Ao ler um trecho do livro de Taylor Caldwell, “O grande amigo de Deus”, deparei-me com um diálogo que aborda frontalmente umas das maiores virtudes que considero e procuro praticar: a verdade. Saul esta muito tempo fora de casa, e o pai não conseguindo suportar a solidão, suicidou-se. A questão agora era como se devia informar a Saul do acontecido.
- Não, o senhor não pode enviar esta carta – disse Aristo a Reb Isaac, a cuja casa fora chamado. – Saul bem Hillel é uma pessoa extremamente sensível. Sua carta possivelmente o destruirá e ele não deve ser destruído.
Reb Isaac, na sua dor, remorso e temor pela sorte eterna de Hillel bem Borush, quando fosse chamado perante um Deus severo para prestar contas do seu ato mortal, tinha escrito uma carta onde, contraditoriamente, deplorava o fato. Censurou Saul por sua evidente indiferença e desconsideração com o pai, o mais bondoso e terno de todos, fazendo com que este se matasse: era um julgamento da sua negligência e egoísmo filial. Filhos que amavam os pais e o demonstravam, jamais teriam tal tristeza. Mas os pais deixados a sós e abandonados numa casa vazia eram frequentemente levados, por sua mente atormentada pela ânsia e saudade, a esse ato e uma porção imperdoável dele jazia eternamente nas almas dos filhos negligentes. Quem, perguntava Reb Isaac, nessa carta impregnada de amargura, teve um pai melhor que Saul bem Hillel? Um pai que nunca se queixou da indiferença dos filhos? Não, ele foi terno demais para isso. Apenas sofreu. Reb Isaac não invocou exatamente imprecações religiosas sobre a cabeça de Saul, mas dava essa impressão. O pergaminho estava manchado pelas suas lágrimas idosas.
- É uma carta injusta – disse Aristo ao velho rabino, cujos olhos estavam vermelhos. – Saul amava o pai. E Séfora, aquela jovem e bela matrona, também. Conheci-os bem. Também conheci Hillel bem Borush muito bem, muito mais que a maioria dos seus... amigos. Desconfiei há muito tempo de suas intenções.
Reb Isaac olhou-o furiosamente com seus candentes olhos negros.
- E não procurou convencê-lo de que precisava viver? Você, que tinha mais motivo que a maioria para honrá-lo e ser grato?
- Foi por esse motivo que não tentei – respondeu Aristo. – Senhor, não podemos concordar nesse assunto, pois nossas filosofias diferem. O que eu compreendo, o senhor não entende. O que para o Senhor é crime contra seu Deus, não o é para mim. Nem para milhões de outros. Não pedimos para nascer. Mas podemos escolher quando morrer, pois certamente um homem tem dignidade! O senhor acredita numa vida depois desta. Eu não, embora deseje ao meu querido velho amo uma existência de felicidade. Como disse Sócrates, não se deve temer a morte, pois é apenas um sono eterno e o sono não é agradável? E se há vida após a morte, não pode ser pior do que esta. Tenha piedade. Não envie esta carta a Saul nem a Séfora bas Hillel. Procurarei Saul pessoalmente e lhe direi...
- O quê? – exclamou o rabino que, agora, enxugou às claras as lágrimas recentes.
- Que seu pai esteve doente durante muito tempo. O que, o senhor tem de concordar, é verdade. Que ele não desejou angustiar e assustar os filhos e por isso evitou informá-los. O que também é verdade, embora eu o veja agora balançando a cabeça. Por isso, quando estava no jardim, calmamente debruçado na ponte, foi tomado por um violento tremor, uma última vertigem, um desmaio, e caiu nágua. Seu rosto, visto no lago, estava tranquilo e imóvel – e estava – e, consequentemente, ele não soube estar morrendo e por isso não lutou. Acreditamos, direi a Saul, que morreu ainda antes de tocar a água. Peço-lhe, não continue a balançar a cabeça. Pois o fato é que Hillel bem Borush morreu há muito, muito antes daquela tarde definitiva, na tranquilidade dos seus jardins..
