Os seres humanos vindos dos tempos das cavernas, em plena animalidade da vida instintiva, evoluíram científica e tecnologicamente até os nossos dias. A evolução ética e moral não acompanhou o nível de crescimento da ciência e tecnologia, terminamos por construir artefatos poderosos e perigosos à nossa própria existência dentro da Natureza. Para nos ajudar a corrigir esse desnível, foi enviado para nós diversos avatares da espiritualidade, sendo o mais perfeito Jesus de Nazaré, que veio com a missão de nos ensinar sobre o Amor Incondicional, a energia suprema associada à harmonia do Criador.
Dessa forma, lanço um olhar sobre a atualidade da humanidade e percebo que, apesar dos inúmeros templos consagrados a todos os avatares da humanidade, das milhares de pessoas que seguem com regularidade os ritos religiosos, continuamos a usar os avanços da ciência e tecnologia, no aspecto geral, prevalente, de maneira egoísta, exclusivista, indiferente, agressiva e violenta. Vejo as guerras e atos terrorista espalhados pelo mundo, os bolsões de miséria, tanto pela extrema pobreza, quanto pela extrema riqueza, em todos os cantos do planeta. Ao meu redor vejo crianças abandonadas e utilizadas como estratégias de despertar a caridade, falsos e verdadeiros sem-teto, sem-terra, e todos verdadeiros sem-dignidade.
As lições dos avatares parece que ficam restritas aos templos, os religiosos não conseguem aplicar as lições nas próprias vidas, quanto mais em serem agentes ativos para propaga-los na sociedade. A opinião pública pode, quando muito, aprovar as lições espirituais, mas não mostram nenhuma sinalização de que podem ser aplicadas na vida cotidiana.
Como pode agir as pessoas que já atingiram um nível de consciência para compreender sem subterfúgios as lições do Evangelho, por exemplo, o que é o Amor Incondicional, e ter a força para aplicá-lo na prática? Parece que as pessoas que pensam assim são consideradas pelas outras, a maioria, como seres extraterrestres, que pensam com deformidade racional frente ao pensamento majoritário.
Mas, nós, que pensamos sintonizados com o pensamento do Mestre, devemos ficar imobilizados frente a essa situação? Acredito que não. Acredito que devemos usar nossos recursos cognitivos para tentar colocar em prática essas lições, mesmo porque a maioria das pessoas já conhecem essas lições e entendem na teoria a sua hierarquia superior frente a todas as demais. Basta apenas o enfrentamento dos interesses egoístas e preconceituosos para construir a nova família de caráter universal.
Tenho a percepção da dificuldade dessa tarefa, pois mesmo tentando colocar em prática o que penso, em íntima associação a aplicação do Amor Incondicional, mesmo as pessoas reconhecendo a sua hierarquia superior, não conseguem aceitar que suas práticas de vida sejam modificadas a esse nível. Podem até aparentar uma falsa aceitação na discussão mais íntima dessa questão, mas quando afastadas do modelo passam a se comportar da mesma forma que faziam antes.
Acredito que ainda estou falho no nível de argumentação da aplicação prática do Amor Incondicional, de encontrar a forma de colocar com mais eficiência o que devemos fazer para a construção de uma sociedade onde tantos são prejudicados pelas ações de tão poucos, onde a justiça humana consegue alcançar e corrigir tão poucos, onde o egoísmo e a ignorância ainda impera e confunde muitas vezes malfeitores com benfeitores, a exemplo do que aconteceu em Jerusalém, entre Barrabás e Jesus.
Parece que as lições que Jesus deixou para servir de norte para a construção do Reino de Deus esbarram nos preconceitos muito bem estabelecidos da família nuclear formada na base do Amor Romântico e que não ver possibilidade da formação de uma família na base do Amor Incondicional.
Hoje participei de um churrasco com meu amigo de infância e os seus amigos que moram em São Paulo. O assunto que está em torno de mim e que chama a atenção dos meus amigos, é o nível de espiritualidade que demonstro e a prática que tento colocar em minha vida.
Apesar do meu amigo se considerar um ateu, que não acredita no mundo espiritual, e que a vida acaba quando o corpo físico se deteriorar e morrer, ele tem uma prática de ética e caridade superior à média da população. É ele um dos maiores críticos à minha conduta na vida, e, apesar de toda a veemência que coloca em suas argumentações sinto o respeito pelo contraditório.
