Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
23/12/2018 02h01
TROTSKY (03) – NA REVOLUÇÃO CIVIL

               Após a queda do governo czarista, a Rússia mergulhou numa guerra civil, entre os mencheviques e os bolcheviques, estando Trotsky entre os bolchevistas liderados por Lenin, que visavam a implantação do socialismo

               Rússia soviética, 1918 – Território controlado pelos bolcheviques.

               Telegrama sendo rodado... o presidente do Conselho do Comissariado do Povo V. Lenin. (oficial leva o telegrama para a cabine de Trotsky). Bate na porta.

               - T. Entre. (o oficial entrega o telegrama e Trotsky que continua a leitura... a ordem de retirada... é um desprezo claro pelo...) Isso é tudo?

               - O. As tropas se retiraram para Sviyazhsk, e os relatórios dizem que estão em péssimas condições.

               - T. As condições das tropas é problema meu, não seu. Pode se retirar, Oficial Sermuks.

               - O. Sim, senhor.

               (Reminiscências de Trotsky, no México: eu me lembro de 1918 muito bem. Sofremos uma derrota atrás da outra. As medidas corretivas habituais não ajudaram. As tropas não estavam se retirando, estavam fugindo.)

               O cenário muda para o acampamento dos soldados. Um deles toma a palavra:

               - Companheiros, venham aqui! Escutem! Aproximem-se! Porque nós, os russos, deveríamos lutar contra outros russos? Dizem que os dias dos soviéticos estão contados. Deixem que os bolcheviques lutem contra Kappel! Não nós! Ficaremos só olhando! E se não nos derem um trem, tomaremos um! - Tomamos um! – Tomem isso! – Vamos para casa! – Isso! (todos se manifestam favoravelmente ao colega)

               A cena se volta para a chegada do trem que conduz Trotsky, com as bandeiras vermelhas se confundido com o grosso rolo de fumaça ao bailar do vento. Os soldados assistem atônitos a chegada da imponente máquina, os soldados bem uniformizados e disciplinados, formando um corredor por onde Trotsky desce bem vestido e sério, que sobe numa mesa de madeira próxima e começa a falar.

               - Soldados! Combatentes do Exército Vermelho! Há menos de um ano, todos nós, lado a lado, acabamos com o jugo da tirania, desigualdade de classes e exploração do homem comum. Mas ainda há aqueles que lutam para nos escravizar de novo. Eles estão ali, daquele lado do front. Proprietários de terra, industriais. O Exército Branco, eles não gostam da liberdade que os bolcheviques deram aos operários e aos camponeses. A vocês! Para aqueles que, até ontem, trabalhavam três turnos em troca de uma miséria, e hoje pegam em armas e dizem: “Não!” Não abriremos mão da nossa liberdade! Não! Não seremos escravizados de novo! Eu sei que cada um de vocês está pronto para servir à causa da revolução. Pronto para dar sua vida por ela. Sua mão, irmão. Venha. Pode vir. Aqui, não há diferença entre nós dois. Não há nada que possa ser meu que não possa ser dele. Nada! (Puxa o soldado para ficar sobre a mesa, ao seu lado, e de forma dramática tira o relógio do pulso e mostra para todos a entrega do objeto ao surpreso soldado) – Pegue.

               A cena recua no tempo. Trotsky está dentro do trem com Larisa. Ele pega uma caixa cheia de relógios de pulso. Larisa pergunta: - Desde quando deixou de usar relógio de bolso? Trotsky responde: - Não é para mim.

               Volta a cena para o discurso improvisado de Trotsky.

               - No mundo que estamos construindo todos os bens serão de todos.

               A plateia se empolga, jogam chapéus para cima e aplaudem...

               - Viva!

               - Viva!

               - Mas para alcançarmos a vitória o nosso inimigo precisa nos temer. Não podemos nem pensar em voltar, e como ele não pode pensar nisso quando abrimos mão de uma cidade atrás da outra? Se nossos soldados da revolução estão tomados pelo pânico e pelo medo? Ontem, soldados do 2º Regimento de Petrogrado abandonaram seus postos e fugiram. Onde está seu comandante, e comissário?

