Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
06/11/2016 00h59
DIALÉTICA ERÍSTICA

            Não conhecia essa forma de dialética e por isso posso ter sido vítima, e ainda ser, de seus efeitos. Não imaginava, mesmo que intuísse, que poderia existir a arte do debate malicioso, que é o que caracteriza a dialética erística.

            Os grandes filósofos do passado também se ocuparam em desmontar as picuinhas, sem que isso os afastasse de suas cogitações mais altas. Mas eu jamais percebi esse detalhe que estava por trás de uma luta de ideias, uma estratégia consciente de nocautear o adversário que trazia uma verdade profunda.

            Outra falsa compreensão que eu nutria era que da discussão pudesse nascer a luz, mas parece que fazem nascer apenas falsas certezas e decisões catastróficas. Fica aqui um conselho importante, a dialetação consigo mesmo, na sinceridade de uma investigação, até o momento de ficar seguro que as próprias opiniões não expressam apenas o desejo egolátrico de impor as preferências pessoais, mas revelam algo da natureza das coisas e do estado dos fatos.

            Geralmente, um homem mais gesticula e dramatiza em defesa de suas ideias, quanto menos está seguro delas por dentro, por não havê-las examinado bem.

            A capacidade de argumentar, por necessária que seja nas circunstâncias práticas da vida intelectual, é habilidade menor e desviada em relação ao perceber e intuir.

            Até a prova, no sentido da demonstração apodítica, é apenas serva e discípula da verdade intuída, que mais vale saber sem poder provar do que produzir um milhão de provas daquilo que, no fundo, não se intui de maneira alguma.

            No mais das vezes, a simples afirmação direta daquilo que se enxerga tem mais forças que muitos argumentos. Contra as tentações do erro e da fantasia não há outra arma senão dizer a verdade, com tal clareza, com tal precisão, que nenhuma finta, nenhum rodeio, nenhum jogo de cena ou artifício de palavras possa prevalecer contra ela.

            Essa clareza se obtém com um tremendo esforço de atenção que é quase um exercício ascético. Olhando fixamente para dentro do seu coração, um homem lê o que está inscrito na sua consciência íntima, como palavras de um texto supremamente auto evidente. Ao subir para a periferia da mente – onde estão depositadas, como redes superpostas, a gramática do idioma pátrio, as regras de estilo, os usos do vocabulário comum, os esquemas argumentativos padronizados e as exigências da moda -, as palavras do discurso íntimo se embaralham, entrando por automatismo nesses canais e arranjos pré-moldados que as desfiguram e as afastam infinitamente do significado originário. Então é preciso mergulhar de novo e de novo, até que a imagem do discurso interior fique tão nítida na memória, que as formas da linguagem externa se amoldem a ela, como meras vestimentas, sem deformá-la ou incomodá-la.  

            Esse é todo o trabalho do autêntico escritor: dizer exatamente o que percebeu desde o centro do coração, afeiçoando o discurso ao conteúdo intuído, sem que este se deixe arrastar pelas exigências daquele. Essa é também sua única força: ela sobe com um impulso avassalador que rompe os muros da indiferença, rasga as máscaras do fingimento e demole a fortaleza de palha da tagarelice.

            Talvez por pressentir essa força é que o adversário maldoso busca sempre desviar-se  do centro das questões para algum detalhe miúdo e periférico que possa, bem explorado, dar margens a controvérsias sem fim; ou, o que dá na mesma – colocar alguma objeção sabidamente tola, mas que não possa ser contestada sem longas e tediosas explicações; ou ainda, obrigar-nos mediante resistências fingidas, às vezes sublinhadas com emocionalismo teatral, a repetir mil vezes nosso discurso sob mil formas diferentes, descendo a exemplos e detalhes cada vez mais elementares, até a exaustão. Ele sabe que, quanto mais tivermos de nos gastar no esforço de provar ninharias, mais excitado ficará o nosso cérebro e mais longe estaremos do centro do nosso coração. É este o seu verdadeiro propósito: tornar-nos iguais a ele, fazer de nós uns sonsos tagarelas irritados, maliciosos, revoltados, cínicos, sem consciência nem inteligência. Uma vez neutralizada a diferença qualitativa que era nossa única superioridade, ele pode nos vencer pelo mais simples dos expedientes: reúne meia dúzia de comparsas e nos esmaga pela força do número.

