Série Netflix
A cena se desloca para a troca de roupas de Trótski em uma oficina, sob a supervisão de Alexander.
- A. Quanto mais perfeita a pessoa parece ser, mais demônios ela tem dentro dela. E as pessoas vendo a beleza... Espere. Elas querem ver o oculto, o maligno... É atraente. Nada mau.
- T. Podemos acabar perdendo o foco com tudo isso.
- A. Nada na política é por acaso. Tudo importa. O que diz, como diz, sua aparência. Precisa parecer um todo. Um manifesto. Se lembra da Natália?
- T. A mulher que odiou meu discurso?
- A. Não pelo seu discurso em si, mas porquê... como posso explicar? Todos os sociais-democratas são feios. Se vestem mal. Eu sei que é o interior que importa. É o que é mais valioso. Mas ética sem boa aparência só atrai marginalizados. Tenho boas notícias para você. Uma carta de uma tal Srta. Sokolovskaya. Pelo visto você é casado e tem duas filhas. Se arrependeu?
- T. Eu nunca me arrependo de nada.
Leitura da carta.
“Oi, querido Leon. Faz seis meses que estamos no exílio sem você. Fico feliz que tenha chegado à Europa. Sempre soube que conseguiria. Nossas filhas cresceram. Zinaida lembra de você, quer saber quando você volta. Nina, finalmente, está saudável. Não sei mais o que dizer. Fico lembrando do nosso último dia”.
A cena recua, Trótski está recebendo de forma clandestina seu documento trazido por uma carruagem, em 1902, em Irkutsk, exílio para prisioneiros políticos.
- T. Como a Nina está?
- S. Dormindo. Quando?
- T. Hoje. Enquanto dá para passar pela taiga. Não está lamacento ainda.
- S. Não é para sempre, é? Você está indo embora, mas... voltaremos a ficar juntos?
- T. Sim. Sim, claro!
A cena se volta para um prisioneiro que conduz um trenó, escorrega, cai e é brutalmente espancado. Volta diversas cenas de violências que habitam na mente de Trótski.
Trótski está se preparando visualmente para começar a luta dentro da realidade que ele vive, para libertar o ser humano do jugo da escravidão, quer tirar o seu irmão do sofrimento, do trabalho forçado. Considera os seres humanos como irmãos, dignos da luta para libertá-los, dentro de uma perspectiva universal, que começará pela Rússia. Para isso acontecer, sua família nuclear deve ficar para trás, ele não pode ficar junto dela e cumprir uma missão que domina sua mente e emoções. Não está arrependido de ter construído essa família nuclear, pois ela também se beneficiará das consequências libertárias de suas ações. Jesus Cristo evitou criar uma família nuclear para ele, além da que ele estava inserido desde criança, para que sua missão não ficasse comprometida com essa responsabilidade. Mas Trótski sabe que irá pagar o preço desse distanciamento da família nuclear, para colaborar na construção da família universal, mesmo que isso implique na destruição de algumas famílias nucleares que ele encontrará em oposição de sua missão.
Parece que Trótski está muito distante dos interesses das corporações, com todo o seu idealismo, mas quando ele aceitou ser produzido pelo jornalista e que irá coloca-lo dentro da mídia, com a sua mensagem mais forte em favor da revolução, ele está cedendo aos interesses corporativos, capitalistas, que naquele momento sintonizam um com o outro. A questão é saber quando os interesses de ambos não mais sintonizarem, quem irá prevalecer. E se nessa disputa não houver os princípios cristãos em evidência, certamente a balança influenciará os interesses egoístas da natureza humana.
Continuação da entrevista com o economista John Perkins.