O que chama a minha atenção é que os presentes à discussão, logo ficam ao lado dos seus argumentos, recheados de ironia, mas sem humilhação. É como se fosse colocado uma visão didática dos erros que estou cometendo e que jamais a sociedade irá seguir as minhas colocações na substituição do Amor Romântico, exclusivo, pelo Amor Romântico, inclusivo.
Sei que os meus argumentos são os mais fortes na coerência, na teoria, mas a prática disseminada do Amor Romântico e suas íntimas consequências ligadas ao egoísmo, não deixam espaço para uma reflexão e nova tomada de decisões, mesmo porque termina surgindo um sentimento de menos-valia ao considerar a nossa companheira dividindo seu afeto com outra pessoa.
Eu não encontrei ainda a fórmula adequada para mostrar a força dos meus argumentos e que somente assim poderemos construir o Reino de Deus como Jesus previu. Essa é a minha falha cognitiva em não ter encontrado até o momento o ponto central de mostrar, sem outra possibilidade, a prevalência do Amor Incondicional em qualquer tipo de relacionamento, inclusive e principalmente os afetivos, de formação familiar.
Com relação a existência e Deus eu já encontrei um forte ponto de postura cognitiva, onde a negação dos meus interlocutores terminam sendo absorvidas pela lógica do pensamento divino, sem condições de recuo ou outras possibilidades. Isso se refere ao ponto central da formação do Universo, onde o Big Bang aceito pela ciência como a teoria mais razoável, aconteceu pela força baseada simplesmente na ignorância do que poderia ter acontecido, qual a natureza dessa força. A compreensão de que a força divina expressa no Amor e Sabedoria tenha sido a causa original abrange as interrogações dos incrédulos. Isso quer dizer que as interrogações incrédulos não incluem a origem divina do Universo, mas a origem divina do Universo consegue acolher todas as interrogações que possam surgir, pois tudo está incluso na criação.
Com relação ao Amor Romântico e Amor Incondicional, este relacionado com a construção do Reino de Deus, ainda não consegui tal façanha, mas continuo tentando.
Recebi um texto pela internet chamado “Big data: a nova religião da humanidade, de autoria de Yuval Noah Harari, que me trouxe novas reflexões. O texto na íntegra é o seguinte:
Estamos diante de uma nova etapa da humanidade em que renunciamos à privacidade e até ao livre-arbítrio.
Por milhares de anos, os humanos acreditaram que a autoridade vinha dos deuses. Então, durante a era moderna, com o humanismo, transferiu-se gradualmente a autoridade de divindades para as pessoas.
Jean-Jacques Rousseau resumiu essa revolução no seu tratado sobre educação “Emile”, de 1762. Buscando pelas regras de como se conduzir na vida, Rousseau as encontrou “nas profundezas do meu coração, traçados pela natureza em caracteres que nada pode apagar. Eu preciso somente me perguntar sobre o que eu gostaria de fazer: o que eu sinto ser bom é bom, o que eu sinto ser ruim é ruim.”
Pensadores humanistas, como Rousseau, nos convenceram de que nossos próprios sentimentos e desejo são a melhor fonte de significado, e que o nosso livre arbítrio é, portanto, a mais alta autoridade de todas.
Neste momento, uma nova mudança está ocorrendo. Assim como a autoridade divina foi legitimada por mitologias religiosas e a autoridade humana foi legitimada por ideologias humanistas, do mesmo modo hoje gurus da alta tecnologia e profetas do Vale do Silício estão criando uma nova narrativa universal que legitima a autoridade de algoritmos e do Big Data (nota do tradutor: no sentido do texto, a expressão é utilizada para referir-se ao conjunto gigantesco de dados computacionais complexos existente no mundo).
Essa crença pode ser chamada de “Dataísmo”. Em sua forma extrema, os proponentes da visão de mundo Dataísta percebem todo o universo como um fluxo de dados, veem os organismos como pouco mais do que algoritmos bioquímicos e acreditam que a vocação cósmica da humanidade é criar um sistema de processamento de dados abrangente – e então fundir-se a tudo isso.
Nós já estamos nos tornando minúsculos chips dentro de um sistema gigante que ninguém realmente entende. Todo dia absorvo incontáveis bits de dados através de e-mails, telefonemas e mensagens de texto. Depois processo os dados e transmito novos bits através de e-mails, telefonemas e mensagens de texto.