               Se apresentam os oficiais citados, que recebem ordens:

               - Comandante Regimental Gneushev.

               - Comissário Regimental Panteleev.

               -T. Enfileire os soldados, conte até dez e selecione os décimos.

               Enquanto o oficial cumpre a ordem e seleciona aqueles cuja contagem cai no número dez, outro oficial tenta argumentar:

               - Sr. Trotsky, são trabalhadores. Mobilizados de uma gráfica. Só viram rifles há uma semana.

               Enquanto a contagem continua, uma voz ecoa na sua consciência de Trotsky, associada a sua companheira de viagem.

               “Não se preocupe, muitos dos seus contemporâneos não o compreenderão. Vão julgá-lo, chama-lo de Judas. Mas o futuro lhe dará razão. E lhe aclamará. Dizimação.”

               -T. Agora junte-se a eles. Companheiro Comissário, junte-se a eles também.

               Todos, assustados, ficam perfilados frente ao acusador.

               -T. Por traição desonrosa contra a Rússia Soviética, o tribunal revolucionário sentencia os desertores do 2º Regimento de Petrogrado... – Mirar! ... seu Comandante Gneushev e seu Comissário Panteleev à pena de morte por fuzilamento. – Cumpram a sentença.

               Todos os citados caem ao som surdo do fuzilamento.

               Este evento é um ponto esclarecedor de nossas reflexões: existia um clima de injustiça, de exploração dos trabalhadores que viviam como animais para garantir a fortuna e riqueza de seus algozes, quer sejam ligados ao czarismo, quer sejam ligados ao capitalismo para onde estavam migrando as relações feudais do governo czarista. O movimento bolchevista idealizava acabar com essa situação, implantar o modelo socialista e logo em seguida o comunista. Mas o movimento capitalista que acabara de depor o regime czarista, se oponha com armas a essa modificação. Então, era justo que os bolchevistas também pegassem em armas e conquistassem o apoio da população para se livrar desse regime de escravidão. Até justificaria o comportamento dramático, ilusionista de Trotsky, com a cena do relógio de pulso, para virar a opinião pública em seu favor. A partir daí justificaria atitudes fortes, de condenar sumariamente ao fuzilamento alguns dos desertores para impor o respeito e o medo entre os restantes, e se disporem a atacarem as cidades resistentes até a morte. Pode ser cruel, a morte de pessoas simplórias, que haviam pego em armas pela primeira vez, que se encontravam mal treinados e amedrontados, para serem deparados com um terror maior e mais próximo deles: o fuzilamento imediato. Seria isso ou a continuação do regime escravista, agora sob a bandeira do capitalismo. Para se evitar um mal maior, a manutenção da escravidão do povo ao capitalismo, deveria ser promovido o mal menor, a morte de alguns como inocentes úteis para se implantar a motivação do medo e se alcançar a vitória.

               Mas, como pensavam os mencheviques, opositores dos bolcheviques? Tiraram por meio da revolução o governo czarista, feudal, e implantaram o modelo capitalista, com o propósito de mais adiante atingirem o socialismo e em seguida o comunismo. Porém, para atender os interesses capitalistas, a Rússia devia permanecer dentro da 1ª Guerra mundial, sem condições e sem o povo querer. Esse foi o fator decisivo para que revolução russa caminhasse para os interesses bolchevistas, com a implantação imediata do socialismo e a retirada imediata da Rússia da guerra.

               Portanto, as atitudes rudes, firmes e perversas de Trotsky, encontravam respaldo popular e tinham um objetivo libertário, e dessa forma se aproximava mais do pensamento cristão do que a eterna escravidão a um regime financeiro e elitista.

