Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
31/12/2019 00h29
DOIS PAPAS (05-CRIMINOSOS)

            No filme da Netflix, baseado em fatos reais, são apresentados diálogos interessantes entre o papa Bento XVI e o cardeal Jorge Bergoglio, que é importante vermos e refletirmos. Vou ter a permissão de entrar na conversa, como uma ovelha disposta a aprender com meus pastores, podendo colocar minhas opiniões e dúvidas sobre o que se está tratando. Deixo a mesma permissão aos meus leitores, e principalmente nas críticas por minhas intervenções.

            O Cardeal Jorge Bergoglio, da Argentina, termina a conversa com o papa Bento XVI em sua residência de verão, caminhando ambos pelo jardim.

            -B – Ah... esse é seu ego falando. Acha que é dono da verdade?

            -J – Eu sou argentino. Como um argentino se mata? Ele sobe no topo do próprio ego e pula.

            -B – Há... Há... Há... Eu não conheço essa parte do jardim. Onde estamos?

            -J – Vamos para aquele lado, tem sombra.

            -B – Sim, talvez encontremos Deus ali, no caminho. Eu te apresento a Ele. Defendemos dois mil anos de tradições, mas o cardeal Bergoglio é quem sabe mais.

            -J – Não, não. Passamos os últimos anos disciplinando qualquer um que discordasse da nossa visão sobre o divórcio, controle da natalidade, ou sobre ser gay. Enquanto o planeta está sendo destruído, enquanto a desigualdade crescia como um câncer, nos preocupávamos se a missa seria falada em latim, se meninas podiam servir no altar... Construímos muros ao nosso redor enquanto o real perigo estava dentro, conosco.

            -B – Do que está falando?

            -J – Creio que sabe do que estou falando. Sabíamos que sacerdotes, bispos, padres e homens da igreja molestavam crianças, e o que fizemos?

            -B – Nós...

            -J – Ouvimos a confissão deles e os mudávamos de paróquia, onde podiam começar tudo de novo.

            -B – Acreditamos que a confissão...

            -J – Melhor nove crianças sofrerem, do que nove milhões perderem a fé por causa de um escândalo.

            -B – Não, claro que não. Isso é grotesco.

            -J – Um bispo me disse isso.

            -B – E o que disse a ele?

            -J – Pedi para que tirasse o padre do ministério e que iniciasse um julgamento canônico. Imediatamente! Não acreditei que palavras mágicas de um sacerdote iriam fazer tudo ficar bem.

            -B – Palavras mágicas? É assim que chama um sacramento?

            -J – A confissão limpa a alma do pecador, mas não ajuda a vítima. O pecado é uma ferida, não uma mancha. Ela precisa ser curada, ser tratada, e o perdão não é suficiente.

            -B – Você diz “nós”, mas está culpando a mim.

            -J – Santo Padre, por favor...

            -B – Preste atenção! Sua aposentadoria é um protesto contra a Santa Sé, e me pede que eu ratifique. Não quer mais ser cardeal arcebispo, será que ainda quer ser um padre? Não concordo com nada do que diz.

            A conversa seguiu por caminhos diferentes. Ocorre choque de opiniões. O cardeal Jorge tem razão, a simples confissão do erro do padre pedófilo não é suficiente para resolver o sofrimento das crianças que ele abusou. A simples mudança de paróquia não é garantia para que a sua doença não se manifeste outra vez. A convocação de um julgamento com a punição proporcional ao crime cometido é necessária, mesmo que isso cause um escândalo dentro da igreja. As vezes o escândalo é necessário, mas ai de quem o provoca, frente as leis do próprio Deus.

