Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.
O próximo personagem, Eric, o nome dele significa glorioso, grandioso. Ele é aquele que foi escondido num determinado momento, nos subterrâneos do teatro. Mas você vai contestar, ele era deformado, que tem a ver isso com nosso espírito?
Existe uma obra indiana, chamada Bhagavad Gita, que ela coloca dois grupos de personagens associadas à juventude e aos vícios humanos. As virtudes são príncipes pândavas e os vícios príncipes kurus. A história é complexa e não quero que vocês entendam isso agora, mas agora eu quero citar para vocês uma passagem desse livro, dessa tradição, onde eles dizem o seguinte: se surgisse um pândava (ser virtuoso) adulto e armado diante de nós neste momento, nós teríamos pavor e sairíamos correndo. O que será que o Bhagavad Gita queria dizer com isso? Imaginem vocês ... é um monstro! Está querendo roubar tudo aquilo que me diverte, tudo aquilo que dá sentido à minha vida. Então me parece desfigurado, parece um monstro. Mas isso não é a sua verdadeira face. A sua verdadeira face é aquilo que ele traz à tona em mim, que é firmeza, harmonia, brilho. Ele ensinou Christine a sentir a música e com isso ela é uma cantora tão brilhante. Mas ela, e todos na sociedade, no confronto, acham que ele é um monstro. Por que? Ele é um rosto que não estamos preparados para ver. Para uma personalidade cheia de vícios e debilidades, ele é uma monstruosidade que é o oposto da morte. Significa a morte de tudo aquilo que ela tem como prazeroso e como estímulo para a sua vida diária. Então, esse é Eric, aquele que vive nas sombras, o de rosto deformado.
Chego as vezes a me considerar um ser deformado, como esse Fantasma da Ópera. Fiz certa vez um texto nesse sentido, me comparando com o Corcunda de Notre Dame. E por que me sinto assim? Onde está minha deformidade?
Minha deformidade consiste em amar de forma diferente ao que a cultura defende. Um amor incondicional, um amor sem limites, sem exclusividade. Isso parece um aleijão para quem está acostumado a amar condicionalmente.
Nessa condição, os meus relacionamentos afetivos são conduzidos. Todas sabem da minha deformidade, porque faço questão de não esconder, de conviver com uma pessoa a iludindo. Não, todas sabem que sou assim deformado psiquicamente, mesmo assim muitas aceitam a convivência, pois afinal, sou tão delicado!
Esta minha deformidade que acredito ser uma das mais altas virtudes, a prática do amor incondicional, tento fazer minhas diversas companheiras acreditar e também praticar. Mas a feiura do que parece ser monstruoso, frente aos valores culturais, apenas assusta, e um dia, sem mais conseguir suportar, me expulsam de suas vidas.
Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.
Ainda que você se esconda atrás de uma máscara, a sua verdadeira face, a sua essência humana, ainda vai estar perseguindo você, porque é um símbolo que costumo utilizar bastante. É como se o nosso corpo, nossa personalidade fosse uma luva. Ela foi feita para cortar a mão da nossa essência, do nosso espírito para que ela possa atuar no mundo. Imagine que a gente faça uma luva que seja totalmente rígida, os dedos todos ligados, imóveis. É evidente que a mão não vai poder se expressar disso, mas ela vai continuar forçando. Então, toda vez que nos animamos, nos tronamos mascarados, há uma inquietude dentro de nós, querendo tomar posse dessa luva para dar o seu recado ao mundo. No fundo, todos nós viemos ao mundo porque é o recado que cada um de nós tem a dar, que á a base da nossa identidade. Intransferível, que só nós podemos dar. Lembremos aquela frase do imperador romano, Marco Aurélio, “a morte de um único ser humano empobrece”, que significa um universo ímpar e não repetível com o qual deixei de travar contato.
Com essa música, “Mascarados”, é muito interessante, muito propícia, isso não é uma coincidência, isso é um mito bem construído de forma consciente, por quem escreveu a obra e por quem fez o musical. Por isso é tão denso e tão profundo.
Se vocês virem a cena de “Mascarados”, vocês vão perceber o movimento igual até a coreografia obedece essa intenção.
