Encontrei o pensamento de Yuval Noah Harari mesmo depois de ter adquirido os seus três livros, bastante difundidos no mundo. O autor nasceu em 1976, em Israel, Ph.D. em história pela Universidade de Oxford, é atualmente professor na Universidade Hebraica de Jerusalém. Considerei bastante relevante após ouvir os dois primeiros livros, Sapiens e Homo Deus. Resolvi ler este terceiro livro, 21 Lições para o Século 21, e fazer a exegese por trechos sequenciais, por considerar existir uma falta de consideração com a dimensão espiritual, indispensável para as conclusões que são tomadas em todos os ângulos em investigação histórica. Convido meus leitores especiais a caminhar comigo nesta nova maratona racional onde pego carona com o brilhante intelecto do autor Yuval.
FIM DO CAPÍTULO 1
Não temos ideia de como será o mercado de trabalho em 2050. Sabemos que o aprendizado de máquina e a robótica vão mudar quase todas as modalidades de trabalho – desde a produção de iogurte e até o ensino da ioga. Contudo, há visões conflitantes quanto a natureza dessa mudança e sua iminência. Alguns creem que dentro de uma ou duas décadas bilhões de pessoas serão economicamente redundantes. Outros sustentam que mesmo no longo prazo a automação continuará a gerar novos empregos e maior prosperidade para todos.
Estaríamos à beira de uma convulsão social assustadora, ou essas previsões são mais um exemplo de histeria ludista (referente a Ned Ludd, trabalhador que se oponha ao avanço tecnológico das máquinas dentro das fábricas) infundada? É difícil dizer. Os temores que a automação causará desemprego massivo remontam ao século XIX, e até agora nunca se materializaram. Desde o início da Revolução Industrial, para cada emprego perdido para uma máquina pelo menos um novo emprego foi criado, e o padrão de vida médio subiu consideravelmente. Mas há boas razões para pensar que desta vez é diferente, e que o aprendizado de máquina será um fator real que mudará o jogo.
Humanos têm dois tipos de habilidade – física e cognitiva. No passado, as máquinas competiram com os humanos principalmente em habilidades físicas, enquanto os humanos se mantiveram à frente das máquinas em capacidade cognitiva. Por isso, quando trabalhos manuais na agricultura e na indústria foram automatizados, surgiram novos trabalhos no setor de serviços que requeriam o tipo de habilidade cognitiva que só os humanos possuíam: aprender, analisar, comunicar e acima de tudo compreender as emoções humanas. No entanto, a IA está começando agora a superar os humanos em um número cada vez maior dessas habilidades, inclusive a de compreender as emoções humanas. Não sabemos de nenhum terceiro campo de atividade – além do físico e do cognitivo – no qual os humanos manterão uma margem sempre segura.
É crucial entender que a revolução da IA não envolve apenas tornar os computadores mais rápidos e mais inteligentes. Ela se abastece de avanços nas ciências da vida e nas ciências sociais também. Quanto mais compreendermos os mecanismos bioquímicos que sustentam as emoções, os desejos e as escolhas humanas, melhores podem se tornar os computadores na análise do comportamento humano, na previsão de decisões humanas, e não substituição de motoristas, profissionais de finanças e advogados humanos.
O processo evolutivo que alcança tanto a dimensão material quanto a espiritual faz parte da natureza e suas leis. A evolução que atinge a tudo, também não deixa de atingir as relações de trabalho. A ameaça do homem se tornar desempregado e mesmo inútil é uma possibilidade constante nas diversas narrativas que tentam conquistar a Terra. De todas, é o cristianismo a que mais respeita a dignidade humana e a que deixará todos os interesses em segundo plano para não afrontar o homem enquanto criatura e reflexo do Criador.
Podemos considerar as habilidades física e cognitiva que possuímos, passíveis de serem desenvolvidas pelas máquinas, cada vez com maior eficácia, devido o aprimoramento de nossa tecnologia humana nesse sentido. Pode ser que estejamos desenvolvendo uma arapuca onde terminamos presos, pois a nossa racionalidade pode aperfeiçoar tanto as máquinas que elas podem nos superar em alguns aspectos que podem generalizar para além de nosso potencial.
É quando a criatura se torna mais eficiente que o criador humano? Parece que essas preocupações induzem a isso. Em algumas exigências a máquina se tornou mais eficiente que o humano que a criou, como podemos ver em diversos artefatos tecnológicos, como telescópios, computadores, radares, etc.
