A série “Messiah” que passa na Netflix, traz em seu 7º episódio, temporada 1, um diálogo interessante que se passa no apartamento de um hotel onde Al-Masih, o pretenso Messias, se encontra monitorado pelas forças de segurança. O diálogo é entre uma jovem, Eliana, que se aproxima sorrateiramente com a desculpa que está doente e precisa ser curada. Entra no tema da sexualidade com importância para nossa reflexão.
E – Oi. Desculpe, não queria incomodá-lo tão tarde. Ouvi falar que ajudou uma menina hoje. Que você a curou. Estou doente. Muito doente.
Al-Masih abre passagem para ela entra no seu apartamento.
E – Aqui é bem legal.
M – Você não é daqui.
E – Da capital? Washington? Alguém é daqui? Curou mesmo aquela garotinha?
M – Acredita que sim?
E – Sim. Eu estava lá. No Mall. Vi o que você fez. Quando estava olhando para você, senti algo dentro de mim. Aqui, como... um calor. Acho que muita gente sentiu. Você nos tocou a todos nós. Senti que me tocava. Fiquei nervosa vindo aqui, mas agora que estou aqui, é como se a sala estivesse cheia de você, do seu poder.
Ela se aproxima da cadeira onde ele está sentado e beija sua mão.
E – Você é cheiroso.
M – o que acha que vai acontecer agora?
E – Quero que me cure.
M – Como?
E – Isso não é com você?
M – Acha que vamos transar?
E – Eu quero. Sim.
M – E como isso vai curá-la?
E – Só quero estar perto de você.
M – Você não sabe como estar perto.
E – Achei que estávamos bem.
M – Há tanta vergonha em você.
E – O que?
M – Você tem um trabalho difícil. Carregar o fardo dos homens, guardar seus segredos, dizendo o que querem ouvir, enquanto os deixa tocá-la. Você diz a si mesma que não importa, mas sua alma se rebaixa a cada dia. Todo dia você morre um pouco mais.
E – O que faço com meu corpo é problema meu. Não é decisão de ninguém. Com certeza não sua.
M – Vir aqui foi decisão sua? Então, vamos parar de fingir. Você veio aqui hoje porque alguém pagou. Mas você poderia ter recusado o dinheiro. Não foi só por isso que veio. Foi? Pronto. Aí está você. Agora eu vejo você. Como pode ser a pessoa que Deus planejou se não é honesta sobre quem é? Diga o seu nome. Seu nome verdadeiro.
E – Eliana.
M – Eu amo você. Eu amo você, Eliana. Eu amo o que é eterno em você.
E – Eles me pagaram.
M – Eu sei.
E – Desculpe. Eu não quis...
M – Eu sei. Acho que alguém está nos observando agora.
E – Desculpe. Tenho que ir embora.
M – Deus ama você.
O policial que estava na escuta retira os fones de ouvido, admirado. Ele alcançou o conteúdo da mensagem e ficou impactado. Como uma pessoa administra tão bem os impulsos sexuais que possuem tão grande força e em nenhum momento ele tenta provar os desejos da carne que estão ali à sua disposição? Como agir com tanto carinho com uma pessoa que estava ali para lhe enganar? Como procurar entender a alma dessa pessoa e procurar dizer as palavras de conforto e orientação quanto o seu trabalho e o benefício que presta aos homens? Como não procurar saber a fonte do mal que queria lhe prejudicar?
São todas essas questões que permaneciam na mente do policial e permanecem na nossa agora, sem uma resposta acadêmica, racional. Somente uma força vinda do campo espiritual, ligada a divindade, pode dar essa energia a quem se capacita para recebe-la de devolvê-la entre as pessoas que considera como irmãos.
Quando nos conscientizamos da importância de fazer o Bem, a primeira ação que tomamos é de nos reunir com pessoas que têm as mesmas intenções. Agora, precisaremos de apoio para que esse projeto siga adiante. Quem apoiará?
Deus jamais faltará apoio a toda obra fundamentada na realização do Bem, no Amor, pois essa é a Sua essência.
As reuniões que criei tanto em Natal como em Ceará-Mirim, assim como em qualquer lugar, ou que participo como integrante seja em qualquer instituição, sempre mantenho o foco no Bem, no exercício que ainda sou forçado a fazer, do Amor Incondicional. Sinto que Deus fica “contente” ao ver a produção dos bons frutos que surgem a partir daí.
