Ao refletir sobre a matéria da revista IstoÉ que trabalhei ontem, que abordava a forma de amar afetiva e sexualmente com a possibilidade de formação de vínculos, de companheirismo, percebi que a ideia que tenho não se ajusta a nenhuma delas, mesmo sabendo que estou no campo do amor não exclusivo. Como então definir a minha ideia sobre o Amor? Sei que ele não é romântico, apesar de em alguns momentos ter essa característica. Sei que ele é subordinado ao Amor Incondicional, capaz de bloquear os desejos da minha carne se isso ofende aos interesses do próximo. Daí eu entender que essa forma de amar está dentro dos ensinamentos do Cristo e a Ele me refiro como Mestre por perceber em Seu comportamento uma pureza espiritual que ainda não possuo. Mas Ele não quis se envolver nessa questão da sexualidade, da intimidade que gera vínculos, filhos, companheirismo, família, solidariedade e que deve ser a mais universal possível. Ele preferiu caminhar em suas lições com seus apóstolos sem tentar explicar como isso funcionaria na relação homem-mulher. Então me deparo agora com essa questão. Por um lado a cultura milenar que aponta um determinado comportamento padronizado e por outro a minha consciência que intui outra forma de relacionamento, mais próxima da Verdade que o Cristo ensinou. Então, como captar essa ideia, como conseguirei ver essa forma, segundo Platão, que são seres imutáveis, perfeitos, ideais, dos quais tudo no universo é uma cópia melhorada ou piorada? Como conceituar o Amor que acredito ser o mais racional para conquistarmos o Reino dos Céus? Devo exercitar a mente no raciocínio, pensar a respeito e realmente entendê-las, especialmente ao filosofar.
Para Platão as ideias eram entes extramentais que habitavam a realidade exterior, não visíveis aos olhos, mas passíveis de serem conhecidas pela mente. Hoje em dia pensamos em ideias como conceitos ou imagens que existem, no máximo, na mente de uma pessoa. Mas para isso acontecer é necessário que essa pessoa tenha conseguido êxito e “pescado” essa ideia extramental e trazido ao campo da realidade mental, no início individual, mas que será em seguida socializada. Essa é a minha tarefa, fazer essa procura do que a minha mente intui como verdadeira, fazendo a “pescaria” racional.
Entendo essa ideia que quero “pescar”, como um arquétipo de algo que existe na mente de Deus; Deus esse que antes de criar o universo e tudo que o contém, já tinha em Sua mente a ideia do universo e de tudo que ele conteria.
Devo procurar ver em minha mente um tipo de imagem desse conceito que ferve em meus pensamentos, pois é a ela que se refere a ideia do conceito de Amor que eu possuo, uma coisa, um sentimento. Expressar o que vem à mente à menção de fantasia, noção, espécie, ou aquilo com que a mente se ocupa enquanto pensa. Devo transformar essa ideia em objeto do pensamento e torná-la capaz de ser considerada ou discutida por duas ou mais pessoas.
Devo respeitar as ideias já consideradas como objetos do pensamento, como liberdade, justiça, guerra, intriga, fraternidade, paz, governo, amor romântico, poliamor, swing, relações livres, relacionamento aberto, casamento, fidelidade... e tantos outros objetos mentais. Devo trabalhar o meu pensamento para transformar a ideia que quero “pescar” em mais um objeto do pensamento nessa ampla prateleira consciencial.
Para isso eu tenho que fazer uma retrospectiva de quando a minha mente andava pela prateleira consciencial usando as ideias expostas e tentando aplicá-las em minha vida. Identificar quando essas ideias já não atendiam ao meu senso de Justiça ou de coerência com a Verdade superior. O Amor foi descoberto, a meu ver, como a força mais poderosa do universo, essência do Criador, e, portanto, não poderia ser subjugada por nenhum interesse menor, interesse das criaturas em detrimento do interesse do Criador. Portanto, a minha forma de amar deveria ter a maior coerência possível com o Amor maior, que é o Amor Incondicional. É por isso que sinto a necessidade de “pescar” em meus pensamentos essa ideia que também se encontra na mente de Deus e trazê-la à realidade e assim preencher as reticências que ainda uso ao redor do: ...Amor...
