Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
03/01/2017 07h27
ABORDAGEM DAS DROGAS (I) – VALENTIM GENTIL FILHO (04)

            - (M) Estamos de volta ao vivo com o psiquiatra Valentim Gentil Filho. Dr. Valentim, se o senhor tivesse plenos poderes para lidar com esses problemas do gênero, de que forma o senhor tentaria resolver a questão da cracolândia ou das cracolândias que se espalham pelo Brasil?

            - (V) Eu acho que a coisa do ponto de vista humanitário mais importante seria pegar as pessoas que estivessem mais comprometidas no momento, do ponto de vista humanitário, porque eu tenho informações fragmentadas a respeito da situação. De vez em quando eu passo pela cracolândia, mas as informações que eu tenho são de que as mais graves não estão procurando atendimento e é compreensível que isso aconteça.

            - (M) Justamente porque são casos graves.

            - (V) São casos graves, eles não tem crítica suficiente sobre o que está acontecendo. Então, eu acho que ao invés de ter um promotor e um juiz lá no cratório, para ver quem são as pessoas que poderiam precisar de uma ajuda, de uma internação compulsória, eu acho que as pessoas do judiciário deviam ir à Cracolândia e perceber quem são as pessoas que realmente estão comprometidas. Porque essas pessoas estão correndo risco de vida.

            (E) Seria o judiciário a fazer isso?

            (V) Acho que o Ministério Público tem de propor e o juiz de que autorizar, porque a internação compulsória é por ordem judicial. O médico não tem esse poder. O médico pode dizer “olha, aqui nesta região eu tenho estes 10 indivíduos que do ponto de vista médico estão me parecendo incapazes de perceber o que está acontecendo com eles, estão correndo sérios riscos, inclusive de vida. E aí, a justiça é quem tem de determinar a internação compulsória.

            (E) O senhor é favorável a internação nesses casos?

            (V) Não só de quem estiver com problemas de Crack, quem tiver qualquer problema e estiver correndo risco de vida deve se beneficiar de uma internação hospitalar e deve ser levado para um hospital e ser atendido, porque o resto me parece omissão de socorro.

            (E) Doutor Valentim, apesar do drama da cidade do Crack, o senhor tem demonstrado uma preocupação muito grande com a Cannabis, com a Maconha. Tem feito uma certa cruzada no melhor sentido dessa palavra. Qual o sentido? Há uma posição liberalizante que eu acho um pouco...

            - (V) Eu sou bem liberal. O problema é que, o adolescente fumando maconha uma vez por semana aumenta em 310% o risco de desenvolver Esquizofrenia. Que é uma doença incurável.

            (E) Uma vez por semana!

            (V) É. Essa pesquisa foi feita desde 1959 com um grupo de 50 mil suecos e está confirmado em 7, 8 países já. Então, as metanálises mostram 210% se somar todos os estudos controlados e adequados até 2007. Então, o problema é, vamos liberar geral, desde que antes dos 21 anos as pessoas não fumem maconha uma vez por semana. Quem é que pode garantir isso? A questão do Crack é outra, as pessoas estão correndo risco de vida mesmo e elas estão muito perturbadas. Então, eu acho até que, se o sujeito estiver fumando Crack e não está muito prejudicado, está fazendo uso mais esporádico, então o juiz não deve decretar a internação compulsória. Porque se fizer assim vai internar milhares de pessoas.

            - (M) São raros os casos de uso esporádico do Crack?

- (V) São raros porque ele vicia demais. O que nós temos visto e eu tenho informações do que a gente tem recebido no Cratório, por exemplo, que é o Centro de Referência lá na cidade, são famílias e os usuários pedindo para ser atendidos. Então, as vezes você tem uma internação involuntária, a família pede, o médico recomenda; as vezes você tem uma internação voluntária... estão começando a fechar os leitos, pois acreditam que existem outras formas de lidar com isso. Agora, tem algumas pessoas que estão muito prejudicadas. E essas pessoas, mesmo que não estejam usando crack, mas tenham um doença mental grave, que estejam muito prejudicadas, na rua, comendo terra, se expondo as coisas que o filme “Omissão de socorro” mostrou, por Luiz Tavares de Araújo, eu acho que essas pessoas devem ser atendidas.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 03/01/2017 às 07h27
 
02/01/2017 11h30
ORAÇÃO JANEIRO 2017

            Dá-me, Pai, a serenidade necessária para que eu reconheça a qualquer momento da minha vida que sou o seu filho, que tenho deveres de obediência para Contigo, mesmo que atravesse os maiores turbilhões, onde existem ameaças aos valores materiais de sobrevivência do corpo físico e dos seus instintos.