Deus só deixará de apoiar qualquer grupo ou sociedade, ou mesmo o indivíduo, se houver o esquecimento dos princípios da caridade (amor) e fraternidade. Pois com esse esquecimento se perde a característica de relacionamentos entre verdadeiros irmãos. Passamos a ver as pessoas com maus olhos, atiramos pedras, ou procuramos denegri-las sob um pretexto qualquer.
A caridade e a fraternidade se reconhecem por suas obras, e não por palavras. É uma medida de apreciação que não enganará senão os que se cegam quanto ao seu próprio mérito, que têm interesses escusos às escondidas, mas não a terceiros desinteressados. É a pedra de toque, pela qual se reconhece a sinceridade de sentimentos.
No caminho para Deus, quando se fala de caridade, não se trata apenas daqueles que dão, mas também, e principalmente, dos que esquecem e perdoam as ofensas, que são benevolentes e indulgentes com as falhas dos outros, que repudiam todos os sentimentos de ciúme e de rancor.
Toda reunião fraterna que não se estabeleça sobre o princípio da verdadeira caridade, será mais prejudicial do que útil, porque tenderá a dividir em vez de unir. Trará em si mesma um elemento destruidor.
Assim, a simpatia de Deus será sempre conquistada por todos que provarem, por seus atos, a natureza boa que os anima, porque as pessoas boas não podem inspirar senão o Bem.
A série “Messiah” que passa na Netflix, traz em seu 4º episódio, temporada 1, um diálogo interessante que se passa na detenção, onde o preso se encontra algemado. O diálogo é entre aquele que é considerado o Messias e a agente da CIA, Eva, que anda investigando os seus passos, e que merece reproduzirmos para nossa reflexão.
E – Olá.
M – Olá.
E – Está sendo bem tratado?
M – Sim, obrigado. Você quer perguntar algo?
E – Não, só quero conversar. Sou o que você pode chamar de seguidora, porque tenho seguido você. Síria, Israel, Jordânia, México.
M – Você é da CIA.
E – Você passeia bastante.
M – É da natureza da minha obra.
E – E que obra é essa?
M – A obra de Deus.
E – E Deus quer você aqui? Em um centro de detenção do Texas?
M – Por enquanto.
E – Está planejando outra fuga?
M – Não depende de mim.
E – Deve ser reconfortante saber que o que quer que faça é a vontade de Deus.
M – Pelo contrário. É uma grande responsabilidade. Ele não pede coisas fáceis.
E – Responsabilidade? Sente-se responsável pelas centenas de mulheres e crianças que levou à fronteira de um país que nunca as deixará entrar?
M – Não podemos questionar a vontade de Deus.
E – Não estou questionando a de Deus. Estou questionando a sua. Foi você quem os levou. Logo começarão a morrer. E será culpa sua. Você já fez muitos inimigos.
M – Falar a verdade costuma ter esse efeito.
E – A verdade? Chegaremos a Verdade.
M – Sim.
E – Ótimo. Quanto mais cooperar,, mais posso ajuda-lo.
M – Não preciso da sua ajuda. Deus proverá.
E – Sabe, talvez eu faça parte do plano de Deus.
M – Você faz.
E – Então, me diga qual é o plano. Esclarece para mim.
M – Quem dera fosse assim tão simples.
E – Mas nunca é. Não é mesmo? É sempre uma ideia inalcançável. E as pessoas só precisam confiar em você e segui-lo. Sabe, meu trabalho... encontro pessoas como você o tempo todo, pessoas que acham que têm a resposta. Se o mundo as escuta e faz o que dizem, elas se comprometem tanto com uma ideia que distorcem a si mesmos. Tornam-se a encarnação desse ideal, o que faz com que se sintam especiais. Por um tempo. Mas mais cedo ou mais tarde, todas essas pessoas, no fundo, querem parar. Sentem falta de serem humanas. Mas acham que não têm escolha a não ser continuar o que começaram, se isolando, se afastando de amigos e família, e ficando cada vez mais longe do que sabem, até que não haja escolha a não ser pular do penhasco. E é isso o que torna pessoas como você, perigosas. Para todos, inclusive para você mesmo. Meu trabalho é pegar você antes desse penhasco.
M - Apanhadores no campo centeio.
E – O que disse?
M – Nós somos apanhadores no campo de centeio, nós dois. Tentando impedir que as crianças caiam. Você é muito devotada ao seu trabalho.
E – Por que diz isso?
M – É domingo. Você é uma mulher que lutou muito para ter o que tem. Lutou para ser reconhecida, para ser a melhor, para se destacar, para ser melhor do que os homens ao redor.
E – Como toda mulher.
