Estou colocando o discurso de Lula em 01-01-2003, presidente eleito, pronunciado no Congresso Nacional, para que reflitamos nessas palavras e no período que se encerra hoje, e o que na realidade aconteceu. Foi com essa forma de pensar que dei o meu voto para contribuir com este momento. Mas, foi observando todos os fatos ocorridos no decorrer dos 13 anos dessa administração, que tive que ir às ruas junto com milhões de brasileiros, para que esse partido e sua ideologia praticada, tão contrária a fala que está aqui publicada, não levasse o país ao caos modelo Venezuela. Felizmente tivemos êxito, e nos três anos seguintes o Brasil foi administrado pelos mesmos parceiros, mas sem a toxina ideológica, o que nos fez desviar do abismo. Hoje, mais seguros do que queremos, elegemos um presidente que fazia dele a nossa voz, que colocava acima dos interesses mesquinhos dos agentes ideológicos e seus cooptados, o interesse legítimo do potencial humano, criado por Deus desde a nossa criação.
Mas, cada um dos meus leitores podem agora fazer a releitura do que foi dito e tirar suas próprias conclusões...
"Companheiros e companheiras
"Mudança"; esta é a palavra-chave, esta foi a grande mensagem da sociedade brasileira nas eleições de outubro. A esperança finalmente venceu o medo e a sociedade brasileira decidiu que estava na hora de trilhar novos caminhos.
Diante do esgotamento de um modelo que, em vez de gerar crescimento, produziu estagnação, desemprego e fome; diante do fracasso de uma cultura do individualismo, do egoísmo, da indiferença perante o próximo, da desintegração das famílias e das comunidades
Diante das ameaças à soberania nacional, da precariedade avassaladora da segurança pública, do desrespeito aos mais velhos e do desalento dos mais jovens; diante do impasse econômico, social e moral do país, a sociedade brasileira escolheu mudar e começou, ela mesma, a promover a mudança necessária.
Foi para isso que o povo brasileiro me elegeu Presidente da República: para mudar. Este foi o sentido de cada voto dado a mim e ao meu bravo companheiro José Alencar.
E eu estou aqui, neste dia sonhado por tantas gerações de lutadores que vieram antes de nós, para reafirmar os meus compromissos mais profundos e essenciais, para reiterar a todo cidadão e cidadã do meu País o significado de cada palavra dita na campanha, para imprimir à mudança um caráter de intensidade prática, para dizer que chegou a hora de transformar o Brasil naquela nação com a qual a gente sempre sonhou: uma nação soberana, digna, consciente da própria importância no cenário internacional e, ao mesmo tempo, capaz de abrigar, acolher e tratar com justiça todos os seus filhos.
Vamos mudar, sim. Mudar com coragem e cuidado, humildade e ousadia. Mudar tendo consciência de que a mudança é um processo gradativo e continuado, não um simples ato de vontade, não um arroubo voluntarista. Mudança por meio do diálogo e da negociação, sem atropelos ou precipitações, para que o resultado seja consistente e duradouro.
O Brasil é um país imenso, um continente de alta complexidade humana, ecológica e social, com quase 175 milhões de habitantes. Não podemos deixá-lo seguir à deriva, ao sabor dos ventos, carente de um verdadeiro projeto de desenvolvimento nacional e de um planejamento de fato estratégico. Se queremos transformá-lo, a fim de vivermos em uma nação em que todos possam andar de cabeça erguida, teremos de exercer quotidianamente duas virtudes: a paciência e a perseverança.
Teremos que manter sob controle as nossas muitas e legítimas ansiedades sociais, para que elas possam ser atendidas no ritmo adequado e no momento justo; teremos que pisar na estrada com os olhos abertos e caminhar com os passos pensados, precisos e sólidos, pelo simples motivo de que ninguém pode colher os frutos antes de plantar as árvores.
Mas começaremos a mudar já, pois como diz a sabedoria popular, uma longa caminhada começa pelos primeiros passos.
Este é um país extraordinário. Da Amazônia ao Rio Grande do Sul, em meio a populações praieiras, sertanejas e ribeirinhas, o que vejo em todo lugar é um povo maduro, calejado e otimista. Um povo que não deixa nunca de ser novo e jovem, um povo que sabe o que é sofrer, mas sabe também o que é alegria, que confia em si mesmo em suas próprias forças. Creio num futuro grandioso para o Brasil, porque a nossa alegria é maior do que a nossa dor, a nossa força é maior do que a nossa miséria, a nossa esperança é maior do que o nosso medo.
O povo brasileiro, tanto em sua história mais antiga, quanto na mais recente, tem dado provas incontestáveis de sua grandeza e generosidade, provas de sua capacidade de mobilizar a energia nacional em grandes momentos cívicos; e eu desejo, antes de qualquer outra coisa, convocar o meu povo, justamente para um grande mutirão cívico, para um mutirão nacional contra a fome.
Num país que conta com tantas terras férteis e com tanta gente que quer trabalhar, não deveria haver razão alguma para se falar em fome. No entanto, milhões de brasileiros, no campo e na cidade, nas zonas rurais mais desamparadas e nas periferias urbanas, estão, neste momento, sem ter o que comer. Sobrevivem milagrosamente abaixo da linha da pobreza, quando não morrem de miséria, mendigando um pedaço de pão.
Essa é uma história antiga. O Brasil conheceu a riqueza dos engenhos e das plantações de cana-de-açúcar nos primeiros tempos coloniais, mas não venceu a fome; proclamou a independência nacional e aboliu a escravidão, mas não venceu a fome; conheceu a riqueza das jazidas de ouro, em Minas Gerais, e da produção de café, no Vale do Paraíba, mas não venceu a fome; industrializou-se e forjou um notável e diversificado parque produtivo, mas não venceu a fome. Isso não pode continuar assim.
