Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
07/07/2019 00h07
DORES E COMPAIXÃO

Ah! Tu que olhas os meus versos tristes

E por eles sente empatia

Por uma alma que nunca viste

E que não sabia que existia

           

Alma que chora por ter amor

E com todos quer o compartilhar

E com afetos levar o calor

Da luz de Deus para o caminhar

 

Pois cada alma, que nunca esqueço

Tudo deseja, exclusividade

E do amor fica só saudade

 

Por isso, amigo, eu te agradeço

Do fundo do coração

Da minha vida, ter compaixão.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 07/07/2019 às 00h07
 
06/07/2019 00h04
O FANTASMA DA ÓPERA – UM MITO (07)

            Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.

            Existe uma música, e esse espetáculo é cheio de músicas muito belas. Tem certas pessoas, ah, me desculpem se alguém vai ficar ofendido por isso, mas se você for cantar uma música para sua namorada ou seu namorado, que sei que alguns fazem, não cantem “All I ask of you”. É uma música linda, mas é um carcereiro cantando para sua prisioneira, ou vice-versa. Porque ele está dizendo “fuja de tudo o que lhe assusta e deixa eu ficar grudado em você 24 horas por dia. Venha para um lugar luminoso e seguro, é só o que peço para você. ” Só o que peço para você? Ele está pedindo tudo! Está pedindo para que ela renuncie à sua sombra inconsciente, está pedindo que ela renuncie à beleza que vem dessa sombra. Está pedindo que ela renuncie à sua espiritualidade, ele pede tudo! Mas é tão delicado, tão bonitinho, que parece que não está pedindo nada demais. Então vejam a letra dessa música...

RAOUL CANTA PARA CHRISTINE (All I ask of you)

                        Não vamos mais falar da escuridão, esqueça esses medos                       

Estou aqui, nada pode te ferir, minhas palavras irão te aquecer e acalmar

Deixe-me ser sua liberdade. Deixe a luz do dia secar suas lágrimas

Estou aqui, com você, ao seu lado, para te guardar e guiar

Deixe-me ser seu abrigo, deixe-me ser sua luz!

Você está segura, ninguém te achará, seus medos estão longe...

Então, diga que compartilhará comigo um amor, uma vida...

Deixe-me tirar você dessa sua solidão!

Diga que precisa de mim com você aqui, ao meu lado

Qualquer lugar que você for, deixe-me ir também.

Christine, isso é tudo o que te peço.

Compartilhe comigo cada dia, cada noite, cada manhã.

Qualquer lugar que você for, deixe-me ir também

Me ame, isso é tudo o que te peço.

            Não vamos mais falar da escuridão, ou seja, do espiritual, não é? Esquece esses medos, venha ficar segura, estou aqui, nada pode te ferir, minhas palavras vão te aquecer e acalmar. Mas ela tinha ânsia de palavras que despertassem e não adormecessem. Era o momento dela, mas o que ele oferece são palavras para acalmar.

            Deixe-me ser sua liberdade. Na verdade, ele se troca pela liberdade dela. Deixe a luz do dia secar suas lágrimas. Estou aqui, com você, ao seu lado para te guardar e guiar.

            Chega um determinado momento, vocês conhecem um ditado popular que minha avó adorava falar, que dizia que “a necessidade faz o sapo pular”, e o sapo precisa aprender a pular. E você fica com peninha do sapo, vai lá e tira a necessidade e ele não pula, nunca! Se tirar o medo da Christine, se tirar dela esse amor ao mistério, ela não pula, ela não vai para a frente, ela retrocede e fica estagnada. Isso não é liberdade, isso é prisão, porque é exatamente o que ele está oferecendo.

            Deixe-me ser seu abrigo, deixe-me ser sua luz.. uma luz falsa, pois a verdadeira ele não a deixa buscar.

            Você está segura, ninguém te achará, seus medos estão longe... então diga que compartilhará comigo um amor, uma vida. Deixe-me tirar você dessa sua solidão. Porque ela tinha um momento de vida interior, um encontro interno. Solidão não é necessariamente má. A solidão é estar desacompanhado de si mesmo. Essa é a verdadeira solidão. O que Raoul oferece para Christine tinha maior solidão.

