Tiago Menor, um dos discípulos de Jesus, apesar do nome era grande no equilíbrio das horas difíceis. Compreendia que o homem de bem não podia participar da ignorância e que toda alma iluminada o era pela sabedoria. Entendia que o saber não ocupa lugar, ele é dono de todos os lugares. Tinha por amor, zelo pela Pureza, que entendia ser irmã da sabedoria. Reconhecia que poucos ouvem e menos ainda entendem o que se fala. Participante da escola do saber, amava a Pureza, se dava ao trabalho mental e selecionava muito o que falava. Nunca tomava uma decisão pelo impulso. Discreto, deixava fermentar a massa para assar o pão. Ao comparar os feitos do Cristo com os anúncios proféticos, reconheceu o Cordeiro de Deus em figura humana. Esforçava-se para que o Evangelho fosse pregado em todo o mundo, para todas as criaturas.
Certo dia, que precede a noite de encontrar Jesus, foi abordado por uma velhinha que se dizia paralítica. Como pedia a caridade da cura com muito apelo, na frente de tanta gente, Tiago ao se aproximar ela descobriu a farsa e acusou Tiago de impostor, que não havia descoberto que ela não era paralítica. Terminou sendo injuriado pelos presentes, que jogaram nele até enxertos de cavalo.
Tiago, impressionado com essas acusações e agressões, caminhava amargurado pelas ruas de Betsaida ao encontro do Mestre, pois já estava próxima a reunião. Instalou-se na reunião na casa de Pedro, que fez a oração inicial. Notou a insistência do olhar do Mestre em sua direção, que desajeitado pelo que ocorreu momentos atrás, levantou-se entendendo o pedido silencioso de Jesus, e expressou-se, melancólico:
Mestre! Porventura podes nos falar esta noite sobre o que entendes sobre a Pureza? E por que eu me preocupo tanto com essa virtude? Não tenho direito de te pedir tanto, mas ficaria muito agradecido se pudesses responder-me, porque certos esforços meus parecem ficar em vão nessa conquista que tanto almejo.
Tiago sentou-se, sem conseguir se livrar da tristeza. Cristo, compreendendo o que se passava com o discípulo, fez-se ouvir, com grandeza d’alma:
- Meu filho! Jamais penses que se perde o que já se ganhou. Todo o teu trabalho buscando a perfeição é abençoado por Deus, e os resultados ficarão contigo eternamente, crescendo com a força do progresso. O sol desponta com toda a sua pujança divina, ilumina o mundo e depois desaparece. Mas torna a nascer de novo na sua missão incomparável. Assim são os nossos dons. De vez em quando eles se deparam com as trevas da incompreensão humana e desaparecem. Mas voltam a brilhar em obediência a lei do bom esforço.
‘Não turbes o coração com simples ruídos que se desfazem minutos depois. A Pureza de que falas é a nossa meta principal: perfeição em tudo. No entanto, exige de nós muito trabalho, muita dor e imensuráveis sacrifícios. O preço de alcança-la turba qualquer cálculo da razão.
‘Passastes por um vexame passageiro nesta tarde, por confiares somente na vigilância. Esquecestes da oração, porque vigiar é competência do saber, mas orar é força que movimenta a inspiração divina. Vigilância e oração se completam no esforço de evitar novas tentações.
‘De qualquer maneira, o escândalo te fez lembrar que é preciso algum reparo no modo como proceder diante dos outros. Estamos numa marcha que não pode sofrer interrupções. Se queres a Pureza, hás de te submeter às tuas exigências consigo mesmo.
‘Os primeiros dias da criança junto ao professor que estabelece planos de ensino e se entrega durante toda a vida para o esclarecimento de jovens e crianças, seria de brincadeiras, de ouvir contos de fadas, de sorrir nas suas ingenuidades que marcam as características infantis. Eis que o mestre, diante de tais circunstâncias, poderá falar coisas sérias aos homenzinhos em formação. Todavia, é bem provável que eles comecem a correr, a gritar e a sorrir da luz que está começando a aparecer em suas vidas.
‘O perdão é o apanágio natural do professor, sem que dele se apodere a intolerância. O faltoso compreende o erro e procura repará-lo, e a vingança assusta e distancia cada vez mais as trevas da luz.
Tiago deixou transparecer no semblante alguns raios de alegria, sentindo a sabedoria de Jesus acerca do que se passara com ele. “O Mestre tem razão”, pensou.