Talvez o único campo em que a máquina não possa alcançar o potencial humano seja a espiritualidade, o campo transcendental. Neste caso, mais uma vez a narrativa do cristianismo que defende o Reino de Deus, se mostra superior a todas as outras narrativas.
Recebo a consciência do Mestre para absorver os seus ensinamentos quando Ele encarnou para transmitir fisicamente entre nós há 2.000 anos.
Esta consciência é transmitida para nós, os trabalhadores de última hora, pelos diversos registros escritos, principalmente na Bíblia, o mais tradicional, que até hoje é lido pela maioria dos cristãos como a palavra de Deus.
Observamos que na Bíblia existem muitas incoerências, e que o avanço da ciência mostra isso com muita clareza. No entanto, as personalidades do mundo espiritual que nos ajuda a evoluir no caminho correto, sempre estão nos atualizando de acordo com nossa capacidade cognitiva.
Estas cartas de Cristo é um exemplo desse trabalho. Coloca com mais precisão o tipo de ensinamento que o Cristo procurou nos deixar. Outro exemplo, que traz ensinamentos bem mais complexos, informando da cosmologia onde se situa o Universo Central do Paraíso são os que estão registrados em “O Livro de Urântia”, que já começamos a divulgar neste espaço.
Cristo mostra nas suas Cartas, como mestre, que devemos ser “rebeldes” a um status quo que mantém o homem preso à preconceitos, tradições e dogmas religiosos, que impedem a evolução do Espírito e favorece a escravidão corporal.
Não devemos ser agitadores nem desobedecer a lei nem a ordem estabelecida, mas argumentar sobre a incoerência que elas apresentam e mostrar, pelo exemplo pessoal, a melhor forma de pensar e agir, em consonância com a vontade do Pai.
Ele explica que a melhor forma de pensar, foi aquela adquirida durante as 6 semanas que passou no deserto. Ensina que o recolhimento pessoal de tudo e de todos é útil para resistir à pressão do mundo, da opinião pública contrária aos caminhos retos.
Algumas pessoas acreditaram que Ele era verdadeiramente o Messias, o filho de Deus e que trazia uma mensagem aos judeus para salvar a alma, mas também procuravam se relacionar com o mundo da melhor forma possível.
Portanto, suprimiram em seus relatos quaisquer descrições da pessoa que Ele realmente era. Eles, principalmente os Apóstolos, disseram apenas o que consideravam importante para as pessoas daquele tempo e do futuro.
Deixaram de fora a maior parte do que se referia ao Reino de Deus, não compreendiam e nem achavam desejáveis para a nova percepção do divino, do Pai.
Mas esse trabalho também foi importante, pois o nome do Cristo permaneceu vivo através dele e por isso posso vir até você agora, para compartilhar a verdade que não foi possível há 2.000 anos.
O livro de Urântia, nome que significa o planeta Terra na cosmologia espiritual, foi escrito de forma intuitiva para ser a Quinta Revelação. Vale a pena colocar aqui de que se trata para que meus leitores interessados possam ir em sua busca. Aconselho.
É importante que seja lido desde o início das suas mais de 2 mil páginas, para se ter uma boa compreensão daquilo que irá sendo revelado no decorrer do estudo.
A primeira parte aborda a cosmologia que é a base do entendimento do livro em si, pois é a base da constituição do Universo em evolução, consequentemente, da nossa própria evolução, individual e coletiva.
Depois aborda o que é Deus e sua manifestação no universo, da infinidade da criação, de infinitos seres que que vêm e que vão na trilha evolucionária, uns ajudando os outros na escalada da vida eterna em direção ao Criador.
Outro passo abordado é sobre a constituição do ser humano, que irá descrever como estamos formados. Este é o meu assunto na disciplina de Medicina, Saúde e espiritualidade, onde dou a aula “Anatomofisiologia Multidimensional” e que já coloquei neste espaço a primeira parte dessa aula. Certamente terei oportunidade de rever os meus conceitos quando estiver estudando essa parte do Livro de Urântia.
O estudo da vida após a morte também irá me trazer revisões na minha forma de pensar sobre a questão. Este é um tema bastante comum na disciplina, inclusive estaremos com uma nova aula nesse sentido, “Experiências de Quase-Morte (EQM) “.
