Nós os seguidores de Jesus podemos dizer que estamos seguros em relação a verdade do Evangelho e particularmente a sua prática? Como distinguir o verdadeiro do falso? Robert Law fez um comentário sobre I João, em 1885, intitulado Tests of Life (Testes da vida), em que estabeleceu três testes fundamentais, ou três critérios, para discernir entre verdadeiros e falsos cristãos.
Assim, é incoerente declarar amor a Deus enquanto se odeia o irmão. A aplicação desses três testes serve para desmascarar a falsa identidade de ditos cristãos, enquanto reforça a firmeza correta dos cristãos genuínos. Nós, cristãos, somos marcados pela fé verdadeira, pela obediência piedosa e pelo amor fraternal. Os que nascem de Deus (o nascer de novo citado por Jesus) creem, obedecem e amam.
Eu considero que passo nos três testes. Pode existir alguma dúvida com relação ao segundo, pois podem contra argumentar que eu não obedeço a Lei de Deus onde se inclui o decálogo de Moisés e que defende a monogamia, a fidelidade entre esposos. Mas acontece que eu resolvi seguir o principal artigo da Lei como Jesus ensinou, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. No desdobramento do seguimento desse artigo preferencial, eu termino por ultrapassar os limites impostos pela monogamia, pela fidelidade conjugal para aplicar o amor incondicional. Na minha forma de pensar, eu cumpro integralmente também o segundo teste, mesmo sabendo que persistem críticas e que eu não vejo argumentos lógicos para me demover da atual posição. Mas sei que se eu tiver errado, Deus se encarregará de colocar à minha frente os argumentos que poderão reformular os meus pensamentos e paradigmas de vida.
Quando decidi pautar minha vida pelo amor incondicional eu sabia que teria que viver dentro de certos limites, que não poderia ter um comportamento que não fosse coerente com os princípios desse amor. Conhecendo os princípios eu posso estabelecer os limites e metas para a minha conduta. Davi já tinha demonstrado essa preocupação há milênios, quando ele escreveu “O modelo do justo”, no Salmo 14, encontrado na Bíblia Sagrada:
2 O que vive na inocência e pratica a justiça, o que pensa o que é reto no seu coração, 3 cuja língua não calunia; o que não faz mal a seu próximo, e não ultraja seu semelhante. 4 O que tem por desprezível o malvado, mas sabe honrar os que temem a Deus; e que não retrata juramento mesmo com dano seu, 5 não empresta dinheiro com usura, nem recebe presente para condenar o inocente.
Com essas observações e esse modelo, eu posso fazer algumas perguntas básicas:
Assim eu posso concluir que, apesar de existir alguns deslizes no meu comportamento, posso me considerar dentro de uma vida correta.
Sempre me incomoda esse termo quando é aplicado para distinguir alguns grupos de outros. Na minha concepção Deus é o Criador de toda a Natureza, inclusive nós e dessa forma todos somos, independente da pátria, da raça, do credo ou da posição social, financeira ou política, filhos do Pai, o povo de Deus.
Essa, no entanto, é a posição intelectual de quem se coloca do ponto de vista de Deus, que acredita que “Ele” tenha uma existência real e, portanto, que Ele considera a todos como filhos, independente da forma de pensar de cada um. Agora temos o pensamento livre dos filhos de Deus que usa do seu livre arbítrio para direcionar a sua vontade para onde o seu raciocínio lógico levar. Pode muito bem não acreditar que Esse Deus que seus sentidos não percebem, também não existir. Então essas pessoas não se consideram povo de Deus. E quem acredita em Deus também pode os considerar que não são eles o povo de Deus. Então, do ponto de vista humano podemos fazer essa distinção e que com a evolução no tempo vamos aperfeiçoando a compreensão.
Na cultura ocidental aceitamos majoritariamente a concepção do Deus único representado por uma força prevalente na Natureza, capaz de intervir em favor dos seus favorecidos. Começou na eleição de um povo, os israelitas, para serem distinguidos de todos os outros e dessa forma serem favorecidos em detrimentos dos outros, pagãos, ateus ou crentes de outros deuses. É registrado no livro sagrado desse povo, a Bíblia, toda uma epopeia nesse sentido e que chega até os dias atuais reformulado pelos ensinamentos de Jesus Cristo. Houve assim um progresso, pois deixou de ser considerado o povo de Deus apenas os integrantes de um grupamento racial, agora passaram a ser todos aqueles que aceitam os ensinamentos do Cristo e que compõem a sua igreja.
Ainda dentro desse conceito humano de povo de Deus, acredito que ainda seja necessário mais um ponto evolutivo, a consciência. Não é necessário que seja obrigatório permanecer dentro dessa instituição chamada igreja cristã, para sermos considerados filhos de Deus. Basta aceitar essas informações preciosas que Jesus nos ensinou, sobre Deus, o Pai, e sobre o Reino de Deus, a família universal, procurar as colocar em prática com boas intenções o amor incondicional, para já estar dentro do conceito do povo de Deus. Pode nunca ter ido a qualquer igreja, de qualquer denominação, e até participar de igrejas com outras orientações não cristãs, mas que todas sejam baseadas no princípio divino do amor incondicional e seus desdobramentos, verdade, justiça, liberdade, fraternidade, solidariedade, etc.