- Sofismas – disse o rabino. – Vocês, gregos, vivem cheios de sofismas¹.
- Um sofisma é melhor que uma verdade cruel – replicou Aristo, esboçando um sorriso. – E conhecemos a verdade? Não. Ela jaz no coração de Hillel bem Borush, ao abrigo de olhares alheios.
- Então, por que não pode dizer a Saul, você, que é tão amante de sofismas, que Hillel morreu tranquilamente na cama e não no lago?
- Pelo fato de o mundo estar cheio de línguas ferinas. Não podemos ter certeza de que um dia, um visitante de Jerusalém, que conheça Borush e Saul, não vá dizer a este que seu pai foi encontrado no lago. Nós... precisamos ser discretos. Não diremos a ninguém o que sabemos e assim Hillel repousará ao lado da sua mulher, sem mancha. Mas Saul tem imaginação. Se eu lhe mentir e disser que seu pai morreu na cama e ele mais tarde souber que eu lhe menti, então terá a certeza de que o pai cometeu suicídio e que eu só quis poupá-lo. Não ficará agradecido e a partir daí sua vida será um sofrimento só. É isso o que deseja o senhor, seu velho mentor?
O rabino ficou em silêncio e as lágrimas tombaram dos seus olhos, embebendo-se na barba branca. Então falou, com voz rouca:
- Agora posso compreender como vocês, gregos, seduziram nosso povo em Israel, com seus sofismas e seus argumentos inteligentes.
Aristo deu uma risadinha.
- Deseja que eu lamente isso? Não. Estou satisfeito. Ouvi dizer que seus profetas eram homens sombrios, sem alegria de viver, com apenas palavras de destruição e de advertência, de ameaças e de castigo e outras coisas desastrosas. Soube que essas coisas assim profetizadas se realizaram. Mas para que devem os homens ficar apreensivos por antecipação? Todos os homens não erram e desejam as coisas boas da vida? É a sua natureza. Senhor, peço-lhe... estou vendo as palavras em sua língua: não me fale do objetivo dos profetas e do semblante ameaçador do seu Deus. Cansei de ouvi-lo de Saul, que se esforçou para me converter. O senhor e eu temos diferentes pontos de referência, que nunca se encontrarão. Mas numa coisa podemos concordar: os deuses amam os homens misericordiosos.
Interessante essa circunstância, pois Aristo, ao usar um sofisma ao invés da verdade, parece estar sendo mais misericordioso do que o Rabino que quer ser verdadeiro, de acordo com o que imagina ser real.
Apesar de amante da verdade também sou mais inclinado a ficar do lado de Aristo, pois, não sendo um ato de maldade é antes de tudo um ato de misericórdia, de compaixão, pelos erros humanos. Mesmo porquê, é como Aristo argumenta, ninguém é dono da verdade, pois Hillel estava sozinho nessa ocasião, e ninguém pode dizer que a argumentação de Aristo não seja verdadeira.
Concluo dessa forma que a verdade é um meio de caminhar com segurança na vida e sintonizado com o Pai, mas devemos ser sábios em avaliar cada circunstância e somente liberar a verdade num nível que possa ser compreensível e que não acarrete prejuízos desnecessários sobre ninguém. Parece um paradoxo, o uso da verdade trazer prejuízos sobre alguém, mas o caso de Saul mostra que isso pode ser possível. Vivemos ainda numa comunidade muito simplória, que não tem comportamento superior, que se deixa abater por uma simples recusa de alguém ao seu lado fazer algo para sua contrariedade.
Nada devam a ninguém, mas amem uns aos outros, pois quem ama o próximo cumpre a lei. O amor não faz mal ao próximo, portanto o amor é o cumprimento da Lei. Andemos honestamente, como de dia, sem conflitos e bebedeiras, sem reuniões libertinas, sem brigas...