            Que eu não esqueça, Pai, que fui criado por Vós como espírito simples, ignorante e eterno; que tenho todas as oportunidades de evoluir e me aproximar de Ti pelos meus próprios esforços.

            Que a arrogância não perturbe minha humildade; que a vaidade não me ofusque a minha razão; que a pompa dos reis arrogantes não me desvie dos caminhos do Mestre Jesus, teu filho mais amado por muito saber amar e que aceitou vir até nós para nos ensinar os caminhos.

            Dá-me, Pai, a serenidade para reconhecer o Teu rosto nas autoridades temporais e também nos miseráveis formados pela ignorância, tanto os multimilionários formados com o suor injusto de quem trabalha, como os indigentes, que caminham respirando o mesmo ar neste aquário azul, mas sem Te obedecer ou mesmo reconhecer em tudo que criastes; algumas vezes usando o Teu nome como moeda mercadológica para os interesses materiais.

            Dá-me, Pai, o sentido do meu posto de serviço, que onde eu estiver, sozinho ou acompanhado, deverei estar envergando o uniforme do Teu reino divino, pronto para a batalha nas fileiras do Bem, em uma mão o escudo do Perdão e na outra mão a lança do Amor.

            Dá-me, Pai, a sabedoria e coragem de ser o combatente que esperas de mim, que no fragor da luta eu seja o combatente ferrenho a distribuir Amor, mesmo que sofra na carne os espinhos que possam me atingir, dilacerar o meu corpo e angustiar a minha alma.

            Sim, Pai, dá-me o que preciso, pois na minha ignorância, reconheço, posso estar confundindo vaidade com necessidade.

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em 02/01/2017 às 11h30
 
01/01/2017 01h01
CEARÁ-MIRIM: UMA NOVA ADMINISTRAÇÃO POLÍTICA?

            Hoje dia internacional da Paz, um feriado comum entre os países, tivemos aqui no Brasil a posse das novas administrações municipais. Num tempo em que a política está tão corrompida pelos homens que a representa, que deterioram a pureza de sua finalidade, o bem estar coletivo a partir do respeito da dignidade humana, tive oportunidade de assistir os discursos de transmissão de cargo entre o prefeito que terminava o mandato e o prefeito eleito.

            Notei, no longo discurso do primeiro a falar, o prefeito que entregava o cargo, a forte ligação com o nome de Deus e passou a elencar todas as dificuldades recebidas no começo da gestão, durante o mandato, até aquele momento. Sempre referia a participação de Deus em tudo que ocorrera com ele e agradecia aos seus auxiliares. Notei certo descompasso com o que existia de sentimentos nas ruas com o que era dito como forma de prestação de contas. Se tudo que estava sendo dito era verdade, a população da cidade cometera a maior injustiça ao não eleger o candidato que ele apresentou. Se existia mentira consciente em sua fala, que a justiça humana não conseguiu alcançar, então isso seria uma questão dele resolver com Deus, mesmo porque ele fez questão de colocar Deus como o aval de todo o tempo de sua administração.

            O rápido discurso do prefeito eleito, foi o que mais me chamou a atenção. Parece que ele, como profissional liberal, como pessoa que se diz independente da politicagem que enodoa a atuação da verdadeira política, está disposto a colocar na sua administração frente à prefeitura os verdadeiros princípios políticos, dentro de uma inspiração pragmática, empresarial, capitalista, onde os lucros do trabalho individual promova a dignidade humana do trabalhador e assim fortaleça a coletividade ceará-mirinense.

            Dois trechos do seu discurso deixou claro essas intenções: primeiro, onde uma pessoa puder fazer o serviço, ele não contratará dois, exemplificando que, mesmo pagando o salário mínimo a essa 2ª pessoa desnecessária, deixaria de pagar benefícios para a coletividade, pois estaria pagando a uma só pessoa. Muito justo!

