Recebi um e-mail hoje com esse título e como vivi 40 dias com essa filosofia na cabeça, inclusive tendo penetrado na imaginação em um deserto para ficar mais próximo das condições que Jesus enfrentou e que caracterizou o período. Interessante que fiz isso num momento crítico em que a desarmonia chegou ao meu lar através de pessoas que amo. Vi que a coisa estava tomando um caminho estranho e aproveitei que estava no tempo da Quaresma, para intuitivamente penetrar dentro dele sem saber tanto de seu significado. Portanto, considerei esse e-mail como mais uma mensagem que o Pai enviou para mim para que eu tivesse uma consciência mais profunda do que eu acabara de fazer.
“Quaresma é um tempo de oração, jejum e caridade; tempo forte de atenção aos necessitados, de fazer um sério discernimento da própria vida, confrontando-se de maneira especial com a palavra de Deus, que ilumina o itinerário cotidiano dos fiéis.”
Perfeito! Tudo que está descrito nesse trecho, eu cumpri, senti e segui fielmente, parece até que eu tinha lido antecipadamente o texto que estava tentando seguir os conselhos.
“É o tempo de arrependimento dos pecados, de mudar algo de nós para sermos melhores e poder viver mais próximos do Cristo; de fazer um esforço para recuperar o ritmo e estilo de verdadeiros filhos de Deus, como devemos viver. É o tempo de ajustar a vida, escutando e seguindo a vontade de Deus, orando, compartilhando com o próximo e praticando boas obras. É o tempo do perdão, da reconciliação fraterna, de retirar do coração o ódio, o rancor, a inveja, os preconceitos que se opõem ao amor a Deus e aos irmãos. É o tempo de aprender a conhecer e apreciar a cruz de Jesus, e com isto aprender também a tomar a nossa com alegria. É o tempo que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública. É o tempo de se observar um espírito penitencial e de conversão. Tempo de abstinência daquilo que gostamos de fazer.”
Vejo que em âmbito geral, cumpri a maior parte dos princípios que norteiam a quaresma sem ter conhecimento de seu significado com uma maior profundidade. Isso me deixa gratificado por uma parte, por saber que eu tenho um nível satisfatório de espiritualidade. Mas por outro lado, isso coloca em meus ombros uma grande responsabilidade, pois os erros que eu antes cometia e era justificado pela ignorância, agora não tenho mais esse atenuante. Descobri que a origem do pecado que me atinge vem de dentro de mim mesmo que deverei estar sempre vigilante para aplicar os meus atos e os corrigir de imediato quando for necessário.
Enfim, fora do deserto! Não que tenha sido uma experiência torturante, pelo contrário. Foi uma experiência maravilhosa na qual consegui ter mais clareza no que Deus quer para mim. Foram 40 dias surpreendentes na minha vida, senti a presença de deus mais próxima de mim, sentimentos, emoções e pensamentos, surgiam em quantidade e intensidade como jamais. Reconheci em definitivo minha condição de criatura de Deus e como tal capacitado a ser nesta dimensão material, um dos instrumentos de Sua vontade.
Mas, apesar desses eventos surpreendentes e maravilhosos, devo viver em obediência humilde e completa à Sua vontade. Devo estar sempre atento à Sua Lei escrita na minha consciência, ter o cuidado de caminhar sempre orientado pela Ética e pela moral superior, dentro da principal regra do Amor Incondicional, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo.
Também de alguns pecados fui advertido durante a estada no deserto, como deixar de expressar a vontade de Deus, os ensinos de Jesus, no meio onde me encontrava, simplesmente por motivos materiais, profanos. Foi um tipo de negação a Deus, como aquele que Pedro fez a Jesus. Recebi o perdão, pois Deus é magnânimo, tem a essência pura do Amor, mas recebi também uma severa advertência: “A negligência do dever é forte desvio da vontade do Criador, é suficiente para a perda da meta do caminhar. Deves ter muito cuidado!”
Entendi assim que o meu caminho não implica em ter a aprovação de todos ao redor, de ter prazer e risos de forma constante entre os presentes e participantes. Entendi que devo ser a testemunha e o instrumento da vontade de Deus, e assim, mesmo sendo veículo do amor, da tolerância e da compaixão, ainda despertarei raiva e até ódio em muitas pessoas que tiverem os seus interesses materiais contrariados. Essas pessoas e as suas cargas de ódio/raiva e as ações conseqüentes, serão a minha cruz.