Enquanto houver um irmão brasileiro ou uma irmã brasileira passando fome, teremos motivo de sobra para nos cobrirmos de vergonha.
Por isso, defini entre as prioridades de meu governo um programa de segurança alimentar que leva o nome de "Fome Zero". Como disse em meu primeiro pronunciamento após a eleição, se, ao final do meu mandato, todos os brasileiros tiverem a possibilidade de tomar café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão da minha vida.
É por isso que hoje conclamo: Vamos acabar com a fome em nosso país. Transformemos o fim da fome em uma grande causa nacional, como foram no passado a criação da Petrobras e a memorável luta pela redemocratização do país.
Essa é uma causa que pode e deve ser de todos, sem distinção de classe, partido, ideologia. Em face do clamor dos que padecem o flagelo da fome, deve prevalecer o imperativo ético de somar forças, capacidades e instrumentos para defender o que é mais sagrado: a dignidade humana.
Para isso, será também imprescindível fazer uma reforma agrária pacífica, organizada e planejada.
Vamos garantir acesso à terra para quem quer trabalhar, não apenas por uma questão de justiça social, mas para que os campos do Brasil produzam mais e tragam mais alimentos para a mesa de todos nós, tragam trigo, tragam soja, tragam farinha, tragam frutos, tragam o nosso feijão com arroz.
Para que o homem do campo recupere sua dignidade sabendo que, ao se levantar com o nascer do sol, cada movimento de sua enxada ou do seu trator irá contribuir para o bem-estar dos brasileiros do campo e da cidade, vamos incrementar também a agricultura familiar, o cooperativismo, as formas de economia solidária.
Elas são perfeitamente compatíveis com o nosso vigoroso apoio à pecuária e à agricultura empresarial, à agroindústria e ao agronegócio, são, na verdade, complementares tanto na dimensão econômica quanto social. Temos de nos orgulhar de todos esses bens que produzimos e comercializamos.
A reforma agrária será feita em terras ociosas, nos milhões de hectares hoje disponíveis para a chegada de famílias e de sementes, que brotarão viçosas com linhas de crédito e assistência técnica e científica. Faremos isso sem afetar de modo algum as terras que produzem, porque as terras produtivas se justificam por si mesmas e serão estimuladas a produzir sempre mais, a exemplo da gigantesca montanha de grãos que colhemos a cada ano.
Hoje, tantas e tantas áreas do país estão devidamente ocupadas, as plantações espalham-se a perder de vista, há locais em que alcançamos produtividade maior do que a da Austrália e a dos Estados Unidos. Temos que cuidar bem _muito bem_ deste imenso patrimônio produtivo brasileiro. Por outro lado, é absolutamente necessário que o país volte a crescer, gerando empregos e distribuindo renda.
Quero reafirmar aqui o meu compromisso com a produção, com os brasileiros e brasileiras, que querem trabalhar e viver dignamente do fruto do seu trabalho. Disse e repito: criar empregos será a minha obsessão. Vamos dar ênfase especial ao Projeto Primeiro Emprego, voltado para criar oportunidades aos jovens, que hoje encontram tremenda dificuldade em se inserir no mercado de trabalho.
Nesse sentido, trabalharemos para superar nossas vulnerabilidades atuais e criar condições macroeconômicas favoráveis à retomada do crescimento sustentado para a qual a estabilidade e a gestão responsável das finanças públicas são valores essenciais.
Para avançar nessa direção, além de travar combate implacável à inflação, precisaremos exportar mais, agregando valor aos nossos produtos e atuando, com energia e criatividade, nos solos internacionais do comércio globalizado. Da mesma forma, é necessário incrementar _ muito_ o mercado interno, fortalecendo as pequenas e microempresas. É necessário também investir em capacitação tecnológica e infraestrutura voltada para o escoamento da produção.
Para repor o Brasil no caminho do crescimento, que gere os postos de trabalho tão necessários, carecemos de um autêntico pacto social pelas mudança e de uma aliança que entrelace objetivamente o trabalho e o capital produtivo, geradores da riqueza fundamental da nação, de modo a que o Brasil supere a estagnação atual e para que o país volte a navegar no mar aberto do desenvolvimento econômico e social.
O pacto social será, igualmente, decisivo para viabilizar as reformas que a sociedade brasileira reclama e que eu me comprometi a fazer: a reforma da Previdência, reforma tributária, reforma política e da legislação trabalhista, além da própria reforma agrária. Esse conjunto de reformas vai impulsionar um novo ciclo do desenvolvimento nacional.
Instrumento fundamental desse pacto pela mudança será o Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social que pretendo instalar já a partir de janeiro, reunindo empresários, trabalhadores e lideranças dos diferentes segmentos da sociedade civil.
Estamos em um momento particularmente propício para isso. Um momento raro da vida de um povo. Um momento em que o Presidente da República tem consigo, ao seu lado, a vontade nacional. O empresariado, os partidos políticos, as Forças Armadas e os trabalhadores estão unidos. Os homens, as mulheres, os mais velhos, os mais jovens, estão irmanados em um mesmo propósito de contribuir para que o país cumpra o seu destino histórico de prosperidade e justiça.
Além do apoio da imensa maioria das organizações e dos movimentos sociais, contamos também com a adesão entusiasmada de milhões de brasileiros e brasileiras que querem participar dessa cruzada pela retomada pelo crescimento contra a fome, o desemprego e a desigualdade social. Trata-se de uma poderosa energia solidária que a nossa campanha despertou e que não podemos e não vamos desperdiçar. Uma energia ético-política extraordinária que nos empenharemos para que se encontre canais de expressão em nosso governo.
Por tudo isso, acredito no pacto social. Com esse mesmo espírito constituí o meu Ministério com alguns dos melhores líderes de cada segmento econômico e social brasileiro. Trabalharemos em equipe, sem personalismo, pelo bem do Brasil e vamos adotar um novo estilo de Governo com absoluta transparência e permanente estímulo à participação popular.
