Este termo parece meio estranho, como ser amigo de um “Ser” imensamente diferente de mim? Que não foi criado e que não existe controle do tempo sobre Ele, está em todos e em tudo, e a máxima compreensão que posso ter de Sua existência é uma energia criadora que faz surgir e funcionar com harmonia todos os Universos possíveis? E o máximo que posso sentir dessa energia criadora é no sentimento de Amor, que ainda por cima corre o risco de ser contaminado por meus desejos instintivos da sobrevivência do meu corpo material. Portanto, a sensação não seria bem uma “amizade” entre mim e Deus, mas sim um sentimento de obediência, agradecimento, e vontade de compensar um pouco do tanto que recebi, procurando fazer ao máximo a vontade dEle.
Estou fazendo essa reflexão porque comecei a ler o livro de Taylor Caldwell, “O grande amigo de Deus” que é sobre a vida do apóstolo Paulo. Ele sempre foi uma pessoa estudiosa, que respeitava com máxima disciplina o Deus que lhe ensinavam. Certamente foi essa dedicação à vontade de Deus que inspirou os tradutores da obra da autora a colocar esse título de Paulo como “Amigo de Deus”, uma vez que o original é diferente: “Great Lion of God”, que significa: “O grande Leão de Deus”. Talvez fosse mais pertinente colocar o epíteto de Leão do que de Amigo, pois não implicaria numa intimidade com Deus difícil de entender. Leão dá um sentido melhor de subordinação e de determinação de fazer à vontade de Deus, melhor do que um entendimento mais nivelado como Amigo deixa transparecer.
Mas, aonde quero chegar com essas reflexões é que, da mesma forma que Paulo estava convicto de fazer a vontade de Deus, eu também adquiri essa convicção. Talvez nem tanto com o aspecto feroz e determinado de Paulo, o que justificaria o epíteto de Leão pela autora, mas muito mais com um aspecto tímido, medroso, que justificaria mais o epíteto de ovelha que a autora poderia colocar em mim. Mas vamos chegar ao centro de minhas reflexões. Eu posso me considerar, mesmo na aparência de uma ovelha, como mais um amigo de Deus, talvez, ou com certeza, não tão grande como Paulo. Então, assim considerando, o meu comportamento não deveria ser bem parecido com o de Paulo em todos os aspectos? Pois o meu comportamento é diametralmente oposto ao de Paulo quando se trata de relacionamentos de gêneros, quando envolve a possibilidade de uma intimidade que possa chegar ao ato sexual.
Pois vejamos um trecho do livro de Taylor Caldwell, quando ela relata um encontro de Saulo, adolescente, com Dacyl, uma pretensa namorada. Ele acabara de salvar a vida dela, dentro de uma lagoa, da mordida de um chacal infectado pela raiva:
“O rapaz sentiu o animal moribundo relaxar e ficar flácido, porém tornou novamente a enfiar-lhe a pedra no olho esquerdo, usando suas últimas forças. O chacal submergiu lentamente, em ondas vermelhas, e morreu, as pernas e o corpo flácidos à deriva.
Saulo tornou a estremecer vendo aquilo. Jamais matara qualquer ser. No silêncio, podia ouvir sua respiração, ofegante e rouca. Afastou-se do local onde o animal morreu e começou a lavar braços e mãos com água limpa, por medo das gotas de sangue neles, da saliva letal e de qualquer salpico de espuma que pudessem tê-los atingido.
Então, pensou em Dacyl. Virou-se e começou a nadar para a margem. A escrava tinha caído na terra quente, num amontoado de roupas molhadas, o rosto imóvel e silencioso ao vê-lo aproximar-se. A moça não conseguia se mover. Mesmo quando ele chegou ao seu lado, só pôde olhá-lo, numa palidez mortal, os olhos escuros escancarados.
- O animal está morto – disse Saul. – A lagoa está envenenada. Pobre Dacyl. Tudo acabou. Agora não precisa mais ter medo.
Dacyl estendeu a mão, em silêncio, em busca da dele. O rapaz pegou-a e procurou aquecê-la entre as suas, molhadas e frias. Ela estava tentando falar. Saul curvou-se carinhosamente para ouvi-la.
- Hércules – disse a moça, com um sorriso fraco. – Perseu. Odisseu.
Saul colocou o corpo trêmulo da moça em pé e tentou rir.
- Não foi nada – falou. – Não podia abandoná-la. – Cercou-a com seus braços de soldado, apertando-a contra ele num repentino frenesi de alegria e amor. – Então não a amo, minha querida?
