Lembro que nos primeiros momentos da minha caminhada espiritual, o sexo foi colocado como um grande obstáculo. Queria viver em fidelidade aquilo que tínhamos prometido ao padre até o fim da vida. No entanto o corpo, os instintos, me pressionavam para dividir prazeres sexuais com minhas amigas que desejavam ser minhas namoradas, mesmo sabendo da minha condição de casado, de amar a minha esposa e de não ter nenhuma intenção de deixá-la para ficar com outra pessoa. De tanto meditar na questão, de reconhecer que eu tinha um compromisso assumido com minha esposa e perante Deus de somente fazer sexo com ela, senti que a qualidade do meu relacionamento começava a deteriorar, pois eu me sentia prisioneiro dentro desse relacionamento, pela promessa feita, pelo que a natureza do meu corpo agora exigia. Eu não via obstáculos éticos em me relacionar sexualmente com outra pessoa, desde que tudo estivesse esclarecido entre nós, que ninguém estivesse enganando ninguém para obter esse prazer tão fugaz. Depois de muito tempo e de muitos argumentos dessa natureza, terminei por admitir na consciência esse encontro sexual com minhas amigas. Como num passe de mágica a relação com minha mulher voltou a normalidade, da harmonia, do amor recíproco. Mesmo assim a minha consciência ainda não permitiu a realização do ato. O senso de justiça se apresentou e colocou o argumento de que se eu procedesse assim, deveria dar o mesmo direito da minha mulher, em iguais circunstâncias ter o mesmo prazer que eu agora queria obter. Mas isso ia de encontro aos meus preconceitos machistas que também eram fortes. Não obtive a senha para praticar o ato sexual que eu tanto queria. Mas agora, esse obstáculo, nada tinha a ver com minha mulher. Era eu mesmo, os meus preconceitos que me paralisavam. Foi necessário muita leitura de livros, de autores de diversas formações, técnicas, literárias, religiosas, para que no processo de comparação, avaliação, racionalização eu quebrasse os meus preconceitos e obtivesse a senha para ter minha relação sexual tão desejada: PERMITIR A MINHA COMPANHEIRA TER O MESMO DIREITO! Hoje já vou avançado em minha caminhada, com bastante experiência e uma forte solidificação dos meus atuais paradigmas de vida em textos espirituais e acadêmicos. Hoje sinto uma relação próxima com o Criador, falo com Ele nas minhas orações com regularidade e recebo dEle orientação através de diversos canais, musicas, leituras, filmes, ou até mesmo na contemplação da Natureza. Hoje quando qualquer pessoa se aproxima de mim e tem o potencial de desenvolver intimidade sexual, coloco em primeiro plano todas essas informações e mostro a necessidade de se obter a senha para que os nossos desejos se realizem: que ela aceite também o meu envolvimento sexual, tanto com quem já estou envolvido como com quantas cheguem, assim como ela, e desperte a sintonia do coração. Fazer o sexo sem estar de posse da senha não é inteligente, justo ou honesto, para consigo mesmo, para com Deus e para com todos que estão ao seu redor. Vai entrar em pecado com grande dose de sofrimento moral que não compensará o prazer fugaz recebido no sexo. Sei que não é fácil obter a senha, lembro ainda hoje do sofrimento que passei para a adquirir. Não posso condenar ninguém que não a obtenha com rapidez, ou queira a obter. Faço apenas orientação e peço a Deus em oração que a pessoa entre em contato imediato com Ele, peça ajuda para sentir em seu coração se quer realmente quer receber essa senha ou não, se o seu caminho espiritual é compatível com o meu... e isso pode levar tempo, bem sei!
Ao iniciar uma caminhada devemos fazê-la dando os primeiros passos. As vezes as circunstâncias nos empurra para um nível mais avançado da caminhada e o peso que temos de suportar parece estar além de nossas forças. Caso tal fato aconteça e corramos o risco de desabar na estrada, temos que parar um pouco, pedir a Deus orientação com urgência e se for o caso voltar um pouco para a fase dos primeiros passos. Sempre essa fase é composta totalmente do amor espiritual, onde reina a vontade de Deus. Não é possível misturar nesses primeiros passos o amor espiritual ao amor carnal, ao sexo. A força que este tem pode dominar a sutil força espiritual e causar grandes estragos. Roguemos a Deus por humildade e tolerância, para reconhecermos o lugar onde podemos suportar a carga da caminhada e pedir forças para nos capacitar um pouco mais além, se ainda for do nosso interesse, a receber a carga que hoje ameaça nos destruir.