               Até aqui a minha reflexão acompanha com positividade os acontecimentos da revolução russa, procurando sempre os fatos reais para montar uma narrativa mais próxima da verdade. Eu poderia até apoiar a ideologia menchevista de construir inicialmente uma sociedade capitalista, para o preparo menos radical de uma sociedade socialista/comunista, se não tivesse uma guerra no meio, inviabilizando essa estratégia.  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 23/12/2018 às 02h01
 
22/12/2018 02h01
TROTSKY (02) – NO MÉXICO

               A cena avança no tempo e vamos encontrar Trotsky refugiado no México, em plena festa do Dia dos Mortos, meio desorientado, chegou a cair na rua. Sua esposa vai em seu socorro.

               México, maio de 1940.

               - Leon, estou aqui... esqueceu de tomar os seus remédios?

               - Está tudo bem, vamos. O calor é sufocante! Não consigo me acostumar. Boa tarde, Sylvia.

               - Oi, Leon.

               - É uma tradição muito estranha.

               - S. É uma tradição mexicana antiga. Eles acreditam que é uma homenagem aos mortos. - Frank! (acena para um jovem que acaba de chegar, mascarado, com uma máscara da festividade da festa dos mortos). - Meu noivo, Frank Jacson. (jornalista canadense, 1913-1978) - Falei sobre ele.

               - T. Sim. Um jovem bastante insistente.

               - F. Senhoras.

               - T. Jacson, o que não entendeu da nossa conversa ao telefone? (Trotsky fala de cabeça baixa enquanto Jacson estende a mão, que não é correspondida). - Eu deixei bem claro: sem entrevistas.

               - F. Sua resposta foi bem clara, mas posso fazê-lo mudar de ideia.

               - T. Nem minha mulher consegue fazer isso.

               - F. Gostaria de agradecê-lo, Sr. Trotsky. Seu livro salvou minha vida na Espanha. Como pode ver, essa lasca era para mim. (mostra um livro que tem na capa incrustada uma lasca de ferro).

               - T. Por que trouxe esse livro? Você é stalinista. Pensou que eu não faria o meu dever de casa?

               - F. Eu respeito Stalin por ser um grande estadista, mas não significa...

               - T. Stalin é medíocre. Um grande zero à esquerda.

               - F. Eu não só respeito Stalin. Eu o acho incrível. Ele é um grande homem, um visionário. E o seu artigo patético suja o bom nome dele. Ele é chamado de sanguinário por lutar contra inimigos da revolução, enquanto você enviou milhões para a morte, não seus opositores ideológicos, mas pessoas leigas na política.

               - T. Eu condenei muitos à morte: inimigos ou meus soldados. Mas um detalhe me diferencia de Koba (nome íntimo para Stalin).

               - F. É mesmo? Qual?

               - T. Ele não se importa com o ideal. Ele alimenta suas fraquezas se escondendo atrás da ideologia. Paranoia, ambição, ganância. No poder ele continuou sendo ele mesmo, enquanto eu precisei mudar. Para desaparecer... intencionalmente. Eu fiz isso. Pelo bem do ideal maior.

               Com este diálogo observamos numa espécie de “avant-premièr” o que sucederia com os revolucionários russos, que tanto bem queriam trazer à humanidade e que tantos assassinatos produziram... seriam necessários? A procura desta resposta é o que vai nortear essa série de textos sobre Trotsky.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 22/12/2018 às 02h01
 
21/12/2018 02h01
TROTSKY (01) - INTRODUÇÃO

               Para procurar entender o eterno dilema humano da busca pela justiça e a sempre queda na injustiça, no autoritarismo, no assassinato, corrupção, crimes de todos os tipos, irei avaliar a Revolução Russa que jogou no mundo a perspectiva real da prática do comunismo. Iremos fazer essa reflexão, eu e meus leitores, do ponto de vista de Trotsky, um dos líderes mais emblemáticos da Revolução, sob a ótica dramática e romanceada da série produzida pela Netflix, intitulada “Trotsky”. Iremos fazer reflexões a cada momento do comportamento humano, tanto na mente individual de pessoas da elite, quanto no pensamento coletivo das massas sacrificadas, espoliadas, escravizadas...