Outra coisa que é importante conhecermos logo de início é um pouco dos perfis dos personagens principais, porque dentro disso vamos entender onde estamos dentro desse drama.
É um teatro, a obra de Garnier, onde vive no subsolo um homem que tem o rosto desfigurado. Ele foi escondido ali desde pequeno, porque a multidão queria mata-lo, queria maltratá-lo. E esse homem é um gênio da música. Num determinado momento, nesse teatro, uma jovem cantora toma o lugar da diva principal e começa a se apresentar. Essa jovem cantora se chama Christine, e ela vinha sendo educada musicalmente nos bastidores por uma voz, que ela não sabia de onde vinha, que ela achava que era o anjo da música. Porque o seu pai, que havia sido o spalla (1º violino) de uma orquestra, um grande violinista, que diz para ela antes de morrer, que um dia o anjo da música viria e a protegeria. E Christine, então, quando ouve essa voz que vai ensinando ela a cantar, identifica com a voz do anjo do qual o pai falava.
Christine, não é difícil de perceber que a origem do nome vem de crucificado. Ela está crucificada entre dois mundos e nenhum desses dois mundos quer abrir mão dela e ela fica dividida, tentando avançar, mas retrocede por medo. Quando você entra na câmara, no filme, na câmara onde ela se ajoelhava para fazer suas orações e onde ouvia a voz do Fantasma da Ópera, você vai ver um fundo vitral com grande anjo e esse anjo colocando contra o seu peito uma cruz. Esse anjo da música que vivia nos subterrâneos e no teatro, guardando Christine, que é a cruz, esse ser consciente, essa personalidade dividida entre dois mundos, crucificada. Ele tentando puxá-la para seu mundo que é a dimensão vertical, profunda, mas ao mesmo tempo o palco começa a puxá-la para a dimensão horizontal, da fama, do reconhecimento, de uma vida banal numa sociedade cheia de superficialidades.
Então, até um determinado momento, ela considera que esse anjo é benéfico, mas quando ele começa a querer roubar tudo que é superficial e vulgar e sem valor, e puxá-la para o seu mundo, ela começa a reagir negativamente, fugia dele.
Entendam o seguinte: Christine, como essa personalidade que somos todos nós, e nós temos um mini consciente, um subterrâneo onde vive o nosso Eric, o nosso Fantasma da Ópera.
Esta reflexão feita por Lucia Helena sobre os personagens da obra, trouxe um novo ângulo de reflexão para mim, com impacto até na minha vida pessoal, íntima. Há certo tempo, durante a convivência com minha segunda esposa, fui expulso de casa com a acusação de estar agindo como o Fantasma da Ópera, querer imprimir o meu pensamento e a minha vontade sobre a companheira. Não era essa a minha intenção, mas era o que ela pensava com toda a convicção. Ela me expulsou da sua vida com bastante convicção que eu fazia mal a ela. Não tive outra opção a não ser suportar a dor da separação e procurar refazer a minha vida de outra forma, já que eu não iria modificar a minha forma de pensar e agir, que foi o motivo de tudo isso.
Agora eu vejo, de forma otimista e gratificante, uma opinião favorável ao que eu defendia, tanto no passado como no presente.
Veremos com mais profundidade no decorrer deste trabalho e da reflexão magnífica da professora Helena, pelo menos no meu ponto de vista, renovado.
Ao assistir uma palestra de Lúcia Helena, na Nova Acrópole, que falava sobre o livro “O profeta” de Khalil Gibran, com o objetivo de mostrar uma interpretação sobre o amor a estudante dos sentimentos, orientei que fizesse perguntas por escrito para no final ser respondido. Aqui vai abaixo as perguntas feitas e as respostas obtidas.
1ª pergunta: Como fazer para controlar a mente, fazer com que ela nos obedeça?
Resposta: Examinar como ela está funcionando, parar o comportamento e a fala. Refletir sobre possíveis erros e procurar alternativas.
2ª: O silêncio pode ser um autocontrole?
R: Sim, o silêncio em momentos de estresse, quando queremos agredir o outro, é uma importante forma de autocontrole.
3ª: “Quando o amor vai chamar, segue-o, embora os seus caminhos sejam árduos e íngremes”. Para isso precisamos descobrir se é realmente amor; amor e guerra andam juntos.