            Segundo, ele disse que durante todo o tempo de trabalho junto a administração que estava saindo, com a comissão de transmissão do cargo, ele não convocou nem se reuniu com nenhum dos vereadores, pois respeita a finalidade pela qual o vereador foi eleito e ele não pretende comprar a consciência de ninguém distribuindo benesses da prefeitura. Respeita a liberdade que o Legislativo deve ter para aprovar ou não as leis de importância para o município, mesmo que isso implique que ele não terá maioria na câmara. Muito justo!

            Agora, eu ouvi essas palavras de um homem com convicções éticas e disposição para coloca-las em prática. Antevejo as dificuldades que ele irá encontrar dentro de uma estrutura política viciada, política essa que contribuiu para a sua vitória e até com ações radicais de orientação de mudança de voto de última hora. São essas forças que irão levar ao novo prefeito a cobrança pelo que foi feito, mesmo que ele não tenha pedido isso a tal preço.

            O próximo passo a ser observado na prefeitura de Ceará-Mirim é com relação a coerência do atual prefeito. Ele será capaz de colocar nas suas ações práticas as intenções que demonstrou no discurso? Será capaz de negar benefícios aos vereadores, que estão comprometidos com seus eleitores, e não empregar pessoas desnecessárias ao município? Será capaz de desautorizar ações politiqueiras de seus auxiliares que trocam funcionários necessários e competentes por outros de seu interesse particular? Acima das competências técnicas e administrativas que cada gestor deve realizar, está a capacidade de colocar na prática as intenções do prefeito, como deve ser feito por cada “cargo de confiança”, pois, se assim não for suas intenções, não deve aceitar o cargo.

            Os 100 primeiros dias da nova administração irá mostrar se teremos uma nova forma de fazer política no Rio Grande do Norte. Iremos observar a coerência e a coragem do novo prefeito ao levantar a bandeira da ética política no cipoal de corrupção que está mergulhada a politicagem brasileira.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 01/01/2017 às 01h01
 
01/01/2017 01h00
ABORDAGEM DAS DEPRESSÕES (II) – VALENTIM GENTIL FILHO (03)

            - (E) Senhor, Valentim, se eu fosse comparar o meu cérebro com uma máquina eu estaria falando de um fusquinha. Mas mesmo assim vou me atrever a fazer uma pergunta. Em que medida a organização que a gente tem nas nossas cidades, porque, veja, a medicina foi eficiente em reduzir tanto a incidência, quanto a prevalência e também a letalidade de doenças como infarto, câncer, pestes... Quer dizer, invenção de antibióticos, vacina, anestesia, manobras avançadas de vida, melhoraram a nossa vida, mas o que se nota é que a incidência e a prevalência de doenças mentais está aumentando. Em que medida essa forma de organização em torno de nossas vidas, essa pressão constante que nós temos, diga o celular que toca a qualquer momento, um excesso de pressão sobre a nossa vida, o fato de não poder mudar de faixa com medo de atropelar alguém, medo de sermos assaltados numa esquina, o que nos dá essa nova forma de organização que contribui para essa mudança do perfil epidemiológico das doenças mentais.

            - (V) Fora a pressão demográfica.

            - (E) Fora a pressão demográfica.

            - (V) Tem vários componentes. Um dos que chama mais a atenção é o quanto nós não temos uma atitude ecológica em relação a nós mesmos, né? Nós falamos do meio ambiente, nós achamos que não devemos poluir os rios, nossos recifes de corais que estão morrendo, achamos que não devemos poluir o ar que respiramos, mas na hora do meio interno... se você procurar a ecopsicologia, você vai encontrar psicólogos falando do meio ecológico, mas ninguém falando de...

            - (E) Não tem uma Sociedade Protetora do ser humano.