            Observo que o cardeal Jorge é bem criterioso com as ocorrências dentro da igreja, que procura se nivelar com o que ocorre no mundo, corrigindo atitudes férreas da Santa Sé com um bom nível de tolerância, assim como punindo criminosos da mesma corporação, cortando na própria carne. Até aí não vejo desvios da vontade de Deus. O que não me parece correto é a minimização dos crimes ocorridos fora da igreja. Entendo que os pastores devam ser exemplos para suas ovelhas, não podem ser criminosos e se assim forem, devem ser punidos com mais severidade, pois conhecem muito bem a lei de Deus e com isso assumem maior responsabilidade. Mas as ovelhas que cometem seus crimes devem ser punidas com a mesma justiça, pois foi assim que o Cristo ensinou: julgarmos com os mesmos critérios da lei de Deus, tanto dentro como fora da Igreja. Sim, sim; não, não. Os criminosos que matam milhões em nome de uma ideologia não podem simplesmente ser perdoados por fazer os seus crimes em nome de uma justiça social, que se orgulham de realizar tais crimes. Pessoas que não chegam a confessar os seus crimes ao ouvido do padre, mas frequentam as igrejas para mostrar as ovelhas das quais querem tosquiar, que seguem as lições do Cristo. Um pedófilo que abusa de dezenas de crianças deve ser punido conforme a natureza e amplitude do seu crime; mas um corrupto que abusa de milhões de pessoas, também deve ser punido conforme a natureza e a amplitude do seu crime.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 31/12/2019 às 00h29
 
30/12/2019 00h29
DOIS PAPAS (04-MUDANÇA)

            No filme da Netflix, baseado em fatos reais, são apresentados diálogos interessantes entre o papa Bento XVI e o cardeal Jorge Bergoglio, que é importante vermos e refletirmos. Vou ter a permissão de entrar na conversa, como uma ovelha disposta a aprender com meus pastores, podendo colocar minhas opiniões e dúvidas sobre o que se está tratando. Deixo a mesma permissão aos meus leitores, e principalmente nas críticas por minhas intervenções.

            O Cardeal Jorge Bergoglio, da Argentina, continua a conversar com o papa Bento XVI em sua residência de verão, caminhando ambos pelo jardim.

            -J – Parece que não fazemos mais parte deste mundo, não pertencemos a ele, não estamos conectados.

            -B – “Uma igreja que se casa com uma era...”

            -J – “Ficará viúva na próxima era.” Eu sei. Santo Padre...

            -B – Quando era chefe dos jesuítas na Argentina, você retirou os livros marxistas da biblioteca.

            -J – E fiz seminaristas usarem batinas o tempo todo, até quando estavam trabalhando na horta, e disse que o casamento dos homossexuais era um plano do diabo.

            -B – Você se parece comigo.

            -J – Não. Eu mudei.

            -B – Você fez concessões

            -J – Não fiz concessões. Eu mudei. É bem diferente.

            -B – Mudança é compromisso.

            -J – A vida que Ele nos deu é mudança. Você é sucessor de São Pedro, e São Pedro foi casado.

            -B – Ah, obrigado pela informação, eu não fazia ideia.

            -J – Não havia o celibato até o século 12. Os anjos só foram mencionados a partir do século quinto, e de repente estão por toda parte, como pombos. Nada é estático na natureza nem no universo, nem mesmo Deus.

            -B – Deus não muda.

            -J – Muda, sim. Ele evolui. Ele se move.

            -B – E onde O encontramos, se Ele está sempre se mudando? Eu sou o caminho, a verdade e a vida. E onde O encontramos, se ele está sempre mudando?

            -J – No caminho?

O mundo está sempre mudando, evoluindo. Os caminhos por onde deve acontecer essa mudança são variados, podemos escolher com o nosso livre arbítrio. Como somos ainda muito ignorantes, a maioria das vezes estamos entrando em caminhos errados, baseados em nosso egoísmo que anula a vontade de Deus dentro de nossa consciência. Por isso a necessidade de estarmos sempre mudando, para corrigir os erros que o tempo nos faz perceber. Isso não quer dizer que Deus também tenha essa necessidade de mudança, de corrigir erros, pois por definição Deus é perfeito, não cabe erros por ignorância, como cabe a nós.

            Nesse ponto o Cardeal Jorge está equivocado. Deus não pode mudar. O que muda é nossa compreensão de suas leis. Se o mundo está mudando, cabe a igreja refletir dentro das lições cristãs, das leis do amor. Essa mudança que ocorre no mundo está coerente com a lei do amor, com a vontade de Deus? Não é porque uma maioria segue determinada tendência que eles estão corretos. A voz do povo não é a voz de Deus, lembremos a eleição que ocorreu, promovida por Pilatos, entre Jesus e Barrabás... quem venceu? Em quem aquela multidão que estava com interesses egoístas votou?