Jesus continuou:
- Tiago! Todos temos, de certo modo, razão, como todos somos úteis, de certa forma. Se não fossem os que nos atacam, os que nos apedrejam. Os que nos caluniam, como experimentar o coração que antes sorria? Como testar a alegria da paz interior? Como experimentar o amor ao próximo? Eis que é necessário o escândalo, mas ai daquele que ainda é escravo dele. Se te consideras livre pelas linhas da verdade que pretendes dominar e seguir, não dês muita atenção aos ruídos exteriores, pois eles somente espantam os que desconhecem as leis de Deus.
‘Quando nós nos preocupamos em nos servir dos extremos com alguma virtude, é devido a sua escassez no reino de nossa alma. É bom que as providências sejam tomadas, mas escuta bem, sem exagero, para que não se torne uma imposição para nós e para os outros. Se procuras a Pureza em todas as suas nuances, não te esqueças de vigiar todas as fraquezas, de vigiar todas as ideias, a começar por manter guarda, permanentemente, sobre o que falas e fazes, porque a Pureza é a unidade de todos os dons da vida.
‘Muito depende de ti, do teu esforço no auto aprimoramento. As bênçãos de Deus, pelo tempo, conferir-te-ão esse estado de espírito como glória de um bom lutador.
Tiago! Não esmoreças, meu filho. Segue avante nas tuas pesquisas e no teu impulso de ser grande, sem esquecer que, para ser maior, é de lei que deves aprender a ser também o menor de todos. O homem de valor é aquele que tira das decepções ensinamentos, das ofensas lições maiores e, sentindo a violência dos outros, nota, com urgência, o quanto vale o amor.
Aprendamos, pois, com os métodos que a vida nos propõe.
Jesus saiu e muitos o acompanharam. Alguns procuraram Tiago querendo saber o que houve com ele.
Tiago, já sorridente, abraçou Pedro e saiu contando a cura que ele operou, sem ter operado.
Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.
Bom, uma coisa que chamo a atenção de vocês, que é interessante. Olhem as imagens do filme e vocês vão ver. Tem o candelabro maravilhoso que tem um papel importante, porque quando a cena se destrói, o candelabro que é a luz artificial cai e toca fogo em tudo. No processo ele é como a luz da fogueira dentro da caverna de Platão. Você vai ver que na decoração dentro do teatro, tem um determinado local, homens com as mãos amarradas para trás com os olhos vendados, como se fossem os escravos da caverna, assistindo ali aquele espetáculo. Elementos que tiveram o requinte de colocar na decoração do teatro para o filme. Homens com as mãos amarradas para trás e olhos vendados, vários em fila. Aquilo é muito indicativo, muito claro. O teatro começa com a sua luz artificial, com seu mundo de fantasia e os homens estão ali aprisionados, cegos, presos naquelas ilusões. São muitas as indicações, muitas as dicas.
Nós vamos ver, num determinado momento, Christine, a sua hesitação entre o Fantasma e Raoul, o medo que ela tem do Fantasma, começa a ter medo dele, de incitar o medo dele, como se fosse um ser destrutivo. E de fato, no filme, eles nos deixam na dúvida. Porque Eric, que é o Fantasma, começa a matar um monte de gente, diz um monte de coisas e isso vai apavorando Christine, vai fazendo com que ela realmente ache que ele é um monstro. Ele mata um dos cantores da ópera, mata uma das pessoas que estão nos bastidores manipulando as cordas do teatro. Ele começa a matar todas as coisas que fazem com que Christine fique presa àquele mundo. Começa a matar os atores pequenos que estão ali, mantendo Christine presa àquele mundo. Então, se você ver, por exemplo, o cantor vaidoso que ia contracenar com ela, o Don Juan, ele vai lá e mata, ele consegue matar a vaidade. O cidadão que operava as cordas, ou seja, a manipulação, o jogo, para manter o jugo naquela superficialidade, ele mata a manipulação, e mata a vaidade e vai matando todos os aspectos da personalidade de Christine que impedem que ela vá para ele. Mas tem um elemento que não consegue matar, porque ela tinha necessidade da experiência, que é Raoul.
A simbologia da morte de pessoas representando aspectos da personalidade de Christine que devem ser extintas, levam inevitavelmente a considerar a maldade nos atos de Eric. O que o autor do livro/filme demonstra poder acontecer com as ações de o Fantasma da Ópera, na sua simbologia de destruir os vícios do outro, não pode acontecer na vida real. Uma pessoa não pode apagar os vícios de quem quer que seja, isso depende apenas da pessoa, se ela quiser e se esforçar para tanto.
