Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
21/07/2022 00h01
PARAÍSO DECENTE - Soneto

            Construí na minha mente



            Usando a imaginação



            E de Deus a permissão



            Um paraíso decente



           



            Nele a vida é com amor



            Sem nenhuma exclusão



            Não há nele excomunhão



            Mesmo alguém sentindo dor



 



            Nele todos são irmãos



            Do berço à tumba fria



            Como sinceros cristãos



 



            Mas, que tristeza que sinto



            Pois tudo que eu mais queria



            Era provar que não minto.


Publicado por Sióstio de Lapa
em 21/07/2022 às 00h01
 
20/07/2022 00h01
A PESSOA MAIS POBRE

            Antonino era uma pessoa caridosa, procurava seguir o caminho reto que sua consciência, cheia de valores, apontava como importante.



            Colocava muita ênfase na caridade, havia aprendido em lições que recebeu por algum tempo que passou em Centro Espírita, que fora da caridade não há salvação.



            Ele se considerava, portanto, uma pessoa que por boa índole, já fazia caridade até naturalmente, mas sempre colocava no ato, racionalizações se estava sendo correto ou cometendo algum erro.



            Por exemplo, quando ele dirigia e chegava crianças pedindo uma ajuda, apesar dele ter as moedas que eram pedidas, ele ficava a pensar que aquela moeda poderia ir parar nos bolsos de algum adulto mau intencionado que colocara aquela criança para explorar a caridade das pessoas, fazendo um bom saldo no final do dia, do qual pouco a criança recebia. Ou então aquele pedinte estava querendo fazer saldo necessário para a compra de alguma droga que mantivesse o seu grau de dependência, de escravização àquela situação. Em ambos os casos a sua racionalização impedia o ato de caridade. Isso o deixava sempre em conflito consigo mesmo, pois aquela pessoa poderia ser um verdadeiro necessitado e ele ter feito uma injustiça com os seus princípios.



            Um dia ele resolveu colocar o seu poder de racionalização à prova, frente os atos de caridade. Juntou todas as moedas que poderia dar naquele dia num saquinho e saiu disposto a entregar todas para a pessoa que a sua lógica considerasse como a pessoa mais pobre.



            Saiu a pé para ter a oportunidade de fazer um raciocínio mais profundo daqueles que pediam alguma coisa. Viu crianças conduzidas no colo por seu pai ou mãe, mostrando suas necessidades; viu aleijados mostrando suas mazelas; viu adolescentes limpando para-brisas de carros e estendo a mão ou fazendo sinal para boca de que estava com fome; viu adultos procurando vender pipocas ou agua mineral com suas caixas de isopor encardidas... em tudo e todos eles colocava o mais alto grau de considerações racionais que pudesse classificar entre todas qual a pessoa mais pobre.



            Não tinha chegado a uma conclusão quando ouviu à distância uma pessoa pedindo votos num carro luxuoso encimado com um potente autofalante. Ele se aproximou e conseguiu ver uma pessoa bem vestida, com o microfone na mão. Reconheceu que era o governador do seu Estado que estava cercado de pessoas distribuindo os seus santinhos, adesivos e programa de governo. O candidato pedia os votos e garantia que iria fazer escolas, hospitais, dar bolsas de estudo, bolsas família, bolsa gás, casa própria, emprego, carro... as promessas saiam de sua boca acompanhadas por gestos vigorosos e de honestidade e de acusações aos seus adversários de todos adjetivos negativos que pudesse aplicar.



            Antonino passou a considerar o que aquela pessoa tão bem vestida, culta, inteligente e poderosa, estava ali, naquela praça a pedir votos a tantas pessoas bem mais humildes que ele, e que muitas das promessas que ele fazia jamais podia cumprir. Interessante é que em todas as pessoas necessitadas que ele viu e considerou até aquele momento, todas eram humildes e pediam a pessoas que aparentavam teriam mais posses. Mas essa pessoa era o inverso, ele tinha mais poder e condições financeiras e pedia a quem tinha menor condições o direito de administrar o dinheiro que todos pagavam, quer sejam ricos ou miseráveis. A simples moeda que um pedinte daqueles que ele viu, recebia de alguém, e ele fosse à padaria comprar um pão, parte desse valor terminaria caindo nos cofres do Estado que iria ser administrado pelo Governador.