Mas isso não deve ser motivo de desânimo e sim de motivação, pois me colocará num nível parecido com o de Jesus, que sendo o legítimo representante da vontade do Pai, como foi reconhecido por ser o Seu filho muito amado Ele tinha a capacidade de ensinar e aplicar o Amor em toda profundidade necessária ao nosso entendimento, mesmo assim despertou tanto ódio ao seu redor que o levou a crucificação de forma tão bárbara, sob os apupos daqueles que há poucos dias o havia aclamado como Rei e filho de Deus.
Não, não deverei temer a minha cruz, e sim pedir orientação e auxílio ao Mestre, a cada momento que minhas forças fracassarem e me façam cair ao longo da caminhada, que eu tenha energia para me levantar e com obediência e humildade continuar seguindo a vontade de Deus.
Estou voltando. Esses dias no deserto foram experiência extraordinária. Primeiro pelo contato mais próximo com Deus. Agora tenho maior clareza da influência dEle na minha vida, sei da força que Ele tem na natureza inclusive em mim. Sei que Ele está disposto a me orientar a ajudar em qualquer conflito ou dificuldade que eu enfrentar, que Suas lições estão em qualquer lugar que dirigir o meu olhar, agora mais esclarecido.
Agora, que fazer neste mundo material ao qual devo interagir e aprender minhas lições? Devo caminhar dentro de minhas convicções as quais foram reafirmadas serem provenientes de Deus, e que Ele quer que eu as cumpra, que seja minha missão. Neste ponto eliminei minhas dúvidas que são de tantos outros, que esse meu comportamento visa a busca desregrada do prazer sexual. Esses 40 dias no deserto mostrou que o sexo não exerce pressão sobre mim, não tive experiência sexual com ninguém, nem solitariamente também. Amanhã estarei liberado das limitações do deserto, mas não me passa pela cabeça nenhuma busca desvairada do sexo, como se estivesse sofrendo abstinência. Então, definitivamente, o sexo não exerce nenhum efeito central no meu comportamento, eu não tenho a motivação de procurá-lo em primeiro plano.
Por outro lado, não posso deixar que opiniões ou comportamentos de terceiros limitem ou até anule o que devo fazer. Tenho procurar o desenvolvimento de relacionamentos baseados no amor incondicional superando a força do amor romântico quando ele se fizer presente, até mesmo na forma de paixão. Mesmo que isso traga dor aos meus relacionamentos, quando perceberem que mais alguém fica incluído no meu circulo afetivo em função desse amor incondicional amplo, total e irrestrito.
A informação e educação da comunidade com relação essa nova aplicação de forças, de ensinar a preponderância do amor incondicional, e consequentemente a prática do amor inclusivo e detrimento do amor romântico. E para que faça isso com competência, esse ensinamento deve vir respaldado por todo corpo teórico presente nas demais formas de comportamento. Como estou dentro da Academia, tenho que elaborar todas essas ações em confronto com as leis espirituais e leis materiais.
Dizem que a luz intensa do deserto, o sol inclemente, a poeira que fustiga, podem cegar um homem. Eu tenho a minha experiência.
Hoje estou no 39º dia do meu deserto mental, o último domingo da quaresma, domingo de Ramos, da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Também estou prestes a sair do meu deserto mental e entrar no mundo de forma integral, como antes, com todos os relacionamentos em atividade. Ao arrancar a folhinha para o dia de hoje, que anuncia o domingo de Ramos, vejo também uma mensagem que diz: “Eu vos digo que, se eles se calarem, as pedras gritarão.” Não diz quem é o autor, nem qual o contexto, mas acredito que foi dita por Jesus aos seus apóstolos.
Este deserto mental deixou minha visão mais aguçada as coisas do espírito, de não ficar envolvido pelas malhas do egoísmo e ficar com dificuldade de expressar a vontade do Pai. Por outro lado, pode ter me deixado mais cego as coisas profanas, nesse sentido se aproxima da experiência real do deserto. Mas será que tudo não se equipara? Se eu estivesse no deserto real a minha visão fisiológica iria sofrer e até cegar, mas com certeza iria também adquirir mais brilho espiritual. Assim é como sucede no meu deserto mental. As coisas mundanas foram um tanto eclipsadas e passei ver com mais clareza as coisas do espírito.