Um tema interessante que já me fez refletir antes de ler com mais profundidade sobre o assunto, é o Ajustador do Pensamento, que é considerado como o nosso Eu individual, a centelha divina, algo colocado pelo Criador com a finalidade de não nos desviarmos do caminho correto. Seria como os núcleos da fome e da saciedade colocados em nosso cérebro. Quando eles estão ativados fazem com que nós procuremos alimentos e também que paremos de nos alimentar.
As coisas, significados e valores, são os elementos que a Centelha Divina está sintonizada para daí influenciar o pensamento em busca do ideal e do coletivo. Quais os elementos que irão ser úteis para essa evolução.
Entra no estudo da administração planetária, as personalidades que estão responsáveis por toda estrutura cosmológica onde estamos inseridos na base da pirâmide que tem o foco em Deus.
Veremos a necessidade de uma elite espiritual no topo da pirâmide, bem próximo de Deus, e junto um grande número de criaturas intermediárias fazendo a capilaridade da vontade do Criador nos mais discretos aspectos da Natureza.
Entra num campo bem próximo dos nossos conceitos religiosos, da existência de Lúcifer como um governante do nosso sistema e que se rebelou contra a ordem estabelecida arrastando consigo outra personalidade e que trouxe muita dificuldade para a evolução no sistema e nos planetas.
Mostra também quem são Adão de Eva, quais seus objetivos, seus propósitos dentro da evolução e a falha que houve quando eles vieram aqui como filhos materiais, trazendo o sangue violeta para melhorar nossa condição social.
A quarta e última parte, fala da missão de Jesus de Nazaré, da sua auto outorga em nosso planeta, na condição de mortal, filho do homem, mesmo sendo o criador do Universo Local onde estamos instalados.
Portanto, é um livro que nós, espiritualistas ou não, devemos ler para poder refletir sobre todas essas informações que possuem um altíssimo grau de coerência interna.
Tenho dúvidas quanto ao receber privilégios de pessoas amigas que procuram ajudar em detrimento de outras pessoas. Por exemplo, em um serviço do Departamento de Trânsito em que preciso resolver alguma demanda e me deparo com uma enorme fila de pessoas com objetivos parecidos. O esperado é que eu entre no fim da fila e espere a minha vez. Mas, havendo uma pessoa amiga, esta faz sinal discreto para que eu saia da fila e resolve os meus problemas de imediato, sem que as pessoas percebam que ocorreu tal fato. Esta é a questão: foi um privilégio alcançado sem ética? Vamos colocar alguns argumentos...
Sou médico, o amigo sabe da minha profissão e que eu perderia tempo naquela fila, talvez uma vida se perdesse por este atraso de chegar ao hospital. O amigo poderia até explicar a situação a todos na fila e justificar o atendimento precoce, que deixaria de ser um privilégio, e sim uma necessidade, como uma ambulância que anuncia com sua sirene a condição e os demais carros abrem caminho para que ela passe na frente. Porém, se eu ou a ambulância não vamos prestar de imediato o serviço que estamos capacitados, então devemos ficar na fila como todos os outros.
Mas acontece que não estou à serviço, mas o amigo me deve um grande favor, de eu ter salvo a sua vida ou de algum parente, e ele se sente no dever de me render algum privilégio. Será lícito por esse motivo eu passar na frente dos outros? Ele poderá colocar o mesmo argumento para todos na fila para justificar o atendimento precoce? Será que, os frutos do exercício da minha profissão, pelos quais eu tenho o dever de produzir, justifica eu receber privilégios por esse motivo? Todos que estão na fila também são profissionais e todos produzem os seus frutos. Por esse motivo, o funcionário que recebeu determinado fruto de alguém que está na fila irá atender com privilégios a essa pessoa? Parece que esse seria o motivo para o funcionário não explicar o atendimento precoce, pois iria encontrar pessoas que se sentiriam ofendidas por que os frutos do seu trabalho não lhe estariam rendendo tais privilégios.
Esta é uma situação em que a gratidão se defronta com a ética e os privilégios que uma pessoa possa receber se transforma em um ato de iniquidade. O funcionário fica constrangido, pois nada pode fazer para mostrar a sua gratidão àquela pessoa que tanto bem um dia lhe fez, mesmo que fosse por dever de sua profissão.
Para sair dessa situação constrangedora, podemos apelar para a bússola comportamental que o Cristo nos ofereceu para resolver questões de relacionamentos interpessoais como esta: “Fazer ao próximo aquilo que desejamos seja feito para nós”, ou o seu inverso, “não fazer ao próximo àquilo que não queremos para nós”.