            Portanto, a mudança ou fazer concessões dentro de um mundo em transformações, deve seguir a opinião da maioria para não perder os fiéis? Ou devemos ver se essas mudanças estão coerentes com a vontade de Deus, com a lei do amor? O Cardeal Jorge confirma que baniu os livros marxistas da biblioteca, que usava a batina em todas as ocasiões, e que considerava o casamento homossexual dentro da igreja uma coisa do demônio. Mas ele diz que mudou esse comportamento, porque mudou sua forma de pensar. Usar a batina somente em alguns momentos e permitir o casamento homossexual dentro da igreja, agora pode ser correto? Bem, essas duas atitudes podem ser corrigidas, se existe a compreensão que a igreja está sendo muito severa, pois isso depende da aceitação dos membros da igreja. Mas, o marxismo que antes ele condenava como errado agora é uma coisa certa aos olhos de Deus? Esta é uma ideologia que surgiu fora da igreja e que assumiu métodos contrários ao cristianismo. Será que o marxismo de ontem mudou a sua forma de alcançar o poder e mantê-lo? Será que se aproximou do ideal cristão na sua tática e estratégia? Os países que se tornaram comunistas vivem uma sociedade mais próxima do Reino de Deus ou mais distante? São essas reflexões que merecem ser feitas por um pastor da igreja católica apostólica romana, pois se notar que a influência comunista consegue conquistar a maioria dos fiéis, o pastor deve se colocar sob o exemplo do Bom Pastor, e seguir o exemplo dos primeiros cristãos, que não se importavam com os apupos da maioria e entravam cantando nos circos romanos para serem trucidados pelas feras ou queimados vivos.

            Hoje vivemos este drama, o rebanho de ovelhas segue escravizadas, tosquiadas pelos lobos, hipnotizadas pelos seus uivos camaleônicos repetitivos e a única esperança é que o seu Pastor não se torne também hipnotizado. Por isso considero importante a reflexão do Cardeal Jorge sobre isso, pois ele irá se tornar o Pastor que as ovelhas esperam para seguir as lições do Cristo.  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 30/12/2019 às 00h29
 
29/12/2019 00h28
DOIS PAPAS (03-CORRUPÇÃO)

            No filme da Netflix, baseado em fatos reais, são apresentados diálogos interessantes entre o papa Bento XVI e o cardeal Jorge Bergoglio, que é importante vermos e refletirmos. Vou ter a permissão de entrar na conversa, como uma ovelha disposta a aprender com meus pastores, podendo colocar minhas opiniões e dúvidas sobre o que se está tratando. Deixo a mesma permissão aos meus leitores, e principalmente nas críticas por minhas intervenções.

            O Cardeal Jorge Bergoglio, da Argentina, continua a conversar com o papa Bento XVI em sua residência de verão, caminhando ambos pelo jardim.

            -B – Tem respostas prá tudo, não tem? Tenho que andar... vamos! Você é esperto, muito esperto. Perceba meu dilema. Você é eloquente e popular. Se eu permitir que se aposente, pareceria um protesto. A Igreja está sendo atacada, por que abandoná-la aos inimigos? Diga-me, o pastor foge quando os lobos aparecem?

            -J – Não estou fugindo. Eu ficarei numa paróquia e serei o pastor dessa gente.

            -B – Não está entendendo. Você quase se tornou papa. Sua aposentadoria soará como uma crítica. O jeito que vive é uma crítica. Seus sapatos são uma crítica.

            -J – Não gosta dos meus sapatos?

            -B – Não faça piada com tudo que digo, por favor. É desonesto e cínico. Tenha respeito e mostre a sua raiva. Acha que a Igreja está falhando?

            -J – Estamos perdendo fiéis.

            -B – E isso é culpa da Igreja? E não da cultura, do relativismo e da permissividade? Onde aceitam tudo, ou como dizem? Do vale tudo? Tudo é permitido? Pois é. Disse que a Igreja é narcisista, ou foi mal interpretado?