O mal que mora no homem não pode ser destruído com outro mal, e somente com paciência, fé, amor e esforço infinito pela paz e conciliação. A espada não é o substituto do esclarecimento e da justiça. A missão dos cristãos é a salvação, não a violência; Deus, não os negócios seculares; alegria espiritual, não força física; império da alma, não leis humanas. O homem que não tem primeiro conquistado a si mesmo e dominado suas paixões – por mais legítimas que sejam, é um terrível perigo para sua própria alma e a alma dos seus vizinhos. Isso não significa que um homem bom seja igual ao leite e à água. Pode ser como um bom vinho, revigorante, confortador, esclarecedor, desalterante, e indutor de camaradagem. Acima de tudo deve transmitir alegria e amor que é o coração da harmonia.
Nosso Senhor ama o homem culto, com certeza, da mesma forma que ama os iletrados, os analfabetos e os simples! Se tivermos de avançar como ordenado, não devemos apelar unicamente para os escravos e os humildes, pois o Messias falou com a força da sabedoria universal, grande conhecimento e abstração sutil, em símbolos muito mais ocultos e abstrusos que um Homero, Virgílio ou Horácio, ou qualquer dos grandes poetas da Grécia. Na verdade, como disse Ele, devemos ser tão astutos quanto a serpente e tão inofensivos quanto uma pomba, mas devemos caminhar entre os pórticos, nas acrópoles, condomínios e edifícios de aprendizado e cultura, como na sarjeta, nas vielas, na terra, na beira-mar. Não lembro do Senhor ter derrubado uma estátua ou denunciado qualquer templo, ou ofendido os incrédulos de alguma forma, com ironia, desprezo ou acusação. Nós também não devemos.
Retirei este pensamento de Paulo (“O grande amigo de Deus”, de Taylor Caldwell), e adaptei um pouco às circunstâncias da comunidade da Praia do Meio, porque vi uma bela reflexão e indicador de caminhos que devemos procurar percorrer. Sendo solidários a todos que encontrarmos pelo caminho, sem nutrir qualquer tipo de preconceito, inclusive com acesso aos condomínios de pessoas mais abastadas e à universidade, ambiente dos doutos. Como Paulo ressalta, a mensagem de Jesus está repleta de sabedoria que não fica aquém a nenhuma outra filosofia de vida.
A cada 2.160 anos mudamos de era astrológica. Por volta de 8.700 aC, a humanidade entrou na Era de Câncer e inaugurou o processo civilizatório. Como Câncer é o signo que rege o lar e a família, nesse período, após quatro milhões de anos vagando errante atrás de caça e colheitas, o homem começou a construir residência fixa, durável, e uma parte da humanidade deixou de ser nômade.
Em torno de 6.550 aC entramos na Era de Gêmeos, signo do comércio, e foi fortalecida a figura do mercador, que comerciava bens cultivados entre os diferentes grupos sociais emergentes. Nessa época foram estabelecidas e fixadas as primeiras unidades de troca.
Por volta de 4.400 aC, entramos na Era de Touro, se desenvolveram os embriões das grandes sociedades agrícolas à beira de rios, como a da Mesopotâmia, Egito, Índia e China. Touro é um signo diretamente ligado à agricultura e à maternidade. Nessa Era, tanto no Egito quanto na Índia, se implantou e popularizou o uso do arado puxado a boi e carro de boi para carregar a colheita. A vaca se tornou animal sagrado na Índia, Grécia e no Egito. É dessa época o auge das sociedades matriarcais como a de Creta e a do Xingu.