Dar privilégios ao amigo como forma de gratidão, é o que eu gostaria de receber na condição de amigo? Sim. Se eu estivesse na fila e tal fato ocorresse, mesmo sem o meu conhecimento, eu iria ficar satisfeito? Aqui estaria o fator decisivo. Pois se a minha consciência apontasse que eu não iria me sentir satisfeito com a ocorrência, eu não deveria praticar. Mas se minha consciência apontasse que eu não iria me importar e até acharia justo que tal acontecesse, então eu praticaria. É como a atual lei que permite que os idosos e seus acompanhantes tenham o privilégio de serem atendidos antes de pessoas de menor idade, e todos acatam, pois todos um dia receberão tais privilégios.
No caso dos amigos, fica a mesma disposição... se eu estou pronto para acatar os privilégios que os amigos dos outros recebam, passando na minha frente, então eu posso usar a bússola do Cristo e fazer o mesmo com os meus amigos.
A consequência disso seria positivo ou negativo para a sociedade? Acredito que positivo, como tudo que o Cristo ensinou. Todos irão perceber a importância da amizade e que nada seria feito que não passasse do crivo daquilo que não se achasse importante para mim mesmo. A sociedade se tornaria mais harmônica, os privilégios da amizade jamais ultrapassariam os limites da ética, da responsabilidade, da gratidão. Jamais se tornariam abusivos ou prejudiciais aos outros, pois todos tinham a mesma capacidade de se tornarem dignos de privilégios dessa natureza. Quanto mais o bem eu possa fazer ao meu redor, mais amizade estarei cultivando e mais frutos delas irei colher. E se todos fizerem isso, teremos uma sociedade que está se aproximando do Reino de Deus.
Mas... cuidado! Não queiramos agir assim para depois usar esses frutos de forma abusiva. E para isso o Cristo nos dá outra lição. Que tua mão esquerda não saiba a caridade que a mão direita pratica. As nossas ações no bem não podem ser alardeadas para atrair sobre nós o olhar beneplácito de todos, pois a humildade se perde, a arrogância se eleva, e a amizade termina murchando.
Em tudo isso observamos que deve ser o amor incondicional a grande energia para motivar os nossos pensamentos, emoções e atitudes. A amizade deve servir de parâmetro, para eu agir com todos como se um grande favor cada um tivesse me feito, para que eu possa agir dessa forma com meus amigos.
Pedro andava meio sem rumo pela cidade, não tinha uma meta a atingir, um lugar a chegar. Estava encucado com o que sentia após ouvir uma parábola de Cristo sobre o perdão. Ele sabia que havia feito muita coisa errada, cometido muitos pecados, mas tudo isso ele deixava no passado e caminhava em frente, sem constrangimentos, sem nada que pudesse lhe apontar como culpado. Afinal, todos não faziam o que ele faz? Por que então se culpar com isso? O que ele faz de errado com os outros, os outros fazem de errado consigo. Então fica tudo equilibrado, né?... pensava...
Mas por que diabos ele fora parar um pouquinho para ouvir aquele “louco” que berrava sozinho na calçada com um microfone na mão pedindo que todos se arrependessem dos pecados para se salvar, que o filho de Deus estava ali para lhes perdoar? Eu tenho tanto pecado que é impossível aguem perdoar, nem que seja Deus, quanto mais o seu filho.
Mas por que essas palavras continuavam fazendo eco em minha cabeça? Continuava a pensar o estivador das rocas, com o corpo marcado pelos pacotes que levara do navio para as docas. Quem chegasse mais próximo ainda poderia sentir o bafo de álcool, que ele não relaxava de tomar com um churrasquinho de carne de porco antes de chegar em casa.
Só faltava essa, discutia consigo mesmo, certamente esse “doido” quer que eu volte e pague a ultima rodada de pinga e espetinho que disse aquele safado que vende carne de gato no palito, que eu não havia consumido.
Mas aquela história que ele falou de Jesus, que perdoou a rapariga que lavou os seus pés com as lágrimas, e ainda beijou e perfumou, porque ela demonstrou muito amor, pois tinha muito pecado a ser perdoado. Enquanto isso, o fariseu que havia convidado o Mestre a sua casa e estava criticando Jesus por ele não saber distinguir uma puta de uma pessoa direita, então não era profeta, muito menos filho de Deus.