            -J – Não, eu disse isso. Parece que sua Igreja...

            -B – Minha Igreja?

            -J – Nossa Igreja... está indo por um caminho com o qual não consigo compactuar, ou nem mesmo está indo para lugar algum, e nesse momento que pede mudança. Santo Padre, não quero mais ser um vendedor.

            -B – Vendedor?

            -J – É uma metáfora. Vendedor de um produto.

            -B – Produto?

            -J – Vendedor de um produto que... não consigo mais endossar.

            -B – Em que não acredita?

            Crítica forte do Papa Bento à tendência irônica do Cardeal Jorge. Desonesto e cínico. Realmente, o Papa se mostrou muito incomodado, e demonstrou.

            O Cardeal Jorge entra em outra linha de raciocínio muito complicado para a liderança da Igreja, principalmente para os princípios cristãos: a perda de fiéis! O Papa ver a mudança nos costumes, da cultura, do relativismo, da permissividade, como o motivo. O Cardeal imagina que a Igreja está indo por um caminho que não pode compactuar. Mas qual é esse caminho? O caminho dos dogmas da Igreja? O caminho das iniquidades que ocorrem entre os membros da própria Igreja? Para onde o Cardeal quer que a Igreja caminhe? Para juntar-se aos costumes modernos? Ao relativismo e permissividade?

            Acredito que a Igreja deva ser firme na manutenção dos princípios cristãos e qualquer mudança na cultura, nos costumes, que venham afrontar esses princípios devem ser combatidos e não ser cooptados por eles. Este é um ponto da máxima importância! Não devemos ficar fascinado por uma ideologia que tenta modificar os costumes somente com o seu encanto superficial, de ir em defesa dos pobres. Devemos ser simples como as pombas, mas prudentes como as serpentes, pois senão iremos fazer o jogo do inimigo e ficar muito afastado das lições do Cristo.

            Ações de corrupção são graves pecados. São crimes que atingem milhões de pessoas. Algumas vezes focamos num pedófilo que usa batina e deixamos despercebido um corrupto que usa gravata e que tem milhares de comparsas ao seu redor e além. Observamos o argueiro e não observamos a trave em nossos olhos. A corrupção, presente em todos os espaços da sociedade, devem ser observados, denunciados e seus agentes punidos de acordo com sua gravidade. Mesmo que isso corte a nossa carne, pois muitas vezes alguém próximo, carnal ou espiritual, estão se beneficiando, direta ou indiretamente dos frutos podres da corrupção, sem perceberem o mau cheiro que termina por entrar na sua essência.

            Eis o maior cuidado que os gestores dos princípios cristãos deva ter a maior preocupação, e isso parece não acontecer em nenhuma parte do mundo, inclusive no Vaticano.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 29/12/2019 às 00h28
 
28/12/2019 00h28
DOIS PAPAS (02-SACRAMENTOS)

            No filme da Netflix, baseado em fatos reais, são apresentados diálogos interessantes entre o papa Bento XVI e o cardeal Jorge Bergoglio, que é importante vermos e refletirmos. Vou ter a permissão de entrar na conversa, como uma ovelha disposta a aprender com meus pastores, podendo colocar minhas opiniões e dúvidas sobre o que se está tratando. Deixo a mesma permissão aos meus leitores, e principalmente nas críticas por minhas intervenções.

            O Cardeal Jorge Bergoglio, da Argentina, continua a conversar com o papa Bento XVI em sua residência de verão, caminhando ambos pelo jardim.

            -B – E sobre casamento para padres...

            -J – Fui mal interpretado. O que eu disse é que o celibato pode ser um dom, mas também pode ser uma maldição.

            -B – Sobre a homossexualidade?

            -J – Eu só disse...

            -B – Foi mal interpretado de novo?

            -J – Tirado do contexto.

            -B – Posso sugerir que diga aos jornais o oposto do que pensa, assim as suas chances de não ser mal interpretado melhoram. Acho que costuma dar o Sacramento a quem não deve comungar? Aos divorciados, por exemplo.