            Diga que precisa de mim com você aqui com você, ao meu lado. Qualquer lugar que você for, deixe-me ir também. Christine, isso é tudo que te peço. Compartilhe comigo cada dia, cada noite, cada manhã. Você sabe que te amo. Qualquer lugar que for, deixe-me ir também. Me ame, isso é tudo que peço.

            Ele sabe perfeitamente que como representante que é das paixões da vida, onde ele estiver, o Fantasma não estará. Então, fique comigo o tempo todo, que o Fantasma não estará lá. Então, eu evito que você caminhe para a verdadeira luz te oferendo uma luz falsa. É uma paixão com furto, comodismo, aceitação social, uma saída convencional que vai te deixar numa zona confortável e sem risco, e não terá mais medo. Esse é Raoul.

            Este é o apelo que a cultura faz a minha amada, para que ela saia de perto de mim, dos riscos que eu levo por ensinar uma profundidade do coração, um mistério para quem não quer penetrar nessa intimidade, nessa viagem para o interior, mas com proposta de relacionamentos universais, de fraternidade, harmonia, solidariedade, compartilhamento de sentimentos. Em qualquer lugar que ela for, lá estará a cultura, eu, o fantasma, não poderei estar presente. Se ela me ouve, os valores culturais se perdem, a segurança se perde, o status que se conseguiu se perde. Não vale a pena ouvir a voz desse fantasma, é melhor ficar dentro da segurança que a cultura oferece, mesmo que jamais eu tenha oportunidade de ouvir essa voz que me ensina a pureza dos sentimentos.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 06/07/2019 às 00h04
 
05/07/2019 00h04
O FANTASMA DA ÓPERA – UM MITO (06)

            Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.

            Temos o visconde Raoul de Chagny. Esse visconde, é uma coisa curiosa, as referências são muito precisas, porque ele tem relação com o passado de Christine, ele a conheceu quando o pai ainda era vivo, os dois crianças, então ele a puxa para o passado. Ela está precisando caminhar para o futuro e em direção à sua essência, e ele o tempo todo chama memórias, chama ela para o passado, ou seja, desvia da sua meta de autoconhecimento e ao mesmo temo ele é o patrocinador do espetáculo que se passa no palco. Então, digamos que Christine não estaria disposta a permanecer numa vida banal, só pela vaidade, que tem vários atores muito vaidosos, só pela competência, porque tem muitos funcionários e atores competentes, mas tem um ponto que ela não tinha anunciado ainda, que era a paixão por uma forma de vida que lhe parece segura. Eric é mistério e ela tem medo dos mistérios. Então, nenhum personagem que está no palco seria suficiente para manter o palco, seria suficiente para prender Christine, porque ela é a grande protagonista do espetáculo. Raoul, que é o patrocinador do espetáculo, é o único que tem poder para prendê-la. E por isso ele é o patrocinador. Se não fosse por ele, aquele palco desmoronaria, porque Christine que é a personalidade que estava vivendo aquele drama, iria embora. Ele mantém ela motivada por algo, uma paixão por um território seguro do seu passado, aos pés do seu pai, uma situação conhecida. Ele mantém Christine assustada em relação ao mistério, hesitante em relação ao avanço, e ele consegue sucesso. Ele consegue prendê-la ao mundo banal, ele patrocina o palco e consegue manter o palco. Cumpre perfeitamente o seu papel.

            Para mim, dentro dos relacionamentos onde tenho o papel de Eric, do Fantasma da Ópera, do ser deformado, o visconde Raoul é representado pela própria cultura. A mulher que eu amo e que procuro passar para ela toda a profundidade do meu amor, uma forma de relacionamento de amor inclusivo capaz de transformar uma família de características nucleares para uma família de características universais, capaz de construir o Reino de Deus, como Jesus tão bem nos ensinou.

            Mas, essa mulher, mesmo que sinta a profundidade do que eu sinto, fica assustada com o mistério que isso representa, com o desvio dos padrões culturais que está ali ao seu lado, cobrando uma coerência do seu comportamento com o que foi ensinado pelos pais, pela escola, pela igreja.