M – Mas você está pronta para ir além. Ignorar os problemas pessoais e se arrastar para cá num domingo. É isso que você idolatra.
E – Idolatrar?
M – Todos idolatram. Só muda a escolha do que idolatrar. Alguns se ajoelham perante o dinheiro. Alguns perante o poder, o intelecto. E você? Você é uma acólita da CIA. E sacrificou tudo por uma ideia. E, quanto mais perseguiu essa ideia, mais isolada você ficou. Mas, à noite, você deita na cama e se pergunta se valeu a pena desistir do que desistiu. Deus ouve as lágrimas que você não chora.
E – Você não sabe nada sobre mim.
M – Sei que está sofrendo. Não vai durar.
E – Estou ótima, obrigada.
M – Ficará ótima quando passar. Posso fazer passar.
E – Seu sotaque... você é do Irã. Tem família lá, amigos? E tem razão. Sou boa no que faço. E vou descobrir tudo sobre você.
M – Está procurando pelas coisas erradas. “Nada faltará àqueles que buscam o Senhor.”
E – Quem te ensinou hebraico?
M – Foi meu pai.
E – Quer me convencer que é judeu?
M – Segue a linhagem materna. Como você sabe. Assim como sua mãe teve você. Ela quer que você saiba que você foi um presente de Deus.
E – Você não sabe nada sobre a minha mãe.
M – Ela está sempre olhando você. Ela... e seu marido. Eva... tudo bem. Você pode chorar.
Eva sai da entrevista desnorteada, como ele sabe tanto sobre ela? Os argumentos são interessantes. Como ser tão direto na consciência de fazer a vontade de Deus, assumindo tão grande responsabilidade? E falar a verdade é motivo para criar inimigos? E essa vontade de Deus, é uma realidade ou distorção dela, que atrapalha nossa evolução? Que pode nos destruir e a quem convive conosco? Que ficamos tão convictos de ser a coisa certa que não podemos rever a posição e mudar de rumo? Será?
Paulo, a figura mais proeminente nos primórdios da igreja cristã, explicou à Igreja de Corinto que “é bom o homem não tocar em mulher, pois mesmo dentro do casamento, o sexo seduzia a mente e o corpo do homem, desviando-o do seu propósito maior, a comunhão com Deus”. O próprio Paulo era puro, solteiro e abstinente, e este era o estado mais sagrado. Ele escreveu, “quisera que todos os homens fossem como sou. Mas, se não podem guardar a continência, casem-se, pois é melhor se casar do que ficar abrasado (1 Cor 7, 1-40).
A partir daí, os principais nomes da Igreja Católica eram homens celibatários que levaram mais além esta visão negativa do sexo, que o desejo corporal era intrinsecamente vergonhoso e pecaminoso. O expoente mais poderoso desta visão foi santo Agostinho (354-430), bispo da cidade de Hipona no litoral norte da África. Mas o seu passado foi muito diferente. Viveu por muitos anos com sua amante não casada e seu filho ilegítimo. Mesmo quando começou a perceber o erro de sua conduta, orava para Deus da seguinte forma, conforme escrito em suas “Confissões”: “dai-me castidade e autocontrole – mas por favor, ainda não”, pois ele ainda era cheio de luxúria que estava ansioso para satisfazer do que extinguir”. No entanto, como no caso de inúmeros críticos à sensualidade que vieram depois, foi justamente sua experiência da força da paixão humana que o levou, uma vez convertido e dedicado a uma vida de celibato, a investir de forma tão veemente contra suas tentações vis e debilitantes. Por fim, Agostinho passou a ver a luxúria como o mais perigoso de todos os impulsos humanos. Assim como muitos outros teólogos medievais, argumentou que era uma consequência direta da Queda – os sentimentos sexuais não eram de forma alguma um bem, mas sim uma punição infligida por Deus a Adão e Eva e seus descendentes, uma marca indelével de seu estado pecaminoso e corrompido. Afinal, a luxúria tinha um incomparável poder de sobrepujar a razão e a vontade humana: quando excitados, homens e mulheres não podiam suportar nem mesmo as inquietações de sua própria genitália. Pior ainda, ninguém podia jamais ter certeza de haver dominado a luxúria para sempre, por mais vigorosos que fossem seus esforços.