Eu realmente não sei onde me encaixo no grande esquema das coisas, e de que forma meus bits de dados se conectam com os bits produzidos por milhares de milhões de outros seres humanos e computadores. E eu não tenho tempo para descobrir, porque eu estou muito ocupado respondendo e-mails. Este fluxo de dados gera implacáveis faíscas e novas invenções e perturbações que ninguém planejava, consegue controlar ou compreender.
Mas ninguém precisa entender. Tudo que você precisa fazer é responder seus e-mails mais rápido. Assim como os capitalistas acreditam na mão invisível do mercado, do mesmo modo os Dataístas acreditam na mão invisível do fluxo de dados. Como o sistema de processamento de dados global se torna onisciente e todo-poderoso, então a conexão com o sistema torna-se a fonte de todo o significado.
O novo lema diz: “Se você experimentar algo novo, registre a experiência. Se você registra alguma coisa, coloque-a na internet. Se você colocar alguma coisa na internet, compartilhe-a”.
Não tinha tido conhecimento dessa ideia, de sermos considerados bits dentro da Natureza. Um papel secundário, sem nenhuma conexão com Deus. É positiva a perspectiva de que haverá um tipo de confraternização, onde todos estão interligados e se comunicando reciprocamente. Resta incluir nessa visão o propósito de conhecer e cumprir a vontade do Criador, pois é dEle que recebemos todos os fluxos que garantem a nossa vida com qualidade.
Desde 2014 está em funcionamento em São Paulo o Templo de Salomão, uma obra faraônica da Igreja Universal do Reino de Deus. Bem próximo pode se ver o templo da Assembleia de Deus e uma igreja católica dedicada a São João.
Interessante essa disposição de pessoas desenvolvendo a fé associada a um mesmo Mestre, Jesus, mas com tanta disparidade na aparência e conduta. A Igreja católica, que desde a crucificação de Jesus procura divulgar as suas lições por todo o planeta, associado a uma série de dogmas e rituais; a Assembleia de Deus, que desde Martinho Lutero se desligou da Igreja Católica e procedeu uma nova forma de procurar cumprir as lições de Jesus sem os dogmas católicos; e a Igreja Universal do Reino de Deus, construída a partir do Brasil, com uma forma agressiva de angariar doações, administrar recursos e imprimir disciplina.
O Templo de Salomão em São Paulo é uma demonstração da eficiência da Igreja Universal do Reino de Deus em arrecadar recursos e aplica-los em novas iniciativas capazes de aumentar ainda mais o fluxo de recursos. Durante a metodologia para se alcançar essa meta, maior volume de recursos cada vez mais significativos, a mensagem da Bíblia e principalmente do Novo Testamento é aplicada e alguns benefícios são devolvidos aos crentes, principalmente aqueles que não possuem um sentido crítico ou conhecimentos espirituais suficientes. Geralmente são pessoas que passam por sérias dificuldades, que se sentem abandonadas pela sorte ou que precisam de uma figura paterna forte para lhe dar amparo.
A maioria dos membros de cada uma dessas denominações religiosas praticam uma crítica severa contra as outras, geralmente afastada da Lei do Amor, que é a essência de quem eles dizem respeitar e cumprir a vontade.
Esse é um ponto importante para avaliarmos o sacrifício de Jesus ao encarnar no mundo material e sofrer todo o suplício para nos ensinar sobre a Lei do Amor e da construção do Reino de Deus. A mensagem cristã está sendo difundida por todo o planeta, essa é uma observação que podemos constatar na prática. Alguns conseguem uma vida prática bem próxima das lições evangélicas, com relação ao exercício da caridade, mas quanto a construção do Reino de Deus com a formação da família universal tendo a sua base no Amor Incondicional e não no Amor Romântico, não vejo isso acontecer.
É chegado o momento das diversas denominações religiosas deixarem de fazerem tanta crítica ácida contra os irmãos e procurarem vencer a ignorância e o egoísmo íntimo, estudarem sem preconceitos os critérios do amor que devem ser colocados em prática, mesmo se isso aparentemente vá de encontro aos próprios interesses.
Selva de Pedra é um nome bem apropriado para São Paulo, assim como a “Locomotiva do Brasil”. É uma das principais metrópoles do mundo, 4º lugar, perde apenas para Tóquio no Japão, Seul na Coréia do Sul, e a Cidade do México no México.
Estou hoje em São Paulo e vejo ao redor imensos e inúmeros edifícios, e um movimento vertiginoso de carros de todos os tamanhos e modelos que circulam veloz ao meu lado ou à distância.