               Começa o primeiro capítulo da série com Trotsky dentro de um trem onde ele viaja com a poetisa Larissa, e ela recita uma poesia.

               Está por toda parte, no fogo, na escuridão, tão próxima e inesperada, no cavalo de um hussardo húngaro ou na arma de um atirador tirolês. De Nikolay.  (Larisa Reisner, revolucionária, poetisa, jornalista - 1895-1926)

               - L. Sabe sobre o que é?

               - T. Não faço ideia.

               - L. É sobre a morte. Dizem que Deus dá a cada homem uma vida tão longa quanto a linha que seria necessária para envolver seu coração.

               - T. Ouvi dizer que Deus não existe.

               - L. Eu disse que você era ganancioso.

               -T. Larisa, não estou interessado na sua poesia. Kappel tomou Simbirsk e tomará Kazan em breve. Ele está acabando com nossas tropas.

               -L. Já matou alguém com isto? (mostra um revólver)

               -T. Eu já disse milhares de vezes que minha luta é diferente.

               -L. Sim, você é o manifesto em pessoa. Suas roupas, seus gestos... seu jeito de falar. E até seus olhos ficam lindos no seu rosto bronzeado. Mas isso não é um comício. É guerra.

               -T. E daí?

               -L. Sob ataque as pessoas não pensam em manifestos. Você apela para a mente, mas instintos são mais fortes. O que pode ser mais forte e assustador que a sensação de morte iminente? (enquanto fala, Larisa tira a roupa, fica despida. Ele segue o exemplo, também tira a roupa e partem para o sexo)

               Onde a escuridão de um poder incontrolável está fervendo, grunhindo, e gritando, a escuridão de um poder desenfreado, a asa do Arcanjo paira sobre ela. Vários caminhos levam à Roma, que está em ruínas. Mas se Roma cair, e uivar com um grito da multidão, o Anjo será benevolente. O demônio não terá misericórdia. (enquanto a poesia é recitada, eles fazem sexo ao som ritmado da marcha do trem)

               Essa primeira parte coloca um confronto interessante entre o ideal e o instintivo. A poetisa faz crítica ao excessivo idealismo de Trotsky, que as pessoas em momentos críticos se deixam levar mais pelos instintos que pelos ideais. E faz provar sua tese, tira sua roupa de forma sensual, fazendo com que Trotsky deixe por momentos o seu ideal e se envolva com ela no ato sexual... instinto vencendo o ideal. Trotsky, aparentemente, nem se apercebeu disso.

               Dentro da poesia também percebemos um dado interessante: “Deus dá a cada homem uma vida tão longa quanto a linha que seria necessária para envolver o seu coração”. Isso quer dizer que, durante a vida, vamos envolvendo nosso coração com os pensamentos, ideológicos ou de sobrevivência, e que isso nos deixa cada vez mais envolvidos naquilo que pensamos e fazemos até o estágio de estarmos totalmente enovelados e esperando a morte, sem condições de desenovelar o coração de algum erro cometido, se for o caso.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 21/12/2018 às 02h01
 
20/12/2018 02h01
GRADUAÇÃO DA TERRA

               Vivemos dias conturbados no planeta Terra a qual está prevista mudar de graduação, de planeta de “Provas e Expiações”, onde o mal prevalece, para planeta de “Regeneração”, onde o bem prevalece.

               Como acontecerá essa mudança de graduação na Terra atual que se encontra tomada pelo mal? Se essa mudança deverá ser feita pelos homens, na sua grande maioria portadores do mal?

               As estratégias do Poder Superior que orienta para que possamos atingir essa graduação em tempo breve, mostra caminhos para os homens de boa vontade, que desejam, com honestidade de propósitos fazerem a vontade Deus.