            Então, essa mulher, termina capitulando e fica ao lado da segurança que o status quo parece garantir para ela e abandona o mistério que poderia leva-la a profundidade do seu ser.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 05/07/2019 às 00h04
 
04/07/2019 00h03
O FANTASMA DA ÓPERA – UM MITO (05)

            Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.

            O próximo personagem, Eric, o nome dele significa glorioso, grandioso. Ele é aquele que foi escondido num determinado momento, nos subterrâneos do teatro. Mas você vai contestar, ele era deformado, que tem a ver isso com nosso espírito?

            Existe uma obra indiana, chamada Bhagavad Gita, que ela coloca dois grupos de personagens associadas à juventude e aos vícios humanos. As virtudes são príncipes pândavas e os vícios príncipes kurus. A história é complexa e não quero que vocês entendam isso agora, mas agora eu quero citar para vocês uma passagem desse livro, dessa tradição, onde eles dizem o seguinte: se surgisse um pândava (ser virtuoso) adulto e armado diante de nós neste momento, nós teríamos pavor e sairíamos correndo. O que será que o Bhagavad Gita queria dizer com isso? Imaginem vocês ... é um monstro! Está querendo roubar tudo aquilo que me diverte, tudo aquilo que dá sentido à minha vida. Então me parece desfigurado, parece um monstro. Mas isso não é a sua verdadeira face. A sua verdadeira face é aquilo que ele traz à tona em mim, que é firmeza, harmonia, brilho. Ele ensinou Christine a sentir a música e com isso ela é uma cantora tão brilhante. Mas ela, e todos na sociedade, no confronto, acham que ele é um monstro. Por que? Ele é um rosto que não estamos preparados para ver. Para uma personalidade cheia de vícios e debilidades, ele é uma monstruosidade que é o oposto da morte. Significa a morte de tudo aquilo que ela tem como prazeroso e como estímulo para a sua vida diária. Então, esse é Eric, aquele que vive nas sombras, o de rosto deformado.

            Chego as vezes a me considerar um ser deformado, como esse Fantasma da Ópera. Fiz certa vez um texto nesse sentido, me comparando com o Corcunda de Notre Dame. E por que me sinto assim? Onde está minha deformidade?

            Minha deformidade consiste em amar de forma diferente ao que a cultura defende. Um amor incondicional, um amor sem limites, sem exclusividade. Isso parece um aleijão para quem está acostumado a amar condicionalmente.

            Nessa condição, os meus relacionamentos afetivos são conduzidos. Todas sabem da minha deformidade, porque faço questão de não esconder, de conviver com uma pessoa a iludindo. Não, todas sabem que sou assim deformado psiquicamente, mesmo assim muitas aceitam a convivência, pois afinal, sou tão delicado!

            Esta minha deformidade que acredito ser uma das mais altas virtudes, a prática do amor incondicional, tento fazer minhas diversas companheiras acreditar e também praticar. Mas a feiura do que parece ser monstruoso, frente aos valores culturais, apenas assusta, e um dia, sem mais conseguir suportar, me expulsam de suas vidas.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 04/07/2019 às 00h03
 
03/07/2019 00h02
O FANTASMA DA ÓPERA – UM MITO (04)

            Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.

            Ainda que você se esconda atrás de uma máscara, a sua verdadeira face, a sua essência humana, ainda vai estar perseguindo você, porque é um símbolo que costumo utilizar bastante. É como se o nosso corpo, nossa personalidade fosse uma luva. Ela foi feita para cortar a mão da nossa essência, do nosso espírito para que ela possa atuar no mundo. Imagine que a gente faça uma luva que seja totalmente rígida, os dedos todos ligados, imóveis. É evidente que a mão não vai poder se expressar disso, mas ela vai continuar forçando. Então, toda vez que nos animamos, nos tronamos mascarados, há uma inquietude dentro de nós, querendo tomar posse dessa luva para dar o seu recado ao mundo. No fundo, todos nós viemos ao mundo porque é o recado que cada um de nós tem a dar, que á a base da nossa identidade. Intransferível, que só nós podemos dar. Lembremos aquela frase do imperador romano, Marco Aurélio, “a morte de um único ser humano empobrece”, que significa um universo ímpar e não repetível com o qual deixei de travar contato.

