Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
20/02/2013 23h39
AS PROVAS DO DESERTO

            Eu sabia que iria entrar nesse deserto mental para ser provado. Está acontecendo. Porem, muito longe do que aconteceu com Jesus, estou sendo vergonhosamente derrotado em todos os embates ocorridos até agora.

            O primeiro que identifiquei foi o exercício da Caridade. Uma senhora me procurou no trabalho para conseguir um atestado para sua filha doente mental. Era um pedido fora de propósito, devia ser feito pelo médico que a acompanha no ambulatório e não por mim que estava num trabalho à serviço da Justiça. Também eram solicitados itens que somente quem poderia colocar seria o médico que a acompanha no ambulatório. Acontece que por motivos políticos a instituição não recebe atestados desse médico. Acontece que essa senhora não tem como conseguir esse atestado na rede pública, pois não existe essa especialidade no momento para atender a população. Mas eu usei de todos esses argumentos desfavoráveis para negar a confecção desse documento, aleguei até falta de ética ao colocar informações que eu não testemunhei no acompanhamento do caso. E tudo isso é verdade. Não adiantou nem a senhora tirar de sua bolsa a Bíblia e dizer que esse (Deus) era o seu advogado e que Ele iria resolver a situação. Foi embora e eu fiquei a meditar... Fui derrotado na primeira batalha. A Caridade veio para ser servida e eu privilegiei a arrogância, o legalismo mundano, a fria burocracia. Nem mesmo a lembrança escancarada do Pai e que ali estava uma irmã necessitada, e que se fosse uma irmã biológica eu teria atendido e atropelava toda a burocracia, leis e ética, fez eu recuar. O orgulho falou mais alto.

            Logo depois, entra outra senhora com um pedido semelhante. Era esposa de um motorista que no passado me serviu, mas com os mesmos impedimentos burocráticos eu dispensei a senhora indicando outros locais onde seria feito de forma burocraticamente correta.

            Mas o Pai não deixou passar essas falhas em branco. A única companhia que ficou comigo nessa quarentena no deserto, o meu pequeno cão, adoeceu e tive que levar ao hospital veterinário onde ficou internado.

            À noite, na hora de dormir, fui conversar com o Pai. Foi uma conversa franca, pedi perdão a ele pela atitude arrogante, não solidária com o sofrimento do próximo, dos pacientes que me procuram. Perguntei também a Ele se esse sofrimento que causo nas minhas companheiras é na verdade vontade dEle, e Ele apenas me perguntou: “Estás amando incondicionalmente?”

            Senti as lágrimas rolarem e fui dormir.

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em 20/02/2013 às 23h39
 
19/02/2013 00h01
O JEJUM

            São duas tarefas importantes para quem está no deserto: oração e jejum. O jejum eu já pratico e não terei dificuldade em aplicar neste momento de permanência no deserto mental. Só que eu devo ser mais amplo. Domingo fui conversar com uma jovem sensível, muito espiritualizada, que estava sofrendo a dor da separação definitiva do seu noivo. Não encontrei muitas palavras confortadoras, ela tinha toda a dimensão do que estava acontecendo em sua vida e do comportamento inamistoso do noivo. Mas ao falarmos de jejum, ela me deu um toque que eu tenho que considerar. Ela disse que o jejum não era só de alimentos. Bem que eu já sabia dessa informação, mas estava apenas guardada na minha memória, sem uso. Agora eu sei que neste período de permanência no meu deserto mental, tenho que incluir outros itens. Um item de grande importância e que deve entrar no jejum é o de relacionamentos íntimos com qualquer pessoa. Deverei ficar só no meu apartamento. O fato de que nesse mesmo domingo que eu saí para falar com essa garota, o mal fez festa no meu apartamento, o refúgio do meu corpo e da minha alma, um local que deve ser consagrado a harmonia e a sintonia com Deus. Minha filha com ciúme impediu que eu me comunicasse com outras pessoas e a minha companheira mais pessoal, que ajuda na organização dos meus interesses materiais, me chama de mentiroso, que eu não sai no domingo para ajudar ninguém e sim me encontrar com outra pessoa. A desarmonia foi tanta que a raiva invadiu o meu coração e permitiu que saíssem da minha boca palavras duras com relação a elas duas. O filho de Deus que assumiu colaborar com a construção do seu Reino na Terra, não pode jamais ter esse comportamento, principalmente em pleno retiro para dentro do meu deserto mental. Se são essas as tentações Satanás, que usa pessoas inocentes para perturbarem o projeto divino, eu devo me afastar dessas inocentes pessoas, não posso deixar que suas persistências em pensamentos egoístas perturbem o projeto do Amor Incondicional que tenho dentro da consciência. Nada disso é definitivo, sei que o projeto dado por Deus para mim, implica no relacionamento interpessoal em todos os níveis, e principalmente os íntimos, nos quais há o embate frontal do amor romântico com o Amor Incondicional. Peço a todas pessoas do meu relacionamento íntimo desculpas por essa decisão que surgiu na minha consciência e que considero mais uma ordem de Deus. Peço desculpas também pelas palavras ásperas que dirigi a pessoas que amo, não é a agressão que sofri que vai justificar o uso por mim das mesmas armas do egoísmo, da arrogância, da intolerância. Podemos continuar a nos comunicar pelos meios digitais como já fazemos, mas evitarei o máximo o contato físico nesse período da Quaresma.

