Quando olho na cruz aquele homem
Machucado, sofrido, humilhado
Coberto de sangue e suor
Descoberto de roupa, quase nu
Pergunto, o que houve? O que é isso?
Que tal crime foi por ele cometido
Qual barbárie foi por ele conduzida
Para a justiça punir com tão dureza?
Logo alguém me explica paciente
Esse homem não queria ter riqueza
Curava ou ensinava qualquer um
E amava sem querer nada em troca
Não entendi porque isso era crime
Não entendi porque isso ele fazia
Seria louco? Pensei, mas era douto
Meditei... meditei... e encuquei!
Ao ler no Evangelho suas obras
Entendi o que antes não sabia
Foi o Pai que pediu pra ele vir
E ensinar como era o Seu reino
Hoje que sinto meu peito construindo
Este reino que Jesus nos ensinou
Chego enfim a tardia conclusão
Foi por mim que também ele sofreu
E como posso agradecer tal benefício
Neste dia que festeja o seu nascer?
Amar a todos que de mim se aproxima
Como a ele fosse dado o meu amor
Cuidado quanto as queixas constantes das nossas dores. Se desejamos a cura espiritual devemos aprender a não falar excessivamente de nós mesmos, nem comentar a própria dor, pois lamentação é enfermidade mental de tratamento difícil. Devemos disciplinar nossa língua, pois quanto mais falamos das coisas dolorosas que nos aflige, mais duros se formarão os laços que nos prenderão a lembranças mesquinhas.
Devemos ter a família nuclear como sagrada construção, mas sem esquecer que ela é apenas uma parcela da família universal que está sob a direção divina.
O Espírito Santo está sempre pronto para colaborar na resolução de nossas dificuldades atuais e na construção do futuro, mas não dispõe de tempo para ouvir lamentações.
Todos temos o compromisso com o trabalho árduo como bênção de realização. Se desejamos avançar na evolução espiritual, temos que aprender a pensar com justeza. O Pai já nos proporcionou boas situações, a família que precisamos, uma base monetária suficiente, recursos lícitos para estender os benefícios aos entes amados, e aos mais próximos. A dor constitui possibilidade de enriquecer a alma e a luta é caminho divino para a realização espiritual. As almas fracas, ante o serviço, se queixam, as fortes o abraçam como patrimônio sagrado para o caminho da perfeição.
A saudade é o amor que fica, é sentimento justo e sublime, mas o pranto de desesperação não edifica o bem. Se amamos a família adquiramos bom ânimo, para lhe ser útil. Entendamos que dentro da família existem problemas, como existem dentro de nossa individualidade. Até mesmo os pais, pessoas mais próximas de nós, têm os seus problemas e que muitas vezes nos atingem. Como devemos reagir? Com atitudes de amor ou de ódio? Queremos a ajuda de quem? Das trevas ou da luz?
Se aprendemos que o nosso Pai é Luz e que sua essência é o amor, não podemos sair desse caminho se alguém ao nosso lado ou à distância desviou e cometeu os seus pecados. E para essa pessoa, quanto mais próxima de nós, mais merece o nosso perdão, compreensão das suas fraquezas e objetivo de nossas orações. Quando nos dirigimos ao Criador de coração aberto, sem ódio, sem sentimentos de vingança, mas com compaixão e fraternidade, pela oração sempre receberemos a ajuda que precisamos, para nós e para quem se mostre merecedor.
Agradecemos neste dia, véspera do aniversário do nosso Mestre Jesus, por essas lições que Ele nos deixou, mesmo com todo sofrimento que nossa ignorância fez Ele passar, mas nunca nos abandonou, sempre nos perdoou... sigamos o Seu exemplo, como bons alunos que queremos ser.
Após a queda do governo czarista, a Rússia mergulhou numa guerra civil, entre os mencheviques e os bolcheviques, estando Trotsky entre os bolchevistas liderados por Lenin, que visavam a implantação do socialismo
Rússia soviética, 1918 – Território controlado pelos bolcheviques.
Telegrama sendo rodado... o presidente do Conselho do Comissariado do Povo V. Lenin. (oficial leva o telegrama para a cabine de Trotsky). Bate na porta.
- T. Entre. (o oficial entrega o telegrama e Trotsky que continua a leitura... a ordem de retirada... é um desprezo claro pelo...) Isso é tudo?
- O. As tropas se retiraram para Sviyazhsk, e os relatórios dizem que estão em péssimas condições.
- T. As condições das tropas é problema meu, não seu. Pode se retirar, Oficial Sermuks.