Hoje, dia de Confraternização Universal, que parece remeter para o Amor Universal necessário para o Reino de Deus, recebo um recado dEle da forma mais estranha, para ajustar dentro da minha principal missão delegada por Ele, de construir a família ampliada como pré-requisito para a Família Universal.
Foi uma matéria publicada na revista IstoÉ de 29-08-14, que guardei em algum lugar e hoje descubro debaixo do sofá. Tem o título “Será o fim do tabu da Monogamia?” e logo percebi que era o sinal para que eu fizesse as pontuações práticas do comportamento que idealizo, e que enfrenta os fortes preconceitos culturais. Muitos acreditam que o amor ampliado jamais será possível. A revista mostra exemplos de que isso é viável e já está sendo colocado em prática, talvez não com o viés espiritual que eu coloco sobre a questão. Vejamos o que diz a revista:
A exclusividade afetiva e sexual é o único dos três pilares ainda inabaláveis do casamento. Os outros dois, o caráter indissolúvel do matrimônio e a heterossexualidade, já caíram por terra, derrubados pela possibilidade do divórcio e o reconhecimento legal das uniões homoafetivas. A monogamia, no entanto, continua sendo considerada a única opção possível para grande parte dos casais. “Vivemos esse padrão há milênios, mas sabemos que na prática, ele pode não funcionar”, afirma a antropóloga e jornalista Maria Silvério, autora do livro “Swing – Eu, Tu... Eles” (Chiado Editora). Apesar de ainda serem vistas com receio, as relações não monogâmicas vêm se tornando uma alternativa para aqueles insatisfeitos em seguir o modelo vigente. Segundo uma pesquisa publicada neste ano no periódico “Journal of Social and Personal Relantionships” 4% a 5% dos americanos se consideram em um relacionamento não monogâmico consensual, embora a maioria prefira esconder a opção. “Essas outras formas de amar não significam que a família vai acabar, tampouco o casamento entre dois indivíduos, mas é importante notar que há uma crise no modelo padrão e que há alternativas”, diz Maria.
Se para alguns o desejo extraconjugal se limita ao sexo, para outros a necessidade é também emocional. Entre as alternativas à monogamia, a menos difundida é o poliamor. Essa forma de se relacionar admite a possibilidade de se ter duas ou mais relações afetivas e sexuais ao mesmo tempo. Não há dados que contabilizem o número de brasileiros em relacionamentos desse tipo, mas o interesse pelo tema tem crescido e já há até grupos que se encontram regularmente para discutir esse estilo de vida. Um desses é o Pratique Poliamor Rio de Janeiro, foi criado pelo professor de história Rafael Machado, 27 anos. Filho de pai militar, ele cresceu acreditando que a monogamia era a única alternativa. “Até os 17 anos eu tinha uma postura bem moralista, resultado da minha criação. Mas, quando conheci o poliamor, entendi que é natural amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo”, diz. Em um dos poliencontros, Machado conheceu a também professora Sharlenn de Carvalho, 31 anos. Depois de viver um casamento monogâmico por nove anos, ela buscava alternativas. O namoro cm Machado começou com a concordância do ex-marido de Sharlenn, na época casada. “A princípio ele achou a ideia interessante, mas depois pediu prioridade e, então, eu resolvi terminar”, diz a carioca. Hoje ela tem outros dois namorados: o autônomo Mário Silva, 31 anos, amigo do casal, e um rapaz de Belo Horizonte que pediu para não ser identificado. Foi Machado, inclusive, quem apresentou Silva à parceira: “Ter de podar o seu desejo e o desejo do outro é uma violência”, afirma Sharlenn.