O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu governo. É preciso enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos setores da vida pública.
Não permitiremos que a corrupção, a sonegação e o desperdício continuem privando a população de recursos que são seus e que tanto poderiam ajudar na sua dura luta pela sobrevivência.
Ser honesto é mais do que apenas não roubar e não deixar roubar. É também aplicar com eficiência e transparência, sem desperdícios, os recursos públicos focados em resultados sociais concretos. Estou convencido de que temos, dessa forma, uma chance única de superar os principais entraves ao desenvolvimento sustentado do País. E acreditem, acreditem mesmo, não pretendo desperdiçar essa oportunidade conquistada com a luta de muitos milhões e milhões de brasileiros e brasileiras.
Sob a minha liderança o Poder Executivo manterá uma relação construtiva e fraterna com os outros Poderes da República, respeitando exemplarmente a sua independência e o exercício de suas altas funções constitucionais.
Eu, que tive a honra de ser parlamentar desta Casa, espero contar com a contribuição do Congresso Nacional no debate criterioso e na viabilização das reformas estruturais de que o País demanda de todos nós.
Em meu governo, o Brasil vai estar no centro de todas as atenções. O Brasil precisa fazer em todos os domínios um mergulho para dentro de si mesmo, de forma a criar forças que lhe permitam ampliar o seu horizonte. Fazer esse mergulho não significa fechar as portas e janelas ao mundo.
O Brasil pode e deve ter um projeto de desenvolvimento que seja ao mesmo tempo nacional e universalista, significa, simplesmente, adquirir confiança em nós mesmos, na capacidade de fixar objetivos de curto, médio e longo prazos e de buscar realizá-los. O ponto principal do modelo para o qual queremos caminhar é a ampliação da poupança interna e da nossa capacidade própria de investimento, assim como o Brasil necessita valorizar o seu capital humano investindo em conhecimento e tecnologia.
Sobretudo vamos produzir. A riqueza que conta é aquela gerada por nossas próprias mãos, produzida por nossas máquinas, pela nossa inteligência e pelo nosso suor.
O Brasil é grande. Apesar de todas as crueldades e discriminações, especialmente contra as comunidades indígenas e negras, e de todas as desigualdades e dores que não devemos esquecer jamais, o povo brasileiro realizou uma obra de resistência e construção nacional admirável.
Construiu, ao longo do século, uma nação plural, diversificada, contraditória até, mas que se entende de uma ponta a outra do território. Dos encantados da Amazônia aos orixás da Bahia; do frevo pernambucano às escolas de samba do Rio de Janeiro; dos tambores do Maranhão ao barroco mineiro; da arquitetura de Brasília à música sertaneja.
Estendendo o arco de sua multiplicidade nas culturas de São Paulo, do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e da Região Centro-Oeste. Esta é uma nação que fala a mesma língua, partilha os mesmos valores fundamentais, se sente que é brasileira.
Onde a mestiçagem e o sincretismo se impuseram dando uma contribuição original ao mundo. Onde judeus e árabes conversam sem medo. Onde a mestiçagem e o sincretismo se impuseram, dando uma contribuição original ao mundo, onde judeus e árabes conversam sem medo, onde toda migração é bem-vinda, porque sabemos que em pouco tempo, pela nossa própria capacidade de assimilação e de bem-querer, cada migrante se transforma em mais um brasileiro.
Esta nação que se criou sob o céu tropical tem que dizer a que veio; internamente, fazendo justiça à luta pela sobrevivência em que seus filhos se acham engajados; externamente, afirmando a sua presença soberana e criativa no mundo. Nossa política externa refletirá também os anseios de mudança que se expressaram nas ruas.
No meu governo, a ação diplomática do Brasil estará orientada por uma perspectiva humanista e será, antes de tudo, um instrumento do desenvolvimento nacional. Por meio do comércio exterior, da capacitação de tecnologias avançadas, e da busca de investimentos produtivos, o relacionamento externo do Brasil deverá contribuir para a melhoria das condições de vida da mulher e do homem brasileiros, elevando os níveis de renda e gerando empregos dignos.
As negociações comerciais são hoje de importância vital. Em relação à Alca, nos entendimentos entre o Mercosul e a União Europeia, que na Organização Mundial do Comércio, o Brasil combaterá o protecionismo, lutará pela eliminação e tratará de obter regras mais justas e adequadas à nossa condição de país em desenvolvimento.
Buscaremos eliminar os escandalosos subsídios agrícolas dos países desenvolvidos que prejudicam os nossos produtores privando-os de suas vantagens comparativas. Com igual empenho, esforçar-nos-emos para remover os injustificáveis obstáculos às exportações de produtos industriais. Essencial em todos esses foros é preservar os espaços de flexibilidade para nossas políticas de desenvolvimento nos campos social e regional, de meio ambiente, agrícola, industrial e tecnológico.
Não perderemos de vista que o ser humano é o destinatário último do resultado das negociações. De pouco valerá participarmos de esforço tão amplo e em tantas frentes se daí não decorrerem benefícios diretos para o nosso povo. Estaremos atentos também para que essas negociações, que hoje em dia vão muito além de meras reduções tarifárias e englobam um amplo espectro normativo, não criem restrições inaceitáveis ao direito soberano do povo brasileiro de decidir sobre seu modelo de desenvolvimento.
A grande prioridade da política externa durante o meu governo será a construção de uma América do Sul politicamente estável, próspera e unida, com base em ideais democráticos e de justiça social. Para isso é essencial uma ação decidida de revitalização do Mercosul, enfraquecido pelas crises de cada um de seus membros e por visões muitas vezes estreitas e egoístas do significado da integração.