E assim criamos um império mundial, mas isso foi feito muito sutilmente, clandestinamente. Todos os impérios do passado foram criados militarmente, e todos os povos sabiam que ele estava sendo criado. Os britânicos, os franceses, alemães, romanos, gregos, eles tinham orgulho disso e sempre havia alguma desculpa, como levar a civilização ou uma religião. Mas todos sabiam que isso estava acontecendo! Nós não! A maioria do povo americano não faz ideia de que vive às custas de um império clandestino, que hoje em dia há mais escravidão no mundo do que em qualquer outra época. Então, nos perguntamos: se isso é um império, quem é o imperador? Obviamente, não são os presidentes dos EUA. Um imperador não é eleito, não tem tempo de mandato e não dá satisfações a ninguém. Não podemos classificar os presidentes assim, mas temos o que considero um equivalente, que é o que chamo corporatocracia, de indivíduos que gerenciam as grandes empresas, e eles realmente agem como os imperadores, desse império. Eles controlam a mídia direta ou indiretamente através da publicidade, controlam a maioria dos políticos pelo financiamento de suas campanhas, tanto através das corporações quanto por doações pessoais. As corporações não são eleitas, não cumprem um tempo de mandato ou dão satisfações, e no topo da corporatocracia, você não consegue saber se os líderes trabalham para as corporações ou para o governo, pois eles sempre estão trocando de posição. Você tem alguém que uma hora é presidente de uma grande construtora, como a Halliburton, e em seguida ele é o vice-presidente dos EUA, ou é um presidente que vem do ramo petroleiro. Isso vale para republicanos e democratas, pois ambos têm líderes indo e vindo entre as áreas. De certa forma nosso governo é invisível a maior parte do tempo, mas suas políticas são aplicadas pelas corporações, em um nível ou outro, e novamente as políticas do governo basicamente são criadas pela corporatocracia e apresentadas pelos líderes políticos, criando uma relação muito profunda. Isso não é uma teoria da conspiração, essas pessoas não se reúnem e ficam tramando, todos trabalham a partir de uma premissa básica que é a maximização de lucros sem considerar os custos sociais e ambientais. “Maximizar lucros, independente do impacto social e ambiental”.
Identificamos assim dois pilares de condução do destino humano: a política com os discursos ideológicos mais convenientes a cada forma de pensar e de influenciar o povo; e a corporação, ente produtivo com intenção de gerar lucros de forma mais ampla possível. Em ambas as situações podemos criar impérios. Quem opera um ou outro desses dois pilares é sempre o ser humano, com toda sua carga de animalidade, egoísmo, dentro do seu psiquismo. Observamos que o homem geralmente não se encontra dentro de um ou outro, geralmente ele está em ambos, funcionando dentro da operacionalidade de ambos. Se é político oferece suas ideias aos eleitores e ao mesmo tempo recebe doações das corporações, e logo depois de eleito deve mostrar gratidão. Se administra uma corporação, percebe que para maximizar os seus lucros deve se aproximar do político e cooptá-lo com mecanismos de corrupção. Esta simbiose entre corporativista e político, sempre irá alimentar o lado egoísta do comportamento humano. Apenas quem pode se contrapor a tal desvio, seria os princípios cristãos devidamente incluídos nas propostas de governo, colocando obstáculo à aproximação corruptora das corporações. Neste sentido é que observamos com otimismo a nova administração que assumiu o poder político no Brasil, pois colocou com bem ênfase os valores cristãos dentro dos diversos setores da administração.
Continuação da entrevista com o economista John Perkins.
O Iraque é um exemplo perfeito de como esse sistema trabalha. Nós, assassinos, somos a primeira linha, vamos primeiro e tentamos corromper o governo, fazendo com que aceitem enormes empréstimos por meio dos quais nós os controlamos. Se falhamos, como falhei no Panamá com Omar Torrijos e no Equador com Jaime Roldós, que se recusaram a ser subornados, aí enviamos a segunda linha de defesa, é o envio dos “chacais”. Eles são os que derrubam governos ou assassinam líderes. Em seguida, começa um novo governo no qual ditamos a política, afinal de contas, o novo presidente sabe o que acontecerá se não obedecer. No caso do Iraque, ambas as estratégias falharam. Os assassinos econômicos não conseguiram fazer contato com Saddam Hussein. Nós tentamos fazê-lo assinar um acordo muito similar ao que temos com os sauditas na Arábia, mas ele não aceitou. Então mandamos os chacais para mata-lo, mas não conseguiram: a segurança era eficiente, e além disso ele já havia trabalhado para a CIA, ele foi contratado para assassinar o presidente anterior do Iraque, mas falhara. Portanto, ele conhecia o sistema. Então, em 1991 mandamos as tropas e vencemos o exército iraquiano. A partir disso, presumimos que Saddam Hussein mudaria de ideia. Nós poderíamos tê-lo matado naquela época, mas não queríamos perder sua liderança. Pensamos que ele poderia controlar os cordos, manter os iranianos em seu país e continuar nos abastecendo com petróleo, e já que tínhamos derrotado seu exército, ele cederia. Os assassinos econômicos voltaram nos anos 90, e falharam. Se tivesse dado certo, ele ainda estaria governando seu país. Estaríamos vendendo a ele todas as armas que quisesse, mas eles não conseguiram. Os chacais não conseguiram derrubá-lo de novo, então enviamos o exército para terminar o trabalho e dessa vez, deu certo. Nós o derrubamos e no processo se criaram contratos de construção civil muito lucrativos para reconstruir o país que tínhamos destruído, o que é um ótimo negócio se você é uma empresa do ramo de construção. Então, o Iraque ilustra as três etapas: os assassinos econômicos que falharam, os chacais que falharam por fim, o exército foi enviado.