            Ir ao centro já é difícil. Ir e voltar muitas vezes, velozmente, é uma habilidade que não se conquista sem décadas de treino, e o melhor dos treinos é lutar contra nossas próprias mentiras. Por isto, em geral, o superior de uma ordem religiosa proíbe os noviços de entrar em disputa com o argumentador mundano, pelo menos até estar seguro de que não se perderão no caminho entre o coração e o mundo.

Mais vale, as vezes, a verdade muda, conservada no fundo da alma, mesmo na linguagem pessoalíssima de um sonho, de uma imagem, do que sua expressão clara e distinta em termos lógicos, a qual, por perfeita que seja, há de ser alvo de mal entendidos tão logo caia no mundo, e tornar-se objeto de controvérsias tediosas que reduzirão a cinzas o fogo da sua intuição originária.

            Somente um longo aprendizado da concentração habilita o homem a sair imune dessas controvérsias, de modo a poder retornar, sempre que queira, àquele centro de si mesmo, àquela fonte viva onde a alma e a verdade se interpenetram. Para quem não esteja seguro de possuir essa via de retorno, os combates de argumentos são uma dispersão fatal no mundanismo.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 06/11/2016 às 00h59
 
04/11/2016 19h16
MONARQUIA: BOA OU RUIM?

            Após ter sido sensibilizado positivamente pela história da Monarquia brasileira que eu ainda não conhecia, coloquei no grupo do whatsapp uma mensagem positiva que recebi de um amigo e em troca recebo uma mensagem negativa de outro amigo. Então, fico a frente de duas opiniões diferentes que colocam argumentos contraditórios sobre o mesmo fato. Claro, um deles deve ser verdadeiro para justificar o aspecto positivo ou negativo da opinião. Irei colocar neste espaço as duas opiniões para que os leitores deste blog tenham oportunidade de raciocinar como devemos fazer para descobrir uma verdade que esteja coberta por falácias ou más intenções. Não que isso seja proveniente dos meus amigos, mas um deles deve estar equivocado. E a minha opinião é sempre seguir o lado da verdade e por isso fiquei motivado para ir em busca dessa verdade e procurar ajudar a harmonização de todos nós em torno da verdade: a Monarquia brasileira, foi um período bom ou ruim para o Brasil?

            Irei colocar os dois textos para avaliação coletiva de todos os leitores:

            1º texto:

            Quando D. Pedro II do Brasil subiu ao trono em 1840, 92% da população brasileira era analfabeta. Em seu último ano de reinado em 1889, essa porcentagem era de 56%, devido ao seu grande incentivo a educação, a construção de Faculdades e principalmente de inúmeras Escolas que tinham como modelo o excelente Colégio Pedro II.

            Em 1887, a média da temperatura na cidade do Rio de Janeiro era 24º no ano. No mesmo ano a máxima no verão carioca no mês de janeiro foi de 29º.

            A imperatriz Teresa Cristina cozinhava as próprias refeições diárias da família imperial apenas com a ajuda de uma empregada (paga com salário de Pedro II).

            Em 1871, a Imperatriz Teresa Cristina doou todas as suas joias pessoais para a causa abolicionista, deixando a elite furiosa com tal ousadia. No mesmo ano a Lei do Ventre Livre entrou em vigor, assinada por sua filha a Princesa Imperial Dona Isabel.

            (1880) O Brasil era a 4ª Economia do Mundo e o 9º Maior Império da História.

            (1860-1889) A Média do Crescimento Econômico era 8,81% ao ano.

            (1880) Eram 14 impostos, atualmente são 98.

            (1850-1889) A Média da Inflação era de 1,08% ao ano.

            (1880) A Moeda Brasileira tinha o mesmo valor do Dólar e da Libra Esterlina.

            (1880) O Brasil tinha a Segunda maior e melhor Marinha do mundo. Perdendo apenas para a Inglaterra.

            (1860-1889) O Brasil foi o primeiro país da América Latina e o segundo no mundo a ter ensino especial para deficientes auditivos e deficientes visuais.