Por volta de 2.250 aC, começou a despontar a Era de Áries – signo do guerreiro -, marcada pelo fim do matriarcado no Xingu com o aparecimento de Jurupari, o Índio redentor que em terras brasileiras liderou os homens em rebelião contra as amazonas e instituiu sua religião baseada em flautas sagradas (símbolo fálico bem ao gosto de Áries) até hoje proibidas às mulheres. O matriarcado despencou em Creta e em todo o mundo. Foi marcante também para o início da nova Era a experiência dos Argonautas à Cólquida para conquistar o “carneiro de ouro” (carneiro = Áries) e inaugurar a “Era de Áries” depondo o longo reinado de adoração ao bezerro (Touro).
Por volta do ano 100 aC, chegamos aos primórdios da Era de Peixes, marcada pelo aparecimento em seguida do cristianismo, a religião dos “pescadores de homens”. O peixe foi instituído como principal símbolo da Igreja de Cristo. Desde discípulos que ao se encontrarem se identificavam desenhando o peixe no chão, até o chapéu do papa com o rabo de peixe estilizado, os cristãos assumiram o peixe como símbolo principal.
Durante a Era de Peixes, de forma geral, tudo que estivesse ligado ao seu signo oposto, Virgem, era desqualificado e marginalizado em detrimento o que estivesse sintonizado a Peixes. Peixes está para a fé, como Virgem para a ciência e a natureza. Os cientistas naturais, druidas, bruxas e curandeiros foram barbaramente perseguidos, assim como todo o conhecimento intelectual (Virgem) que se opusesse ou ao menos ameaçasse o poder dos “donos da fé”. Enquanto ciência que estuda a natureza – talvez a principal da antiguidade – a astrologia não escapou a essa perseguição.
O Renascimento italiano foi a primeira reação significativa de ruptura com a opressão cultural da Era de Peixes. A arte renascentista se baseou principalmente em premissas racionais e na observação da natureza, questionando os cânones da arte devocional católica e resgatando valores práticos do signo de Virgem.
Essa nova atitude nem sempre pôde ser assumida e direta. Peixes é um signo afeito a mistérios e linguagens herméticas. Os últimos dois milênios foram pródigos em gerar sociedades secretas, onde ensinamentos eram passados em enigmas, decifrados apenas por iniciados. Em parte pelo espírito da época e em parte para se salvaguardar de ânimos inquisitórios. Muito do conhecimento dos renascentistas foi registrado em forma de códigos, símbolos e metáforas nas obras de arte da época.
Agora que estamos entrando na Era de Aquário (2.100 dC) é natural que todo saber camuflado para sobreviver a perseguições na Era de Peixes seja revelado e franqueado ao público. O propósito deste livro é jogar luz sobre mensagens cifradas de Da Vinci, contribuindo para a disseminação das ideias e informações a que ele se dedicou a registrar, talvez, para quando fosse possível serem discutidas abertamente.
Este foi um trecho do livro de Pedro Tornaghi, “Leonardo Astrólogo – O jogo de símbolos na Santa Ceia. É um livro de conteúdo astrológico que traz esse importante esclarecimento sobre as Eras Astrológicas e suas influências sobre o comportamento da humanidade. Pretende destrinchar o perfil psicológico dos discípulos de Jesus dispostos em sua obra “A Santa Ceia).
Essas informações servem para uma melhor compreensão do movimento humano em direção a um determinado foco, tendo sempre personalidades importantes que caracterizam tal Era e que sempre existirá novas personalidades para representar as Eras seguintes, de forma inevitável, como inevitável é o movimentos dos astros no firmamento conduzidos pelo tempo.
Certamente irão surgir personalidades na nova Era de Aquário que colocarão todo o saber camuflado à luz da Verdade, num processo de transparência que já começa a ser colocado na sociedade como prioridade.
Este trabalho que realizo neste diário, registrando sistematicamente o que acontece comigo, obedece já a esse imperativo. Procuro mostrar com o máximo de transparência toda motivação que surge na minha consciência para que minhas ações sejam justificadas da forma mais coerente possível dentro das leis da Natureza que a energia criadora de Deus proporcionou no(s) universo(s).