O Mercosul, assim como a integração da América do Sul em seu conjunto, é sobretudo um projeto político. Mas esse projeto repousa em alicerces econômico-comerciais que precisam ser urgentemente reparados e reforçados.
Cuidaremos também das dimensões social, cultural e científico-tecnológica do processo de integração. Estimularemos empreendimentos conjuntos e fomentaremos um vivo intercâmbio intelectual e artístico entre os países sul-americanos.
Apoiaremos os arranjos institucionais necessários, para que possa florescer uma verdadeira identidade do Mercosul e da América do Sul. Vários dos nossos vizinhos vivem hoje situações difíceis. Contribuiremos, desde que chamados e na medida de nossas possibilidades, para encontrar soluções pacíficas para tais crises, com base no diálogo, nos preceitos democráticos e nas normas constitucionais de cada país.
O mesmo empenho de cooperação concreta e de diálogos substantivos teremos com todos os países da América Latina.
Procuraremos ter com os Estados Unidos da América uma parceria madura, com base no interesse recíproco e no respeito mútuo. Trataremos de fortalecer o entendimento e a cooperação com a União Europeia e os seus Estados-Membros, bem como com outros importantes países desenvolvidos, a exemplo do Japão.
Aprofundaremos as relações com grandes nações em desenvolvimento: a China, a Índia, a Rússia, a África do Sul, entre outros.
Reafirmamos os laços profundos que nos unem a todo o continente africano e a nossa disposição de contribuir ativamente para que ele desenvolva as suas enormes potencialidades.
Visamos não só a explorar os benefícios potenciais de um maior intercâmbio econômico e de uma presença maior do Brasil no mercado internacional, mas também a estimular os incipientes elementos de multipolaridade da vida internacional contemporânea.
A democratização das relações internacionais sem hegemonias de qualquer espécie é tão importante para o futuro da humanidade quanto a consolidação e o desenvolvimento da democracia no interior de cada Estado.
Vamos valorizar as organizações multilaterais, em especial as Nações Unidas, a quem cabe a primazia na preservação da paz e da segurança internacionais.
As resoluções do Conselho de Segurança devem ser fielmente cumpridas. Crises internacionais como a do Oriente Médio devem ser resolvidas por meios pacíficos e pela negociação. Defenderemos um Conselho de Segurança reformado, representativo da realidade contemporânea com países desenvolvidos e em desenvolvimento das várias regiões do mundo entre os seus membros permanentes.
Enfrentaremos os desafios da hora atual como o terrorismo e o crime organizado, valendo-nos da cooperação internacional e com base nos princípios do multilateralismo e do direito internacional.
Apoiaremos os esforços para tornar a ONU e suas agências instrumentos ágeis e eficazes da promoção do desenvolvimento social e econômico do combate à pobreza, às desigualdades e a todas as formas de discriminação da defesa dos direitos humanos e da preservação do meio ambiental.
Sim, temos uma mensagem a dar ao mundo: temos de colocar nosso projeto nacional democraticamente em diálogo aberto, como as demais nações do planeta, porque nós somos o novo, somos a novidade de uma civilização que se desenhou sem temor, porque se desenhou no corpo, na alma e no coração do povo, muitas vezes, à revelia das elites, das instituições e até mesmo do Estado.
É verdade que a deterioração dos laços sociais no Brasil nas últimas duas décadas decorrentes de políticas econômicas que não favoreceram o crescimento trouxe uma nuvem ameaçadora ao padrão tolerante da cultura nacional.
Crimes hediondos, massacres e linchamentos crisparam o país e fizeram do cotidiano, sobretudo nas grandes cidades, uma experiência próxima da guerra de todos contra todos.
Por isso, inicio este mandato com a firme decisão de colocar o governo federal em parceria com os Estados a serviço de uma política de segurança pública muito mais vigorosa e eficiente. Uma política que, combinada com ações de saúde, educação, entre outras, seja capaz de prevenir a violência, reprimir a criminalidade e restabelecer a segurança dos cidadãos e cidadãs.
Se conseguirmos voltar a andar em paz em nossas ruas e praças, daremos um extraordinário impulso ao projeto nacional de construir, neste rincão da América, um bastião mundial da tolerância, do pluralismo democrático e do convívio respeitoso com a diferença.
O Brasil pode dar muito a si mesmo e ao mundo. Por isso devemos exigir muito de nós mesmos. Devemos exigir até mais do que pensamos, porque ainda não nos expressamos por inteiro na nossa história, porque ainda não cumprimos a grande missão planetária que nos espera.
O Brasil, nesta nova empreitada histórica, social, cultural e econômica, terá de contar, sobretudo, consigo mesmo; terá de pensar com a sua cabeça; andar com as suas próprias pernas; ouvir o que diz o seu coração. E todos vamos ter de aprender a amar com intensidade ainda maior o nosso País, amar a nossa bandeira, amar a nossa luta, amar o nosso povo.
Cada um de nós, brasileiros, sabe que o que fizemos até hoje não foi pouco, mas sabe também que podemos fazer muito mais. Quando olho a minha própria vida de retirante nordestino, de menino que vendia amendoim e laranja no cais de Santos, que se tornou torneiro mecânico e líder sindical, que um dia fundou o Partido dos Trabalhadores e acreditou no que estava fazendo, que agora assume o posto de supremo mandatário da nação, vejo e sei, com toda a clareza e com toda a convicção, que nós podemos muito mais.
E, para isso, basta acreditar em nós mesmos, em nossa força, em nossa capacidade de criar e em nossa disposição para fazer.
Estamos começando hoje um novo capítulo na história do Brasil, não como nação submissa, abrindo mão de sua soberania, não como nação injusta, assistindo passivamente ao sofrimento dos mais pobres, mas como nação altiva, nobre, afirmando-se corajosamente no mundo como nação de todos, sem distinção de classe, etnia, sexo e crença.