A água escorria deles, mas seu alívio e amor os aqueciam e o sol começou a dardejar, quente, sobre seus corpos. Dacyl pegou uma das mãos de Saul e, humildemente, beijou-a. Seu cabelo escuro, molhado, macio como seda, caiu sobre o braço nu do rapaz. Saul tornou a estremecer ao toque dos lábios dela e o desejo o aguilhoou como uma faca. Quando a moça ergueu a cabeça, viu-lhe os lábios, não gentil e agradavelmente como durante os meses anteriores, mas com entusiasmo, lascívia e paixão. Eram suaves contra os seus, úmidos e frescos. Abriram-se, rendendo-se; ela passou os braços em torno do pescoço de Saul, apertou o seu corpo contra o dele, murmurando ele não sabia o quê. Sentiu os seios jovens contra o peito, prementes, tensos e duros. Instintivamente, Saul ergueu a mão até um dos seios, pegando-o em sua palma agora quente e exploradora. A moça tornou a gemer, languidamente, agarrando-se a ele.
Saul jamais havia tocado num seio e sentir aquele em sua mão quase o enlouqueceu. Sempre agarrados, deixaram-se cair na margem quente, em meio ao capim alto e empoeirado. O mundo tornou-se um profundo troar de paixão, de som incoerente, quente, um delicioso combate. Acima deles, a catarata cantava, o sol brilhava, poeira dourada flutuava no ar e havia um bramido agradável nos seus ouvidos.
Saul ficou completamente perdido. Havia obedecido aos instintos do corpo e fora envolvido numa sensação inexplicável e dominadora, angustiosamente agradável, mas terrível em sua premente intensidade. Deitou-se sobre Dacyl, possuindo-a brutalmente. A moça apertou-o, mordeu suavemente seu pescoço e gemeu de gozo e prazer. Seus corpos tinham o calor da chama e, como esta, fundiram-se, só havendo em torno deles o perfume do capim e das flores balançando e o canto da água. Enlaçados, só tinham consciência do seu êxtase. Saul sentiu o corpo de Dacyl mexer-se sob o dele e a cada movimento intensificou mais suas sensações, sem que soubesse se eram de dor ou de êxtase. Sentiu a língua da moça passar ternamente em sua orelha, ouviu-lhe a respiração gemente e sentiu seus movimentos rápidos. Quando o momento culminante chegou, Saul pensou que havia morrido numa explosão de arrebatamento e era uma morte a não se lamentar, pois era maior que a vida, como a explosão de um sol ou uma chuva de estrelas.
Os olhos de Saul estavam fechados. Suando e ofegante, ficou em cima da moça e foi apenas momentos depois que rolou para o lado, completamente dominado pelo que havia experimentado. Não pensou em nada imediatamente. Tinha lembrança apenas de um imenso e incrível arrebatamento e alegria, aos quais nada havia comparável.
Dacyl apoiou o corpo num cotovelo e olhou-o, sorrindo, os lábios rubros e inchados, os cabelos quentes e quase secos sobre os ombros e seios nus. Ele sentiu seu movimento e vagarosamente abriu os olhos, vendo o rosto da moça inclinado sobre o seu, mais bonito do que nunca. Ergueu a mão devagar e encostou-a no rosto da jovem, que virou a face e beijou-lhe a palma. Saul ouviu um riso grave de contentamento e afeto saindo da garganta de Dacyl. Uma perna branca, nua, repousava sobre a dele.
Então, como um punho frio atingindo seu coração, o rapaz pensou. ‘Arruinei, deflorei, violentei e destruí esta criança inocente e por isso estou almadiçoado.’
- Amado, que está acontecendo? – Perguntou Dacyl, assustada pela palidez e rigidez do rosto sob o seu.
Saul virou o rosto para o lado. Queria chorar de desespero, de arrependimento, de vergonha, por ter possuído aquela moça pura, maculando-a, e por ela ter-se submetido à sua luxúria por gratidão e porque não passava de uma escrava, não podendo, por isso, negar-se a um homem necessitado. Na verdade, ele estava amaldiçoado aos olhos de Deus e dos homens; como poderia reparar sua culpa e seu crime? Quem o perdoaria? Merecia uma morte ignominiosa.
Dacyl começou a acariciar seu vasto cabelo ruivo e sua garganta.