No decorrer dos seus anos de solidão em Tarso, Saul percebeu lenta e inevitavelmente como a paciente queda da chuva, que sua Missão era junto aos gentios. Rejeitou essa convicção milhares de vezes. Havia outros evangelistas, outros missionários, embora fosse certo que seu trabalho entre os gentios dera raros frutos e poucos foram os convertidos. Os judeus não o ouviriam, a ele, Saul ben Hillel, não confiariam nele e os judeus nazarenos tinham aversão semelhante. Ouviam os missionários e evangelistas, mas não a ele!
Foi Barnabé, que nada sabia das revelações lentas e apenas meio compreendidas de Saul nesses quatro anos de exílio, quem lhe disse:
- Você vai ensinar e converter os gentios. Essa é a sua missão. E é por isso que nossos irmãos judeus, sob misteriosas inspirações, não querem nada com você. Deus, bendito seja Seu Nome, sabe o que é necessário. – E acrescentou: - A vida, as maneiras e os pensamentos dos gentios não me são familiares, como judeu que sou de vida modesta, existência tranquila e pouca cultura, como são para você, Saul. Por isso, tenho dificuldade de falar com eles, em termos que possam compreender, em metáforas adequadas ao espírito deles e numa linguagem que lhes seja familiar. Posso falar e ser compreendido pelos judeus, especialmente os humildes e devotos. (Não acrescentou que a natural impaciência, erudição e cultura de Saul tornava-lhe quase impossível falar àquela gente humilde de pouco conhecimento. Ele se irritava muito facilmente). Mas você é culto, compreendendo o grego e o romano, além de judeu fariseu. Os gentios o ouvirão, como não fariam comigo e outros como eu. Cada vez mais entendo por que e como Deus o escolheu, Saul. Bem Hillel! Como são maravilhosos os seus caminhos!
Esse trecho de Taylor Caldwell, em “O grande amigo de Deus”, fez mais uma vez a reflexão em minha consciência. Sei que Deus operou e continua a operar em todo o Universo, de acordo com a maturação de cada uma das Suas criações. Não é porque a Bíblia deixou de ser escrita em seus diversos livros que parou a operação de Deus sobre a humanidade. Cada pessoa que deixou germinar em seus corações as sementes de amor plantadas por Jesus, tem condições de redirecionar sua vida como fez Saulo de Tarso.
Observo com essa perspectiva a minha evolução até o atual momento em que me encontro. As minhas diversas experiências na vida, meus diversos relacionamentos, tudo isso não constituiu um amadurecimento daquilo que eu devo ser chamado para cumprir segundo a vontade de Deus? Não quero dizer que eu esteja sozinho nesse processo, cada pessoa da humanidade que desenvolva esse tipo de raciocínio começa a se capacitar para desenvolver o trabalho mais adequado ao seu perfil.
Vejo que o meu perfil tem uma forte ligação com o trabalho universitário, desde que eu deixei os bancos universitários e fui atraído pela política comunitária. Desenvolvi um trabalho de transparência e justiça social, sem escamotear a verdade em função de interesses escusos. Um trabalho de liderança coletiva dentro dos padrões do Evangelho e longe dos padrões da politicagem que era uma constante nesse tipo de serviço.
Atualmente, com uma convicção espiritual mais fortalecida, termino sendo chamado mais uma vez para os trabalhos comunitários, sem ligação política partidária ou credo religioso, mas procurando cumprir junto com os companheiros que devem ter sido chamados da mesma forma, inesperada e inconsciente, para o trabalho que Deus espera de nós.
Será que a Praia do Meio e suas adjacências servirá para nós como as cidades do oriente médio serviu a Paulo e seus companheiros para a realização da vontade Deus? Naquele momento para divulgar a Boa Nova entre os gentios, agora para aplicar a Boa Nova nos diversos relacionamentos e construir o Reino de Deus entre nós.
