômicos fantásticos, pelo contrário, estava com peso inferior ao normal, e com efeito de acidentes pelo corpo. Por que danado o Behemot foi despertar por essa pessoa a paixão? Pessoa da qual eu recebia até má informação sobre a sua forma de agir? E eu observava uma série de defeitos físicos de um ponto de vista crítico? Mas Behemot parece que não se incomodava com isso. Terminei o meu encontro com o sentimento da paixão ainda pulsante.
Sei agora com todas as letras que esse tipo de paixão é proveniente dos desejos de Behemot, o monstro interno que a Bíblia considera obra prima de Deus. Agradeço a Ele por ter me dado forças e compreensão para eu entender esse mecanismo e não ficar submisso à Behemot, pelo contrário, posso operá-lo no sentido de reforçar o Amor Incondicional que funciona também à base de energias. Posso sentir os efeitos da paixão e não deixa de ser uma sensação agradável, principalmente quando percebo também que ela reforça o Amor Incondicional que é a minha trilha comportamental oferecida por Deus e aceita por meu livre arbítrio.
O tema da espiritualidade está cada vez mais dentro das universidades, promovendo pesquisas e criando cursos. Na UFRN, inspirados pela experiência da UFCE, um grupo de colegas sugeriu e eu assumi a condição de coordenador da disciplina de Medicina, Saúde e Espiritualidade que conseguimos aprovar à nível de Departamento de Medicina Clínica onde estou lotado. O curso é montado na experiência de vários colegas interessados no tema e que dão aulas na condição de voluntários, sempre com a minha presença na sala, como apresentador do professor, para explicar como sua aula está inserida no conteúdo do curso, apoio para as necessidades didáticas que ele apresentar, e como fomentador de perguntas.
Sinto que esta atividade está direcionando cada vez mais o meu foco acadêmico, da psicofarmacologia área que fiz minha pós graduação, para a espiritualidade. Tenho aprofundado os estudos e já penso fazer um curso com mais detalhamento doença/espiritualidade para ser ministrado para os residentes médicos, principalmente da área da psiquiatria.
Por ocasião de um evento de AA no qual participei como apresentador da abertura e coordenador da mesa de perguntas e respostas, encontrei um amigo aposentado da UFRN e que ministra aulas na Faculdade Maurício de Nassau. Como ele desenvolve um bom grau de espiritualidade como membro de AA, perguntei se ele não se interessava em apresentar um projeto de curso de espiritualidade à Faculdade que ele ensina. Disse que poderia ser no estilo da que conduzimos na UFRN, com base na experiências de professores voluntários nos quais eu poderia ser incluído. Poderíamos fazer um curso com um direcionamento maior para a atuação dos grupos de mútua ajuda, com um título diferente, que poderia ser assim: “Ciência, espiritualidade e aplicação prática”.
Seria um curso com dois créditos cujas aulas poderiam ser distribuídas assim:
O meu amigo não compareceu a aula que eu o havia convidado, certamente teve algum imprevisto. Mas a ideia permanece acesa e estou motivado para promover junto aos diversos estabelecimentos de ensino superior essa oferta de um curso de espiritualidade com essa base acadêmica ou parecida.
Fui procurado por uma aluna do curso de “Medicina, Saúde e Espiritualidade” ao qual coordeno, para que eu fosse seu orientador no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que ela precisa apresentar. Não tinha nenhuma ideia de como começar um trabalho com esse foco, e eu também não tinha. Mas como era algo ligado à espiritualidade e à saúde, pensei logo no Amor. Disse a ela que poderíamos fazer um trabalho com essa relação e ela aceitou prontamente, mas ambos não colocamos nada de objetivo. Ela ficou de ler sobre o assunto e voltar a entrar em contato comigo.
Depois de duas semanas ela me procurou dizendo da dificuldade de elaborar o plano de trabalho, pois tudo que se referia ao amor se tornava muito abstrato e difícil de objetivar no relacionamento com a saúde. Mas disse das dificuldades afetivas de pessoas que se envolviam no Hospital Giselda Trigueiro onde ela estava estagiando e se não era possível fazermos um trabalho com essas pessoas.
Achei muito interessante a ideia, pois podia fazer uma correlação entre o amor romântico e o amor incondicional na geração de conflitos ou na geração de harmonia. Podíamos investigar grupos especiais como estudantes, profissionais ou pacientes já comprometidos com os transtornos, tipo depressão, causado por esses conflitos. Então preparei um texto que servirá de bússola para ela aprofundar suas leituras e concatenar algum tipo de investigação.