               O movimento político é o caminho mais pragmático para o alcance dessa realidade que até o momento ainda está no campo da utopia. Vejamos o que se desenrola no campo do pensamento de Direita e Esquerda (termos originados na Revolução Francesa – 1789, quando os liberais girondinos e os extremistas jacobinos sentaram-se respectivamente à direita e à esquerda no salão da Assembleia Nacional) e que atualmente está em grande conflito, com uma guerra intensa de narrativas onde a mentira é uma constante dos dois lados. Como a verdade é o principal atributo de quem está engajado nas fileiras do bem, do pensamento e comportamento cristão, vamos ver como foi construído isso nas suas origens tomando como base o movimento revolucionário que aconteceu na Rússia em 1917, contra o governo do czar Nicolau II em plena Primeira Guerra Mundial.

               Irei trabalhar os argumentos colocados na recente série “Trotsky” transmitida pela Netflix, sobre um dos revolucionários que encabeçou o movimento revolucionário.

               Lev Davidovich Bronstein, mais conhecido como Leon Trotsky, nasceu na cidade Ianovka, Ucrânia, no dia 7 de novembro de 1879. Sua família era de origem judaica e desde a juventude fez partes de movimentos revolucionários. Participou da fundação da “União dos Trabalhadores do Sul da Rússia”, e foi preso pelo regime czarista pela primeira vez em 1898, com apenas 18 anos. Trotsky foi condenado à deportação para Sibéria, de onde foge e vai para Londres se encontrar com Lenin, unindo-se ao “Partido Social Democrata Russo”. Alguns anos depois vai para Viena, Áustria, onde criou o jornal Pravda. Em 1903, com a divisão dos Sociais-Democratas russos entre Mencheviques e Bolcheviques, Trotsky se posiciona contra os bolcheviques. Mais tarde, ele reveria esta decisão aderindo assim às causas dos bolcheviques (a maioria liderada por Lenin). Embora tenham ocorrido diversos desentendimentos entre Trotsky e Lenin, em outubro de 1917 quando é feita a Revolução, uniu-se a Lenin. Trotsky exerceria um papel primordial na implantação do socialismo e do regime bolchevique na Rússia. Após a morte de Lenin e a ascensão de Stalin, Trotsky encontrou-se em posição perigosa. Enquanto defendia que a revolução deveria se espalhar pelo mundo e que a Rússia deveria ajudá-los, Stalin preferia que o comunismo ficasse dentro das fronteiras do seu país.

               O desenrolar desses acontecimentos terminou por influenciar todo o planeta e motivar uma Guerra Fria que é a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, compreendendo o período entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991), um conflito de ordem política, militar, cultural e tecnológica.

               Compreender esses fatos a luz da verdade, pode nos levar a melhor compreensão de nosso atual estágio político e o que podemos fazer para contribuir com as estratégias do Poder Superior para graduar a Terra num melhor nível espiritual.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 20/12/2018 às 02h01
 
19/12/2018 02h01
MOVIMENTOS MESSIÂNICOS

               Fiquei curioso com o texto que escrevi sobre o Messianismo e fui em busca de movimentos com essa característica, e que divido agora com meus leitores.                    

               As tendências messiânicas são visíveis em certos fenômenos nacionais, como o sebastianismo em Portugal ou o Ciclo Arturiano com origem nas Ilhas Britânicas. Em Portugal, pode-se considerar mesmo a obra "O Quinto Império" do Padre António Vieira de um teor messiânico que se encontrará também, transfigurado, na "Mensagem" de Fernando Pessoa, onde conceitos filosóficos, como o do Super-Homem hegeliano, se misturam com elementos do ocultismo e da ideia de destino ou fado, também próprio da identidade cultural portuguesa.

               O profeta Isaías foi um dos primeiros a proclamar com detalhes inspirados a ideia de um Messias, e do que ele iria fazer. Ele também profetizou a ameaça babilônica no horizonte do povo judeu - A Captividade Babilônica. E escreveu relatos que ainda não tinham ocorrido, mas estavam prestes, como a vinda do Messias aceito e conhecido Jesus Cristo.