            (1880) O Brasil foi o maior construtor de estradas de ferro do mundo, com mais de 26 mil Km.

            A imprensa era livre tanto para pregar o ideal republicano quanto para falar mal do Imperador. “Diplomatas europeus e outros observadores estranhavam a liberdade dos jornais brasileiros” conta o historiador José Murilo de Carvalho. “Schreiner, ministro da Áustria, afirmou que o Imperador era atacado pessoalmente na imprensa de modo que causaria ao autor de tais artigos, em toda a Europa, até mesmo na Inglaterra, onde se tolera uma dose bastante forte de liberdade, um processo de alta traição.” Mesmo diante desses ataques, D. Pedro II se colocava contra a censura. “Imprensa se combate com imprensa”, dizia.

            Quanto as minhas opiniões políticas, tenho duas, uma impossível, outra realizada. A impossível é a república de Platão. A realizada é o sistema representativo (a Monarquia). É sobretudo como brasileiro que me agrada esta última opinião, e eu peço aos deuses (também creio nos deuses) que afastem do Brasil o sistema republicano, porque esse dia seria o do nascimento da mais insolente aristocracia que o sol jamais alumiou” MACHADO DE ASSIS – ESCRITOR E FUNDADOR DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS.

  1. A média nacional do salário dos professores estaduais de Ensino Fundamental em 1880 era de R$ 8.958,00 em valores atualizados.
  2. Entre 1850 e 1890, o Rio de Janeiro era conhecido na Europa como “A Cidade dos Pianos” devido ao enorme número de pianos em quase todos ambientes comerciais e domésticos.
  3. O bairro mais caro do Rio de Janeiro, o Leblon, era um quilombo que cultivava camélias, flor símbolo da abolição, sendo sustentado pela Princesa Isabel.
  4. O maestro e compositor Carlos Gomes, de “O Guarani” foi sustentado por Pedro II até atingir grande sucesso mundial.
  5. Pedro II tinha o projeto de um trem que ligasse diretamente a cidade do Rio de Janeiro a cidade de Niterói. O projeto em tramito até hoje nunca saiu do papel.
  6. Pedro II mandou acabar com a guarda chamada Dragões da Independência por achar desperdício de dinheiro público. Com a república a guarda voltou a existir.
  7. Em 1887, Pedro II recebeu os diplomas honorários de Botânica e Astronomia pela Universidade de Cambridge.
  8. Desconstruindo boatos, D. Pedro II e o Barão/Visconde de Mauá eram amigos e planejaram juntos o futuro dos escravos pós-abolição. Infelizmente com o golpe militar de 1889 os planos foram interrompidos.
  9. Oficialmente a primeira grande favela na cidade do Rio de Janeiro, data de 1893, 4 anos e meio após a Proclamação da República e cancelamento de ajuda aos ex-cativos.
  10. D. Pedro II tinha 1,91m de altura, quando a média dos homens brasileiros era de 1,70 e mulheres 1,60m.
  11. Na época do golpe militar de 1889, D. Pedro II tinha 90% de aprovação da população em geral. Por isso o golpe não teve participação popular.
  12. José do Patrocínio organizou uma guarda especialmente para proteção da Princesa Isabel, a chamada “A Guarda Negra”. Devido a abolição e até mesmo antes na Lei do Ventre Livre, a princesa recebia diariamente ameaças contra sua vida e de seus filhos. As ameaças eram financiadas pelos grandes cafeicultores escravocratas
  13. O Paço Leopoldina localizava-se onde atualmente é o Jardim Zoológico.
  14. O terreno onde fica o Estádio do Maracanã pertencia ao Duque de Saxe, esposo da Princesa Leopoldina.
  15. Santos Dumont almoçava 3 vezes por semana na casa da Princesa Isabel.
  16. A família imperial não tinha escravos. Todos os negros eram alforriados e assalariados, em todos imóveis da família.
  17. D. Pedro II tentou ao parlamento a abolição da escravatura desde 1848. Uma luta contra os poderosos fazendeiros por 40 anos.
  18. D. Pedro II falava 23 idiomas, sendo que 17 era fluente.
  19. A primeira tradução do clássico árabe “Mil e uma noites” foi feita por D. Pedro II, do árabe arcaico para o português do Brasil.
  20. D. Pedro II doava 50% de sua dotação anual para instituições de caridade e incentivos para educação com ênfase nas ciências e artes.
  21. D. Pedro Augusto Saxe-Coburgo era fã assumido de Chiquinha Gonzaga.
  22. Princesa Isabel recebia com bastante frequência amigos negros em seu palácio em Laranjeiras para saraus e pequenas festas. Um verdadeiro escândalo para época.
  23. Na casa de veraneio em Petrópolis, Princesa Isabel ajudava a esconder escravos fugidos e arrecadava numerários para alforriá-los.
  24. Os pequenos filhos da Princesa Isabel possuíam um jornalzinho que circulava em Petrópolis, um jornal totalmente abolicionista.
  25. D. Pedro II recebeu 14 mil votos na Filadélfia para a eleição presidencial, devido sua popularidade. Na época os eleitores podiam votar em qualquer pessoa nas eleições.
  26. Uma senhora milionária do sul, inconformada com a derrota na guerra civil americana, propôs a Pedro II anexar o sul dos Estados Unidos ao Brasil. Ele respondeu literalmente com dois “Never!” bem enfáticos.
  27. Pedro II fez um empréstimo pessoal á um banco europeu para comprar a fazenda que abrange hoje o Parque Nacional da Tijuca. Em uma época que ninguém pensava em ecologia ou desmatamento, Pedro II mandou reflorestar toda a grande fazenda de café com mata atlântica nativa.
  28. A mídia ridicularizava a figura de Pedro II por usar roupas extremamente simples e o descaso no cuidado e manutenção dos palácios da Quinta da Boa Vista e Petrópolis. Pedro II não admitia tirar dinheiro do governo para tais futilidades. Alvo de charges quase diárias nos jornais, mantinha a total liberdade de expressão e nenhuma censura.
  29. Thomas Edison, Pasteur e Graham Bell fizeram teses em homenagem a Pedro II.
  30. Pedro II acreditava em Allan Kardec e Dr. Freud, confiando o tratamento de seu neto Pedro Augusto. Os resultados foram excelentes, deixando Pedro Augusto sem nenhum surto por anos.
  31. D. Pedro II andava pelas ruas de Paris em seu exílio sempre com um saco de veludo ao bolso com um pouco de areia da praia de Copacabana. Foi enterrado com ele.