É muito mais fácil viver pela vida e colocar a maioria de nossas ações e intenções na caixa preta de nosso comportamento, uma área onde ninguém tem acesso. Mas não, o meu paradigma de vida implica em ser transparente ao máximo, colocando minhas ações e até intenções à descoberto, principalmente para aquelas pessoas que tem um relacionamento mais próximo comigo. Foi assim que aconteceu no dia anterior na rodoviária, quando eu expus o meu pensamento, mais do que minhas ações, no texto da SIMPATIA. Dentro da minha perspectiva do amor não-exclusivo, incondicional, nada foi feito ou pensado com incoerência. Mas para quem tem relacionamento comigo e deseja um relacionamento exclusivo, essa forma de pensar é um grande perigo, uma grande ameaça. Uma outra pessoa pode entrar no meu campo de relacionamento e roubar tempo e interesse de si. Por isso o meu paradigma de vida, os limites de até onde pode ir meu comportamento, devem ficar bem esclarecidos para que ninguém desenvolva perspectivas falsas ao meu respeito.
A grande meta da minha vida é o desenvolvimento espiritual e dentro desse objetivo não excluo o aspecto material, biológico, sexual. Reconheço que ela é uma força importante que rege o nosso corpo e pode até mesmo dominar nossas ações em detrimento ao compromisso espiritual que possamos ter. Veja só os exemplos dos padres pedófilos, pastores egoístas, espíritas vaidosos, entre outros. É um risco que corro deixando associado aos meus interesses espirituais os prazeres sexuais. Mas considero que o sexo saudável, responsável, honesto, é uma ferramenta importante para energizar o amor que somos capazes de experimentar e distribuir. Interessante que distribuir esse amor espiritual, que é o maior objetivo de nossa vida, ao nosso redor não causa tanto problema, enquanto dividir os prazeres sexuais com outra pessoa, que deveria ser um aspecto secundário causa tanto distúrbio emocional. É um sinal que a pessoa que assim age, sente e se comporta, dá mais valor aos prazeres carnais do que os valores espirituais. Eu preciso de companheiras na minha vida que tenham a prioridade máxima nos valores espirituais, caso não tenham condições de terem sexo comigo, isso não tem o menor problema para mim. Rogo a Deus que as pessoas que querem caminhar comigo nessa direção, que se livrem da força material que o corpo exerce sobre o espírito, pois só assim podem caminhar comigo em harmonia. Eu não posso deixar de ser transparente para evitar crises de relacionamento, agindo assim eu sinto que não estou sendo honesto. O espaço para o amor que existe em minha vida é enorme, e o ato que pode haver ou não entre mim e qualquer pessoa é da menor importância. Quanto eu comentei na SIMPATIA aquela série de pensamentos, foi para mostrar como pode surgir um novo relacionamento, suas facilidades e dificuldades; uma forma de instruir, de falar a verdade e assim deixar mais segura as pessoas que estão dentro do meu relacionamento. É como já dizia o mestre Jesus: A verdade vos libertará. A verdade que coloco dessa forma tem o objetivo de libertar minhas parceiras do medo do que possa acontecer no futuro, sem saber como funciona os escaninhos da mente.