R: O amor pode estar dentro da guerra, mas sempre é diferente. O amor é tolerante, é compreensivo, tudo entende, tudo perdoa... podemos ver no filme “Pearl Harbor”, onde encontraremos com mais propriedade essa questão.
4ª: Como ouvir a voz do amor?
R: A voz do amor se ouve com o coração, observando e sentindo o bem que qualquer pessoa faz para a gente. Aí está a voz do amor se expressando. Pode ser por um sorriso ou uma lágrima de empatia pela alegria ou sofrimento do outro.
5ª: - Nós temos várias máscaras e as usamos para fingir ser uma coisa que não é, só para agradar o outro.
R: Sim, as máscaras (personalidades) que usamos tem esse papel: ocultar o monstro feio, vingativo, irado, orgulhoso, vaidoso, sensual, etc., e deixar se expressar as intenções do nosso espírito, sem hipocrisia.
6ª: Tem gente que é igual a Gabriela: “eu nasci assim, vou morrer assim”, e não muda. Acha que vive o amor e no final fica sozinho achando que viveu a vida inteira corretamente.
R: Sim, muita gente vive algemado aos seus instintos animais que não deixa oportunidade para seu espírito divino se manifestar. Essas pessoas precisam muito do nosso amor para sentirem que podem mudar, que podem libertar os seus espíritos.
7ª: Como uma pessoa que passou a vida inteira amando, termina sozinha?
R: Nunca estaremos sozinhos se entendemos que Deus está sempre conosco. Às vezes por sermos ignorantes, doentes da alma, as pessoas têm dificuldade de se aproximar de nós; às vezes por sermos bonzinhos demais, temos medo de nos aproximar das pessoas com medo de sermos abusados. Mas em qualquer situação, cercados de pessoas ou abandonados por todos, estamos sempre com Deus ao lado.
8ª: Será porque ela só amou errado durante toda a vida?
R: Podemos sentir algum afeto pensando ser amor e não é. O que mais engana é o afeto que desenvolvemos por alguém esperando algo em troca, condicionado a qualquer coisa. O ápice do engano é o amor materno quando se pensa ser incondicional e é o amor mais condicionado, ao filho, que se faz tudo por ele, só por que é o nosso filho.
9ª: A essência não muda, então não adianta. Ninguém muda ninguém, é isso.
R: Sim, ninguém pode mudar ninguém, a não ser que a pessoa queira mudar. O que podemos fazer é dar argumentos para que a pessoa reflita sobre seus procedimentos e veja a importância para si da mudança.
10ª: Uma pessoa pode se encantar com outra pessoa de máscara? É fácil identificar?
R: Sim, podemos nos encantar com uma máscara que a pessoa usa. Mas com a convivência iremos descobrir a realidade e com amor mostrar a pessoa, com toda a educação, o que se pode perceber através da máscara.
11ª: Para amar como se pede, só se pedirmos o coração de Deus emprestado, porque o nosso coração não consegue.
R: Se pedirmos com fervor o coração de Deus para que possamos amar como Ele quer, com certeza que Ele irá fazer isso. E com o tempo você verá que está amando, por si só, como Deus quer.
Pai, sei que tua lei está em minha consciência, que tua vontade se expressa em minhas intuições e que o caminho é mostrado constantemente pelas diversas circunstâncias da minha vida.
Por isso, Pai, neste início de segundo semestre de 2019, recebo a intuição de começar um trabalho coerente com tudo o que aprendi nestes 66 anos de vida já vividos (20-10-1952 – 01-07-2019). Parece um tempo limite, como naquela corrida onde um corredor passa o bastão para outro. Sei que o Cristo viveu 33 anos, sendo que nos últimos três anos ele desenvolveu sua missão. Eu já tenho vivido 66 anos, e quando completei os 60 pensava que teria os seis anos seguintes para aplicar as lições do Mestre com mais fidedignidade, como se tivesse recebido o bastão dele. Mas sinto que fiquei muito aquém. Neste segundo semestre, outubro se aproxima e no dia 20 eu sairei da faixa dos 66 anos, portanto não teria mais condições de pegar o bastão. Portanto, tenho apenas três meses e alguns dias para sentir que eu toquei nesse bastão, que posso segurá-lo e seguir avante.