Mas, onde estão as feras? Todas as selvas tem suas feras características e aqui não pode ser diferente. Como vou identificar essas feras? Bem, imagino, se estivesse numa selva real, o medo seria o melhor indicativo para eu identificar uma fera, evitar o encontro com ela, fazer com que eu não seja considerado por ela uma presa, e se por acaso vier sofrer o seu ataque, saber como me defender.
Então, na “Selva de Pedra”, o que me causa medo? O próprio homem! São os meus irmãos, seres da mesma espécie, criaturas do mesmo Pai!
Desde que pessoas ao meu lado vem a saber que estou me dirigindo para a “Selva”, logo chegam todo tipo de advertência, de ter muito cuidado, de não deixar os bens à mostra, de se vestir com humildade, de se comportar de tal maneira...
Sim, as feras da “Selva de Pedra” estão à espreita em qualquer ponto que me desloco. Elas não tem uma característica especial, tanto pode ser bem vestido, simpático, como um maltrapilho mal encarado. Mas não deixam de ser meus irmãos.
Fico a refletir no que aconteceu para que na “Selva de Pedra” acontecesse tanta transformação, que um irmão perca sua humanidade e se transforme em fera. Acabei de passar por uma pessoa que se comporta de forma indecorosa, por outra que tenta aproximação de forma afetiva, íntima, mas de aspecto andrajoso. Procurei me desvencilhar rapidamente de suas abordagens, e reconheço neles mais pessoas doentes, andando sem dignidade, sem conhecer que pertencem a uma classe de ser vivo tão perto do Criador. Sou médico, e fujo dos meus pacientes? Sou cristão, e fujo dos meus irmãos?
Percebo que existe um grande fosso a separar a nossa condição humana. Alguns ainda estão no estágio da animalidade, ainda se comportam como feras e são assim considerados por todos. Outros já procuram seguir um caminho mais ético, de humanidade mais próxima de Deus. Mas porque um grupo tem um destino e outro grupo destino completamente diferente, apesar de interligados pela sobrevivência? E apesar de todos os recursos científicos e tecnológicos que conquistamos não conseguimos resolver esse problema?
Trago à memória e inteligência para resgatar todo o passado de nossa história humana e vejo que saímos do estágio de animalidade, do homem das cavernas, onde não passamos de meros animais em busca da sobrevivência, para um estado de humanidade onde sabemos da importância de conhecer, defender e praticar os valores éticos e morais. Porém esse estado evolutivo não é alcançado por todos, algo no meio do caminho interfere com essa evolução moral.
Reconheço que o egoísmo inerente à nossa condição animal, que luta pela sobrevivência do corpo material, é o principal motivo de tudo isso acontecer. A ignorância leva o homem a não perceber a existência e importância do mundo espiritual onde os valores morais são o determinante fundamental da evolução em uma dimensão hierárquica superior.
Para derrotar a ignorância com a luz da Verdade, foi necessário que o Pai permitisse a vinda do Filho para nos informar sobre a Lei do Amor e mostrar assim, como sairmos do condicionamento do egoísmo, importante nos primeiros dias de vida, mas que tem uma força destrutiva se permanecer com o homem além da sua maturidade.
Por esse motivo vejo as feras humanas girando ao meu redor, prontas ao ataque quando acharem convenientes, como os meus irmãos que estão mergulhados no efeito da ignorância, tanto na miséria dos seus pais que não tiveram condições de educa-los convenientemente pela extrema pobreza, quanto pela miséria dos nossos gestores públicos que desviam o esforço coletivo para seus próprios interesses em prejuízo de todos.
Estamos agora na “Selva de Pedra” na condição de fera ou de presa. Nós que já estamos iluminados pela Verdade e que sabemos da missão do Pai para cada um, de acordo com suas virtudes, em disseminar as lições do Mestre aplicando a Lei do Amor, não podemos simplesmente pensar na destruição dessas feras perigosas ao nosso lado. Temos que saber como enfrenta-las, domesticá-las e traze-las para a luz, assim como um domador de feras trabalha no circo. Com uma diferença, aquela fera do circo jamais deixará de ser fera, mesmo bem condicionada, domesticada. A fera humana pode perder a sua animalidade e ganhar a humanidade que nunca chegou a sentir. Depende de nossa coragem, determinação e conscientização de que somos filhos do mesmo Pai e que Ele espera que nós nos comportemos para salvar cada um dos seus filhos menores que se perderam ou foram usados e abusados no caminho da vida.