Desde que eu descobri a existência de Deus e que Ele se manifesta através de toda a Natureza e em nós principalmente pela capacidade de amar, passei a expressar essa forma de amor incondicional, sinônimo de Deus. Quer dizer, tento fazer isso, pois estou ainda muito ligado à carne e aos seus instintos, chego a me comportar com perversidade a tal ponto que só depois do ato realizado é que vou perceber a dimensão do bem que não fiz, do amor incondicional não expresso.
Ontem foi mais um dia que isso aconteceu, e o fato se desenvolve dentro de um padrão que eu não consigo quebrar e só consigo perceber a besteira que fiz, do bem não realizado, quando o ato é concretizado. Uma senhora me procura no hospital para lhe dar uma receita de medicamento para o seu filho que não quer vir a consulta. Como ele esteve internado sob meus cuidados, ela recorre a mim. Eu sigo a burocracia do não permitido, que o meu trabalho se restringe à enfermaria e não manter a medicação de um paciente que não quer vir nem para a urgência, nem para o ambulatório. Não tratei essa senhora e o seu filho ausente como irmãos, nem como o próximo que devo amar como a mim mesmo. Acaso se eu tivesse necessitando dessa receita eu não iria fazer para mim mesmo atropelando toda e qualquer burocracia? É um fato visível de falta de caridade, de não cumprimento da lei maior. Portanto, por mais que eu diga e me esforce para cumprir a lei do amor incondicional, falhas existem no meu caráter e personalidade que deixam que isso aconteça. Mas aqui estou usando a espada afiadíssima da verdade. Verdade que neste caso se volta contra mim mesmo e mostra as minhas fraquezas, escancara as minhas fragilidades, da minha incompetência de me comportar próximo ao exemplo do Mestre.
Mas permaneço com a espada afiadíssima da verdade, mesmo ela cortando a minha carne. É o meu suplício e ao mesmo tempo a minha esperança. Não posso deixar escondido, acobertado pela mentira os males que vicejam na minha alma. Cada vez mais eles se fortaleceriam se isso acontecesse. Posso sofrer a vergonha de mim e o desprezo que os outros possam ter, mas a verdade irá mostrar o que eu pretendo ser e o que estou conseguindo ser. Ninguém será enganado.
O mais complicado é que essa espada afiadíssima em minhas mãos ainda inábeis podem fazer estragos na vida dos outros. Posso despertar raiva, sentimentos de rejeição, de vingança, por eu pretender ser uma pessoa que vai de encontro aos interesses e convicções de tantos outros. Mas eu sinto que esse amor incondicional exige que eu use essa espada afiadíssima, tudo bem devo ter cuidado com o seu manejo para não ferir tão profundamente almas que ainda estão imersas em plena ignorância do que Deus deseja para nossa comunidade, para alcançarmos o nível de Reino de Deus.
E para terminar, devo colocar bem claro que tudo que expressei aqui é fruto de minhas profundas convicções e que posso estar profundamente enganado. Mas enquanto estiver com a espada da Verdade tenho esperança de me livrar de todos os erros inconscientes que eu cometo, ao agir com tanto vigor na aplicação do Amor Incondicional da forma que eu o entendo.
Deus continua a falar comigo e toca na minha ferida que poucos veem: a preguiça. É na mesma continuação da Justiça, que foi postado no dia anterior, e agora em Provérbios 24:30-34.
30 Perto da terra do preguiçoso eu passei, junto a vinha de um homem insensato: 31 Eis que por toda parte, cresciam abrolhos, urtigas cobriam o solo, o muro de pedra estava por terra. 32 Vendo isso refleti; daquilo que havia visto, tirei esta lição: 33 um pouco de sono, um pouco de torpor, um pouco cruzando as mãos para descansar 34 e virá a indigência como um vagabundo, a miséria como um homem armado!
30 Não sei se posso bem me caracterizar como “um preguiçoso” afinal como meus amigos dizem eu tenho muitas responsabilidades e trabalho feito e a fazer. Mas a consciência acusa que eu deveria fazer muito mais, o corpo exige que eu descanse além do que a consciência permite, e o corpo geralmente é quem ganha a disputa. Nesse ponto eu me considero descansado, mas a consciência culpada e acusa: preguiçoso. Olho ao redor e reflito se o conceito de insensato também pode ser aplicado. Parece que sim, pois dentro da missão que aceito como originada do Criador e a qual tenho que desenvolver com eficácia (vigor) e eficiência (ação) e no entanto... 31 Vejo ao meu redor o reflexo da indisciplina, meus livros e tarefas desorganizados e atrasados, muito bem significam os abrolhos (escolhos, escombros, entulhos) e urtigas que o chão do meu apartamento, as paredes de meus projetos inconclusos e próximos a cair por terra. 32 Observando tudo isso com os olhos da neutralidade, também chego a essa conclusão: 33 Tudo começa com a exigência natural de ter direito a um pouco de sono, um pouco de torpor, um pouco cruzando as mãos para descansar... “afinal eu já trabalhei tanto!” 34 Então, a partir daí vem a indigência espiritual, a missão aceita se deteriorando ao longo do tempo que leva o caminho a ser percorrido, e a miséria moral assolará o meu destino como carcereiro armado de culpas que jogará na minha consciência. Esse é o desfecho que está colocado como encruzilhada no meu destino. Posso ser bem sucedido materialmente, na academia, com meus relacionamentos os mais diversos, mas ser um fracassado intimamente, na minha destinação espiritual. E isso ninguém perceberá, a não ser EU!