- Você é um verdadeiro herói, meu amado – disse a moça com sua voz infantil. – Sou sua para sempre. Sou sua escrava meu adorado. Nem mesmo Vênus teve um protetor e amante tão possante, mais forte que qualquer outro homem. Como ela deve me invejar, a pérola de Chipre! – disse, beijando seu rosto com ternura.
Acima de sua cabeça, o céu passara a um azul flamejante e a catarata dourada esguichava música líquida, voltando a lagoa a ter a cor de limões novos. A relva e o musgo eram macios sob eles, tornando-os lânguidos. Mas Saul sofria profundamente em sua alma.
- Perdoe-me – disse -, perdoe-me minha querida, se for possível.
Os brilhantes olhos negros de Dacyl arregalaram-se de espanto. Curvou-se para vê-lo melhor, como que incrédula por ele ter dito aquelas palavras. O azul metálico dos seus olhos estranhos cobriu-se de lágrimas e Dacyl ficou assombrada.
- Perdoá-lo! – exclamou. – Você é que deveria me perdoar por colocá-lo em perigo por causa da minha despreocupação! Perdoá-lo! Eu o adoro, meu herói, meu Apolo, com os cabelos como o sol e músculos como couraça! Se a vida, para mim, se reduzisse a apenas esta manhã, ainda assim seria grata aos deuses, que me permitiram deitar com você, confortá-lo e recompensá-lo.
Saul tentou sorrir em face dessa criancice inocente. Acariciou a suave garganta da moça.
- Mas isso a destruiu, querida. Aproveitei-me da sua perturbação. Deflorei-a. quem poderá restaurar sua pureza?
Dacyl sentou-se abruptamente. Olhou-o, maravilhada. Então, depois de um bom tempo, começou a sorrir e era o divertido sorriso de uma mulher e não o de uma garota.
- É isso que o perturba, meu bobinho? – perguntou, com afeto e carinho. – Vamos! Tenho dezessete anos e não sou virgem. Com certeza não me acredita! – Riu com grande ternura. – Deixei de ser virgem aos doze anos. Nessa idade, fui prometida ao capataz da propriedade do meu senhor para casarmos. Fui-lhe entregue por minha senhora, a nobre Fabíola, ganhando nossa liberdade e um bosque de oliveiras. Mas amarei sempre você, mesmo quando deixar de vê-lo.
Espantado, abalado e taciturno, Saul ouvia aquela voz clara e feliz, finalmente compreendendo. Ele estivera pensando como judeu, mas a moça era pagã, tendo nascido e se criado numa atmosfera estranha ao seu conhecimento e à sua compreensão. Para ela, nenhum pecado havia sido cometido. Tivera prazer como alguém que escolhe que escolhe uma bugiganga, durante uma hora de satisfação, e depois, pronto, tudo esquecido. Ela vivera toda a sua vida numa sociedade hedonista, onde tudo era permitido, a honra desprezada, a profanação motivo de riso, o adultério um instante de simples satisfação, a fornicação aceita e a lascívia uma coisa a ser cultivada e procurada. Pertencia a um mundo detestado e temido pelos judeus religiosos, execrado, evitado por eles. E já não era mais Dacyl, a inocente escrava pela qual chorara em segredo, mas a ‘mulher estranha’, cujos lábios eram o portão do inferno. Ele, Saul bem Hillel, havia caído precipitada e sensualmente no poço do seu corpo e estava perdido.
Fora maculado e corrompido além da redenção. Abandonado além da esperança, exceto se devotasse sua vida inteira à penitência, ao remorso e ao arrependimento. Deus havia desviado Seu rosto dele e como poderia reparar isso numa curta vida? Tinha deitado com uma prostituta.”
Eis a profunda diferença entre mim e Paulo. A sintonia que porventura se forme entre mim e qualquer pessoa, seja rica ou pobre, letrada ou analfabeta, será por mim respeitada e todo o afeto fluirá se assim houver interesse de ambos até a intimidade sexual, sem culpas ou preconceitos. Acredito, diferente de Paulo, que Deus quer que eu assim faça a Sua vontade, ao respeitar a Lei da Natureza que Ele criou, desde que o atendimento dos desejos não prejudique a nenhum dos envolvidos numa decisão consciente de cada um. E dessa forma, por caminhos diferentes, acredito que somos amigos de Deus, nos sentido de fazer à Sua vontade de acordo com a Sua lei que está escrita em nossas consciências.