- O. Sim, senhor.
(Reminiscências de Trotsky, no México: eu me lembro de 1918 muito bem. Sofremos uma derrota atrás da outra. As medidas corretivas habituais não ajudaram. As tropas não estavam se retirando, estavam fugindo.)
O cenário muda para o acampamento dos soldados. Um deles toma a palavra:
- Companheiros, venham aqui! Escutem! Aproximem-se! Porque nós, os russos, deveríamos lutar contra outros russos? Dizem que os dias dos soviéticos estão contados. Deixem que os bolcheviques lutem contra Kappel! Não nós! Ficaremos só olhando! E se não nos derem um trem, tomaremos um! - Tomamos um! – Tomem isso! – Vamos para casa! – Isso! (todos se manifestam favoravelmente ao colega)
A cena se volta para a chegada do trem que conduz Trotsky, com as bandeiras vermelhas se confundido com o grosso rolo de fumaça ao bailar do vento. Os soldados assistem atônitos a chegada da imponente máquina, os soldados bem uniformizados e disciplinados, formando um corredor por onde Trotsky desce bem vestido e sério, que sobe numa mesa de madeira próxima e começa a falar.
- Soldados! Combatentes do Exército Vermelho! Há menos de um ano, todos nós, lado a lado, acabamos com o jugo da tirania, desigualdade de classes e exploração do homem comum. Mas ainda há aqueles que lutam para nos escravizar de novo. Eles estão ali, daquele lado do front. Proprietários de terra, industriais. O Exército Branco, eles não gostam da liberdade que os bolcheviques deram aos operários e aos camponeses. A vocês! Para aqueles que, até ontem, trabalhavam três turnos em troca de uma miséria, e hoje pegam em armas e dizem: “Não!” Não abriremos mão da nossa liberdade! Não! Não seremos escravizados de novo! Eu sei que cada um de vocês está pronto para servir à causa da revolução. Pronto para dar sua vida por ela. Sua mão, irmão. Venha. Pode vir. Aqui, não há diferença entre nós dois. Não há nada que possa ser meu que não possa ser dele. Nada! (Puxa o soldado para ficar sobre a mesa, ao seu lado, e de forma dramática tira o relógio do pulso e mostra para todos a entrega do objeto ao surpreso soldado) – Pegue.
A cena recua no tempo. Trotsky está dentro do trem com Larisa. Ele pega uma caixa cheia de relógios de pulso. Larisa pergunta: - Desde quando deixou de usar relógio de bolso? Trotsky responde: - Não é para mim.
Volta a cena para o discurso improvisado de Trotsky.
- No mundo que estamos construindo todos os bens serão de todos.
A plateia se empolga, jogam chapéus para cima e aplaudem...
- Viva!
- Viva!
- Mas para alcançarmos a vitória o nosso inimigo precisa nos temer. Não podemos nem pensar em voltar, e como ele não pode pensar nisso quando abrimos mão de uma cidade atrás da outra? Se nossos soldados da revolução estão tomados pelo pânico e pelo medo? Ontem, soldados do 2º Regimento de Petrogrado abandonaram seus postos e fugiram. Onde está seu comandante, e comissário?
Se apresentam os oficiais citados, que recebem ordens:
- Comandante Regimental Gneushev.
- Comissário Regimental Panteleev.
-T. Enfileire os soldados, conte até dez e selecione os décimos.
Enquanto o oficial cumpre a ordem e seleciona aqueles cuja contagem cai no número dez, outro oficial tenta argumentar:
- Sr. Trotsky, são trabalhadores. Mobilizados de uma gráfica. Só viram rifles há uma semana.
Enquanto a contagem continua, uma voz ecoa na sua consciência de Trotsky, associada a sua companheira de viagem.
“Não se preocupe, muitos dos seus contemporâneos não o compreenderão. Vão julgá-lo, chama-lo de Judas. Mas o futuro lhe dará razão. E lhe aclamará. Dizimação.”
-T. Agora junte-se a eles. Companheiro Comissário, junte-se a eles também.
Todos, assustados, ficam perfilados frente ao acusador.
-T. Por traição desonrosa contra a Rússia Soviética, o tribunal revolucionário sentencia os desertores do 2º Regimento de Petrogrado... – Mirar! ... seu Comandante Gneushev e seu Comissário Panteleev à pena de morte por fuzilamento. – Cumpram a sentença.
Todos os citados caem ao som surdo do fuzilamento.