Diferentemente do poliamor, em que todas as uniões têm a mesma importância, o relacionamento aberto é outra opção no leque das relações não monogâmicas e se caracteriza por ter o núcleo de um casal em que ambos saem com outras pessoas. O professor Victor Zellmeister, 27 anos, e a estudante de publicidade Débora Nisenbaum, 22 anos, concordaram em abrir o relacionamento um ano após começarem a namorar e estão juntos há três. “Passamos por várias regras. Em um determinado momento percebemos que as relações humanas não seguem cartilhas, então abolimos tudo. Nossa política passou a ser conversar sempre e encontrar as linhas de conforto de cada um”, diz Débora. Tanto para o relacionamento aberto quanto para swing e poliamor, quem está do lado de fora normalmente se pergunta: e o ciúme? Adeptos desses tipos de relacionamentos dizem que o sentimento é superestimado e ligado apenas à insegurança. Por isso, é possível superá-lo. Mas depende de cada um. Para a antropóloga Mirian Goldenberg, autora do livro “Por que Homens e Mulheres traem?” (Editora BestBolso), as relações não exclusivistas continuarão sendo um desafio. “Conciliar liberdade e segurança é o mundo ideal, mas quem consegue fazer isso? A maioria sofre”, diz.
Assim como uma infinidade de temas ligados à liberdade sexual, o swing gera ao mesmo tempo curiosidade e preconceito. Se por um lado o casal de “Swingers” não topou revelar suas identidades, por outro eles contaram suas histórias com a animação de quem sabe que vai ter uma audiência interessada em conhecer suas experiências. A visita a uma casa de swing, por si só, é suficiente para atrair a atenção. A reportagem conheceu duas delas na cidade de São Paulo e constatou que é um negócio muito bem organizado. Na pista de dança, o clima é de paquera, com um pouco mais de sensualidade e ímpeto do que uma casa noturna tradicional, visto que o propósito de todos ali está bem claro. Dali, os casais vão para o labirinto, outro espaço onde há ambientes para cada tipo de aventura. Há salas totalmente fechadas, outras equipadas com estratégicos buracos, por onde se pode espiar e inclusive tocar outros casais, bisbilhotar por treliças de madeira, puxar cortinas ou então ficar em volta de uma das camas no meio dos corredores. Salas de cinema, cadeiras, poltronas... Tudo é lugar para tentar uma investida. Se alguém forçar, é expulso. “O lema geral é: ‘onde tudo é permitido e nada é obrigatório’”, diz Maria Silvério.
Desafiadoras para alguns, opções de vida para outros, as relações não monogâmicas devem angariar cada vez mais adeptos, o que não significa o fim da monogamia, mas apenas um melhor entendimento dessas alternativas. “Os relacionamentos com múltiplos parceiros sempre existiram, mas hoje é mais admissível discuti-los”, afirma o psicoterapeuta Ailton Amélio, da Universidade de São Paulo (USP). “Entretanto, por nos proporcionar um senso de estabilidade e segurança, a monogamia continuará sendo escolhida pela maioria das pessoas”, diz. Para a psicanalista Regina Navarro Lins, autora de “O Livro do Amor” (Editora BestSeller), a tendência é não haver mais um modelo padrão para os relacionamentos. “Acredito que, no futuro, se uma pessoa quiser ficar 40 anos casada, tudo bem. Se outra quiser morar com três parceiros, tudo bem também”, diz. Se o amor for de fato uma construção social, vivemos tempos em que a sociedade já está se encarregando de criar outras formas de vivê-lo.
A revista também coloca uma breve história da monogamia da seguinte forma:
IDADE ANTIGA
A poligamia era até comum em civilizações anteriores, mas a gregos e romanos não era permitido o casamento com mais de uma mulher. Apesar de o conceito estar próximo ao modelo de monogamia atual, há algumas diferenças como o concubinato institucionalizado. Outras mulheres ocupavam papeis similares ao da esposa, e escravas também desempenhavam funções sexuais.