Em 21-05-15 foi realizada reunião da AMA-PM e Projeto Foco de Luz com a presença das seguintes pessoas: 1. Paulo Henrique 2. Edinólia 3. Radha 4. Ana Paula 5. Davi 6. Juliano 7. Nivaldo 8. Silvana 9. Francisco Rodrigues 10. Ezequiel 11. Altair 12. Damares 13. Maria Vênus e 14. Tarcísio. Foi aprovada a seguinte pauta de reunião: 1. Informes 2. Leituras das atas anteriores 3. Avaliação da caminhada 4. Documentos da AMA-PM e 5. Tarefas designadas. 1º) No primeiro ponto de pauta foi aberta uma longa discussão sobre as crianças que frequentam o futebol, colocada por Nivaldo. Ele considera que as crianças são mal educadas, falam muito palavrões, não respeitam os professores nem os colegas. Acredita que seja necessária uma reunião com os pais, uma visita à casa de quem não puder comparecer e aplicar uma disciplina adequada dentro das atividades. Ele se coloca junto com Davi e Altair a ajudarem Ezequiel nessa tarefa. Paulo também mostra um ofício que preparou para entregar à secretaria de esportes solicitando a vinda de dois técnicos para ajudarem a resolver os problemas. – Ezequiel informa que o terreno que conseguimos poderá ser organizado para funcionar como estacionamento comunitário cuja renda pode ser revertida para a Associação. – Altair informa de um projeto no qual ele participou em Fortaleza e que pode ser aplicado em nossa comunidade, com a perspectiva de aumentar a receita da Associação. 2º) No segundo ponto de pauta os dois registros das atividades anteriores foram lidos e aprovados por todos, com a correção do nome do vereador, onde se lê Marcílio, leia-se Maurício. 3º) Na avaliação da caminhada ficou determinado que as tarefas deveriam ser rigorosamente cumpridas pelas pessoas que se dispõem a fazer e que apesar dos vários problemas observados, a resultado final foi positivo e que se deve organizar no próximo ano, talvez em mesma data, com o envolvimento de outros parceiros, principalmente ligados à espiritualidade. 4º) Foi mostrado a todos o livro de registro das diversas atividades que foi aberto em nome da Associação e que deve ser colocado o CPF e Identidade de cada diretor para ser encaminhado ao cartório. 5º) Nas tarefas designadas o que ficou em foco foram os preparativos para a festa do São João, um evento junino que ficou sugerido receber o nome de ARRAIAL DA PRAIA DO MEIO, a ser realizado na Rua Mascarenhas Homem, ao lado do Hotel Reis Magos, no dia 27-06-15. Esta atividade ainda está focada principalmente em Paulo e como não havia mais tempo de discutir as demais tarefas e seus responsáveis, ficou para ser designadas as tarefas e seus responsáveis na próxima semana. Ficamos todos em roda e de mãos dadas para a oração do Pai Nosso conduzida por Damares. Finalizamos todos reunidos após a mesa para a foto coletiva oficial.
Consegui vencer! Passei o dia resistindo as tentativas da gula, ou melhor, não deixava que elas se firmassem na minha mente. Quando eu sentia que chegava uma lembrança de passar em algum restaurante durante o dia e comer alguma coisa, por mínima que fosse, eu desviava o pensamento para outro assunto que interessasse naquele momento. Sei que os pensamentos surgem de forma inesperada na mente, de acordo com as necessidades do espírito, do condicionamento que ela foi submetida no passado. Se o meu corpo está condicionado pelas forças atávicas de milhões de ano a se alimentar com regularidade, também conquistei um condicionamento nesta minha atual existência de comer apenas uma vez por dia, e até passar de 3 a 5 dias de jejum sem grandes problemas fisiológicos. Então, tendo esses dois grandes condicionamentos dentro de mim, estou capacitado a resistir com mais eficácia às forças atávicas.
Aceitei entrar apenas à noite numa padaria. Nesse momento é que se estabelece a queda de braço. Eu aceito o argumento de fazer uma refeição muito limitada, já que eu não estou considerando estar hoje de jejum, apenas no controle alimentar.
Ao ver as opções ao meu dispor, verifico que existem dois pratos de meu interesse e que eu poderia desviar um pouco meu foco do que eu pretendia comer, apesar de aumentar a quantidade, que era isso que eu me proponha evitar. Ao pegar o prato para abastecê-lo, eu via que era ali o momento onde eu podia continuar na luta em busca de uma vitória ou ser derrotado. Consegui colocar a quantidade necessária, mas ainda inferior, para a compensação das reservas nutricionais que perdi durante o dia.