Mas que tapa ele deu quando disse que a mulher muito amava porque tinha muito pecado e por isso teria que agir assim para alcançar o perdão. O fariseu teve que reconhecer que o Mestre estava certo quando ele falou aquela história dos dois homens que devia a um agiota, um 50 e outro 500 reais. O agiota num rasgo de compaixão perdoou aos dois. O fariseu chamado a julgar quem devia mais favores, não podia deixar de reconhecer que seria o que foi perdoado dos 500 reais. Ficou envergonhado ao perceber que a pecadora estava carregada de pecados e, portanto, fez todo o esforço para demonstrar o seu amor e ser digna do perdão, enquanto o fariseu que se considerava uma pessoa pura, não tinha necessidade demonstrar qualquer ato de amor para ser digno de perdão.
Diabos, que essa história não me sai da cabeça. Devia ter me embriagado mais, regurgitava os pensamentos o bruto estivador. Mas o que ganho demonstrando muito amor para ser digno da quantidade de perdão que eu preciso? Nunca vi perdão encher bucho...
Assim pensando e gesticulando, Pedrão chegou em casa, cenho franzido, olhar estranho. A mulher que sempre se esquivava do seu mau humor quando ele bebia, desde que casaram há 9 anos, ficava agora parada na sua frente, como se quisesse reconhecer que aquele era mesmo o seu marido, com o mesmo bafo de cana, mas agora com um olhar mais perscrutador, como se quisesse encontrar algo além do horizonte mental.
“Sim, pensava Pedrão, não custava experimentar... fazer algo bom para alguém para ver se ele se sentiria tão logo aliviado.”
Lembrou daquele “Pedro” do Evangelho, tão valente e tão covarde ao mesmo tempo, mesmo assim foi a ele que o Cristo recomendou a Sua igreja.
Bom, sabia que tinha que fazer algo para atenuar seus pecados, para conquistar o perdão. Mas não sabia por onde começar...
Com a cabeça mergulhada em tais pensamentos, não conseguiu ver a mulher admirada com a sua mudança, não sentiu apetite para sentar na mesa e comer o arremedo de jantar que ela havia preparado.
Caiu na cama com a cabeça mergulhada no travesseiro roto e deixou que o hálito alcoólico voltasse a lhe embriagar, num perfeito estilo de reaproveitamento de resíduos vaporosos.
Nessa condição, logo foi cooptado por Morfeu e entrou cambaleante no mundo dos sonhos.
Era agora um estivador musculoso... e curioso. Estava em uma terra estranha e viu à sua frente, uma algazarra que se arrastava tendo ao centro alguns soldados que levavam sob chicotes um homem coberto de sangue, com uma coroa de espinhos na cabeça e um pesado madeiro nos ombros.
Sentiu logo tamanha compaixão, por aquele que estranho que se arrastava arrastando tamanho peso sobre si. Chegou mais perto sem saber o que fazer. Foi quando o homem não resistiu e desabou no chão tendo o madeiro sobre ele.
Não soube de onde veio tamanha coragem, pois sem considerar o chicote dos soldados, chegou perto do homem, tirou o madeiro de sobre ele e colocou nas suas próprias costas.
O chicote agora tinha um novo alvo. Ele sentiu o peso do madeiro e principalmente o corte incandescente do chicote rasgando sua carne. Ouviu o urro que deu muito acima do alarido da multidão. Algumas mulheres caridosas chegaram perto do homem no chão, deram água a ele e limparam o seu rosto ensanguentado.
Os soldados agora tinham um novo motivo para brandirem seus chicotes e uma nova carne humana, mais musculosa, mesmo que fosse mais escandalosa com tais urros que apresentava a cada estalar do chicote em suas costas,
A multidão mais excitada, os soldados mais motivados, e Pedro, o impulsivo curioso que ficara em tal posição, de sofrer tais horrores, sem conhecer a quem estava ajudando, nem porque o fazia... apenas sentia que era isso que procurava.
A mulher de Pedro, perto da cama em que ele havia mergulhado tão rápido em tão profundo sono, nunca o tinha visto sonhar daquele jeito... soltava gritos de dor a cada momento, mas no seu semblante, além do icto de sofrimento, mostrava uma aura que ela pensara ter visto algo semelhante em alguns santos que tinha na igreja.
Ela não sabia se brigava com ele ou se rezava para ele. Também não sabia que existe muitos modos de se pagar pelo menos uma parte dos nossos pecados.