            Antonino sabia que este Governador já era considerado rico, fez sua fortuna depois que assumiu o cargo e todos sabiam dos inúmeros processos de corrupção que ele era acusado. Mesmo assim continuava no afã de permanecer no cargo. Os seus desejos de alcançar cada vez mais poder, mais dinheiro, mais bens, era incontrolável.



            Antonino não teve mais dúvidas, ali estava a sua pessoa, a mais necessitada pois seus desejos de possuir era bem maior de que todos aqueles que viu... chegou perto do carro, estendeu a mão e entregou o saquinho de moedas ao político. Um assessor recebeu, olhou para dentro, viu as moedas, olhou para Antonino que se afastava, e coçou a cabeça sem entender.


Publicado por Sióstio de Lapa
em 20/07/2022 às 00h01
 
19/07/2022 00h01
RAÍZES CATÓLICAS DO BRASIL – (03) SANTO AFONSO

            Irei colocar aqui, com poucas adaptações, a aula do Prof. Luiz Raphael Tonon, com estreia no dia 26-06-2022, pelo Centro Dom Bosco, no Youtube, com 58.000 visualizações em 16-07-2022.



            Muito cedo comecei a notar uma coisa. Que era ensinado que a Igreja na época feudal controlava tudo, que fazia churrasco de hereges, etc. Eu via os santos medievais, São Bernardo de Clavaral, Santa Edwiges, Santa Isabel da Hungria, agora, essa Idade Média que se escuta na escola, não fazia conexão. O que eu lia das vidas dos santos, não estava batendo. Alguém está mentindo, só que eu não sabia de onde vinha o erro.



Essa dúvida foi crescendo. Um dia fui movido pela raiva. Quando eu estava dentro do Seminário e ouvi o professor de História da Igreja dizer que Lutero deveria ser venerado pela Igreja, pela grande obra reformista que ele fez.



            Ouvir isso da boca de um padre, dentro da minha aula de história, dentro do seminário, me deixou com raiva. Desci até a biblioteca do seminário e fui baixar tudo que tivesse nas prateleiras, que estavam todas cheias de poeira, mostrando que eram intocadas durante anos, acredito que depois do Concílio Vaticano II ninguém teve mais interesse nesses estudos.



            Comecei a ler e por acaso descobri que o fundador da congregação onde eu estava era o sujeito que tinha comentado os erros dos reformadores protestantes. Santo Afonso tem um tratado inteiro sobre isso. Percebi também que no seminário tem uma prateleira gigante, inteira, sobre Santo Afonso.



            Fiz o propósito de ler tudo dentro de um ano, e consegui. Ninguém sabia mais do que eu naquela época, pois eu li tudo. Era até curioso, pois até os padres tiravam dúvidas comigo. Era até estranho, o pessoal não lia o que escrevera o pai espiritual da congregação.



            Também passei por essa experiência de me aprofundar nas leituras quando adolescente. Não por raiva como aconteceu com o professor Raphael, mas por necessidade. Eu era sozinho, sem a convivência dos irmãos pois fui criado por minha avó materna, pelas dificuldades que minha mãe tinha de acolher tantos filhos. A minha companhia passou a ser livros e principalmente os gibis, revistas em quadrinhos. Foi aí que a minha imaginação foi crescendo cada vez mais nos princípios da justiça, do amor e do heroísmo. Fazia duelos na fantasia com tampas de garrafa, onde ficava torcendo pela vitória do bem sobre o mal, mas era incapaz de alterar o resultado quando não convinha aos meus interesses. Acredito que essa fase foi bem amis importante que os momentos da escola, pois devido a minha timidez e introspecção eu não consegui me enturmar convenientemente com os colegas. Mas os frutos das minhas leituras facilitaram o meu aprendizado e os meus projetos de vida, contribuindo para eu chegar ao ponto que estou.   