Este é um país que pode dar, e vai dar, um verdadeiro salto de qualidade. Este é o país do novo milênio, pela sua potência agrícola, pela sua estrutura urbana e industrial, por sua fantástica biodiversidade, por sua riqueza cultural, por seu amor à natureza, pela sua criatividade, por sua competência intelectual e científica, por seu calor humano, pelo seu amor ao novo e à invenção, mas sobretudo pelos dons e poderes do seu povo.
O que nós estamos vivendo hoje neste momento, meus companheiros e minhas companheiras, meus irmãos e minhas irmãs de todo o Brasil, pode ser resumido em poucas palavras: hoje é o dia do reencontro do Brasil consigo mesmo.
Agradeço a Deus por chegar até aonde cheguei. Sou agora o servidor público número um do meu país.
Peço a Deus sabedoria para governar, discernimento para julgar, serenidade para administrar, coragem para decidir e um coração do tamanho do Brasil para me sentir unido a cada cidadão e cidadã deste país no dia a dia dos próximos quatro anos.
Viva o povo brasileiro!"
A cena se desloca para Paris, 1902. Bronstein, agora usando o nome de Trótski, discursa numa reunião de intelectuais, em um café.
- T. Enquanto a Europa só fala, a Rússia anseia por ação. Eu viajei 8.500 quilômetros em vagões de carga pra chegar aqui, na Europa, para preparar a revolução, e o que vejo? O pensamento revolucionário fede a strudel de maça. “Iskra” escreve as mesmas coisas há um ano. Sonhos de uma teoria da revolução insensível na maior parte da Europa. Vocês parecem estudantes que criam o fantasma da revolução e acreditam que ele virá. Isso é inédito.
A plateia se manifesta com murmúrios de: - Boa ideia!; - Ele fala a verdade.
- T. A Rússia, não a Europa, está vendo um contraste gritante entre a riqueza dos ricos e a pobreza dos pobres. O país tem milhões de pessoas furiosas e insatisfeitas, e a Rússia precisa de uma revolução agora, ou as autoridades declararão outra guerra contra a Europa e botarão a culpa nela.
- Plekhanov, pessoa da plateia. Como assim? Uma revolução só é possível em países industriais. Na Europa.
- T. Que bobagem! A Europa com seu povo calmo e satisfeito, não pode liderar a revolução. Portanto, será sempre liderada por outros.
- P. A Rússia é um país atrasado!
- T. Sim. É um país atrasado, incrustado, que bebe e queima na sua própria raiva, mas é uma potência. É uma força, como a força das marés. Estou dizendo para pegarmos essa força, domá-la, armá-la, e ela destruirá o que estiver no seu caminho!
- P. Bravo. Isso é muito divertido. Sua ingenuidade só é superada pela sua tolice. Adeus, criança com a camisa da Rússia.
- T. Cuide-se, Plekhanov! Está sentado tempo demais neste café.
Observamos duas estratégias em confronto para se realizar a revolução russa. A posição de Trótski, mais pragmática, de trabalho corpo-a-corpo com o povo da Rússia, e motivá-lo para pegar as armas. A outra estratégia sob o comando de Lenin, que espera uma oportunidade política, uma transformação do pensamento dirigente para impulsionar a revolução.
Todos estão se retirando, uma primeira pessoa da plateia, bem relacionada, se aproxima de Trótski.
- PP. Companheiro Trótski, permita que me apresente...
Trótski não dá consideração e se afasta em direção a saída. Antes de sair para numa mesa de pães e procura dinheiro para comprar.
Uma segunda pessoa o aborda durante a tentativa da compra dos pães:
- SP. Eu concordo. O proletariado, sem orientação, só pensará nas demandas econômicas. Entre liberdade e pão, sempre escolhem pão. Por favor...
Retira o dinheiro do bolso e paga os pães. Estende a mão e se identifica.
- P. Lenin.
- T. Sei quem você é. Se concorda comigo, por que não me apoiou?
- L. Ele é um figurão do partido. Discutir com ele prejudicaria o movimento. E você, com esse seu jeito, vai durar pouco.
- T. Deveria ser mais contido como você? Creio que não me perdoarão.
- L. Quem?
- T. O povo.
- L. Se importa com o povo?
- T. E você?
- L. Quero mudar o mundo. O que o povo tem a ver com isso? O povo é um instrumento.
- T. Nas suas mãos?
- L, E nas suas. E nosso trabalho é fazer com que eles queiram a revolução. E não pão.
- T. Como? Se você concorda com Plekhanov?
- L. Georgy é apenas um homem.
- T. Quer dizer, um instrumento.
- L. Você aprende rápido. Volte outro dia. Informalmente, como amigo.
- T. Não somos amigos.
- L. Bem... nós compartilhamos o pão.
Entrega o saco de pães que havia nas mãos de Trótski, e sai sem mais palavras. Trótski também sai sem outras palavras.
Esse gesto de Lenin deve ter ficado gravado na mente de Trótski, como as lições que ele recebeu de Trótsky. O gesto de doar alguma coisa a alguém para fazer uma espécie de laço afetivo, de gratidão. O gesto de doar o relógio ao soldado durante sua preleção à tropa, teve esse significado ampliado, causando efeito afetivo tanto em quem recebeu o presente, como em quem se observava e se colocava empaticamente na pele de quem fora presenteado. Essa lição foi muito bem aplicada no Brasil, com diversas formas de doação como as diversas bolsas, cotas, investimentos, contratos, muito deles e talvez todos com o carimbo do suborno, para nenhum dos beneficiados observarem o prejuízo que estava sendo causado à nação. Este efeito perdura até hoje, e o novo governo que iniciará na próxima semana, enfrenta toda essa onda de beneficiados que lutam para não perder as suas mordomias, mesmo que isso destrua o país. Que importa? Mais importante ter recursos suficiente para encher a família de mordomias e viajarem quando bem quiserem para usufruir dos seus “direitos inalienáveis”. O povo que se exploda!