Sei que tu, Pai, colocou o Mestre, teu filho mais evoluído, comparado conosco, dentro de um contexto onde ele pudesse cumprir sua missão, que ele já sabia qual era e que iria receber ajuda de companheiros que ele também providenciou. Certamente, isso acontece com cada um de nós, somos colocados em contextos favoráveis a desenvolver um tipo de missão que o Pai espera de nós.
Sei que tu me mostraste o caminho da universidade que me capacitou nas ciências farmacológicas, que tive oportunidade de desenvolver os paradigmas de espiritualidade, encontrar e interagir com a irmandade que descobriu a importância e a evocação do Poder Superior na reconquista da vida, de construir um emaranhado de relações afetivas formando famílias nucleares com direcionamento para a universalidade, para a viabilização do teu Reino.
Sei que tu me forneceste um corpo cheio de egoísmo como garantia de sobrevivência biológica, mas que meu espírito deve saber domesticá-lo. Sei que a representação preferencial do egoísmo é pela presença dos sete pecados capitais (inveja, ira, usura, gula, preguiça) sendo os dois últimos os mais potentes comigo e que ameaçam o cumprimento de minhas intenções.
Por tudo isso Pai, sei que também é minha competência confrontar e superar esses obstáculos, mas o tempo é tão exíguo e a tarefa tão complexa... será que tu não queres me dar uma dose extra de energia, um pouquinho da força que destes a Sansão? Um pouquinho da sabedoria que destes a Salomão?
Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.
O teatro é como se fosse a parede de sombras no Mito da Caverna. É tudo meio artificial, todo mundo desempenha um personagem, mas não sabe realmente o que há por trás da máscara. Quando todos eles se reúnem para um baile, que vai ser desastrosamente destruído pelo Fantasma da Ópera, esse baile de máscaras, todos dançam iguais como se fossem robôs. E a letra da música é fantástica e eu gostaria de passar para vocês. Quem conhece, e eu espero que depois dessa palestra tenham interesse de assistir novamente o filme. A letra dessa cena dos mascarados diz o seguinte:
Mascarados!
Rostos de papel desfilando...
Mascarados!
Esconda seu rosto, e então o mundo nunca irá encontra-lo.
Faça sua escolha!
Tome o seu lugar.
Escolha um caminho que o leve a um lugar feliz, em uma raça desumana.
Deixe o espetáculo conduzi-lo!...
Mascarados!
Fuja e esconda-se...
Mas a sua face ainda perseguirá você!
Ou seja, ainda que você se esconda atrás de uma máscara, a sua verdadeira face, a sua essência humana, ainda vai estar perseguindo você.
Uma metáfora bem-feita de nossa realidade, onde a vida é um palco e nós desfilamos com nossas máscaras, nas representações dos diversos papéis. Fico a refletir no papel que represento nesse contexto, nas diversas circunstâncias... uma hora sou médico cuidando de pacientes e seus familiares, noutra sou professor passando conteúdos do que faço no papel de médico para meus alunos, para que eles possam desempenhar com competência seus papéis no futuro. Mais adiante sou um pai, um amigo, um companheiro, um motorista, enfim, tenho máscaras para diversas ocasiões. Algumas delas as pessoas nem precisam ver a máscara, por exemplo, o motorista. Todos que estão dirigindo carros são motoristas e na velocidade das pistas ninguém vai focar na idade, sexo ou vestimenta de quem dirige. É um dos momentos mais democráticos, onde todos, de forma anônima, devem simplesmente respeitar as regras do trânsito.
Mas, o baile de máscara quer ressaltar também o lado afetivo que dentro de cada persona. Existe a procura instintiva de um complemento afetivo, por homens e mulheres, para possibilitar a perpetuação da vida biológica pelo ato sexual. É esse jogo afetivo que é desenvolvido através das máscaras que o autor quer ressaltar. Uma bela máscara pode estar sendo usada por um espírito disforme; uma máscara disforme, como é o caso do Fantasma da Ópera, pode estar sendo usada por um espírito perfeito. Cabe a nós termos essa preocupação, procurar saber qual a essência humana que se oculta através da máscara, em cada acorde de música na sequência do baile.