            - (V) Não, ninguém trata com a mesma consideração o meio interno como se espera seja tratado o meio externo. Veja o que nós estamos fazendo em termos de trabalho. Agora são 10h30 da noite, nós temos luz artificial, e se for 300 anos atrás, não existia luz artificial e ninguém ia trabalhar as 10h30 da noite. Só que nós desenvolvemos técnicas de resiliência para isso. Nós temos uma saúde melhor, todas essas coisas que você disse, nossas vacina, nossa alimentação, supostamente a gente descansa. Quando você vai para a população geral, isso já não é bem verdade. E se você tem aqueles parâmetros que você estava mencionando há pouco, quanto tempo a pessoa leva para ir ao trabalho e voltar para casa, ai, uma parte das 24 horas do dia é em condições estressantes. Eu gosto de lembrar sempre, que eu prefiro morar nas nossas condições estressantes de hoje do que nos tempos bíblicos. Eu acho que as condições eram muito estressantes. Primeiro, a gente vivia a metade do que a gente vive. Segundo, uma boa parte dos nossos filhos não viviam o suficiente para se tornarem adultos. Terceiro, as pessoas tinham um poder de destruição da vida humana não contido. Então, sob alguns aspectos eu me sinto mais seguro hoje do que me sentiria no ano 1000. Só que tem umas coisas que as pessoas estão fazendo que a gente pensa que faz como se fosse parte natural da nossa vida e que são, do ponto de vista médico, e você, como professor de patologia sabe melhor do que eu, são muito ruins, quer dizer, a gente consome de substâncias nocivas, do ponto de vista psiquiátrico, o que a gente consome de cafeína, o que a gente consome de teínas de forma geral, o que a molecada está usando de droga, o que isso vai piorar com a liberação geral que está se propondo por aí, o que a gente já sabe que isso compromete o funcionamento do sistema nervoso na adolescência, o quanto tem de medicamentos com efeitos nocivos para o sistema nervoso, tanto medicamento psiquiátrico como medicamentos que tem repercussões no sistema nervoso e que afeta o comportamento, o emocional, deflagra crises de pânico, deflagra depressão, deflagra transtorno bipolar, deflagra psicoses. Então, de fato, para esse conjunto é preciso muita resiliência para combater.

            - (E) Dr. Valentim, o senhor considera respondida a questão?

            - (V) Considero.

            - (M) É porque eu teria que encerrar o bloco, mas eu não quero fazê-lo antes da pergunta do próximo entrevistador.

            - (E) Valentim, eu tenho a impressão que a síndrome do pânico é uma questão complexa e perturbadora neste momento. Eu tenho uma experiência incomum que eu recebo na redação da Scientific American telefonemas e e-mails de pessoas se queixando, ou que ela própria está sofrendo ou que uma pessoa está sofrendo a síndrome do pânico. Eu tenho uma relação, evidentemente, de clínicas de atendimento e eu passo imediatamente. O que explica essa emergência da síndrome do pânico, o que o senhor diria para um dos nossos telespectadores que muito provavelmente está experimentando essa sensação descrita como dramática.

            - (V) Ela é dramática, eu posso garantir porque eu fui voluntário de uma pesquisa que eu era o coordenador e eu resolvi ser o primeiro a tomar determinado medicamento, e eu não sabia, mas deflagrava crise de pânico. Então, eu tive 40 minutos de crise de pânico dentro do hospital das clínicas e eu espero não ter uma segunda ...

            - (M) Como é que é...

            - (V) Eu estava anestesiado, com uma equipe de anestesistas competentes, com sedativos, na verdade não estava anestesiado, estava sedado, e esse medicamento era para reverter a sedação. E a instrução que eu tive do fabricante, na época, era que devia dar uma injeção em bolo, uma quantidade rápida para reverter a sedação. É um medicamento que é usado quando a gente quer interromper a sedação em procedimentos anestésicos ou sedativos, ou para reverter overdose, para reverter superdosagem, tentativas de suicídio, de acidentes ou coisa assim. Só que quando você usa o remédio dessa forma, você mexe com o controle emocional de uma forma tão brusca que a reação do organismo é de um alerta muito grande e de toda ativação do circuito de reação e defesa, o que te dá a sensação de morte eminente. Então, a sensação que eu tinha é que alguma coisa saiu errada no meu experimento e que eu estou desmaiando e que as pessoas não vão saber o que fazer comigo. Depois de um minuto ou dois eu sabia que não ia acontecer nada, mas eu estava tremendo, suando, taquicárdico, respirando com dificuldade...

            - (M) O senhor recomenda ao...

            - (V) Eu recomendo que não tome esse remédio desse jeito...

            - (M) Ao portador da síndrome do pânico

            - (E) Essas pessoas provavelmente estão nos vendo neste momento e sofrem dessa...

            - (V) A sensação pior da síndrome do pânico, é a sensação de que alguma coisa muito grave está acontecendo, que pode afetar a sua integridade física, a sua integridade mental. As pessoas que tiveram alguma crise sabem que isso não vai acontecer, ninguém morre de crise de pânico, mas o sistema é feito para te alertar para um risco eminente, e aí a tua respiração vai ficar rápida, superficial, vai ter formigamentos, seu coração vai bater forte, rápido, a sensação vai ser de zonzeira, se você pudesse se olhar estaria pálido, suando frio, você está tremendo por dentro que é uma sensação muito desagradável... e você pode não entrar em pânico...