Para uma melhor compreensão sobre Trótsky e entendimento das ações que se passam na série da Netflix, irei reproduzir um artigo publicado na revista Superinteressante por Leonardo Pujol em 17-10-2017.
Quem foi Leon Trotsky?
Para uns, ele foi o herói da odisseia Bolchevique. Para outros, um revolucionário violento e cruel.
Nos arredores da cidade do México fica Coyoacán, um lugarejo cheio de casinhas coloridas e praças arborizadas. Um dos 16 distritos da capital mexicana, essa foi a região onde Leon Trotsky viveu até o fim dos seus dias. À época, sua rotina parecia tão entediante quanto a dos coyoaquenses. Bem cedo, levantava para cuidar dos cactos, dos coelhos e das galinhas. Terminadas as tarefas, Trotsky se trancava no escritório para ler, escrever ou receber militantes ávidos por discussões políticas. Sustentava a família – a segunda esposa, Natalia Sedova, e o neto, Esteban Volkov – com os rendimentos dos livros e dos artigos que escrevia para jornais.
Por trás da aparente tranquilidade, porém, Trotsky era um homem receoso. Antes de se mudar para o México, o ex-revolucionário havia sido duramente perseguido por Josef Stalin. Seus parentes também – a maioria foi morta a mando do ex-colega. Desconfiado e, ao mesmo tempo, abalado emocionalmente, Trotsky preferia viver recluso. “O fim evidentemente está próximo”, pressentiu, numa espécie de testamento redigido em fevereiro de 1940. Ele morreria seis meses depois, aos 60 anos.
O camponês rebelde
Leon Trotsky nasceu Lev Davidovich Bronstein, em 7 de outubro de 1879, na cidade de Ianovka, Ucrânia. Seus pais eram agricultores e, embora descendentes de judeus, pouco afeiçoados à religião. Evitavam o iídiche, o idioma das comunidades judaicas da Europa Oriental, preferindo uma mistura de russo com ucraniano. A família criava porcos e galinhas, mas vivia principalmente da produção de trigo – plantio desenvolvido com o auxílio de alguns poucos empregados. Fora isso, a infância de Liova (diminutivo de Lev) foi a de um modesto camponês. Pelo menos até os 9 anos, quando, para estudar, foi viver com os tios em Odessa, região mais povoada que Ianovka.
“Pouco a pouco, ensinaram-me que era preciso dizer bom-dia pela manhã, lavar as mãos, limpar as unhas, não levar a comida à boca com a faca, não se atrasar, agradecer”, Trotsky relembra em Minha Vida, um de seus livros. Aliás, foi justamente em Odessa que ele conheceu a literatura, bem como a música e o teatro – as particularidades da vida urbana.
Aos 17 anos, o rapaz de cabelo desgrenhado, olhos azuis e óculos redondos foi transferido para outra escola, na cidade de Nikolaiev. Lá, interessou-se pelo marxismo – ao frequentar grupos críticos ao czar. Aos 18, tornou-se líder de uma das agremiações – o Sindicato dos Trabalhadores do Sul da Rússia, que reunia serralheiros, marceneiros, eletricistas, costureiras e estudantes. Como era de se esperar, a organização incomodou as autoridades. Em 1898, prestes a fazer 20 anos, Trotsky e outros membros do sindicato foram aprisionados. Nos meses seguintes, ele passou por presídios em Kerson e Odessa até chegar a Moscou, onde se casou com Alexandra Sokolovskaia – uma marxista dos tempos de Nikolaiev. Condenado ao exílio na Sibéria, ele e a mulher viveram em Ust Kut, uma aldeia apinhada de cabanas sujas e infestadas por mosquitos. No exílio, além de se tornar pai de duas meninas, Trotsky aprofundou o conhecimento nas obras de Friedrich Engels e Karl Marx. Em 1902, abandonou Alexandra e as filhas e fugiu com uma identidade falsa. Foi aí que ele adotou o nome pelo qual seria conhecido para sempre e que, segundo ele próprio, pertencia a um carcereiro da prisão de Odessa.
Em 1903, refugiado em Londres (trabalhando para o Iskra, jornal dirigido por Vladimir Lenin e cujo nome significa “fagulha”), casou-se com Natalia Sedova – com quem teve outros dois filhos. Dois anos depois, retornou à Rússia. Popular entre os militantes do Partido Operário Social-Democrata Russo (por ter sido um dos líderes no passado), ele rapidamente assumiu o Soviete de Petrogrado. Seu discurso era de que uma “revolução permanente” estava prestes a acontecer – profecia que viria a se concretizar 12 anos depois.
Em dezembro de 1905, a polícia invadiu a sede do Soviete e prendeu todos os líderes do partido, incluindo Trotsky. No fim do ano seguinte, novamente banido para a Sibéria, ele fingiu-se doente durante a viagem e escapou. Abrigou-se primeiro em Viena; depois, cruzou o Atlântico rumo a Nova York. Lá, retomou a vida de jornalista e se uniu aos mencheviques, “minoritários” que faziam uma leitura moderada do marxismo – batendo de frente contra os bolcheviques, “maioria” sob a liderança de Lenin que acreditava que o governo deveria ser diretamente controlado pelos trabalhadores. No entanto, com o passar dos anos, Trotsky divergiu e se afastou dos mencheviques. Em 1917, aos 37 anos, ele desertou e se aliou oficialmente aos bolcheviques.