Parece que isso é o que vemos na realidade. Talvez com o nome trocado, não é o presidente dos EUA que está tomando tal decisão baseado nos votos conquistados em sua eleição. Talvez sejam aqueles que patrocinaram sua eleição é quem tenham o poder de decisão. Mas, o que aconteceu no Brasil? O Estado pagava propinas às empreiteiras, que por sua vez financiava a campanha de quem facilitava o recebimento de propinas. Torna-se um ciclo vicioso: o povo ´paga os impostos que irão ser administrados pelos políticos corruptos; o político corrupto paga propinas às empresas; as empresas financiam a campanha dos corruptos... e o ciclo se fecha. Quem tem o poder dentro dessa rede? Deveria ser o povo, pois é com o seu dinheiro arrecadado que se forma o caixa para tudo começar. Mas quem pretende o poder é o político, que é o administrador desse dinheiro. Dessa forma, o político arrecada o dinheiro e “compra” fraudulentamente as empresas. Essas se sentem obrigadas, pois se não concordarem deixam de faturar com o trabalho honesto, tudo é direcionado para os desonestos. Quem fiscalizaria ara isso não acontecer, se todos se tornam vítimas da corrupção, e quem não aceita e denuncia termina sendo assassinado como aconteceu com o prefeito Celso Daniel?
Nesse impasse, vejo a figura do imperador, como foi D. Pedro II, uma saída para o problema. O imperador é educado dentro de uma família cujo objetivo é servir ao país, é uma missão dentro de uma vocação, imune à corrupção, pois não depende de votos para o seu reinado. Um reinado assim, voltado para os interesses do povo e vacinado contra a corrupção, é aquele que se aproxima mais do Reino de Deus.
Continuação da entrevista com o economista John Perkins.
É interessante ver como esse sistema continua o mesmo através dos anos, com a diferença de que os assassinos estão ficando cada vez melhores. Temos também o que aconteceu recentemente na Venezuela. Em 1998, Hugo Chaves foi eleito presidente, depois de uma longa sequencia de presidentes muito corruptos que haviam basicamente destruído a economia do país. Chavez foi eleito nessa época. Ele enfrentou os Estados Unidos, exigindo que o petróleo venezuelano fosse usado para ajudar o povo venezuelano. Bom, não gostamos muito disso nos EUA. Então, em 2002 foi organizado um golpe e para mim e outras pessoas, não há dúvida de que a CIA estava por trás desse golpe. O modo como esse golpe foi organizado era muito parecido com o que Kermit Roosevelt tinha feito no Irá: eles pagaram as pessoas para irem às ruas, para protestar, mostrar o governo como impopular. Se você consegue que alguns milhares façam isso, a TV pode fazer com que isso pareça acontecer no país todo, se espalhando. Porém, no caso de Chavez, ele foi inteligente, e o povo estava tão do seu lado que ele conseguiu superar o golpe. Isso foi um fenômeno na história da América Latina.