Não tenho um Barnabé para dizer: “sim, essa é a sua missão. Para isso fostes criado e educado; para isto estás na condição que te encontras. A semente que cultiva aos longo das diversas existências, que superou diversos obstáculos à sua germinação nesta vida atual., está pronta para vir à lume.”
Talvez eu não precise, como Paulo precisou, de um Barnabé de carne e osso para lhe indicar o início da construção da missão. Sei que o mundo espiritual é muito mais habitado que o mundo material e que a vibração mental faz com que as ideias daqueles que pensam semelhantes a mim possam fazer sintonia com a minha mente e surgir pensamentos tais como esses, dignos de um Barnabé, Paulo, José de Arimatéia, Lucas... ou até mesmo do Mestre!
Existe uma crítica muito severa que dura vários séculos e que já foi motivo de conflitos conceituais dentro da igreja católica. É a questão de Maria, Nossa Senhora, ser ou não a mãe de Deus. Por uma questão de lógica, Deus como ser supremo, incriado, que sempre foi formado, Deus não pode ter sido criado por ninguém.
No livro de Taylor Caldwell, “O grande amigo de Deus”, ocorre um diálogo quanto a isso que mostra a opinião de Paulo e de certo modo a opinião da igreja que o venera:
Como Elias foi levado para o Céu no carro de fogo – disse Barnabé – e Nosso Senhor ascendeu perante nossos olhos, também Maria subiu quando morreu na casa de João. Estávamos lá quando ela faleceu e foi amortalhada, ajoelhamo-nos junto do seu leito, rezando, ouvindo-se repentinamente um barulho enorme, maior que qualquer trovão, pois sacudiu a pequena casa, viu-se um a luz mais forte que a do sol e caímos de rosto no chão, mudos, cegos e sem sentidos. E quando nos erguemos, aturdidos, o leito estava vazio, com apenas um resplendor de luz nele, que esmaeceu enquanto o olhávamos.
Saul ficou instantaneamente incrédulo, embora os outros tenham curvado as cabeças, ficando de rostos iluminados.
- Como! - Exclamou. – Uma simples mulher recebeu honra tão divina! Não acredito. Voce estava louco de dor e desejando muito um milagre...
- Por que então – perguntou Barnabé – seu corpo desapareceu?
- Quem sabe? – respondeu Saul, encolhendo os ombros. – Os que queriam um milagre ou desejavam mostrar coisas sobrenaturais levaram-na enquanto voce estava meio aturdido
Subitamente. Lembrou-se ter proferido palavras semelhantes quando seu primo Tito Milo lhe contara a ressurreição do Messias. Mas encolerizou-se. Que tinha uma mulher, uma simples mulher, a não ser dar seu corpo virgem ao Senhor? Apesar de Lia, Judite, Raquel, Rute e Sara, amadas por Deus, tivera favores tão divinos. Ele havia rezado inúmeras vezes no túmulo de Raquel em Jerusalém e pensou que , apesar de sua excelente nobreza e grandeza, ela morrera e apodrecera como milhares de mulheres antes dela. Era verdade que Maria tinha sido escolhida entre todas as mulheres para dar nascimento ao Messias e O cobrira com sua carne, deu-Lhe seu sangue e seu leite, mas fora apenas, como Lucano lhe dissera, “a criada do Senhor”, uma humilde moça galiléia, embora da casa de Davi. Não passara de uma mulher, de pouca confiança, o rio no qual a Graça tinha viajado como uma nave branca. Quem honrava as águas que conduziam a velas e o Passageiro? O rio não passava do caminho inevitável.
Foi aí que uma fria tristeza espalhou-se pelos rostos das visitas.