               Na história do Brasil, o termo messianismo é usado para dar nome aos movimentos sociais nos quais milhares de sertanejos fundaram comunidades comandadas por um líder religioso. Vejamos alguns movimentos com essas características.

               Borboletas Azuis, movimento fundado em Campina Grande pelo empresário Roldão Mangueira de Figueiredo, os Borboletas Azuis passaram a se identificar com os atos messiânicos em 1977, ano em que se apresentaram vestidos de um timão azul e branco impecável. Roldão pregava que o mundo seria destruído por um dilúvio na década de 80. Houve uma dramática redução do número de fiéis depois do fiasco do dilúvio anunciado, e o número de seguidores passou de aproximadamente 700 para somente 67 pessoas. Os Borboletas Azuis são um marco histórico na Paraíba. A seita primava pelo misticismo religioso, misturando várias práticas religiosas, como o catolicismo, espiritismo e protestantismo, seu líder pregava que o mundo seria destruído num dilúvio que ocorreria em 13 de maio de 1980: “Uma enorme bola de fogo cruzará o céu, o Sol girará por três vezes consecutivas, um ensurdecedor trovão ecoará por toda a Serra da Borborema. Em seguida choverá ininterruptamente por 120 dias”, foi o que disse Roldão Mangueira a seus fiéis que acreditavam cegamente nele. Esperando o fim do mundo, novos membros dessa seita venderam seus bens para aderir a nova religião, eles se reuniam na chamada “Casa da Caridade Jesus no Horto”, localizada no Bairro do Quarenta. O funcionamento desta Casa de Caridade ocorria através da união de sessões espíritas, realizadas sobre a “Mesa de Caridade” no interior da casa e de orações do Ofício de Nossa Senhora e demais preces católicas. Os seguidores de Roldão Mangueira eram orientados por normas de comportamentos que condenavam cores berrantes, esporte, a prática da medicina e atos mundanos. Um dos costumes mais conhecidos do grupo era o fato de andar com os pés descalços para ter contato com a terra. Na época da profecia de Mangueira, o Diário de Pernambuco publicou o seguinte: “A cidade vive dias de expectativas. Nesta semana (maio de 1980), cresceu a hostilidade da população contra os Borboletas Azuis. As autoridades temem que haja um linchamento dos integrantes da seita...”, passou os anos 80 e nada de fim do mundo, a realidade é que ao entrar no mês de maio de 1980, Roldão Mangueira simplesmente sumiu, quando a imprensa de Campina chegou a especular que ele estaria internado numa clínica psiquiátrica de João Pessoa. Não é preciso dizer que nada aconteceu em Campina Grande, no dia 13, por que parece que os Borboletas viraram lagartas e ficaram meios sumidos, ficando visto pela cidade apenas um 'cabeleiro - barbeiro' que tinha sua 'barraca salão de beleza', na Antiga Feira de Troca, na Av. Canal e no antigo 'Pela Porco' onde é hoje é o CESC - Centro, perto do viaduto. O mestre da seita não durou muito e e morreu nos anos 80, logo após a morte de Roldão, em 1982, o novo líder do grupo passou a ser Antônio de França, que mesmo com a decadência da Seita, ainda tentava chamar atenção para a “Casa da Caridade”, como de fato ocorreu em matéria publicada na “Gazeta do Sertão” de 29 de setembro: “Hoje os adeptos são pouco mais de vinte, mas a fé na religião e nos princípios é a mesma”. Com o passar dos anos, os integrantes ou foram morrendo, ou simplesmente retornaram as suas vidas normais, fazendo com que a seita fosse se esvaziando até ficar apenas com duas adeptas, ainda na “Casa da Caridade”, que foi doada por Roldão Mangueira à “Fundação Casa de Caridade