Na velhice, quase 40 anos após se tornar celibatário, tendo dedicado sua vida à mortificação do desejo, Agostinho resumiu sua própria experiência numa carta a outro bispo, Ático de Constantinopla. Conter “esta concupiscência da carne”, queixou-se ele, era batalha de uma vida inteira para todos, fossem virgens, casados ou viúvos. “Pois ela se infiltra onde não é chamada, e tenta os corações das pessoas fiéis e santas com seu desejo inoportuno e mesmo perverso. Mesmo se não cedemos a estes seus incessantes impulsos com nenhum indício de consentimento, mas sim lutamos contra eles, quereríamos assim mesmo, por um desejo mais santo, que eles simplesmente não existissem em nós, caso isso fosse possível”.
Verificamos que essa condição sexual construída e permitida por Deus ser tão atacada pelas personalidades ilustres do cristianismo. Condenam o conteúdo (instinto sexual) por não poderem disciplinar a forma (comportamento sexual). Os desejos da genitália devem ser contidos quando forem inoportunos à causa do amor incondicional, quando levar prejuízo a terceiros ou a si mesmo, quando nele estiver embutido a perversidade. Devemos respeitar o impulso sexual que nos acomete e administrar a realização do desejo se isso for conveniente para ambas as partes. O celibato e qualquer outra forma de limitação artificial, vigorosa, punitiva, dessa energia sexual não se torna coerente com o nosso processo evolutivo em direção ao Pai. É importante que possamos administrar essas energias sexuais fortalecendo as ações coerentes com o amor incondicional, assim podemos contribuir para a formação da família universal e a construção do Reino de Deus entre nós.
Jesus pouco falou sobre o sexo, mas certamente, por seus princípios, ele não endossava o adultério ou a promiscuidade. Adultério no sentido de fugir aos compromissos conjugais assumidos por ocasião do casamento, na base do engano, traição do companheiro(a). Essa é a essência da condenação feita por Jesus, entendida dentro da racionalidade e coerência: seria o engano e a traição. Com a promiscuidade, a essência da condenação de Jesus seria um sexo indiscriminado sem respeito ou cuidado com o(a) parceiro(a). Mas será que o sexo fora do casamento, ou ter vários(as) parceiros(as) poderia passar positivamente pelo crivo de Jesus? Acredito que sim, e defenderei minha opinião.
Se o homem casa com a mulher, e ambos aceitam a possiblidade de existir sexo fora do casamento, tanto para um quanto para o outro, então se perde a essência da condenação sobre o engano ou traição. Da mesma forma, se a pessoa consente em ter vários(as) parceiros(as), embasados na aceitação mútua do livre arbítrio, na sensibilidade afetiva que ambos possuem para a realização do ato íntimo, e no prazer construtivo tanto para um quanto para o outro, dentro do respeito e cuidado com o(a) amante, mais uma vez a essência pela qual Jesus condenava essa atitude, se perde: a falta de respeito ou de cuidado com o(a) outro(a).
Dessa forma, justificado o sexo fora do casamento e sexo com vários parceiros(as) sem a essência da condenação divina, veremos que dar o mesmo nome, adultério e promiscuidade não se aplica mais.
A origem da palavra adultério vem da expressão latina “ad alterum torum” que significa “na cama de outro(a)”. O termo adultério pode ser usado tanto para definir a infidelidade em um relacionamento entre dois indivíduos quanto, em sua forma verbal ou adjetiva, para se referir a algo que foi “fraudado” ou “falsificado” (adulterar/ adulterado). Se os dois indivíduos casados, os cônjuges, combinam a possibilidade de estar na cama com outro(a), o termo perde a significação de infidelidade, de fraude, falsificação, engano ou traição. Portanto, merece ser substituído.
A promiscuidade é entendida como uma mistura desordenada, confusa entre as pessoas que se relacionam sexualmente, como libertinos ou indistintos, que se destaca pela imoralidade, pela prática de maus costumes sejam eles na vida particular ou na vida pública. A promiscuidade sexual é caracterizada pela constante troca de parceiros, com pessoas diversas com esse perfil. Caso mude o perfil, os parceiros podem ser diversos, mas agora com base na afetividade, no respeito mútuo, na segurança, na discrição, sem afetar a moral pública, então, acredito, que devamos procurar outro nome para designar esse comportamento. Isso hoje está bem definido nos relacionamentos abertos onde duas pessoas estão envolvidas, mas abertas para outros relacionamentos paralelos em sintonia com o Amor Incondicional. Acredito que esta seja uma forma de diminuir a força do egoísmo dentro da família nuclear, ampliando os afetos em busca da família universal e da construção social do Reino de Deus entre nós.
Eis o que penso sobre essa questão, que certamente irá desencadear muitas críticas dos moralistas de plantão, com todo o respeito. Espero estar pronto para rebatê-las com argumentos lógicos sem fugir dos princípios cristãos.