Este evento é um ponto esclarecedor de nossas reflexões: existia um clima de injustiça, de exploração dos trabalhadores que viviam como animais para garantir a fortuna e riqueza de seus algozes, quer sejam ligados ao czarismo, quer sejam ligados ao capitalismo para onde estavam migrando as relações feudais do governo czarista. O movimento bolchevista idealizava acabar com essa situação, implantar o modelo socialista e logo em seguida o comunista. Mas o movimento capitalista que acabara de depor o regime czarista, se oponha com armas a essa modificação. Então, era justo que os bolchevistas também pegassem em armas e conquistassem o apoio da população para se livrar desse regime de escravidão. Até justificaria o comportamento dramático, ilusionista de Trotsky, com a cena do relógio de pulso, para virar a opinião pública em seu favor. A partir daí justificaria atitudes fortes, de condenar sumariamente ao fuzilamento alguns dos desertores para impor o respeito e o medo entre os restantes, e se disporem a atacarem as cidades resistentes até a morte. Pode ser cruel, a morte de pessoas simplórias, que haviam pego em armas pela primeira vez, que se encontravam mal treinados e amedrontados, para serem deparados com um terror maior e mais próximo deles: o fuzilamento imediato. Seria isso ou a continuação do regime escravista, agora sob a bandeira do capitalismo. Para se evitar um mal maior, a manutenção da escravidão do povo ao capitalismo, deveria ser promovido o mal menor, a morte de alguns como inocentes úteis para se implantar a motivação do medo e se alcançar a vitória.
Mas, como pensavam os mencheviques, opositores dos bolcheviques? Tiraram por meio da revolução o governo czarista, feudal, e implantaram o modelo capitalista, com o propósito de mais adiante atingirem o socialismo e em seguida o comunismo. Porém, para atender os interesses capitalistas, a Rússia devia permanecer dentro da 1ª Guerra mundial, sem condições e sem o povo querer. Esse foi o fator decisivo para que revolução russa caminhasse para os interesses bolchevistas, com a implantação imediata do socialismo e a retirada imediata da Rússia da guerra.
Portanto, as atitudes rudes, firmes e perversas de Trotsky, encontravam respaldo popular e tinham um objetivo libertário, e dessa forma se aproximava mais do pensamento cristão do que a eterna escravidão a um regime financeiro e elitista.
Até aqui a minha reflexão acompanha com positividade os acontecimentos da revolução russa, procurando sempre os fatos reais para montar uma narrativa mais próxima da verdade. Eu poderia até apoiar a ideologia menchevista de construir inicialmente uma sociedade capitalista, para o preparo menos radical de uma sociedade socialista/comunista, se não tivesse uma guerra no meio, inviabilizando essa estratégia.
A cena avança no tempo e vamos encontrar Trotsky refugiado no México, em plena festa do Dia dos Mortos, meio desorientado, chegou a cair na rua. Sua esposa vai em seu socorro.
México, maio de 1940.
- Leon, estou aqui... esqueceu de tomar os seus remédios?
- Está tudo bem, vamos. O calor é sufocante! Não consigo me acostumar. Boa tarde, Sylvia.
- Oi, Leon.
- É uma tradição muito estranha.
- S. É uma tradição mexicana antiga. Eles acreditam que é uma homenagem aos mortos. - Frank! (acena para um jovem que acaba de chegar, mascarado, com uma máscara da festividade da festa dos mortos). - Meu noivo, Frank Jacson. (jornalista canadense, 1913-1978) - Falei sobre ele.
- T. Sim. Um jovem bastante insistente.
- F. Senhoras.
- T. Jacson, o que não entendeu da nossa conversa ao telefone? (Trotsky fala de cabeça baixa enquanto Jacson estende a mão, que não é correspondida). - Eu deixei bem claro: sem entrevistas.
- F. Sua resposta foi bem clara, mas posso fazê-lo mudar de ideia.
- T. Nem minha mulher consegue fazer isso.
- F. Gostaria de agradecê-lo, Sr. Trotsky. Seu livro salvou minha vida na Espanha. Como pode ver, essa lasca era para mim. (mostra um livro que tem na capa incrustada uma lasca de ferro).
- T. Por que trouxe esse livro? Você é stalinista. Pensou que eu não faria o meu dever de casa?
- F. Eu respeito Stalin por ser um grande estadista, mas não significa...
- T. Stalin é medíocre. Um grande zero à esquerda.
- F. Eu não só respeito Stalin. Eu o acho incrível. Ele é um grande homem, um visionário. E o seu artigo patético suja o bom nome dele. Ele é chamado de sanguinário por lutar contra inimigos da revolução, enquanto você enviou milhões para a morte, não seus opositores ideológicos, mas pessoas leigas na política.