IDADE MÉDIA
A partir do século X, se dissemina entre os católicos o ritual de bênção na porta da igreja, seguido de uma missa. No século XIII, é firmada a noção do sacramento e são listados sete, entre eles o casamento (indissolúvel). A Igreja Católica passa a ter papel determinante na defesa do modelo de relação monogâmica e indissolúvel.
SÉCULO XIX
Marcado pelas discussões sobre divórcio, igualdade de gênero e movimento feminista, é nesse período que alguns autores, principalmente esquerdistas, começam a fazer os questionamentos sobre a monogamia institucionalizada.
DÉCADA DE 1950
Surgem os primeiros encontros associados à prática do swing, os chamados “Key Clubs” realizados por casais militares na Califórnia, nos Estados Unidos. Neles, os maridos empilhavam chaves aleatoriamente e as esposas pegavam uma delas, cujo dono seria o parceiro sexual da mulher na noite.
1972
Escrito pelos antropólogos Nena e George O’Neill, o livro “Open Marriage” traz pela primeira vez o termo “Relacionamento Aberto” com significado que conhecemos hoje: o casal é formado por um núcleo, mas cada parceiro fica livre para se relacionar com outras pessoas. A obra foi considerada revolucionária.
DÉCADA DE 1990
O primeiro registro de uso da palavra poliamor é de 1990, quando foi criado o “Glossário de Terminologia Relacional”. O grupo que se reuniu para elaborar o documento fazia parte da Igreja de Todos os Mundos, considerada a primeira vertente poliamorista. Em 1997, é escrito um dos livros mais conhecidos sobre o tema, “Polyamore: The New Love Without Limits”, de Deborah Anapol.
A revista também lista os tipos mais comuns de relações monogâmicas, como outras formas de amar:
SWING
Prática em que casais realizam a troca de parceiros sexuais, de forma consensual, em encontros, festas ou casas noturnas específicas.
POLIAMOR
Admite a possibilidade de se ter duas ou mais relações afetivo-sexuais ao mesmo tempo, todas com a mesma importância.
RELAÇOES LIVRES
Aceita a multiplicidade de relações afetivas sexuais, e rejeita o conceito de posse ou fidelidade.
RELACIONAMENTO ABERTO
Permite que o parceiro ou parceira tenha outras relações afetivas ou sexuais, porém com a condição de serem secundárias.
Dessa forma a revista cobre as principais formas de relacionamento fora do exclusivismo afetivo e/ou sexual, representado pelo casamento e com aval da Santa Igreja Católica. Vejo que estou dentro do amplo espectro daqueles que se relacionam fora do exclusivismo afetivo, mas, por outro lado não me sinto encaixado em nenhum pelo simples fato de em nenhum eu consigo ver um objetivo espiritual. Todos os relacionamentos citados tem o objetivo de alcançar o prazer sexual ou afetivo dentro de uma harmonia conjugal ou não. O foco principal da minha ação a qual dei o nome de amor inclusivo, é a educação com o uso da verdade para formar uma família ampliada como pré-requisito para a formação da família universal, do Reino de Deus.
Fim de mais um ano, 2014. Comprovo que os caminhos que sigo determinados pelo Senhor da vida e aceitos por meu livre arbítrio, não são de forma nenhuma previstos por mim. Jamais imaginei há 30 ou 20 anos que estaria hoje, sozinho, em um apartamento cheio de livros, CDs e DVDs, tão espiritualizado e na ânsia de me aproximar cada vez mais da perfeição, da divindade, que deixei de ter o meu medo horrível da solidão, da morte. Por estranho que pareça a quem observe de fora e sem sentir o que sinto, que eu me sinta tão feliz, incomodado apenas pelos meus defeitos internos, reconhecidos, mas ainda sem condições de os eliminar.
Coloquei minha fonte que representa um casal de namorados a derramar água de um jarro no banheiro onde sempre fico a produzir os meus textos, sentado no trono. Também comprei hoje um peixinho colorido, um Beta, peixinho agressivo que não consegue viver em paz com outro companheiro. Deixei-o dentro de um pequeno aquário redondo, ornamentado por plantas artificiais. Fiquei com o compromisso de alimentá-lo apenas com três bolotas de ração, duas vezes ao dia.