Publicado por Sióstio de Lapa
em 19/07/2022 às 00h01
 
18/07/2022 00h01
RAÍZES CATÓLICAS DO BRASIL – (02) COROINHA

            Irei colocar aqui, com poucas adaptações, a aula do Prof. Luiz Raphael Tonon, com estreia no dia 26-06-2022, pelo Centro Dom Bosco, no Youtube, com 58.000 visualizações em 16-07-2022.



            Santo Afonso dizia que ignorância invencível pode garantir a salvação, a culposa nunca. Acaba se tornando até uma questão moral.



            Sempre tive muito interesse pela História da Igreja, pela História Geral, e como todos nós, fiz um caminho nessa busca de conhecimentos. Quando criança eu ia à escola católica, pois sempre fui católico e começava a ouvir a respeito da inquisição, da Cruzada, da Reforma Protestante... aquele combo anticatólico que todos ouvimos um dia. O que eu pensava? Não tinha argumentos ao 10-12 anos para debater com meu professor e eu pensava comigo: eu sou católico, gosto, mas disso eu tenho vergonha. Depois fui descobrir que eu tinha vergonha na verdade de um Espantalho, um fantoche, aquilo não existia, era uma construção. Eu percebia e sentia isso, ficava naquela angústia, naquela coisa que acabou me salvando de certa maneira.



            Fui ser coroinha naquela época de crise financeira no país e meu pai avisava para eu não inventar coisas para comprar. Você pode ser coroinha, mas sem trazer despesas. Assim que fui, o padre disse que tinha que fazer a roupa e eu logo pensei que tinha de comprar alguma coisa. Falei para o padre e ele disse para eu ir ao Carmelo conversar com tal freira que ela irá resolver o problema.



            Chegando lá fiquei horrorizado, um monte de freiras atrás das grades e elas me pediram pela grade para fazer as medidas da roupa. Disseram que com um mês a roupa estaria pronta. Quando voltei, com a roupa pronta, perguntei por educação qual era o preço, pois eu não podia pagar, mas conversaria em casa. Ela respondeu que ia ser muito caro, que deveria ser pago durante muitos anos. Disse que o capelão era muito velho e precisava de alguém que esteja junto com ele para mudar a página do missal, ele enxerga mal, e você tem que acompanhar o ritmo com ele, ajuda-lo. Aí fica pago.



            Eu não imaginei o salto histórico que eu dei. O sacerdote do qual fui coroinha não era nada menos que o sacerdote que restaurou a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Ele foi o padre que encompridou o cabelo da imagem de Nossa Senhora para fixar a cabeça na imagem.



            Eu nem imaginava que era esse padre e o que era lidar com fonte histórica primária. Eu estava ouvindo ali uma pessoa que restaurou, que viu e lidou com o maior objeto de devoção do povo brasileiro que é a imagem da Padroeira do Brasil.



            Dali a coisa foi aumentando esse desejo de conhecer. Ganhei um gibi de São João da Cruz, bem didático para crianças, né? Mas eu gostei, pois era o primeiro santo que eu ficava sabendo dos detalhes da vida dele. E perguntei se tinha mais e vi que tinha prateleiras inteiras que eu podia pegar, e fui lendo vidas de santos.



            Também passei por essa experiência de ser coroinha na minha cidade, Macau, no Rio Grande do Norte, Brasil. Também fui escoteiro e estudava no colégio organizado pelo Padre Penha, que depois vim a saber que era tio de um colega professor da UFRN. Mas não tive a sorte do professor Raphael Tonon, de ter uma biblioteca tão vasta para poder ler tantos livros quanto eu quisesse. Minha família tinha mais dificuldades financeiras do que a dele e tive que logo cedo gastar muito odo meu tempo em atividades de trabalho informal para contribuir com o esforço dos parentes. Porém, hoje estamos aqui fazendo essa conexão que a providencia divina nos oferece e dividimos com tantos outros que precisam dessas informações.