Fontes: Biblioteca Nacional, IMS, Coleção Teresa Cristina, Diário de Pedro II, Correspondências do acervo do Museu Imperial de Petrópolis, Biografias como As Barbas do Imperador, Imperador Cidadão, Filho de uma Habsburg, Chico Xavier e D. Pedro II, Cartas da Imperatriz, Teatro de Sombras, Construção da Ordem, D. Pedro II Ser ou Não Ser, Acervo Museu Histórico Nacional, entre outros.

2º texto:

No final do Império é que tivemos a Abolição. Quem criou e trouxe a Escravidão de Negros para o Brasil foi o Império Português. Monarquia escravocrata. Quantos anos de ESCRAVIDÃO de Negros no Brasil, durante a Monarquia/Império? Por que não fizeram antes a Abolição? Ou, por que trouxeram para o Brasil essa vergonha? A venda de seres humanos?

A Monarquia PORTUGUESA/Império foi uma vergonha com seu longo período no uso de seus Navios Negreiros.

Monarquia no Brasil, nunca mais... Manter uma casta de parasitas com mordomias aos seus descendentes... uma lástima!

Na República, pelo menos surge uma Esperança com a “Lava Jato”.

Espero que coloquem essa Corja de políticos corruptos na cadeia.

 

Pronto! Os dois textos apresentam forma diferente de ver a Monarquia. Claro, na avaliação do conteúdo dos dois textos, fico inclinado a apoiar a Monarquia. Mas, se queremos investigar com neutralidade, onde está a verdade que apoia cada um dos textos, podemos observar que o primeiro tem mais substância. Isso não quer dizer que seja verdadeiro. O menor, mesmo sem indicar fontes, pode estar com a verdade. Cabe a nós, que pretendemos ser honestos e não ser ludibriados por ninguém, ir atrás da verdade, pois somente ela pode nos libertar de uma escravidão branca, sem correntes, mas com toda a essência escravagista, de quem passa quase a metade do ano trabalhando para pagar impostos a um governo que facilmente desvia os recursos para seus interesses pessoais e ideológicos.