- T. Eu condenei muitos à morte: inimigos ou meus soldados. Mas um detalhe me diferencia de Koba (nome íntimo para Stalin).
- F. É mesmo? Qual?
- T. Ele não se importa com o ideal. Ele alimenta suas fraquezas se escondendo atrás da ideologia. Paranoia, ambição, ganância. No poder ele continuou sendo ele mesmo, enquanto eu precisei mudar. Para desaparecer... intencionalmente. Eu fiz isso. Pelo bem do ideal maior.
Com este diálogo observamos numa espécie de “avant-premièr” o que sucederia com os revolucionários russos, que tanto bem queriam trazer à humanidade e que tantos assassinatos produziram... seriam necessários? A procura desta resposta é o que vai nortear essa série de textos sobre Trotsky.
Para procurar entender o eterno dilema humano da busca pela justiça e a sempre queda na injustiça, no autoritarismo, no assassinato, corrupção, crimes de todos os tipos, irei avaliar a Revolução Russa que jogou no mundo a perspectiva real da prática do comunismo. Iremos fazer essa reflexão, eu e meus leitores, do ponto de vista de Trotsky, um dos líderes mais emblemáticos da Revolução, sob a ótica dramática e romanceada da série produzida pela Netflix, intitulada “Trotsky”. Iremos fazer reflexões a cada momento do comportamento humano, tanto na mente individual de pessoas da elite, quanto no pensamento coletivo das massas sacrificadas, espoliadas, escravizadas...
Começa o primeiro capítulo da série com Trotsky dentro de um trem onde ele viaja com a poetisa Larissa, e ela recita uma poesia.
Está por toda parte, no fogo, na escuridão, tão próxima e inesperada, no cavalo de um hussardo húngaro ou na arma de um atirador tirolês. De Nikolay. (Larisa Reisner, revolucionária, poetisa, jornalista - 1895-1926)
- L. Sabe sobre o que é?
- T. Não faço ideia.
- L. É sobre a morte. Dizem que Deus dá a cada homem uma vida tão longa quanto a linha que seria necessária para envolver seu coração.
- T. Ouvi dizer que Deus não existe.
- L. Eu disse que você era ganancioso.
-T. Larisa, não estou interessado na sua poesia. Kappel tomou Simbirsk e tomará Kazan em breve. Ele está acabando com nossas tropas.
-L. Já matou alguém com isto? (mostra um revólver)
-T. Eu já disse milhares de vezes que minha luta é diferente.
-L. Sim, você é o manifesto em pessoa. Suas roupas, seus gestos... seu jeito de falar. E até seus olhos ficam lindos no seu rosto bronzeado. Mas isso não é um comício. É guerra.
-T. E daí?
-L. Sob ataque as pessoas não pensam em manifestos. Você apela para a mente, mas instintos são mais fortes. O que pode ser mais forte e assustador que a sensação de morte iminente? (enquanto fala, Larisa tira a roupa, fica despida. Ele segue o exemplo, também tira a roupa e partem para o sexo)
Onde a escuridão de um poder incontrolável está fervendo, grunhindo, e gritando, a escuridão de um poder desenfreado, a asa do Arcanjo paira sobre ela. Vários caminhos levam à Roma, que está em ruínas. Mas se Roma cair, e uivar com um grito da multidão, o Anjo será benevolente. O demônio não terá misericórdia. (enquanto a poesia é recitada, eles fazem sexo ao som ritmado da marcha do trem)
Essa primeira parte coloca um confronto interessante entre o ideal e o instintivo. A poetisa faz crítica ao excessivo idealismo de Trotsky, que as pessoas em momentos críticos se deixam levar mais pelos instintos que pelos ideais. E faz provar sua tese, tira sua roupa de forma sensual, fazendo com que Trotsky deixe por momentos o seu ideal e se envolva com ela no ato sexual... instinto vencendo o ideal. Trotsky, aparentemente, nem se apercebeu disso.
Dentro da poesia também percebemos um dado interessante: “Deus dá a cada homem uma vida tão longa quanto a linha que seria necessária para envolver o seu coração”. Isso quer dizer que, durante a vida, vamos envolvendo nosso coração com os pensamentos, ideológicos ou de sobrevivência, e que isso nos deixa cada vez mais envolvidos naquilo que pensamos e fazemos até o estágio de estarmos totalmente enovelados e esperando a morte, sem condições de desenovelar o coração de algum erro cometido, se for o caso.