            Com essa música, “Mascarados”, é muito interessante, muito propícia, isso não é uma coincidência, isso é um mito bem construído de forma consciente, por quem escreveu a obra e por quem fez o musical. Por isso é tão denso e tão profundo.

            Se vocês virem a cena de “Mascarados”, vocês vão perceber o movimento igual até a coreografia obedece essa intenção.

            Outra coisa que é importante conhecermos logo de início é um pouco dos perfis dos personagens principais, porque dentro disso vamos entender onde estamos dentro desse drama.

            É um teatro, a obra de Garnier, onde vive no subsolo um homem que tem o rosto desfigurado. Ele foi escondido ali desde pequeno, porque a multidão queria mata-lo, queria maltratá-lo. E esse homem é um gênio da música. Num determinado momento, nesse teatro, uma jovem cantora toma o lugar da diva principal e começa a se apresentar. Essa jovem cantora se chama Christine, e ela vinha sendo educada musicalmente nos bastidores por uma voz, que ela não sabia de onde vinha, que ela achava que era o anjo da música. Porque o seu pai, que havia sido o spalla (1º violino) de uma orquestra, um grande violinista, que diz para ela antes de morrer, que um dia o anjo da música viria e a protegeria. E Christine, então, quando ouve essa voz que vai ensinando ela a cantar, identifica com a voz do anjo do qual o pai falava.

            Christine, não é difícil de perceber que a origem do nome vem de crucificado. Ela está crucificada entre dois mundos e nenhum desses dois mundos quer abrir mão dela e ela fica dividida, tentando avançar, mas retrocede por medo. Quando você entra na câmara, no filme, na câmara onde ela se ajoelhava para fazer suas orações e onde ouvia a voz do Fantasma da Ópera, você vai ver um fundo vitral com grande anjo e esse anjo colocando contra o seu peito uma cruz. Esse anjo da música que vivia nos subterrâneos e no teatro, guardando Christine, que é a cruz, esse ser consciente, essa personalidade dividida entre dois mundos, crucificada. Ele tentando puxá-la para seu mundo que é a dimensão vertical, profunda, mas ao mesmo tempo o palco começa a puxá-la para a dimensão horizontal, da fama, do reconhecimento, de uma vida banal numa sociedade cheia de superficialidades.

            Então, até um determinado momento, ela considera que esse anjo é benéfico, mas quando ele começa a querer roubar tudo que é superficial e vulgar e sem valor, e puxá-la para o seu mundo, ela começa a reagir negativamente, fugia dele.

            Entendam o seguinte: Christine, como essa personalidade que somos todos nós, e nós temos um mini consciente, um subterrâneo onde vive o nosso Eric, o nosso Fantasma da Ópera.

            Esta reflexão feita por Lucia Helena sobre os personagens da obra, trouxe um novo ângulo de reflexão para mim, com impacto até na minha vida pessoal, íntima. Há certo tempo, durante a convivência com minha segunda esposa, fui expulso de casa com a acusação de estar agindo como o Fantasma da Ópera, querer imprimir o meu pensamento e a minha vontade sobre a companheira. Não era essa a minha intenção, mas era o que ela pensava com toda a convicção. Ela me expulsou da sua vida com bastante convicção que eu fazia mal a ela. Não tive outra opção a não ser suportar a dor da separação e procurar refazer a minha vida de outra forma, já que eu não iria modificar a minha forma de pensar e agir, que foi o motivo de tudo isso.

            Agora eu vejo, de forma otimista e gratificante, uma opinião favorável ao que eu defendia, tanto no passado como no presente.

            Veremos com mais profundidade no decorrer deste trabalho e da reflexão magnífica da professora Helena, pelo menos no meu ponto de vista, renovado.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 03/07/2019 às 00h02
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