Agora estou digitando este texto exatamente nessa posição, ouvindo a água derramar do jarro da enamorada em cascatas contínuas do lado esquerdo, e do lado direito o peixinho que batizei de Chico Bento, a circular de um lado para o outro em seu minúsculo reino. Começo a fazer minhas conjecturas... será que ele consegue me ver? Consegue entender que sou eu que o alimento? Será que pensa alguma coisa? Será que se sente livre e feliz? Imagina que existam outros espaços onde ele possa viver, ou acredita que tudo que existe no mundo são essas paredes de vidro côncavas que limitam seus movimentos?
Tenho conhecimentos acadêmicos que dizem que ele tem, assim como eu, inteligência, mas menos elaborada. Porém o que eu quero saber está no campo existencial, onde a ciência não tem alcance. O que vai ao seu coração de peixe é o mesmo que vai ao meu coração de homem, guardadas as devidas proporções? Olho agora para ele e percebo que está bem calmo, quase parado, ao lado de sua planta artificial. Vejo somente as suas guelras baterem ao filtrar o ar da água, e sua cabeça que vez por outra dirige para cima... será a espera de algo que ele pediu? Estou pensando em comprar uma rede e vez por outra colocá-lo dentro da fonte com cascatas, para ele experimentar a água corrente, o barulho, o movimento...
Agora penso... será que estou numa situação parecida com a de Chico Bento? Será que Deus me pegou em algum lugar desse mercado da vida e me colocou dentro de um aquário com o formato de um apartamento onde eu imagino a minha liberdade? Será que Ele me alimenta sem eu vÊ-lo todos os dias? Será que Ele olha para mim com carinho como eu olho para o meu peixe?
Depois que vem essa enxurrada de perguntas à minha mente eu passo as reflexões... sim, eu não passo de um peixinho cuidado por Deus. A diferença é que eu tenho consciência da Sua existência e proteção, enquanto imagino que o meu peixe não pensa assim. Eu sei que estou neste aquário chamado de apartamento, assim como todos os meus semelhantes procuram ficar em seus devidos aquários. Agora eu sei que posso sair dele e interagir com meus semelhantes, posso ajudá-los nas suas necessidades assumindo o papel que Deus me reserva ao representá-Lo junto aos Seus mais diversos filhos. Sei que ao término dessa experiência de vida eu saio desse aquário material e mergulho no mar da existência espiritual onde me aproximo cada vez mais da luz divina através dos bons préstimos à Sua vontade.
Devo voltar em outra oportunidade para um novo aquário nessa vida espiritual, e espero adquirir essa compreensão que tenho hoje muito mais cedo, para não repetir tantos erros que cometi desta vez.
Sim, meu bom companheiro peixinho, somos muito parecidos em nossos aquários, eu cuido de tu e alguém cuida de mim, e afinal de tudo, todos somos a todo instante cuidados pelo Pai.
Parece que em alguns momentos eu desenvolvo uma fé sem esperança, segundo as pessoas com as quais me relaciono. Mesmo com todo o paradoxo que isso possa trazer, pois a fé que eu desenvolvo é naquela principal lição que o Mestre Jesus deixou quanto o Amor Incondicional. A maioria das pessoas que eu conheço sabem da existência de Jesus e acreditam no Mestre, no entanto não aceitam que essa sua principal lição seja capaz de ser aplicada por nenhum ser humano.
Parece que sou um excêntrico sonhador, que acredito da mesma forma que Jesus, no Amor Universal, o amor de todos que foram criados à imagem de Deus para com todos que foram criados à imagem de Deus. Acredito sim, em tudo que Ele ensinou, que peço e me será dado, que busco e acharei, que bato a porta e ela se abrirá... pode ser que isso não aconteça comigo, pois o egoísmo que ainda tenho na forma de orgulho pode impedir a humildade de pedir ao Pai, eu que tenho dificuldade até de falar com Ele nas orações. Mas a opinião majoritária é que o Amor é muito reduzido. Podem até pensar que um homem pode amar cinco homens e mulheres, talvez dez, até quinze. E mesmo assim só raramente.