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em 19/02/2013 às 00h01
 
18/02/2013 00h01
O DESERTO E A MISSÃO

 

            O deserto serviu como prova para Jesus de que Ele estava capacitado para cumprir sua missão. É o lugar de encontro com Deus, mas também onde está exposto às tentações de Satanás que é o rival, que procura frustrar ou desvirtuar o projeto de Divino. Jesus supera a prova. Antes de começar sua atividade messiânica, tem de ser provado e comprovado. Convive pacificamente com os animais selvagens, os anjos estão a seu serviço, assim como até hoje, os anjos estão a serviço dos filhos de Deus. Do deserto Jesus volta à Galiléia para começar aí seu ministério de proclamar a boa notícia, de que está próximo o reinado efetivo de Deus, do exercício do seu poder real na história. Em Jesus, Deus já está operando, e por Deus, Jesus se oferece. Orienta para a ruptura com os interesses egoístas através do arrependimento e para o desenvolvimento da fé. Jesus passa a ser o único capaz de restaurar a obra da criação e a regeneração do ser humano, através de suas lições de amor, refazer o coração do homem.

            Hoje estou aqui, 2013 anos depois, estudo as lições desse Homem, que fala de um Deus do qual passei a acreditar sem ter mais dúvidas. Vejo que milhões de pessoas no mundo todo conhecem os seus ensinamentos, chegam até a divulgá-los como Ele orientou, mas percebo que a prática do Amor Incondicional como única lei para o estabelecimento do Reino de Deus, fundamento de Sua missão, ainda não está sendo cumprida nos relacionamentos básicos que estruturam nossa sociedade.

            Com todo o ensinamento que recebi dEle, minha mente ficou permeável à vontade de Deus. Foi estruturada dentro dela o sentido de responsabilidade para a realização de uma tarefa que vejo ser necessária para o cumprimento dos ensinos do Cristo e da realização da vontade de Deus: a realização prática do Amor Incondicional. Vejo que isso é o que Deus quer de mim, para viabilizar a Boa Nova que Jesus veio anunciar e nos ensinar a fazer com seu próprio sacrifício.

            O tempo que estou passando no meu deserto mental, na minha comunhão com Deus, veio logo a mente em primeiro plano esse compromisso. Vejo com clareza que todas as pessoas que Ele colocou ao meu lado, em todos os níveis de relacionamento, principalmente aquelas que se candidatam a me acompanhar nessa empreitada, não podem ficar acima desse projeto e exigirem uma relação exclusiva, pois isso seria a falha total na essência da minha missão. Todos que estão ao meu lado devem saber a essência da minha missão, e por essa essência eu deverei ser cobrado. Nada que extrapolar ou se desviar do Amor Incondicional eu considerarei, pois meu compromisso com o Pai é a aplicação completa, sem qualquer tipo de desvio, do Amor Incondicional.

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em 18/02/2013 às 00h01
 
17/02/2013 06h54
DESERTO MENTAL

            Muitos homens e mulheres, desde a antiguidade cristã, escolheram imitar Jesus, nos desertos do Egito, da Palestina, em lugares solitários, montes e vales remotos. Assim surgiram os mosteiros, conventos, ordens contemplativas e tantas casas de retiros em toda a parte até a atualidade.

            O deserto que a Quaresma recomenda é um convite para todos que creem em Deus, para todos que buscam a Verdade absoluta, para todos que se esforçam para viver o Amor Incondicional.