            -J – Eu acho que a comunhão não é uma recompensa para os virtuosos, mas alimento para os famintos.

            -B – Ah, então o que importa é no que você acredita, e não o que a Igreja ensina há centenas de anos?

            -J – Não, não... Marcos, capítulo dois, versículo 17: “Eu vim para chamar os pecadores”, como a Igreja ensina há milhares de anos.

            -B – Mas se não criarmos limites...

            -J – Ou muros para separar.

            -B – Você fala de muros como se fossem ruins. As casas são construídas com muros fortes.

            -J – E Jesus construiu muros? Sua face é a misericórdia. Quanto maior o pecador, maior a acolhida. O perdão é a misericórdia que explode os muros.

            Sobre o celibato, acredito que o Cardeal Jorge tenha razão; alguns têm a vocação, outros encaram como obrigação. Nestes sempre existirá uma brecha para a satisfação dos impulsos sexuais que estão associados ao casamento, união conjugal.

            Sobre a homossexualidade, acredito que o Papa Bento tenha a razão. Se a Igreja determinou uma conduta para o casamento entre heterossexuais, e não tenha colocado a possibilidade de fazer o mesmo com os homossexuais, por que isso não deva ser respeitado? A posição da igreja? Isso não quer dizer que os homossexuais sejam desrespeitados, mas a instituição “Igreja Católica” tem essa conduta muito forte. Quebra-la de forma abrupta significa um forte impacto no ideal cristão católico, que pode até acontecer, mas com o tempo suficiente para a absorção da ideia e sua ressignificação da instituição frente o livro básico – a Bíblia.

            Sobre dar o Sacramento a quem não deve comungar, mais uma vez fico ao lado do Papa Bento. Eu acho sim, que o Sacramento que a Igreja adota como dogma, quem dela participa deve se capacitar para o receber. Quem dela não participa nem segue seus dogmas, como eu por exemplo, para que danado irei atrás de um Sacramento que não está no meu ideal? Que é praticar o bem e seguir a Lei do Amor conforme Cristo ensinou e que tudo isso surge como Lei na minha consciência? Não tenho necessidade desse Sacramento, apesar de ter o maior respeito de quem dele necessita e faz todo o esforço para se tornar virtuoso segundo os critérios da Igreja, para o merecer e o receber. Por isso acho injusto, os iníquos os receberem somente por dizerem da boca para fora que precisam dele. E as virtudes que eles não estão praticando? Somente o arrependimento que professam e que pode até ser uma mentira, é suficiente?  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 28/12/2019 às 00h28
 
27/12/2019 00h25
DOIS PAPAS (01-SIMPLICIDADE)

            No filme da Netflix, baseado em fatos reais, são apresentados diálogos interessantes entre o papa Bento XVI e o cardeal Jorge Bergoglio, que é importante vermos e refletirmos. Vou ter a permissão de entrar na conversa, como uma ovelha disposta a aprender com meus pastores, podendo colocar minhas opiniões e dúvidas sobre o que se está tratando. Deixo a mesma permissão aos meus leitores, e principalmente nas críticas as minhas intervenções.

            O Cardeal Jorge Bergoglio, da Argentina, é convidado para visitar o papa Bento XVI em sua residência de verão.

            -B – Bom dia

            -J – Santidade.

            -B – A última vez que nos encontramos falamos em latim.

            -J – Foi um encontro muito breve. Nunca fui tão estudioso quanto o senhor. Por favor, latim não.

            -B – O latim é sempre útil, especialmente quando preciso dar más notícias aos cardeais. Somente 20% ficam bravos, porque só 20% entendem o que digo. Me desculpe pela espera, sei que é muito pontual. Paolo, meu último assistente, me faria chegar na hora. Ele era perfeito.

            -J – Mas agora está preso.

            -B – É.

            -J – Prefere andar?

            -B – Sim, mas não seria inteligente. Seu cadarço está desamarrado. Me escreveu pedindo para se aposentar.

            -J – Isso. Tenho os papéis aqui.

            -B – Cardeais só se aposentam depois dos 75 anos. Está doente?