Estava na rodoviária quando passa por mim uma moça de capacete na mão. Senti uma simpatia automática por ela, trocamos olhares rápidos e ela subiu para o 1º andar onde estava havendo almoço com música ao vivo. Depois ela desceu e novamente fiz questão de olhar para ela com mais atenção, mas ela passou por mim sem notar a minha presença. Notei que ela era formosa, uma beleza trigueira, sem exageros, vestia uma bermuda curta, sensual, que destacava suas curvas vitalizadas pela juventude. Fiquei torcendo que ela voltasse pelo meu espaço mais uma vez. Como se atendesse ao meu pedido silencioso, ela surge mais uma vez e agora seguida por um homem da minha idade aproximada, o dobro da sua, que poderia ser o seu pai. Subiram para o 1º andar onde as músicas românticas, sertanejas de tonalidade brega se sucediam, acompanhadas do som do violão e do burburinho das pessoas que se encontravam por lá. Ela subiu com alegria no rosto e o meu olhar a acompanhou, sedento de receber um sorriso de sua parte. Mas ela novamente não deu nenhum sinal que notara a minha presença. Torci para que ela descesse mais uma vez e dessa vez notasse a minha existência. Enquanto isso a música prosseguia lá por cima:
...Eu tive um amor
Amor tão bonito
Aquele que nasce
Com sabor de saudade
Meu ex-amor
Tem coisas que a gente não esquece...
E aconteceu! Ela desceu mais uma vez e dessa vez acompanhada por um rapaz da sua idade com o qual conversava animadamente. Mais uma vez não deu a mínima atenção ao meu olhar que perseguia os seus movimentos, seu jeito de falar, de rir, o seu humor.
Fiquei a refletir sobre isso. A importância da simpatia para iniciar um novo relacionamento. Se as condições fosse m favoráveis, poderia acontecer: uma idade mais aproximada; a atenção dela ter sido despertada por uma simpatia recíproca comigo; um motivo externo párea o contato apesar de nós sermos desconhecidos; um caráter mais ostensivo da minha personalidade e tomar a iniciativa do contato... ultrapassado a barreira do primeiro contato, ainda viria a história e perspectivas de vida de cada, a compatibilidade e a sintonia para que o primeiro contato se transformasse num relacionamento. Daí a relação seria construída ou desconstruída de acordo com as coerências e incoerências que cada um tivesse no cotidiano da vida.
Mas o meu ônibus chegou e eu tinha que embarcar...
Estava dirigindo meu carro numa estrada conhecida. De repente em uma subida, tudo parece muito estranho, não reconheço o caminho. Diminuo a velocidade do carro e tento forçar a memória para fazer o reconhecimento do meu destino. O carro continua a subir e eu continuo confuso sem saber onde estou. Numa curva sinto que o carro se dirige perigosamente para o precipício, mas não consigo desviar. Sei que a queda é fatal, é preciso frear o carro e evitar o desastre, mas não consigo. O carro desaba no abismo e enquanto espero o choque fatal, explosão e morte, vem na minha mente tudo o que eu poderia ter feito de certo, o que fiz de errado, até mesmo evitar esta queda que estava acontecendo. Antes do choque, acordei!
Interpreto tudo isso como reflexos intuitivos que emergem do meu inconsciente para sinalizar prováveis eventos futuros. Foi assim que aconteceu num sonho que tive antes, onde o mundo que eu vivia desabava, as estrelas caiam e eu me sentia perdido no Universo. Na mesma semana a minha mulher, em reação ao meu comportamento, me expulsa de casa de forma definitiva.
Neste sonho de hoje, imagino que a estrada ascendente em que eu viajava é o caminho espiritual que eu procuro seguir de acordo com as instruções do Mestre Jesus e demais seres iluminados do seu nível. A estranheza é que não consigo prever o que vai acontecer, nem mesmo a curto e médio prazo, a estrada fica confusa. Sei que ela me traz perigos sociais já que caminho contra a cultura estabelecida. Posso ser vítima de reações por demais fortes que levariam a minha destruição acadêmica, social, financeira, religiosa... Os paradigmas de uma família ampliada em contraponto à família nuclear, deve ser o estopim dessas ameaças ou transformações como aconteceu no sonho anterior. Só espero que eu adquira a sabedoria para reconhecer a estrada por onde caminho, que se eu acabe caindo no abismo da intolerância ou da incompreensão, que não seja por desorientação. Serve de consolo e esperança para mim, que acordei com o Evangelho de Tomé e a Biografia de São Francisco ao meu lado. Acredito que eles estejam perto de mim para ajudar nessa compreensão da vida, reforçar minhas boas intenções relacionadas com a verdade e coragem para a sua aplicação.