            Há uma exortação feita por Santo Anselmo que nos orienta como aproveitar melhor a Quaresma: “Pobre mortal, foge por breve tempo de tuas ocupações, deixa um pouco os teus pensamentos tumultuados. Deixa para traz, nesse momento, graves preocupações e põe de lado tuas fadigosas atividades. Sê, um pouco, atento a Deus e nEle repousa. Entra no íntimo de tua alma. Exclui tudo, menos Deus e aquele que te ajuda a procurá-Lo. Fecha a porta e diz a Deus: procuro o Teu rosto. O Teu rosto eu procuro, Senhor.”  

            Assim, o deserto tornou-se um modo de viver a Quaresma, fazer um pouco de vazio e de silêncio em torno de nós, reencontrar o caminho do nosso coração, evitar tanto o barulho e as solicitudes externas para entrar na profundidade do nosso ser. A vontade de Deus em nossa consciência é abundante para nos propor o caminho, para fazer o bem e evitar o mal, para nos levar a revisão de vida, à conversão se for necessária. O Evangelho nos diz que o Espírito, do qual Jesus está repleto, o impele para o deserto; o Filho de Deus se deixa levar pelo Espírito. Vale lembrar a carta de Paulo aos Romanos: “Todos os que se deixam levar pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.”

            Com todas essas orientações considero importante eu entrar no meu deserto mental nesse período próprio da Quaresma. Não posso deixar o trabalho, minhas responsabilidades como Santo Anselmo nos exorta, mesmo que seja por um período de 40 dias. Mas posso, sempre que possível, privilegiar o silêncio em torno de mim e a meditação; deixarei os pensamentos tumultuados e farei o que devo fazer sem tantas complicações na cabeça, de alguém, assim ou assado não gostar, de querer fazer a vontade do outro e esquecer a vontade de Deus; excluir todo tipo de preocupação da cabeça e deixar o espaço para o rosto de Deus se manifestar em minha consciência, dizer da Sua vontade e me orientar na correção de rumos necessária.

            Procurarei experimentar esse deserto mental nestes 40 dias de Quaresma, em busca da vontade de Deus, seguindo os passos do meu irmão mais amado e procurando cumprir minha missão.

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em 17/02/2013 às 06h54
 
16/02/2013 23h59
O DESERTO

            Podemos entender a existência de dois desertos: um deserto físico e um deserto espiritual. No tempo de Jesus Ele foi para um deserto físico e vivia cercado de um deserto de ignorância da verdade, da justiça e do amor incondicional.

            No Evangelho de Marcos, 1:12-15, diz que “Naquele tempo, o Espírito levou Jesus para o deserto, onde ficou durante quarenta dias, e foi tentado por Satanás.” Jesus tinha apenas acabado de ser batizado no rio Jordão por João Batista, recebeu a investidura messiânica, quando se ouviu a voz do Pai: “Este é o meu filho muito amado, escutai-o.” Foi enviado para anunciar a Boa Nova a todos, curar os corações feridos e pregar o Reino de Deus. Antes, porém, Ele jejuou, rezou, meditou, lutou, em profunda solidão e silêncio.

            Reconheço que o Pai quando diz “Este é o meu filho muito amado” vem uma ponta de ciúme em meu coração. Afinal eu também não sou o seu filho e também não posso ser muito amado? Mas logo minha consciência faz as devidas correções: “Você também é considerado por sua mãe como o filho muito amado. Todos os seus irmãos tem inveja dessa condição. Mas porque isso é assim. Você é um filho obediente, demonstra carinho e interesse pelo bem estar de todos, jamais disse em resposta a uma advertência uma palavra grosseira. Comparado aos seus irmãos você tem uma estatura moral superior, justifica que o coração de sua mãe com justiça o considere o muito amado. Da mesma forma é Jesus com relação ao Pai. De todos os filhos existentes no mundo, Jesus é aquele mais obediente e disposto a fazer a Sua vontade, mesmo que fazendo assim sacrifique a própria vida. Tenho que reconhecer que não tenho ainda essa competência de Jesus, devo reconhecer que Ele merece ser o muito amado filho de meu Pai em comparação a todos nós, seus irmãos.

            Meus irmãos absorveram esse julgamento que minha mãe fez sobre mim, me respeitam e seguem minha orientação. Devo também seguir esse exemplo. Devo reconhecer a autoridade moral que Jesus possui e seguir suas orientações, mesmo que o Pai tenha me dado alguma tarefa específica, com certeza será um complemento daquilo que foi ensinado por Jesus.

            Esse tempo da Quaresma é propício para essas reflexões e mesmo não sendo possível ir ao deserto físico para ter a experiência que Jesus teve, posso reproduzir em minha mente o deserto espiritual e passar por experiências parecidas.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 16/02/2013 às 23h59
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