Digamos que eu não tenha vencido a gula, pois entrei na padaria e coloquei no prato além do que pretendia comer. Mas como não comi além do que era necessário para reabastecer minhas reservas nutricionais, considero que houve um empate, entre a gula e o meu espírito.
Entrei assim à noite capacitado para quando chegasse ao meu apartamento ir direto para a mesa fazer os trabalhos necessários. Esta mesa seria o local, seria o ringue aonde iriam se enfrentar a minha preguiça e o meu espírito. Sabia que a força da gula no auxílio à preguiça como acontecera ontem estaria atenuada, pois ela foi alimentada há pouco.
Nessa situação atravessei a meia noite em pleno trabalho que minha consciência apontava como necessário fazer e assim foi computada uma vitória para meu espírito, nessa guerra que ainda vai se estender por muito tempo durante esta minha atual vivência. Mas isso me deixa mais confiante com as forças que possuo e mais sintonizado com a vontade do Pai.
No dia anterior eu estava disposto a enfrentar preguiça e vencê-la. Preparei-me para ser disciplinado, e assim que cheguei em meu apartamento evitei de ir para a cama como sempre faço. Fui para mesa de trabalho disposto a abrir o notebook, mas antes pequei num livro para ler algum trecho. Lembrei que não tinha comido nada, que podia chupar dindim ou comer uma fruta. Decidi comer maçã e azeitonas. Mas fui tentado a fazer uma papa, mesmo não sabendo direito. Terminou ficando em muita quantidade, usei um litro de leite, e ficou toda encaroçada, mas comestível. Comi bastante, principalmente raspando a panela que fiz e deixei dois pratos na geladeira. Depois do tempo gasto nessa atividade gastronômica, onde deixei a cozinha bagunçada e tinha que ajeitar, resolvi ir para a cama para continuar a leitura que estava fazendo na mesa. Terminei dormindo.
Dessa forma, percebi que sofri mais uma derrota, sem nem ao menos ter tido oportunidade de abrir o notebook para trabalhar. Percebi também que dessa vez a preguiça teve outro aliado: a gula. Se eu não tivesse caído na tentação de fazer a papa, eu teria ficado satisfeito só com a maçã e as azeitonas. Foi a gula que me retirou da mesa e deixou-me envolvido na confecção de comida, mas ainda consegui me controlar a fim de não exagerar não exagerar na quantidade e comer os dois pratos de papa que eu havia feito.
Mas vou considerar esse dia de ontem como o primeiro round na minha luta com a preguiça. Amanhã eu tentarei vencer usando a mesma estratégia de hoje, só que dessa vez eu deverei ficar atento à participação da gula. Dois adversários são bem mais difíceis de vencer.
Tenho consciência de que sou um discípulo de Jesus, que sigo uma vontade de Deus colocada por Ele em minha consciência, e que encontro dentro de mim os principais obstáculos em fazer a Lei do Amor funcionar e dar seguimento ao que minha vontade decidiu: a gula e a preguiça. A gula atende aos desejos básicos e imediatos do corpo com relação aos instintos da própria vida, enquanto a preguiça é sua aliada, que tem a máxima sintonia com ela, que preserva as energias do corpo evitando a necessidade de alimentação extra. Ambas para serem executadas apresentam ao corpo a moeda do prazer. É essa moeda do prazer que termina induzindo a mente para que a tenha em bastante quantidade. Como o corpo não tem o sentido crítico de fazer esse prazer parar quando as necessidades fisiológicas forem atendidas, termina sendo gerado um comportamento de busca dessas moedas além do necessário, que se acumula na forma de gordura, de obesidade, que termina, a longo prazo, sendo mais prejudicial que benéfico.
Essa mecânica fisiológica, individual, também se aplica com muita semelhança ao que acontece no campo social, coletivo. As pessoas tendem a acumular as moedas financeiras além de suas necessidades, as vezes de forma ilícita, o que causa a médio e longo prazo sérios prejuízos para a coletividade, com a geração de grandes fortunas e bolsões de miséria .
Vejo assim que tudo se relaciona, as coisas acontecem e interagem umas com as outras. O que acontece no meu campo de influencias individuais, implica no que eu possa fazer no campo de minhas influências coletivas. O Amor que eu devo praticar tem como objeto o próximo que está fora de mim, mas deve ter como base a mim mesmo, lembrando da lição do Mestre: “Ama ao próximo como a ti mesmo.”