Falava assim Amóz Oz na boca do seu personagem Guershom Wald, em seu livro “Judas”:
Se vem um homem e me declara que ele ama todo o Terceiro Mundo, ou que ama a América Latina, ou que ama o sexo feminino, isso não é Amor, mas pura fraseologia. Ditos da boca para fora. Palavras de ordem. Não nascemos para amar mais do que um pequeno punhado de pessoas. O Amor é um evento íntimo, estranho e cheio de contradições, pois mais de uma vez nós amamos alguém por amor a nós mesmos, por egoísmo, por cupidez, por desejo físico, por vontade de dominar o amado e subjugá-lo, ou, ao contrário, devido a uma espécie de desejo de ser dominado pelo objeto de nosso amor, e geralmente o amor se parece muito com o ódio e é mais próximo dele do que imagina a maioria das pessoas. Veja, por exemplo, que quando voce ama alguém ou odeia alguém, em ambos os casos voce está a todo instante ansioso por saber onde ele está, com quem está neste momento, se está ou não está bem, o que está fazendo, no que está pensando, quais são seus temores. O coração é falso como ninguém, ele é incorrigível: quem poderá conhecê-lo? Assim falou o profeta Jeremias. Thomas Mann escreveu em algum lugar que o ódio não é senão o amor a que se acrescentou o sinal de subtração da aritmética. A medida do ciúme é a prova de que o amor se parece com o ódio, pois no ciúme se mesclam o amor e o ódio. No Cântico dos Cânticos, no mesmo versículo, nos é dito que forte como a morte é o amor, poderoso como o inferno é o ciúme. Jesus também foi um grande sonhador, talvez o maior dos sonhadores que jamais houve. Mas seus discípulos não foram sonhadores. Eles foram ávidos de autoridade, e seu fim, como o fim de todos que são ávidos de autoridade e poder no mundo, foi que se transformaram em derramadores de sangue.
Pode ser que o escritor Wald tenha razão ao interpretar o sentimento humano. Também não posso me esquivar de ser formado com esses sentimentos egoístas, mas acredito que tenha me deixado contaminar pelos sonhos do Mestre. Sei que não estou ainda tão puro dos derivados do egoísmo como ele estava, mas luto para reconhecer esses derivados e ir erradicando-os ao longo do tempo. Tenho fé nEle, nos seus ensinamentos e procuro aplicar a lição primordial do Amor Incondicional para toda a humanidade. Qualquer ser humano, qualquer que seja suas mazelas ou que não as tenha, deve ser capaz de despertar em meu coração a compaixão, o Amor, independente de qualquer característica. Tenho esperança de construção desse mundo novo, esse Reino do Amor, mesmo que não seja possível eu alcançá-lo na plenitude, mas me esforçarei para colocar pelo menos um simples tijolo na sua estrutura.
Está escrito no Antigo Testamento que Deus ordenou que todo o primogênito fosse consagrado a Ele, tanto homens como animais (Êxodo 13:1-16). Assim, o primogênito tinha o direito por nascença, de um privilégio dado pelo Senhor. Era uma grande honra ser o primogênito, pois teria a herança do pai e o beneplácito de Deus. Foi a partir do primogênito de Abraão que Deus planejou que os filhos de Israel se reproduzissem. Esse direito adquirido com o nascimento pode ser negociado, como fez Esaú trocando a primogenitura com seu irmão Jacó por um prato de lentilhas. Parece contraditório que um direito dado por Deus a uma determinada pessoa possa ser negociada por ela. Então a escolha que Deus fez fica subordinada a uma escolha de Sua criatura? Incoerente! Parece que Deus não soube escolher a quem dedicar uma missão. Ou será que Ele não sabe se o Seu escolhido terá sucesso ou não no empreendimento da Sua vontade? Sei que Ele não pode interferir no livre arbítrio de Suas criaturas que adquiriram a consciência dos valores morais.