Jesus no Horto”. Todas as noites, a aposentada Maria Tereza e Helena Fernandes se encontravam para orar e confirmar sua fé, dizendo que ainda esperavam o surgimento de um novo líder religioso, isso com uma foto de Roldão Mangueira na parede. Pelo fracasso das suas profecias, a imprensa passou a zoar de Roldão Mangueira, com humorismo e chacotas fazendo relatos de ação que não aconteceu com ele. Lembro como se fosse hoje, eu tinha 10 anos na época quando rolou o boato, ou melhor, um caso engraçado que foi à história de que Roldão Mangueira tentou andar sobre as águas do Açude Velho. Relatam o “causo” que ele não se afogou por pouco. Sobre isso, Antônio de França, um dos líderes do grupo afirmou: “Nunca existiu esse negócio de dizer que nós iríamos andar sobre as águas, nem tão pouco estávamos construindo uma arca para nos salvar do dilúvio. Tudo foi inventado e chegaram até a dizer que nós estávamos separando os casais. Apenas não aceitamos ninguém vivendo sem ser casado, pois a religião não permite”, relatou Antônio à “Gazeta do Sertão” em 1982. O texto de Francistone Tomaz sobre “A Última Borboleta Azul". Irmã Tereza e o baú que guarda parte da história dos Borboletas. Nascida na zona rural da cidade de Areia no brejo paraibano, Maria Tereza Vicente, hoje com 86 anos, adotou o codinome Irmã Tereza ao ingressar no movimento que ficou conhecido como “Borboletas Azuis” surgido em Campina Grande no final da década de 1960 e teve como fundador místico Roldão Mangueira de Figueiredo. Ao contrário do que é divulgado até hoje, o movimento tinha como propósito levantar a doutrina católica que, segundo seu líder espiritual estaria em decadência devido ao reinado dos três últimos papas. Pregavam também o desapego às coisas materiais. Irmã Tereza conta que tudo teve início quando seu líder espiritual recebeu a incumbência divina para abrir uma casa de caridade nos moldes da Igreja Jesus no Horto, Igreja esta localizada na cidade de Juazeiro do Norte no estado do Ceará. Daí nasceu A Casa de Caridade Jesus no Horto localizada até hoje no bairro do quarenta em Campina Grande. O local foi palco de várias curas milagrosas presenciadas pela religiosa a enfermos que vinham de toda parte do país, segundo ela essas curas ocorriam através das sessões espíritas realizadas por médiuns sobre a “Mesa da Caridade” acompanhadas de orações do ofício de Nossa Senhora e demais preces católicas. O auge do movimento teve início no ano de 1978, quando seus integrantes passaram a usar vestimentas nas cores azul e branco, daí o nome borboletas azuis, e começaram a distribuir um folheto em que alertavam à toda humanidade sobre um “dilúvio” que aconteceria precisamente no dia 13 de Maio de 1980. O fato não aconteceu e seus seguidores que eram em torno de setecentos diariamente no templo, foram perdendo a credibilidade junto ao seu líder que foi internado em um hospital psiquiátrico da cidade por familiares, vindo a falecer em 1982, tendo sido substituído por Antônio de França, que era acompanhado por pouco mais de vinte seguidores. Irmã Tereza, a última remanescente dos Borboletas Azuis se mantêm firme no seu propósito de “levantar” a Igreja com a chegada de um novo líder. Alheia às piadas e comentários maldosos sobre sua maneira de viver, a fiel seguidora de Roldão Mangueira mantêm sua rotina de orações e tarefas rotineiras no templo, como cuidar do jardim que fica em frente à capela. E talvez seja no jardim que essa adorável senhora encontre o significado de toda sua existência, pois “borboletas azuis não andam em bandos, são sempre solitárias.

               Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, surgiu no Crato, interior do Ceará, sob a liderança do beato José Lourenço. Consistia numa comunidade igualitária onde todos os habitantes tinham direitos e deveres iguais. Tal ideal não agradava ao governo estadual e aos fazendeiros da região. O Caldeirão era protegido pelo Padre Cícero, que inclusive ajudou o beato José Lourenço a arrendar o terreno. Após a morte do sacerdote, governo e fazendeiros se aproveitaram para destruir a comunidade.

               Canudos. Ocorreu no sertão baiano no século XIX. O líder Antônio Conselheiro defendia a volta da monarquia e classificava o republicanismo como uma manifestação contra a Cristandade. Como a fama do movimento começou a se espalhar pelo país, os governos estaduais e federal se uniram para destruí-lo. Em 1897, Canudos foi completamente destruída. Este foi sem dúvida o maior movimento messiânico ocorrido no Brasil.

               Contestado, surgido em 1912 na divisa dos estados de Santa Catarina e Paraná, era um movimento liderado por monges que lutava contra a expropriação de suas terras pela companhia Brazil Railway Company, que recebeu do governo 15 km de cada lado da ferrovia, iniciou a desapropriação de 6.696 km² de terras (equivalentes a 276.694 alqueires) ocupadas já há muito tempo por caboclos que viviam na região entre o Paraná e Santa Catarina. Em 1916 a comunidade foi destruída pelo exército brasileiro.

               Muckers - Em 1868 começou o movimento messiânico dos Muckers, em Sapiranga, Rio Grande do Sul, liderado por Jacobina Mentz Maurer. Em 1874, depois de três ataques do Exército Brasileiro da Guarda Nacional, são finalmente afogados em um banho de sangue, vencida a sua resistência. É sabido que alguns dos remanescentes desse movimento participaram de Canudos.

               Monges do Pinheirinho, surgido em 1902 na região da província de Encantado, Rio Grande do Sul. Tratava-se de uma seita religiosa semelhante à dos Muckers de Sapiranga, mas suportada majoritariamente por caboclos em confronto com os imigrantes italianos ali residentes há poucos anos e as forças de segurança do Estado. O movimento messiânico teve o mesmo destino trágico dos Muckers, seus integrantes foram massacrados pela Brigada Militar. É sabido que remanescentes deste movimento participaram do Contestado, havendo inclusive menção do Monge João Maria no movimento, entretanto é discutível se se tratava da mesma pessoa, já que tal identidade era comumente invocada por inúmeros líderes de movimentos similares.

               Monges Barbudos, movimento messiânico ocorrido entre os anos de 1935 e 1938 em Sobradinho, cidade emancipada de Soledade em 1927, interior do Rio Grande do Sul. O ponto máximo do conflito aconteceu no dia 14 de abril de 1938, uma Sexta-Feira Santa, na capela Santa Catarina, no então distrito de Bela Vista que na época pertencia para o município de Sobradinho, hoje território de Segredo/RS. Ocorreu o confronto entre os seguidores monges e soldados da Brigada Militar, esta última com apoio de moradores locais contrários ao movimento. Várias pessoas foram presas e outras ficaram feridas. O líder do movimento, André Ferreira França (apelidado Deca) não estava presente devido às perseguições. O segundo líder do movimento, Anastácio Desidério Fiúza (chamado Tácio), foi baleado, ferimento que o levou à morte em 15 de abril de 1938. Pouco tempo depois, também Deca acabou sendo morto. Os membros do movimento ficaram impedidos de se reunirem e praticarem sua religiosidade. Neste movimento também há menção à figura do Monge João Maria, que teria pernoitado durante meses na casa de Deca, ensinando procedimentos de cura com plantas medicinais, orações e ritos diversos e lhe incumbido de organizar a seita na região.

               São diversos movimentos que se levantam com base na espiritualidade para contestar determinado ponto social. De certa forma traz uma aproximação ao que acontece com o Brasil atual. Só que desta vez o movimento surge do seio do povo e se acopla numa personalidade cuja voz sintoniza com o anseio da população: Bolsonaro.

               Será que esse movimento que conseguiu conquistar uma eleição, totalmente fora dos padrões viciados e corruptos do passado, que ainda está no presente com perspectiva de se manter no futuro, conseguirá manter o seu foco espiritual dentro dos princípios cristãos, sem mácula?

Publicado por Sióstio de Lapa
em 19/12/2018 às 02h01
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