            -J – Tenho problema nos pulmões.

            -B – Sei, mas você já nasceu assim, e isso nunca foi um problema. Está em sua ficha.

            -J – Ficha?

            -B – Aqui temos fichas de todos, não precisa se sentir lisonjeado.

            -J – Não, eu... não estou doente.

            -B – Na verdade, você é bem ativo. Você anda por toda parte, às vezes de bicicleta.

            -J – E faço tango uma vez por semana.

            -B – A dança?

            -J – Eu sou argentino. Tango e futebol são obrigatórios.

            -B – É claro. E você dança com alguém?

            -J – Pareceria tolo dançar sozinho, então, pela dignidade do meu cargo, eu danço com alguém.

            -B – Claro, que bom... então... você é um dos meus maiores críticos, e há muita competição por esse título.

            -J – Jamais falei contra o senhor.

            -B – Não diretamente, mas se recusou a morar no palácio oficial dos cardeais arcebispos.

            -J – É grande demais.

            -B – Bem, por ser tão puro e simples, isso faz parecer que não somos suficientemente simples.

            -J – Alguém conseguiria viver de forma suficientemente simples?

                        Essa é uma questão complicada do ponto de vista prático, pois mistura a cultura humana cheia de necessidades egoístas, a pompa, poder e luxo, com o ideal espiritual da espiritualidade, a simplicidade. Seria possível a simplicidade dos primeiros discípulos do Cristo terem levado o Evangelho a todas as partes do mundo, sem um aparato de pompa e poder? Também acho estranho tanto luxo e riqueza nas igrejas católicas e as ovelhas com tantas necessidades. Eu acredito que não teria oportunidade de conhecer o Evangelho com tanta facilidade, se não fosse o poder da Igreja em colocar na pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte essa oportunidade, inclusive com uma escola administrada pela igreja, cujos alunos tinham que pagar mensalidade.

            O que pode ser observado é que esse poder é da Igreja e não das pessoas que a administram. Pode usar até alguns paramentos para lembrar a responsabilidade e a dignidade do cargo que exerce, mas nunca incorporar esses valores como bens pessoais.

            Fazendo assim, a pompa da Igreja serve para sua disseminação pelo mundo e seus gestores não se tornariam contaminado pelo poder, pelo contrário, o usariam para dar força à disseminação do Evangelho.

            A queixa do papa Bento sobre o comportamento do Cardeal Jorge é compreensível. Ele fica na berlinda como uma pessoa ostensiva enquanto outro se mostra tão simples e popular. Lembra Francisco de Assis, na sua simplicidade e pobreza e missão de levantar moralmente a Igreja do Cristo. Será que Francisco de Assis teria condições de liderar a Igreja da forma que se encontra hoje? Lembrar que a sua própria ordem não seguiu as orientações de pobreza que ele pregava e apenas pessoas bem vocacionadas conseguem ir pelo mesmo caminho. E, apesar de tudo, a ordem franciscana não acabou até hoje com a pompa da Igreja, e até com pecados mais severos.

            O atual papa Francisco, com toda seu esforço e boas intenções de seguir a simplicidade, não consegue deixar de lado a pompa, de vestir os paramentos da fé e usar os recursos modernos de locomoção e segurança, que envolvem milhares de reais que poderiam ser muito úteis a causa da pobreza.

            Mas tudo isso é entendido e o próprio Jesus já advertia, quando repreendeu Judas por ele querer que a mulher pecadora vendesse o óleo caríssimo com o qual ungia o Mestre, para entregar aos pobres. O Mestre disse que a mulher estava correta, pois ela só o teria uma vez, enquanto os pobres sempre existirão.

            Assim também é a Igreja. Se fossemos distribuir sua riqueza com os pobres e acabar com sua pompa e poder, a Igreja não mais existiria como a vemos hoje, com o seu poder de evangelização, e os pobres continuariam a existir.  

            Teremos que ter muita sensibilidade, para que uma ação que seja correta, como a simplicidade, não coloque em dificuldades outras pessoas que procuram seguir as lições do Cristo por outras vertentes.  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 27/12/2019 às 00h25
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