 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 04/11/2016 às 19h16
 
04/11/2016 00h59
AUTODESCOBRIMENTO (32) – RAIVA

            Os conflitos psicológicos se instalam de preferência em pessoas imaturas, que valorizam apenas as sensações agradáveis, ficam focadas na impermanência do físico e podem estar situadas em diferentes níveis de consciência. Nessas pessoas ocorre frequentemente os choques de entendimento, entre o que se quer e o que se é; entre o Ego e o Self. Isso termina se enraizando no psiquismo e promove expressões de sofrimento que exige terapias específicas.

            Um dos principais fatores de conflitos psicológicos é a raiva como elemento promotor da descarga de adrenalina. Isso provoca a alteração do equilíbrio orgânico e emocional. Para evita essa condição, temos que evitar escamotear a raiva, dissimular, desdobrar ou remoer o fato que a gerou, com autocompaixão, sentindo-se injustiçado, pensando em revide e agindo com agressividade.

            A origem da raiva está dentro dos conflitos que não são digeridos. São geralmente choques com o nosso prazer ou bem estar, que afeta diretamente o lado agradável da vida, que fica guardado no subconsciente, e, quando recebe vibração equivalente emerge na forma de incidentes desagradáveis.

            A instalação da raiva no psiquismo está relacionada com a perda da autoestima, com o cuidado excessivo na imagem pessoal e com a negligência com o valor de si. Isso pode ser observado como insegurança interior, dependência do apoio alheio, instabilidade emocional, reação as ocorrências sem o devido raciocínio do que esteja acontecendo, e o lançamento de cortina de fumaça comportamental para ocultar a deficiência. Um conselho sempre é bom: “Não se segure à raiva, mágoa ou dor. Eles roubam sua energia e o afastam do amor.”

            As consequências da raiva são feitas por pressão ou pela não digestão da mesma. Isso irá provocar danos no aparelho físico, como indigestão, diarreia, acidez, disritmia, inapetência ou glutoneria. Também pode provocar danos no emocional, como nervosismo, amargura, ansiedade e depressão. Devemos lembrar sempre que, guardar mágoa no coração é o caminho mais rápido para a destruição. Para ser completo, é preciso saber perdoar.

            O antídoto que podemos usar contra os efeitos da raiva, é fazer o alinhamento dela com a vida, promover o perdão das ofensas, diluindo-a nas águas do amor, e fazendo a racionalização da ofensa: considerando que o ofensor é alguém que está de mal consigo mesmo; que é um enfermo sem se dar conta. Com essa atitude, o conteúdo da raiva diminui até desaparecer. Não devemos esquecer que a estrutura da mágoa por alguém é de que essa pessoa não atendeu a minha expectativa, não fez o que eu queria, ou fez o que eu não queria.

            A forma de anular os efeitos danosos da raiva, derivada de prejuízos financeiros, traição de um amigo, ou perda de um emprego, é descarregar a emoção através do choro e considerar a injustiça do que foi praticado. Sempre é bom gastar a energia má com corrida, caminhada, trabalho físico intenso, ou projetar o ofensor num tipo de espelho até diluir sua energia negativa. Lembrar que, se estamos na convivência com um companheiro, o amor é o elemento da mais alta importância; a raiva não pode ter a força de levar à separação, pelo contrário, amar é cuidar do outro, mesmo quando estamos zangados.

            As alternativas positivas que podemos lançar mão quando nos sentirmos invadidos pela raiva, é a meditação e a prece. Na meditação devemos analisar as origens do acontecimento e procurar identificar melhor as responsabilidades pelo acontecimento negativo. Se descobrirmos que fomos nós os responsáveis, não ficar imobilizado pela auto piedade, procurar corrigir o erro com humildade. A prece é importante, pois leva compaixão ao ofensor, mesmo que ele não tenha conhecimento disso, e provoca em quem ora o auto fortalecimento. Lembrar sempre: precisa desabafar? Feche os olhos, se desligue do mundo e converse com Deus.