Este é um relato interessante. O início do governo de Hugo Chaves aparentava muita sintonia com o povo, trazendo os recursos naturais para beneficiar os cidadãos, se contrapondo aos interesses americanos. A narrativa se expande até 2002 quando relata a ocorrência de preparativo de um golpe, mas como o povo estava ao lado de Chavez, isso não aconteceu. Porém, chegando em 2018, observamos a deterioração da sociedade venezuelana, a televisão mostra o povo passando fome e a emigração que chega ao Brasil mostra que isso é verdade. Como então, acontece tal reviravolta dentro de uma sociedade com a mesma filosofia de governo? A ideologia inicial era positiva, o povo estava feliz... a mesma ideologia no momento atual deixa o povo infeliz e tentando fugir para outros países. O que aconteceu? Onde aconteceu a passagem do positivo para o negativo? Onde encontro uma narrativa honesta para dar essa informação? Será que foi outro golpe das corporações que desta vez deu certo? Mas as esquerdas insistem em dizer que essa administração venezuelana está correta, mas não explica o motivo de tantos disparates? Será somente informações falsas da mídia, que realmente tudo por lá está bem? Mas as imagens de gente catando lixo para sobreviver?... será que são falsas essas notícias e imagens? Mas o povo que está chegando no Brasil, que informam a situação de penúria e de risco de vida que estavam sofrendo por lá... será que é mentira? Talvez alguma coisa tenha acontecido por dentro da administração que tenha causado tudo isso, sem culpa dos administradores... será? Mas processo semelhante não estava ocorrendo no Brasil, com uma narrativa totalmente diferente do extremo grau de corrupção que corroía todos os limites do governo. Sim, temos que ficar muito atento as falsas narrativas que deixam a gente duvidar até da realidade que se passa em nossa frente.
Continuação da entrevista com o economista John Perkins.
Omar Torrijos, presidente do Panamá, era um dos meus favoritos, eu realmente o admirava. Quando eu tentava suborna-lo ou corrompe-lo, ele dizia: “Olha, John” – ele me chamava de Juanito – “Olha, Juanito, eu não preciso do dinheiro, o que eu preciso é que meu país seja tratado com justiça. Preciso que os EUA paguem as dívidas que possuem com meu país por toda a destruição que vocês causaram aqui. Preciso estar em uma posição onde eu possa ajudar outros países latino-americanos a se tornarem independentes e se libertarem desta presença terrível do Norte com a qual vocês vêm nos explorando tão terrivelmente. Preciso que o canal do Panamá esteja de volta nas mãos do povo, é disso que eu preciso”. “Me deixem em paz, parem de tentar me subornar”. Isso foi em 1981, e em maio daquele ano, Jaime foi assassinado. Omar sabia muito mais o que era isso, então juntou sua família e disse: “Provavelmente eu sou o próximo, mas tudo bem, porque eu fiz o que vim fazer, renegociei o canal, agora ele estará em nossas mãos”. Ele tinha acabado de fazer um acordo com Jimmy Carter. Em junho de 1981, apenas dois meses depois. Ele também morreu em um acidente aéreo que certamente foi realizado por chacais apoiados pela CIA. Há evidências que um dos agentes entregou ao presidente, quando ele embarcava, um pequeno gravador que continha uma bomba.
Ainda acontece de serem encontrados pessoas capazes de assumir um cargo público e não se deixar envolver pela corrupção. Certamente não existe apenas uma pessoa com essa característica de ser incorruptível, de seguir as trilhas do amor, quanto mais perto possível do amor incondicional. A dificuldade é que essas pessoas ainda não conseguiram se reunir e atuar em conjunto com ética para influenciar a sociedade, tornar-se modelo comportamental para todos. Isso as pessoas envolvidas com a corrupção fazem muito bem, se associam uns com os outros, formando rede.
Isso indica que o papel que as pessoas de bem, éticas, honestas, dentro da sociedade, é formarem também uma rede do bem para se contrapor a rede do mal, da corrupção alimentada pelo egoísmo. Talvez o modelo dos Alcoólicos Anônimos usado para combater a doença do alcoolismo, possa servir para o homem combater a doença do egoísmo, que é necessária para a sua evolução enquanto animal, mas não para evolução do espírito humano.
Quando todos nós reconhecermos a presença do egoísmo em nossas ações, mesmo que não queiramos ser egoístas, nem corruptos, então chega a necessidade de formarmos grupos por todos os agrupamentos humanos, em salinhas pequena, sem ostentação, mas preparadas para receber nossos depoimentos de ações egoístas e como conseguimos deixar as ações de corrupção, e até ser capaz de colaborar com o esforço coletivo para o bem de todos. Talvez se isso tivesse já sendo colocado em prática, o ilustre presidente do Panamá poderia ainda estar em companhia de outras pessoas .