- Voce esqueceu – disse Barnabé. – Mesmo Deus esperou seu consentimento – daquela mocinha recém-saída da puberdade – para gerar Seu Filho! Aquela menina virgem fora anunciada havia séculos. Ela nutriu Deus em seu seio, ensino-O a andar; ouviu Suas primeiras palavras infantis. Fez Suas roupas; embalo-O nos braços; conversou com Ele como só as mães sabem fazer ternamente com os bebês que ouvem confiantes e felizes. Ela cozinhou Seus alimentos; fez Seu pão. Ordenhou as cabras para ele e colheu frutas. Atendeu às necessidades do Seu corpo humano. Durante trinta anos Ele pertenceu somente a Ela e quantas maravilhas lhe devem ter sido reveladas! E como deve ter meditado e chorado em Seu berço, sabendo que um dia Ele precisaria abandoná-la para levar as sagradas novas à humanidade e que teria de morrer sob aterradoras circunstâncias. Os apóstolos e Lucano falaram-nos dessa coisa. O Senhor fez Seu primeiro milagre ao amoroso pedido dela. Foi Ele que a fez mãe de todos os homens, enquanto pendia moribundo na cruz infame. Ela estava presente quando o fogo do Pentecoste caiu sobre Seus apóstolos e discípulos chorosos. O fogo foi cuidadosamente evitado de se abater sobre a mãe?
Ela não foi uma ‘mera mulher’, Saul. Era a Mãe de Deus. Ele a amou antes de amar a outros em Sua forma humana. Correu para o lado dela como uma Criança; foi irremediavelmente dependente dela para se alimentar. Nós, homens, amamos e reverenciamos nossa mãe. Quanto mais, então, deve Deus amar e bendizer a Sua Mãe! Nada é impossível para Deus. Se Ele escolheu levar seu corpo impoluto até ela, como foi levado o Messias, quem ousará discutir? Embora – disse Barnabé, sem alegria no rosto ao olhar Saul – fosse apenas uma mulher.
Saul refletiu. Contra a vontade, admitiu todos os argumentos de Barnabé. Era um mistério. Todavia, Maria não passara de uma mulher e as mulheres não eram muito consideradas pelos profetas e patriarcas, apesar de todas as Mães de Israel. Eram propensas à fraqueza da carne e da vontade. Pensou em sua própria mãe, em Dacyl e nas outras que conheceu. Então lembrou-se de ter visto Maria uma vez, quando jovem em Jerusalém, e que ela cochilara, cansada, perto dele, esperando o filho. Lembrou-se da terna veneração do Messias; Ele a alimentara com Suas próprias mãos. Mostrara tristeza e preocupação com ela. Chamara-a emi (mãe). Se o Senhor honrava e amava tanto a Sua Mãe, por que deviam os homens objetar? Ele não tinha gritado; “Todas as gerações devem me chamar abençoado?” Saul balançou a cabeça.
- É um mistério – murmurou apreensivo. – Preciso meditar a respeito.
Esse pequeno trecho também me levou à reflexões. Também eu pensava de forma fechada e irremovível que existia esse erro conceitual ao ser chamada Maria de Mãe de Deus. Mas vejo agora, pelas palavras de Barnabé, que não devo ser tão radical na minha forma de pensar mais aprofundada. Jesus ensinou que todos nós podemos ser deuses, ou já somos deuses, basta despertar dentro de nós uma sintonia imaculada com o Pai. Neste sentido, podemos considerar Jesus como Deus, pois ele nos provou que tinha essa sintonia imaculada com o Pai, que nem mesmo os piores castigos e tentações fizeram Ele pensar ou agir diferente. Portanto devo ser tolerante quando ouvir a conceituação de mãe de Deus com relação a Maria, como também devo imaginar que posso também chamar assim a mãe de cada ser humano que tenha demonstrado uma sintonia aproximada com Deus, mesmo que tenha sido maculada por algum aspecto, ou tardia por falta da devida compreensão da vida real e seus aspectos evolutivos. Lembro assim de diversos personagens de nossa história, como Santo Agostinho, Francisco de Assis, Gandhi, Tereza de Calcutá... o próprio Paulo de Tarso.