            A atitude mais coerente que devemos ter quando ofendido, é expressar os sentimentos ao ofensor, aos amigos, sem queixa, sem mágoa. Demonstrar que é uma pessoa normal e necessitado de respeito, de consideração, como todas as pessoas. Nunca parecer ser humilde, fingindo santificação, sem ter alcançado a humanização. As nossas atitudes devem falar tão alto, tanto que ninguém consiga perceber o que dizemos.

            Finalmente, devemos evitar parecer sem ser, nos auto desvalorizar, apontar os nossos próprios itens negativos de forma pejorativa, fazer relatos autodepreciativos para agradar os demais, fazer de si caricatura preconceituosa e lembrar sempre que humildade não é a negação dos nossos valores nem a subestimação de nós mesmos.

            Não confunda ser humilde com autodesvalorização. Se você fez a coisa certa, seja justo consigo mesmo e se congratule. (Alejandro Jodorowsky).

 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 04/11/2016 às 00h59
 
03/11/2016 00h41
FINADOS

            Hoje é um dia marcado pela lembrança dos mortos. Quem conhece a Doutrina Espírita sabe que somos em essência Espíritos imortais, que usa um corpo quando está encarnado, cumprindo missão de aprendizado aqui na Terra, através de um perispírito, estrutura semi-material que une o corpo ao Espírito, e que através dele o Espírito deve administrar o corpo.

            Quando a morte chega para o corpo físico, o nosso Espírito fica desligado e podemos continuar a nos manifestar pelo perispírito ou corpo astral, e que permanece com as emoções, inteligência, vontade e consciência.

            Dessa forma, a morte como muita gente entende, como coisa definitiva, associada exclusivamente ao corpo físico, não existe, pois o Espírito sobrevive e pode continuar a se manifestar através do perispírito, com todos os recursos cognitivos, emocionais e virtuosos que ele haja alcançado através do seu comportamento.

            Ninguém morre no sentido de acabar para sempre. A morte deve ser compreendida como uma passagem da alma do plano material para o plano espiritual. Esse pequeno intervalo que permanecemos encarnados serve para que possamos aprimorar nossas qualidades morais. É como um estudante que deve vestir sua farda para frequentar o grau escolar onde está matriculado.

            Embora tenhamos um grande desenvolvimento intelectual, a morte continua sendo pouco entendida para a maioria, inclusive para os membros da academia, setor da sociedade que deve ir à frente dos conhecimentos de forma universal.

            Por esse motivo, muitos de nós ao passarmos do mundo material para o espiritual devido o fenômeno da morte do corpo físico, mostram muitas dificuldades de se adaptarem as condições de vida no mundo espiritual. O condicionamento de suas mentes feitas no período da encarnação, induz para que este permaneça ao lado do corpo, mesmo que este não possa mais influenciá-lo e que ele esteja se deteriorando sob ação das bactérias da terra.

            Esse apego que pode ser gerado pelo corpo, como se fosse nossa única alternativa de vida, gera forte desequilíbrio emocional no momento inevitável da separação, tanto para os que passam para o mundo espiritual, quanto para os que permanecem no mundo material.

            Este é o principal motivo pelo qual no dia de hoje, dedicado aos finados, os cemitérios se encherem de pessoas em busca dos seus entes queridos que sofreram a fenômeno da morte física. Acreditam que eles estejam ali, naquela simples sepultura, preso a um corpo que se deteriora a cada dia, até restarem apenas a estrutura óssea, o arcabouço dentário, constituído de minerais.

            Sei que os meus entes queridos que já voltaram para o mundo espiritual não se encontram ali onde os seus corpos se deterioram. Sei que eles estão habitando dimensões espirituais adequadas ao grau de evolução moral que eles conseguiram, que podem estar neste momento ao meu lado, me intuindo ou me agradecendo por meus pensamentos se voltarem para eles em forma de prece, de agradecimento, e de pedidos para a sua boa avaliação pelo bem que praticou na sua vida terrena, principalmente por aquilo que de positivo fez para minha própria evolução.