Publicado por Sióstio de Lapa
em 18/07/2022 às 00h01
 
17/07/2022 12h10
RAÍZES CATÓLICAS DO BRASIL – (01) APRESENTAÇÃO

            Irei colocar aqui, com poucas adaptações, a aula do Prof. Luiz Raphael Tonon, com estreia no dia 26-06-2022, pelo Centro Dom Bosco, no Youtube, com 58.000 visualizações em 16-07-2022.



            Ainda menor, entrei no seminário menor dos redentoristas e no ano 2000 eu vim um tempo emprestado pela província dos redatores de São Paulo para a província do Rio e vim para ficar na igreja de Santo Afonso, na Tijuca. Padre Penido era vivo ainda e esta foi minha experiência de Rio.



            Já gostava muito de história, gostei muito de vir ao Rio e por ver aquilo que eu já conhecia. Depois deixei o seminário e fui me dedicar ao magistério, me licenciei em filosofia e tornei-me professor da rede pública do Estado de São Paulo. Depois ingressei na rede particular e depois fui fazer História, que era meu desejo inicial.



            Passei a ensinar mais História que Filosofia e já são 18 anos como professor. Sempre lecionei Filosofia, Sociologia, História e Ensino Religioso, por conta das matérias do tempo de Seminário.



            Em Campinas, onde deixei o Seminário, conheci minha esposa, namorei, casei e hoje pertenço ao Instituto Laical, que é um Instituto Misto, uma comunidade com sacerdotes e leigos, muitas famílias, minha esposa faz parte e eu também.



            Fui professor da História da Igreja no Seminário em Campinas e fui desligado da função por motivos óbvios, como vocês verão. Não permaneci na função, mas ensinei aos seminaristas por um tempo e também fiz um apostolado semelhante a esse do Centro Dom Bosco, e que aqui é mais extenso. Aqui se fala de todos os assuntos, eu era mais restrito, eu dava um curso da História da Igreja que funcionou por 10 anos, presencial e muito procurado por protestantes. Eu sempre perguntava, o que vocês vieram fazer aqui? Eles me diziam que procuravam ali o que nas suas denominações não ouviam. Nós falávamos da Igreja Primitiva até os Atos dos Apóstolos e depois dávamos um salto até o século 16.



            Uma vez um protestante disse que não era possível que o Espírito Santo ficou dormindo esse tempo todo. Essa pessoa disse que era filho de um pastor batista e depois de acabar o curso ele pediu o sacramento e eu fui o padrinho dele.



            E assim aconteceram vários casos lá em Campinas, com pessoas que estudavam a história da Igreja e como consequência final tornaram-se católicos. Para quem é católico, o curso fazia tornar-se melhor ainda, um católico de verdade, aferrado aquilo que é a fé da Igreja, a fé dos apóstolos, a fé de sempre. E é um caminho natural, lógico.



            Atualmente sou professor, ainda atuo em dois colégios católicos, mas a minha presença nas escolas tem diminuído ano a ano e tenho passado a dar aulas particulares. Tenho vários alunos em todos os cantos do Brasil e tenho migrado mais para isso justamente por essa questão ideológica.



            Hoje em dia há uma militância, uma perseguição, uma ignorância mesmo, não invencível, mas culposa: as pessoas não sabem e não querem saber dentro das instituições de ensino.



            Realmente, essa invasão ideológica nas escolas trouxe um enorme prejuízo para o potencial racional do país. Não sabemos a realidade da nossa história e quais os principais fatos que deviam nortear nossa opinião para um caminho reto, sem os desvios propositais que as falsas ou tendenciosas tentam nos colocar. Digo isso pois fui vítima desse processo perverso e somente hoje, professor universitário e com doutorado e longos anos de militância em partidos de esquerda, é que vejo o quanto fui ludibriado e que, infelizmente, muitos colegas meus de academia, continuam reféns das falsas narrativas que foram inoculadas em suas consciências, nessa revolução cultural da qual somos vítimas inocentes.


Publicado por Sióstio de Lapa
em 17/07/2022 às 12h10
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