Um líder astuto
Ao tomar conhecimento da revolução contra o czar, em março de 1917, Leon Trotsky retornou (de novo) para a Rússia. Quando chegou a Petrogrado, não demorou para ser alçado à presidência do Soviete. Valendo-se do prestígio e da influência que tinha nas massas, passou a conspirar contra o comando provisório. Em outubro, quando o governo foi à bancarrota, Trotsky assumiu o Comitê Militar Revolucionário.
Sua primeira ordem foi o recrutamento de camponeses e veteranos (ex-czaristas) para o chamado Exército Vermelho, a fim de deter forças contrárias à revolução. Pelos três anos seguintes, era o próprio Trotsky quem comandava os soldados contra as forças estrangeiras e o Exército Branco (mencheviques, em sua maioria). Suas viagens eram feitas a bordo de um célebre trem blindado vermelho – um verdadeiro quartel-general sobre trilhos com secretaria, estação telegráfica, centro de rádio, biblioteca e até garagem para automóveis. Entre 1918 e 1921, estima-se que a locomotiva tenha percorrido cerca de 105 mil quilômetros, o suficiente para dar quase três voltas ao redor da Terra, transportando tropas, armas e provisões.
Durante esses três anos de “comunismo de guerra”, Trotsky foi um líder aclamado entre as massas. Muitos, inclusive, o consideravam o verdadeiro herói da Revolução Bolchevique. Já outros, até mesmo do próprio partido, o consideravam autoritário e impiedoso. Certa vez, em meados de 1919, um professor reclamou que os habitantes de Moscou estavam morrendo de fome. Ao que Trotsky respondeu: “Isso não é fome. Quando Tito tomou Jerusalém, as mães judias comeram seus filhos. Quando eu fizer as mães comerem os filhos, aí você pode me dizer: `Estamos morrendo de fome.” Já em seu livro Terrorismo e Comunismo – o anti Kautsky, Trotsky justifica o uso de terror para colocar o Partido Comunista à frente de tudo e de todos. “Quem deseja o fim não pode condenar os meios.”
Em paralelo ao Comitê Militar, Trotsky assumiu o Politburo, o órgão executivo encarregado de decisões imediatas. Posteriormente, tornou-se comissário das Relações Exteriores. Sua obsessão era espalhar o movimento comunista por todo o mundo, plano não endossado pelos homens fortes do partido. Os embates ficaram mais contundentes, sobretudo após o advento da União Soviética, em 1922.
Com a morte de Lenin, em 1924, as coisas pioraram. Visto como fonte de desagregação e “eterno menchevique”, ele perdeu a liderança para Stalin. Em seguida, foi destituído do comissariado e proibido de falar em público. Julgado por traição, em 1927, Trotsky foi expulso do Partido Comunista e expatriado pela terceira – e última – vez.
Golpe fatal
Destruído pela máquina que ele próprio construíra, Trotsky foi perseguido por Stalin, o algoz que vitimou quase toda a sua família – restando apenas a esposa, Natalia, e o neto Esteban. Obrigados a se refugiar, os três passaram por países como Turquia, França e Noruega. Sensibilizados, os pintores comunistas Diego Rivera e Frida Kahlo apresentaram ao governo mexicano um pedido de asilo para Trotsky e sua família. O clamor foi atendido em 1937. Foi aí que eles se estabeleceram em Coyoacán: primeiro, na casa dos artistas; depois, em um casarão a poucas quadras dali – Trotsky havia traído Natalia (e a confiança de Rivera) com Frida.
Em maio de 1940, atiradores stalinistas invadiram sua casa. Por sorte, ele sobreviveu. Três meses depois, em 20 de agosto, outro agente se infiltrou no convívio com Trotsky – apresentando-se como simpatizante. Escondendo uma pequena picareta por debaixo do casaco, o assassino surpreendeu Trotsky na biblioteca, desferindo um golpe no crânio. Gravemente ferido, o líder bolchevique chegou consciente ao hospital. Horas depois, sem sinal de melhora, resignou-se: “Dessa vez, eles conseguiram”. Trotsky faleceu no dia seguinte.
Quem matou Trotsky?
“O grito que ele deu eu jamais esquecerei.” As palavras são de Ramón Mercader, assassino confesso de Trotsky, em depoimento à polícia. Sua identidade foi mantida em segredo pelos 20 anos em que cumpriu pena (máxima) no México. Ele jamais admitiu ligação com a URSS. Mesmo assim, após ser solto, Mercader foi recebido pela Rússia e secretamente condecorado como herói da União Soviética. Morreu em 1978, aos 65 anos, em Cuba.
Aquelas duas correntes ideológicas que observamos antes, das atitudes monstruosas para melhora da humanidade, representada por Trótski, e das atitudes monstruosas pelo simples prazer de se manter em mordomias à custo da humanidade, representada por Stalin, venceu este último. Observamos Trótski, exilado e perseguido, ganhando o pão de cada dia para si e família com o suor do próprio trabalho. Muito diferente dos revolucionários brasileiros, apinhados nas tetas do estado até as suas descendências. Um sinal bem claro que essa linha revolucionária que deseja o poder no Brasil, segue o pensamento ideológico de Stalin e não de Trótski.
A cena se desloca para 1902, Irkutsk, exílio para perseguidos políticos. No início do século XIX, muitos artistas russos, oficiais e nobres foram enviados para o exílio na Sibéria por sua parte na revolta Decembrista contra o czar Nicolau I. Irkutsk tornou-se o grande centro da vida intelectual e social para esses exilados, e grande parte do patrimônio cultural da cidade vem deles, assim como muitas de suas casas de madeira, enfeitadas com ornamentos talhados à mão, que hoje sobrevivem em forte contraste com o padrão de blocos de apartamentos soviéticos que os cercam. As ruas largas, arquitetura e ornamentação continental levaram Irkutsk a ser apelidada a "Paris da Sibéria", embora os viajantes de hoje tendam a não se importar muito. Durante a guerra civil que eclodiu depois da Revolução Bolchevique, Irkutsk tornou-se o local de muitos confrontos furiosos, sangrentos entre os "brancos" (czaristas) e os "vermelhos" (bolcheviques), e uma série de marcos históricos daquela época permanece na cidade. Em 1920, Kolchak, o outrora temido comandante do maior contingente de forças antibolcheviques, foi aqui executado, o que efetivamente destruiu a resistência antibolchevique. Hoje, Irkutsk é uma das maiores cidades da Sibéria, com uma população crescente de mais de 590.000 pessoas. É o lar de diversas universidades e um ramo importante da Academia de Ciências da Rússia, graças a sua proximidade com o Lago Baikal.