            Não fui ao cemitério como tantos foram e isso tem um sentido positivo, de agradecimento e reconhecimento pelo bem que promoveram a quem aqui permanece. Eu não fui ao cemitério, acho mais importante fazer minhas preces e incluir o nome de todos que contribuíram para a minha atual estatura moral e espiritual, social e científica.

            Irei fazer isso em nome de todos que a minha memória alcançar e também para aqueles que não lembrar e que eu não saiba que foi um dos meus benfeitores. Eu posso não saber, mais o Pai sabe de todos os detalhes de nossa existência, de quem ajudou e de quem atrapalhou. Não irei me preocupar por quem quis me atrapalhar de alguma forma ou por algum motivo, irei me preocupar em prestar a justa homenagem a quem me beneficiou, no silêncio do meu quarto, de forma silenciosa, mas de forma ensurdecedora aos ouvidos do Criador, pois é assim que Ele quer que procedamos, agir de forma caridosa, de forma silenciosa, humilde e fraterna.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 03/11/2016 às 00h41
 
02/11/2016 00h59
PROSTITUTAS

            Este parece um cenário que se repete, com perspectivas diferentes. Antes eu estava em Macau, era um adolescente que estudava e morava com minha avó, numa espécie de boate que hospedava mulheres prostitutas, e assim contribuíam diretamente para a minha formação. Hoje, já formado em medicina, passei a morar em um bairro onde existem muitas dessas mulheres espalhadas em pontos estratégicos a praticarem a mesma profissão que se arrasta desde o início das civilizações. Porém sempre marginalizadas, encaradas como rivais das famílias estabelecidas, como fomentadoras do uso de droga, de gerar mais filhos com as mesmas motivações.

            Nós, que estamos engajados no movimento cristão, que procura aplicar as lições de Jesus, em fazer ao próximo o bem que queremos para nós, temos um desafio com essa questão: como fazer o bem que gostaríamos de receber se estivéssemos no lugar dessas mulheres?

            Estamos desenvolvendo um trabalho comunitário na Praia do Meio, criamos a Associação Cristã de Moradores e Amigos da Praia do Meio há mais de 2 anos. Sabemos e vimos essas mulheres se expor por toda a extensão do bairro, principalmente nos locais onde há a circulação de turistas. Até agora não fizemos nenhuma ação que visasse colaborar com a melhoria da qualidade de suas vidas. Mas, este ano, e principalmente agora, próximo a época do Natal, um fato interessante aconteceu, que eu entendo ter sido a “mão de Deus” orientando caminhos para nossas ações.

            Criamos um grupo no whatsapp para que os membros da Associação pudessem se comunicar com mais rapidez e objetividade. Como a nossa marca de atuação é de natureza cristã, as mensagens, fotos e vídeos sempre tem a natureza cristã. De repente surge dentro deste grupo, por ação de um vírus, um vídeo pornográfico, mostrando uma relação sexual explícita com toda utilização da mulher como um objeto de prazer, sem um mínimo de dignidade. O vídeo foi apagado o mais rápido possível, acredito que poucas pessoas chegaram a vê-lo. No entanto o recado foi dado: precisamos focar nossas ações neste final de ano, com a festa natalina, na dificuldade de vida que essas mulheres apresentam para sobreviver. Nós, na condição de seus irmãos, como cristãos que pretendem seguir os passos do Mestre, temos que organizar uma forma de sermos solidários com elas.

            Hoje fizemos uma reunião no Hospital Universitário para organizar a festa natalina, mas as pessoas que estavam escaladas para fazer o contato com as prostitutas não puderam comparecer. Mesmo assim ficou sinalizado que o tema da Festa de Natal deste ano seria a “Dignidade da Mulher”.

            Combinamos que seria feito um grupo no whatsapp especifico para trabalhar a organização desta festa. Mas fica ainda o primeiro e mais difícil passo, como fazer o contato inicial com estas mulheres sem levar qualquer sentido de humilhação a uma categoria profissional que já tem tanta dificuldades na garantia da própria sobrevivência.

            Mas, como estamos na orientação divina, certamente Ele irá nos apontar a forma mais adequada de abordar essas nossas irmãs e traze-las para um redil de maior proteção.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 02/11/2016 às 00h59
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