Aprendemos a canção da vida ao longo de nossa existência e chega um momento de nós subirmos ao palco e nos exibir, cantar nossa própria canção. Cada um desenvolve também sua canção e deve ter o direito de executá-la como imagina. Ninguém pode se apoderar da autoridade de pai, mãe, esposa, ou que parentesco ou ligação tenha conosco que queira nos obrigar a cantar a canção deles. Passei por várias pessoas na minha vida e sempre encontrei alguém, até hoje, que querem que eu cante a canção delas. Deixo bem claro que isso não é possível e que para ficarmos juntos deve existir esse respeito. Não impeço ninguém de cantar a sua própria canção e quando isso feere os meus ouvidos eu simplesmente me afasto. Assim deveria se comportar todas aquelas que se aproximam de mim, se meu canto não a embevese, pelo contrário, lhe deixa amargurada, então deve procurar outras sintonias, outras sonatas. Ficamos apenas com a amizade.
É importante o reconhecimento de nossas falhas, apesar do constrangimento que elas nos trazem. Nos relacionamentos interpessoais é onde elas mais aparecem. Por mais que procuremos agir com justiça, transparência e solidariedade, sempre surgem erros que reconhecemos, depois de feitos, a nossa autoria. Pode ser algo pequeno, como deixar de comentar uma cirurgia que está agendado para tal dia e que coincide com um encontro. A minha falta de habilidade social no sentido de dar um devido retorno as pessoas que estão ao meu redor e que são significantes, é uma falha que reconheço. Chega a um ponto que no dia de Natal e fim de ano, não mando mensagens para ninguém e àquelas que eu recebo não respondo. Sei que não faço isso por maldade, mas talvez por preguiça, para eleger outra atividade como mais importante. É importante que eu declare essa falha em espaço público como este, para as pessoas que se relacionam comigo saberem do problema que até o momento eu não consegui corrigir. Deverei pagar o preço de ficar também isolado, pois reconheço que gosto quando recebo as mensagens dos amigos. E por que não faço o mesmo?
Cada um desenvolve com o tempo uma forma peculiar de pensamento. Quando este vem de encontro a cultura, ao pensamento da família, dos amigos, há uma tendência muito forte dele ser ocultado de todos. Constranger o homem a agir em desacordo com o seu pensar é torná-lo hipócrita. E a hipocrisia é um mal muito grande, já dizia Jesus. Sei que tenho um pensamento na forma de relacionamento afetivo que difere muito das normas culturais onde estou inserido, mas está de pleno acordo com a minha consciência, e mais ainda com todas as orientações que encontro nos livros divinos, religiosos, espirituais. Então não posso temer nem me omitir de ser o que sou mesmo que a cultura me atropele como já fez com tantos. Espero ter a proteção dos mentores espirituais que ajudam a reforçar o pensamento e viabilizar sua realização.
Qualquer que seja a cirurgia é uma entrega do corpo para uma ação externa a cargo de outra pessoa. Deve existir a motivação, geralmente da correção de algum problema a nível do próprio corpo. A anestesia é de grande ajuda, pois o bloqueio da dor, que serve como guardião do corpo, é fundamental para um bom procedimento seja realizado. Tenho todo o conhecimento fisiológico de como isso funciona, dos receptores, das fibras condutoras até chegar no cérebro para o processamento e reconhecimento da dor. Também sei que o próprio cérebro pode gerar informações que sem nenhuma química externa a dor deixa de ser percebida. Também sei que este meu corpo é apenas veículo de expressão do meu espírito, que devo cuidar dele e que o que acontece com ele, a expressão dolorosa, também é percebida pelo espírito. Não sei bem como é que isso se dá, pois eu tento ficar na posição de expectador, observando tudo que é feito com o corpo, mas não deixo de sentir com toda intensidade, tudo que é realizado, inclusive o próprio procedimento de introdução do anestésico, como se o próprio espírito que faz todas essas observações, estivesse sentindo nele mesmo as sensações. Agora estou sentindo o efeito do procedimento após ter passado o efeito anestésico. O sensação dolorosa continua a fazer uma conexão íntima e até parece única com o meu espírito. Isso é o que leva muitos suporem que não existe nada além da matéria, pois se eu tivesse tomado uma anestesia geral, e ainda estivesse dormindo sob o efeito dela, nada do que estou sentindo agora existiria na minha consciência. Mas esses são argumentos que eu já superei e a minha convicção do mundo espiritual permanece acima de qualquer conhecimento acadêmico de um mundo material exclusivo.
Entrei para mais um site, Somos todos um, de natureza espiritualista e técnica. É um espaço de interação entre os colegas e leitores que sintonizam com a visão holística do homem. Sei que é mais um espaço que vai exigir dedicação e publicação. Cada vez mais as tarefas chegam, de natureza teórica, principalmente. Cada vez mais fica pujante a necessidade de uma intervenção mais prática nesse campo espiritual. Acredito que o término do meu mandato como chefe do departamento de medicina clínica, servirá como o sinalizador de que esse trabalho deve começar, e ainda este ano.