Serve para nós, assistentes, a lembrança que possuímos todos os vícios dentro de nós, ativos ou não, e que devemos gastar muita energia se quisermos nos livrar deles, pois estão incrustados nos porões do nosso inconsciente, as vezes sem nem notar a existência deles.
A fé é algo íntimo que nos dá respostas necessárias a quaisquer desafios que nos é imposto. Poderia justificar tudo que acontece ao redor como movimentos do acaso. Posso sim, essa é outra condição que posso assumir, uma condição materialista, de acordo com os paradigmas que considero como verdadeiros. Este seria, dessa forma, o paradigma materialista. Porém, eu construí o paradigma espiritual como verdadeiro e tenho Deus como a energia central de onde tudo emana em minha direção, que eu posso ou não aceitar.
Fui convocado a intermediar um conflito familiar, e pela delicadeza do caso, senti a necessidade de saber como abordar. Como tenho a supervisão de Deus nos meus trabalhos, inclusive o psicoterapêutico, logo recebi dois vídeos pela internet que considerei como os recursos que o Pai estava me oferecendo para me instruir. Pois vejamos...
... Eu vi um girassol eles estavam todos assim, virados um para o outro, e estava nublado. Foi quando eu descobri, que um girassol mesmo na chuva, ele não fica emborcado, com a face para baixo. O máximo que ele faz é virar-se um para o outro. Porque quando está chovendo, quando está nublado, um empresta energia para o outro para se manter aquecido. Eu diria que todos nós precisamos ser girassol para alguém e encontrar os nossos girassóis na vida, nos momentos que a gente está desanimado, quase que emborcando, se virar para o outro e dizer: me sustente agora, que eu estou passando por uma crise. Seja um girassol na vida de outra pessoa.
Sim, independente de nossa posição social, profissional, podemos ser girassóis uns para os outros, transmitir energia, sustentar o próximo nas suas dificuldades. Foi isso que fui instigado a compreender: um girassol me procurou aflito, seu pai e sua mãe em fortes conflitos emocionais com risco da própria vida, e fui convocado a partilhar minha energia para superar a tempestade, para ser uma sustentação durante a crise.
Preste bem atenção! Na vida existem 3 coisas que podem te levar à destruição: a inveja, o orgulho e o ódio. Porém existem 3 coisas que não se pode perder: a fé, o amor e a esperança. Posso citar mais 3 coisas de grande valor na vida... a humildade, a sinceridade e a amizade. Agora, essas 3 coisas fortalecem o nosso caráter: o respeito pelas pessoas, o compromisso, e os valores familiares. Sabia que tem 3 pessoas que te amam? O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Agora faço a Deus 3 pedidos para você... que lhe abençoe sempre, que lhe guie por onde for, e que te proteja eternamente.
Estes são os elementos que o Pai me enviou para levar o diálogo dentro da família atingida pela tempestade. O orgulho e o ódio, que foram alimentados pelo ciúme, são os vetores da destruição. A fé que Deus enviará os recursos de salvação, o amor incondicional que deverá ser praticado por todos os envolvidos, e a esperança que o tempo trará a solução pacífica para todos os conflitos. No desenrolar dos acontecimentos, todos devem prometer agir com humildade, sinceridade e amizade. Que todos os envolvidos devem incorporar ao seu caráter: o respeito pelas pessoas, o compromisso em praticar aquilo que combinar, e referendar sempre os valores familiares. Cumprindo essas orientações, teremos a energia da Trindade a nos abençoar sempre, nos guiar por onde formos, e sermos protegidos eternamente.
Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.
Um diálogo muito bonito, que Christine tem com Meg, indica muito claramente o que está acontecendo. Meg desce até o subterrâneo, depois dela ter cantado uma belíssima música do filme, e Christine diz para ela:
Christine – Meu pai, uma vez, falou de um anjo. Costumava sonhar que ele tinha aparecido. Agora, quando eu canto, consigo senti-lo e sei que ele está aqui neste quarto. Ele me chama suavemente de algum lugar aqui dentro escondido, de algum modo sei que ele está sempre comigo. Ele – o gênio invisível.
Meg – Christine, você deve ter sonhado. Histórias assim não podem ser verdadeiras. Christine, você está falando em enigmas e isso não é próprio seu. Deixa isso prá lá que isso é fantasia. Vem para o mundo da fama, do palco, esquece isso.