Também observo que a palavra que representa a vontade de Deus, segundo a opinião majoritária sobre a Bíblia, termina sofrendo os efeitos dos instintos egoístas que estão presentes na natureza animal de cada ser humano e termina sendo deturpada essa vontade. Volto ao caso de Abraão que teve o seu primeiro filho com a serva Agar, mas logo depois por intriga gerada entre ela e a sua esposa, terminou a serva sendo expulsa da tribo com o seu filho, primogênito, Ismael. A primogenitura ficou totalmente desconsiderada, frente aos interesses egoístas de Sara, a legítima esposa. E a vontade de Deus?
O privilégio de ser primogênito é abrir caminho para os que vêm depois. Abrir a mãe é ser o precursor de uma família biológica. Depois de mim vieram os meus irmãos, por parte de pai e mãe, e também aqueles por parte só de mãe. Da mesma forma que acontece na via biológica com o canal do parto sendo desbravado pelo primeiro que surge, assim na vida social o primogênito tem o privilégio (ou sacrifício?) de ser o precursor de uma grande família espiritual. A Bíblia também informa que quando um primogênito não considera seu papel e não reconhece a honra que está sobre ele, atrai a ira de Deus sobre si e sua descendência, como aconteceu com os primogênitos do Egito.
Sempre que leio algo a esse respeito vem logo à minha mente a condição de também ser primogênito, tanto de pai quanto de mãe. Sei que a cultura mudou muito o modo de ver os relacionamentos, desde a época do Êxodo até agora, cerca de 1900 aC que somados aos tempos de Cristo chegam perto dos 4000 anos. Aquela visão essencialmente mística do primogênito hoje não é considerada. Mas a Bíblia continua sendo considerada como a palavra de Deus e referência de fé para o mundo ocidental.
Sei que o Deus daquela época era visto como um guerreiro que protegia apenas um povo, o hebreu. Foi Jesus quem mostrou um perfil de Deus mais coerente com a Criação, com o Amor. Mesmo com todo esse conhecimento atualizado sobre a cultura e o real sentido da espiritualidade, a minha consciência sinaliza que eu devo ter mais atenção com respeito as condições do meu nascimento. Quanto mais eu adquiro conhecimento, mais fico comprometido com a verdade que advém dele. Os conhecimentos e cultura dos antigos deixaram marcas na nossa história que são indeléveis. É como a história dos nossos ancestrais que estão cobertas por milenares camadas de terra e que a antropologia os descobre pelos ossos e refaz a história que continua dentro de nós.
O conhecimento dessa história do primogênito serve para mim como uma consagração e que devo ser coerente com a vontade de Deus colocada por Ele em minha consciência. Se tenho a compreensão que devo aplicar o Amor Incondicional em todos os meus relacionamentos, sabendo que a quase totalidade das pessoas não conseguem fazer isso e as vezes nem tolerar. Vejo assim que estou colocado exatamente onde Deus queria, na posição de ser o precursor de uma nova atitude dentro dos relacionamentos humanos que levem a uma maior proximidade do Reino que Ele quer que nós construamos.
Cada vez que eu tenho acesso a esses conhecimentos fica mais forte o compromisso que adquiro com essa Verdade que se estrutura na minha consciência. Isso não quer dizer que eu tenha cumprido o que Deus espera de mim, pelo contrário. Depende de minha convicção e determinação em fazer esse trabalho que pode estar acima de minhas forças. Mas somente o fato de eu ter conhecimento da tarefa a ser realizada já é um grande e poderoso passo. Porém, o mais penoso e que ameaça o sucesso desse empreendimento é a construção dia a dia, passo a passo de tudo que é necessário fazer, sem se desviar por caminhos inconvenientes e que atendem mais aos desejos do corpo que a vontade do Pai. Este é o meu desafio.