            - (E) Você passou por todas essas experiências?

            - (V) Passei... então você pode pensar... eu estou tendo uma crise de pânico, vou esperar passar, eu conheço algumas pessoas que fazem isso. Mas isso é como se fosse um faquir aprendendo a lidar com a dor. Existem algumas técnicas comportamentais que ensinam você lidar com essas crises de pânico, tentando entender que você não vai morrer, que isso é uma coisa transitória. Existe outra forma mais eficaz de lidar com isso, existem algumas outras técnicas de terapia, que existem alguns medicamentos que são bastante eficazes. E não são só os calmantes. Os calmantes atuam na hora, mas não impedem que isso volte. Só que tem algumas coisas que deflagram crises de pânico, e uma delas é bastante café. Isso para não falar de drogas estimulantes de forma geral. A maconha pode dar crise de pânico, a cocaína pode dar crise de pânico, crack pode dar crise de pânico... mas cafeína... numa redação, por exemplo, a pessoa que toma meio bules de café ou mais, a mão vai ficar fria, o coração vai acelerar, a crise de pânico é muito maior. Você pode iniciar uma crise de pânico, simplesmente aumentando o teor de CO2 no ambiente; então, um lugar muito cheio de gente pode aumentar o CO2 e isso pós certo teor de gás carbônico, e quem já teve uma crise de pânico corre o risco de sofrer outra.

            - (E) Explica esse tipo de crise de pânico

            - (V) O reconhecimento, ne? As pessoas estão usando mais substâncias que deflagram essas crises, privação de sono que é uma das coisas que deflagram, as pessoas fazem uma porção de agressões que podem deflagrar isso... o problema é que antigamente isso não era reconhecido. Quando eu via os primeiros casos logo que me formei, eu achava que isso era simplesmente uma crise de ansiedade. O diagnóstico de transtorno de Pânico é de 1964.

            (M) Bem, vamos para um rápido intervalo e voltamos já.

            Concordo na íntegra.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 01/01/2017 às 01h00
 
30/12/2016 18h16
ABORDAGEM DAS DEPRESSÕES (I) – VALENTIM GENTIL FILHO (02)

            Vou mudar o título das sequencias em torno de cada assunto, uma vez que a questão das drogas vai ser encontrada mais adiante. Não faço reparos na palestra do Professor Valentim, pois o pensamento dele se enquadra totalmente no meu. Caso aconteça alguma opinião contrária da minha parte, irei colocar no próprio texto que esteja sendo apresentado.

- (E) – Professor, eu também queria apontar uns dados da Organização Mundial de Saúde, que é o seguinte: no ano 2000 ela apontava a depressão como a 5ª causa de incapacitação. A previsão é que em 2020 a depressão seja a 2ª causa. Dados do Ministério da Previdência Social mostram que no ano passado mais de 100 mil trabalhadores foram afastados do trabalho por conta de depressão. E dados de medicamentos apontam que houve um crescimento de 49% de 2007 a 2011 no consumo de antidepressivos no Brasil. Em 2011 foram 34 milhões de unidades vendidas. O que eu queria saber do senhor é o seguinte: as pessoas estão mais deprimidas, há um excesso de diagnóstico, e um excesso de indicação de medicamentos?