Descobri a minha melhor forma de conversar com Deus, por incrível que pareça, um método muito diferente dos convencionais métodos de meditação, principalmente quando se quer estabelecer contato com a divindade. Esse método é o exercício físico associado com dança e acompanhado por músicas espirituais, com letras ou instrumentais. É de imediato a conexão, logo me sinto tomado pela influencia do Criador, que enche os meus pensamentos e sentimentos e fazem as lágrimas correrem sem vergonha. Sou colocado a ouvir suas mensagens através das letras das canções e provocado a responder com minhas convicções mais profundas. Tenho que ter ao lado um papel para deixar os tópicos de cada ensinamento, de cada intuição, de cada ordem que Ele me dar. Sinto em alguns momentos o meu corpo frenético no exercício físico, mas não sinto o cansaço, sinto apenas o suor correr pelo corpo e as lágrimas pelo rosto. É uma experiência fantástica que nenhum tipo de droga pode oferecer, acredito, já que nunca usei droga. Mas pelo que meus pacientes relatam, jamais chegam perto dessa experiência. Vejo em tudo ao redor um significado especial, em tudo vejo o projeto de Deus se desenvolvendo, vejo também o meu lugar nessa harmonia do cosmo e como contribuir para a afinação de sua harmonia.
Perdi muito da minha cegueira espiritual nestes dias do deserto e espero que amanhã, quando estiver saindo, mantenha esta capacidade visual, que eu continuo vendo todos os sinais que o Pai coloca ao meu alcance, para que eu possa pensar, sentir e agir de acordo com Sua vontade.
Que este domingo de Ramos, que é festejado como a entrada triunfal do Filho muito amado de Deus em Jerusalém, há mais de 2 mil anos, sirva como exemplo para mim entrar na minha Jerusalém, minha Natal querida, interpretando cada olhar de um irmão, cada aperto de mão, cada abraço, cada beijo... cada expressão de raiva ou ódio, como os Ramos que foram estendidos para o Divino Mestre, pelas pessoas que o aclamaram e que mais tarde o crucificaram.
Peço ao Mestre a firmeza que Ele teve, de aceitar os arroubos de bênçãos e de alegria, e os ímpetos de raiva e maldição com a mesma serenidade de quem sabe que está fazendo a vontade do Pai.
Compreendo que a volta de Jesus se faça em vários níveis, mas não daquela forma suntuosa, alegórica, descendo dos céus para o julgamento dos vivos e mortos. Compreendo ser essa uma alegoria para grava na mente de todos a realidade dessa vinda. Compreendo que o Cristo já está dando sinais de sua volta espiritual no meio de nós, na sua condição espiritual, como demonstra diversos trabalhos, como a Nova Ordem de Jesus, As Cartas de Cristo, A Vida de Jesus ditada por ele mesmo, etc. Mas o nível da volta de Jesus mais importante é aquele que se dá em nosso coração, como a manifestação dEle em mim quando eu terei enfim assimilado com integridade a sua mensagem e a coloco em prática. Compreendo que a volta de Jesus é para mim uma questão íntima, e que depende da minha Reforma Íntima. Saberei quando Ele chegar, pois me sentirei pleno de amor.
Espero chegar o dia em que eu possa compreender sua mensagem além das palavras; quando Ele disser que do templo não restará pedra sobre pedra, eu entender que esse templo de pedras não será mais necessário, pois o nosso corpo e coração está livre das impurezas do egoísmo e podem agora ser o próprio templo do Senhor.
Enquanto isso procuro fazer a minha parte nessa limpeza do corpo, mente e coração, de todas as impurezas que for encontrando. Sei que não é tão fácil assim, tanto identificar essas impurezas do egoísmo que se esconde nas fibras mais íntimas do coração, quanto erradicá-las quando as encontrar. Este meu período no deserto também cumpre essa finalidade. É um momento propício para eu ser testado de todas as formas, nas circunstâncias que vivencio no dia-a-dia, quanto nos relacionamentos interpessoais. Estou perto do fim dessa minha estada no deserto que fiz pela primeira vez. Considero uma experiência gratificante que vai deixar reflexos importantes na minha conduta quando eu retornar em plenitude aos meus relacionamentos. Verifico com mais clareza que devo assumir a minha independência e liberdade com mais amplidão e assumir as suas consequências, com relação a limpeza e organização do meu espaço restrito. Não devo deixar penetrar nenhuma influência que traga desarmonia ao meu lar, este não é o meu projeto, viver em conflito com quem quer que seja. Que haja conflito, sei que não vai deixar de existir no atual nível de relacionamento, ma que não contamine o meu lar, que é o espaço que tenho o contato mais íntimo com Deus, e Ele não aprova esse tipo de sentimento que leva à desarmonia. Tenho que introduzir cada vez mais o comportamento de Jesus dentro de mim, como forma de aceitar a sua vinda, e isso implica ser firme com a negação do egoísmo em todas suas mais diversificadas formas.