Refletindo sobre o trabalho que queremos realizar sobre o amor e sua influência na saúde, venho fazer as seguintes considerações.
Com essas orientações iniciais poderemos iniciar nosso trabalho e ampliar para a comunidade, tanto em termos conceituais como nos serviços que já estão sendo praticados pelas pessoas que se sentem prejudicadas. Podemos pesquisar os grupos de mútua ajuda como DASA (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos), relacionar amor com qualidade de vida, e diferenciar com clareza amor romântico de amor incondicional.
Cito como leitura inicial os livros: “Metafísica do Amor”, de Arthur Schopenhauer; “Os sentidos da Paixão”, diversos autores, da Editora Companhia das Letras; “Amaridianos – Caminhos energéticos do Amor”, de Darian Zur Strassen; e “Alquimia do Amor – Depressão, cura e espiritualidade”, de Audenauer Novaes.
A terapia familiar hoje está focada em núcleos parentais, a família nuclear. Na minha compreensão de considerar a família universal como foco, apesar da abrangência, é indispensável extrapolar os limites da família nuclear. Devo deixar claro que essa forma de raciocinar e de se comportar não quer anular a importância dos parentes mais próximos, do núcleo familiar que construímos como imperativo da Natureza. Tem sua importância local, imediata, mas nunca sem menosprezar todo o contexto que constrói a família universal, pois somente assim podemos construir o Reino de Deus ensinado por Jesus.
Vejo assim a necessidade de ampliar minhas ações em direção a outros núcleos familiares, que sejam considerados parentes, mesmo que não exista a consanguinidade. É neste ponto de compreensão que vejo a importância de ampliar os meus afetos, mesmo que não exista sexualidade, mas sempre com os critérios de fraternidade, de solidariedade.
Entendo que Deus, vendo minha intenção de cumprir a Sua vontade, de construir relacionamentos na base do Amor Incondicional, colocou na minha área de ação uma família com diversos problemas e que precisavam de minha orientação técnica e principalmente espiritual. Com essa compreensão estou abrindo hoje este espaço que denomino Terapia Familiar para registrar semanalmente o progresso que poderei alcançar com essa atividade, da mesma forma que faço com o registro semanal de Foco de Luz para informar o avanço que construímos na comunidade da Praia do Meio.
Neste domingo foi feito a primeira reunião com vários integrantes dessa família, cujo tema de reflexão foi o Perdão, um texto escrito pelo papa Francisco, onde ele defende que a família seja esse local de perdão. Durante a discussão todos se posicionaram e colocaram essa dificuldade que existe dentro de cada um com suas características pessoais, alguns com mais facilidade, outros com mais dificuldade de perdoar.
Como primeiro passo, essa compreensão foi importante para o início desse trabalho difícil e complexo. Irei denominar cada família nuclear com a inicial de seus componentes para não expor a individualidade de ninguém.
Na família DNAE é que existe o maior problema. O marido passou a se encontrar com outra mulher e a esposa descompensou psiquicamente, com pensamentos obsessivos, ideias de fuga, de autodestruição e com necessidade de medicamentos, psicoterapia e talvez internação psiquiátrica.
Na família CSFP existe um risco da filha menor, de 15 anos, que foge de casa, não obedece aos pais, faz uso de bebidas alcoólicas e se envolve com pessoas perigosas. O pai costuma beber toda a semana e não consegue autoridade para iniciar um diálogo proveitoso. O irmão tenta resolver a situação na base da violência e já se apresenta necessitado de fazer uso também de psicofármacos.
A matriarca, pessoa muito preconceituosa, apesar de muito religiosa, guarda no coração pesadas mágoas que atingem todos os membros da família. O filho que mora consigo é alcoólico e ninguém toma ações necessárias para conter a doença e salvá-lo de morte precoce. A família GS, recém-formada, sofre influência direta da matriarca e se recolhe de forma patológica no seu mundo resumido à casa e ao trabalho, sofrendo constantes dores físicas.
Existe um potencial profissional muito bom que é subutilizado por medo dos integrantes. Esse pode ser um bom argumento terapêutico na terapia do coletivo, atuando na motivação profissional de cada um.
Nesse contexto é que vai se desenrolar as minhas ações terapêuticas neste espaço familiar ampliado. Rogo a Deus que me dê a sabedoria necessária para eu conduzir todos esses conflitos, mesmo porque estou dentro deles. Confio que a aplicação das lições do Evangelho em cada dificuldade apresentada, sejam suficientes para a correção dos desvios num clima de amor, solidariedade e fraternidade, ao lado da justiça e da verdade.