Claramente uma voz que ouvimos muito dentro de nós quando queremos fazer alguma coisa grandiosa. Se vocês tiverem oportunidade de assistir algum dia a uma palestra que dei falando de um livro de “Como superar seus limites internos”, ele chama isso de resistência. A voz da resistência está sempre dentro de nós. Toda vez que nós fazemos um movimento para subir, a voz da resistência surge no meio do caminho e você se sente dividido. Duas vozes dentro de você e não sabe qual das duas é você. Necessariamente, aquela que te faz sofrer como ser humano. Essa é você. Essa é a voz do anjo da música.
Sempre existe uma voz dentro da gente que tenta nos dizer algo, importante, mas que não damos o devido valor. A razão tende a privilegiar os aspectos materiais da comunicação, que tenha uma fonte visível ou constatável por algum artifício material. A voz da intuição não tem sonoridade, está associada aos nossos compromissos espirituais e deve ser cultivada para que floresça e se torne significante. O cuidado que devemos ter é de não deixar o mundo material ser desconsiderado e passarmos a viver em um mundo particular, próprio dos esquizofrênicos.
A minha intuição não chega a ser tão forte quanto procura mostrar a alegoria de O Fantasma da Ópera, mas sei que tenho e que me dá boas contribuições, em todos os aspectos da minha vida.
Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.
Não se esqueçam, gente, é muito importante que a gente lembre disso. Nos mitos gregos e nos mitos todos da humanidade, não existem vários personagens. Existe um só, e todos os secundários são fatores psicológicos, morais, espirituais, desse personagem projetado do lado de fora porque não se consegue vê-lo do lado de dentro. Então, um é o medo do protagonista, outro é a ousadia do protagonista, o outro é a espiritualidade do protagonista. A personagem é Christine, esse ser crucificado entre dois mundos. Todos os outros estão representando, aliados de um mundo ou do outro. Com elementos caracterizadores de um mundo e do outro.
Por último, eu gostaria de lembrar sobre o pai de Christine, pois ele era um grande músico e se representa como uma voz do passado que a incentiva a encontrar o futuro, embora Raoul se aproveite desse passado para tentar prendê-la aí, o pai não fazia isso. Ele dizia: um dia você vai encontrar um anjo da música e ele vai te proteger. Você vai estar com ele no futuro. Veja como se ele fosse um mestre que já lhe prepara para o grande momento e aí lhe empurra para o futuro. Tanto que, num determinado momento do filme, quando ela está muito desesperada, sentindo seus sonhos morrerem, sentindo arrastada pelo brilho do palco, ela vai ao cemitério para relembrar do pai. É uma cena muito bonita no filme, pois tudo é cinza, menos as flores que ela tem nas mãos que são vermelhas. Vermelho como símbolo de vida, de energia, é como se quisesse vitalizar aquele sonho que o pai deixou para ela. E ali mesmo naquele cemitério começa a briga entre Raoul e Eric, entre o futuro e o passado, entre as forças da mudança e as forças da inércia. Mas está claro que ela ainda está querendo vitalizar o sonho que o pai deixou para ela. Tem muitos detalhes interessantes.
Nossos pais sempre desejam o melhor para nós, seus filhos. Mesmo que em muitas ocasiões, sejam uma projeção dos seus desejos. Mas, enfim, é sempre uma ação com intenções positivas. A premonição que o pai tinha que no futuro Christine iria encontrar um anjo que lhe conduziria para o alto, para sua destinação divina, vai se encontrar no duelo entre a razão e a intuição. A razão representada por Eric e todo o seu cortejo material que mostra a importância de uma vida segura, com fama e poder. A intuição representada por Eric, o Fantasma da Ópera, com a máscara que esconde o seu lado brutal, animal, monstruoso, mas que tem o vigor de sintonizar a essência divina de Christine com os dons artísticos da voz, da dança... mas é esse mistério que lhe traz medo e ao mesmo tempo curiosidade e atração.
Esta é a queda de braço entre a razão e a intuição que todos nós possuímos em maior ou menor grau. Confesso que mergulhei fundo nas minhas intuições, mesmo sem ter abandonado a razão. Mas, a razão superficial do que pode me trazer prazer imediato, poder ou segurança, não consegue obstruir minhas intuições do caminho verdadeiro, mesmo que cercado de diversas narrativas contrárias.
Estou caminhando com a bússola da intuição, mas carregando também ao lado a razão e a coerência. A razão termina sendo um instrumento de correção para os caminhos delineados pela intuição.