Assim, a luta que devo fazer para corrigir os erros e equívocos, os vícios e defeitos do mundo, deve iniciar pelo trabalho realizado em mim mesmo, lembrando a lição que Gandhi deixou prá nós: “Seja você a mudança que quer ver no mundo.”
Sabendo que a todo momento Deus nos oferece opções de caminhos, devemos ter a humildade e sabedoria para reconhecer aqueles que estão de acordo com a Sua vontade e aqueles que atendem apenas aos nossos desejos, por mais embutidos que eles sejam. E assim caminharemos todos juntos, todos tolerando a todos os erros que a ignorância nos permite cometer, e todos ensinando a todos a pequena gota de verdade que se conseguiu alcançar.
Jesus falava de um amor fraterno, que todos fossem um, assim como Ele estava no Pai e o Pai estava em Si. Esperava que nós fôssemos perfeitos nessa unidade. Mas como convencer as pessoas, mesmos cristãs, nascidas e condicionadas dentro de um mundo material? Para isso é necessário o testemunho fiel e constante do amor fraternal, com todas suas exigências evangélicas: igualdade, perdão, serviço, justiça, dedicação a ponto de dar a vida por um irmão.
Dentro dessas exigências para a aplicação prática do amor, uma delas se sobressai por ser o catalisador de todas as outras: o serviço. É o serviço, o trabalho, que coloca em movimento todas as demais e permite o amor se expressar. Se algum fator bloqueia a expressão do trabalho, todas as outras virtudes ficam comprometidas, inertes, ociosas.
No meu processo evolutivo cheguei ao estágio de convicção de ser um membro combatente do exército do bem, comandado por Jesus, com uma missão específica determinada por Deus em minha consciência, que é construir uma simples maquete do Reino dos Céus com o uso prioritário do Amor Incondicional em todos os tipos de relacionamento. Com essa compreensão formei os meus paradigmas de vida e agora devo fazer a implementação do que está sob a minha responsabilidade. É nesse ponto que sinto a fragilidade do serviço que devo realizar, do trabalho que devo fazer. Vejo ao meu redor uma série de atribulações, de tarefas que são necessárias cumpri-las, no entanto fico adiando com a justificativa do lazer, do repouso, do descanso. Sei que isso são fatores importantes para a fisiologia e o psiquismo humano, mas isso pode ser aplicado a quem não assumiu tão fortes responsabilidades. Qualquer pessoa ao meu redor pode fazer uso desse artifício de repouso físico e psíquico, mas essas pessoas não tem o grau de compromisso que eu tenho com Deus, algumas delas nem sabe de Sua existência, a maioria simplesmente considera como um ser distante que não tem necessidade de se ter uma atenção maior que aquela que se faz aos objetivos materiais. Então, o repouso que eles reivindicam pode ser feito sem culpas ou críticas, pois existe um compromisso bem maior com as necessidades fisiológicas e psicológicas. No meu caso o compromisso maior é com Deus então, não posso me dar ao luxo de seguir os mesmos parâmetros com relação ao repouso físico.
É por isso que eu digo que sou vencido geralmente pela preguiça, pois é ela que exige de mim o repouso que eu não posso ter, segundo a minha prioridade. Qualquer pessoa não identifica essa falha, até acham que eu trabalho muito, que não aceitam este diagnóstico que faço de mim. Por mais que eu escute essas contestações sobre a preguiça que considero atrapalhar meus objetivos, não consigo me contentar com o que faço ou deixo de fazer. A minha consciência continua acusando a minha vontade de ficar subjugada pelos desejos da preguiça.
Tenho feito uma serie de tentativas de vencer esse problema, mas sempre sou derrotado, pelo esquecimento ou simplesmente pela desistência. A exposição do problema neste texto que vou publicar em meu diário, é mais uma estratégia que estou usando para vencer o problema. Sei que quando qualquer inimigo interno é denunciado, ele perde parte de sua força. Assim, com a publicação escancarada da preguiça que me domina, espero esta adquirindo força enquanto minha adversária perde a dela. Também devo recrutar dentro de minha rotina uma disciplina que oriente a realização das tarefas no cotidiano.
Hoje, então, posso considerar como o dia D da minha libertação do jugo da preguiça, seguindo com rigor a programação das tarefas que já esquematizei na minha agenda. Espero que desta vez eu seja vitorioso e possa volta a este diário relatando as diversas tarefas que agora não se avolumam ao meu redor sem direcionamento ou resolução.