- (V) Um pouco de cada uma dessas coisas. Existem alguns trabalhos mostrando, que ao contrário do que se diz, a incidência de doenças mentais graves está aumentando na população. Tem um livro que eu gosto muito de citar, que chama “A peste invisível” de Fuller-Torrey e uma coautora chamada Judy Miller. É um livro da década de 90. O que eles viram, são dados estatísticos confiáveis, em cinco países, de 1750 até 1990. E a prevalência, na verdade, de transtornos mentais significativos, como depressão grave, psicose e outras coisas, aumentaram nove vezes. As pessoas falam que não está aumentando a incidência de esquizofrenia. Tá aumentando, tem um estudo no sul de Londres mostrando que está aumentando a incidência de esquizofrenia, principalmente na população com menos de 35 anos. Quando a gente vai para a depressão, depressão é descrita desde o Velho Testamento. Só que existem muitas síndromes, muitas formas de ver a depressão. Algumas delas são conceituações mais recentes que a psiquiatria fez. Então, houve uma expansão do conceito de depressão. Nós não ficamos só naquelas síndromes clássicas, mais nucleares, que são do ponto de vista médico as mais consistentes. Nós temos hoje algumas formas de depressão reativa, que passam a ser reconhecidas, algumas formas de pressões sazonais que não eram bem identificadas que hoje a gente sabe que existem, formas de depressões que são consequências de doenças médicas e que são mais valorizadas. A população começou a perceber que aquele sofrimento que ela tinha não era compreensível simplesmente como uma reação, mas que era uma coisa tão fora do padrão normal dela que devia se constituir em alguma coisa médica e começaram a pedir ajuda. A indústria farmacêutica encontrou moléculas diversas capazes de ser mais eficazes nesses diversos quadros do que placebo que é uma substância inerte. E quando você tem um ensaio clínico controlado mostrando que uma nova molécula se mostrou segura, é mais eficaz do que placebo em condições controladas ela pode ser chamada de antidepressivo e o que a gente tem hoje são 30, 40 moléculas antidepressivas, e é claro que por razões econômicas, os medicamentos mais recentes recebem maior publicidade e os fabricantes que têm de responder aos seus acionistas gastam uma quantidade significativa de recursos para poder recuperar o dinheiro que hoje é estimado em mais de 1,3 bilhões de dólares por molécula lançada. O que está acontecendo hoje é que não existe mais perspectiva de moléculas novas serem lançadas nos próximos anos. As linhas de produção estão secas. Muitas poucas moléculas vão aparecer, e o que existe depois de 60 anos, desde o primeiro antidepressivo, quase 60 anos, é que o último lançamento não é mais eficaz que o primeiro. Então, o que nós temos é que todos eles são mais eficazes que os placebos. Alguns deles funcionam mais em determinadas formas de depressão do que em outras. Alguns talvez devam ser mais chamados antidepressivos do que os outros. Alguns desses que são muito eficazes são muito antigos. Não existem medicamentos modernos, existem medicamentos recentes. Então, se a gente somar os medicamentos recentes com os medicamentos antigos, nós veremos que eles tem ligeiras diferenças de perfil de ação. Mas toda a publicidade em relação ao lançamento de novos medicamentos são feitas como se eles fossem todos equivalentes. Esse aqui é tão eficaz quanto o anterior, mas mais seguro. Isso na verdade não se comprovou. Então, tudo isso que você falou é verdade. A gente teve um aumento da conceituação de depressão e isso dá um aumento na população que a gente identifica, isso nos estudos epidemiológicos de depressão. Essa população pede ajuda, só um terço dessa população recebe ajuda efetiva, mas isso é um volume crescente. E quando a gente fala de bilhões de unidades a questão toda é: foram bem escolhidos? Foram adequados para aquele tipo de problema? E é isso que eu acho nesses próximos anos, o que a gente vai passar. É ver de fato qual é a efetividade do tratamento que é feito, qual a eficiência do investimento do dinheiro público.

- (E) Porque tem a questão dos efeitos colaterais também nos pacientes.

- (V) É tem a questão dos efeitos colaterais e aí tem a questão do custo-benefício. Se você está medicando em excesso, é inadequado. Por outro lado, o que a gente tem de informação dos estudos epidemiológicos, não é que estamos medicando em excesso, pois só um terço da população com diagnóstico está recebendo tratamento. Na verdade nós temos dois terços da população que tem diagnóstico no último ano e não recebeu nenhum tratamento, no Brasil e em vários países. Se nós fôssemos pensar em termos de mercado, o mercado é muito maior do que está aparecendo. O problema é: será que todo mundo precisa ser tratado com medicação? Existem algumas formas de psicoterapia que são muito eficazes. Qual é o custo-benefício dessas formas de psicoterapia? O que a gente pode fazer de prevenção? O que a gente pode fazer de prevenção de recaída? O que a população está fazendo para se prevenir contra depressões, por exemplo? Quantas coisas a gente faz e deflagram depressões? Isso tudo, e a gente não tem, infelizmente ainda, programas de prevenção implantados. Então, a racionalização, o uso adequado, o diagnóstico correto, e a forma eficiente de atendimento é uma questão para os próximos anos.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 30/12/2016 às 18h16
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