Vê-se Bronstein se aproximando de um casebre humilde onde é acolhido para se proteger do frio. É-lhe oferecido roupas melhores para não morrer no caminho.
- B. Não precisa. Vou receber os documentos?
- R. Faremos tudo direitinho. Vai ficar perfeito. Só escolha um sobrenome. Petrov ou Stepanov?
Ecoa na mente de Bronstein o diálogo que tivera com Trótsky: “Não pode decidir o destino das pessoas e continuar sendo humano. Está ouvindo isso de mim, Nikolai Trótsky”
- B. Trótski. Trótski é meu sobrenome.
Volta a cena para o México, e o Jornalista pergunta:
- J. Pegou o sobrenome do chefe da guarda?
- T, Não só peguei. Eu o imortalizei. Eu o esfolei e vesti a pele dele. Como alguns caçadores fazem. E quem é o caçador? É um monstro que derrota outro monstro. Não mais. Em 1918 tive que me tornar o monstro mais temido. E fiz isso.
- J. Isso justifica o que Stalin precisa fazer agora.
- T. Os monstros estão divididos em duas categorias: alguns se tornam monstros pelo bem maior, outros porque gostam.
Esta frase abre a compreensão para o conteúdo da revolução russa. De um lado a intenção saudável de libertar o povo do jugo da escravidão, de trabalho sem descanso, sem direitos, para garantir as mordomias da elite dirigente; do outro lado as ações monstruosas com o objetivo de garantir o poder dos dirigentes e tendo o povo como mero instrumento.
- J. Sabe o que eu acabei de ouvir? Uma acusação de um leão ferido contra um adversário mais forte. Porque foi Stalin que construiu o mundo que todos sonhavam. Ele conseguiu, e você falhou.
- Natália, esposa de Trótski. Querido, é hora do seu remédio.
- T. Natália, não quero tomar. Estou ótimo.
- N. Leon, não discuta. Sabe que não adianta.
- T. Viu, Jacson? Não é só você que não reconhece minha autoridade.
- J. Acho que sua esposa o vê como um homem comum que precisa dormir, comer e tomar remédio.
- T. Está enganado. Tenho certeza de que sou para ela muito mais que um homem comum.
Trótski não desenvolve falsa modéstia. Não conseguimos ver pessoas em busca do poder para ajudar de verdade a humanidade. Mesmo que os discursos sejam nesse sentido, a prática de quando se assume o poder muda radicalmente, como pudemos observar nos 13 anos de governo do PT e seus associados, que quase destruíram o Brasil e destroçaram suas instituições, financeiras, políticas e jurídicas.
Um abraço aproxima dois corações... relembra duas histórias... renova duas emoções... ninguém sabe o que isso provoca em cada mente, por onde voam os pensamentos. Será que o aconchego de segundos que o abraço provoca, leva a mente à memória de dias de aconchegos contínuos, quando a paixão incendiava as correntes sanguíneas cheias de adrenalina e tudo se sublimava na permuta de fluidos misturado com a lubrificação do suor na fricção dos corpos?
O coração agora bate feliz com a migalha dos sentimentos que recebe hoje, pois não tem mais a esperança de concretizar o que só existe na memória. Tenta lembrar agora o que fez desviar do caminho, porque uma paixão tão forte, que criou tão esplendoroso amor dentro do peito, de alguma forma se esvaiu... sangrou em hemorragia das lágrimas internas, que ninguém via, e que nem ele mesmo sentia...
A mente agora faz acrobacias para deixar registrado no maior tempo possível uma faísca do que um dia foi labareda. O tempo, senhor do destino, carrasco de sonhos, se mostra incorruptível e decreta sem nem mesmo dar a oportunidade de ser pedido: nada será como antes!
Não se pode apagar os erros e reconstruir o passado. O que se pode é pegar o presente e construir um novo futuro, um novo sonho. Pode se pegar cada abraço que se consiga no presente, por mais fugaz e frágil que seja, como tijolos sentimentais. Serão guardados no coração com a argamassa da tolerância e da paciência.
Quando o tempo destruir o corpo, o espirito levará consigo toda a energia sentimental que acumulou, mesmo que não possa dar o abraço material, não possa sentir a excitação dos instintos. Será guiado pela vibração do amor e no momento oportuno a simbiose fluídica será alcançada, agora, sem as exigências da carne. O abraço, dentro deste contexto, será sutil, cada alma se complementa uma na outra e como um par de asas se desloca pelo universo. A curiosidade de um será alimentada pela ousadia do outro. A ignorância de ambos irá em busca dos oceanos de conhecimento. Desde os sóis crepitantes nas galáxias mais distantes, até a fofura das nuvens que cobrem a Terra, de formatos enigmáticos, a força da semente que empurra seu caule em direção da luz, a criança que ri, o velho que chora...
Sentem-se agora mergulhados dentro de Deus, que o brilho de ambos afasta as trevas e constrói novos mundos, e cada fagulha de amor guardadas dentro de si criam novos seres espirituais, que se desenvolverão e um dia estarão como eles um dia foram, apaixonados na roupagem da carne, cometendo erros e procurando abraços.