Nestes dias de politicamente correto, parece que perdemos um tanto de lógica em detrimento dos bons cumpridores da lei. Começa pela consideração de que todos somos irmãos, filhos do mesmo Pai celestial, e por isso não podemos nos defender contra aqueles que querem nos fazer mal, inclusive tirar nossa vida.
Tenho um exemplo bem significativo sobre isso: a tentativa de assassinato que o Papa João Paulo sofreu e o exemplo de perdão que ele ofereceu ao mundo, indo até a cadeia e perdoando o criminoso.
Claro, o gesto de perdão é um dos mais belos e difíceis exemplos do amor incondicional, exemplo que Jesus nos legou do alto da cruz. Mas devemos fazer algumas considerações... Jesus é um Mestre supremo, bem próximo do Pai, e veio à Terra cumprindo a vontade do Pai para nos dar essas lições. Nós somos simples seres humanos com forte revestimento animal, alguns envergando as características de ovelhas, outros de lobo. Fica logo necessário entender o conceito amplo ou restrito de nossa irmandade. Se for de natureza ampla, somos irmãos de todos os seres vivos, pois todos foram criados por Deus. Se for de forma restrita, seremos irmãos daqueles seres humanos que se comportam como ovelhas. Até mesmo aqueles que se comportam como lobos, mas sabem da sua natureza divina, sabem da semente colocada em sua alma por Deus no momento da criação e querem desenvolvê-la, esses também podem ser considerados como nossos irmãos.
O criminoso que queria tirar a vida do Papa, naquele momento se apresentava como um lobo, para o qual, os seguranças do papa teriam lhe abatido antes que ele pudesse disparar sua arma. Para isso é que os seguranças acompanham os papas em seus deslocamentos.
O criminoso foi detido e ficou preso conforme a lei. O Papa foi até a cadeia e perdoou o ato assassino que ele sofreu, abraçado ao criminoso. Fica agora a pergunta: ele perdoou ao lobo ou a ovelha que reside sufocada pela pele do lobo? Esta explicação é muito necessária para o nosso processo humanitário. Eu tenho que distinguir quem se aproxima de mim, se é uma ovelha carente do meu ato fraterno, ou um lobo do qual eu tenho que me defender de qualquer maneira?
Estas é uma interrogação que prevalece no mundo atual, principalmente no Brasil que vivemos. Muitas vezes me sinto como uma ovelhinha indefesa, trancado dentro de casa, com câmeras de vigilância, cerca eletrificada, muros altos, temendo que algum lobo invada minha residência, ataque a mim ou meus parentes e amigos e eu nada possa fazer, pois até uma arma meu país não permite que eu use.
Tenho a compreensão que a vida está centrada no nosso espírito, que para evoluir deve administrar um corpo físico e todas as energias que ele possui para se preservar ante a destruição. Essa destruição do corpo físico corresponde ao desagregamento celular dos trilhões de células que estavam sendo administradas pelo espírito. A maioria das pessoas entende que a vida se concentra exclusivamente no corpo físico e com a morte tudo se acaba. Poucos compreendem que a morte do corpo físico corresponde simplesmente a saída do espírito desse conjunto de células, da carne, por isso o termo desencarnação é mais completo que o termo morte.
Durante o tempo que vivemos administrando este atual corpo físico, cometemos diversos erros que vão se acumulando na consciência e mantido nos registros inconscientes. Antes do momento da desencarnação podemos ter algumas atitudes que merecem ser refletidas.
Primeiro, não devemos esperar que chegue os sinais da morte para pensar nos programas nobres da vida que não foram executados ou correr para promover confissões para o alívio da consciência. Não usar as últimas palavras para fazer inúmeras despedidas, encenar adeuses e apresentar as últimas vontades, causando transtornos físicos e emocionais em quem fica com esses encargos. Mesmo se não conseguir falar, não remoer arrependimentos. Não ficar gaguejando mentalmente o quanto gostaria de ter feito.
Algumas vezes pode ser sentido um tipo de mensagem que a morte está próxima, pode ser uma doença grave. A pessoa age apressadamente para desanuviar a mente que está carregada de remorsos, expondo os erros, pedindo perdão. Mas, como não era ainda o seu momento de desencarne, tão logo a pessoa se sente recuperada, retorna aos velhos locais de prazer, de orgia, sedento de comércio com a loucura a que se entregam.
Devemos observar que o nosso corpo tem algo parecido com as máquinas. Funciona com eficiência enquanto a engrenagem está harmônica; desengonçada, emperra com prejuízos da produção. Cabos sustentam pesos colossais, como nos elevadores; enfraquecidos pelo uso, perdem a finalidade, levando perigo. Instrumentos sensíveis colaboram eficazmente; desajustados levemente tornam-se danosos a qualquer cálculo ou realização.
O corpo humano também tem um período hábil de realizações, alguns alongam esse período, o prazo de previsão, de vencimento. E se por acaso for danificado determinado órgão, mesmo que seja devidamente consertado, podem voltar a servir, mas mais demoradamente.
Não podemos esquecer que a nossa alma está administrando um corpo que tem uma passagem rápida aqui na Terra, que devemos produzir o quanto formos capaz. Amanhã as circunstâncias de tempo, modo e lugar, serão diferentes. Devemos movimentar a máquina físico-mental sob o beneplácito da saúde.
Em nossas ações cotidianas vamos apaziguar a consciência, reparando com o bem, os males praticados, enquanto caminhamos com os ludibriados por nossa negligência. Resolvamos nossas dificuldades nos dias de vigor carnal. Mesmo que aparentemente fiquemos tranquilos por transferência de nossas responsabilidades, ao despertar do outro lado após o desencarne, estaremos como somos, com o que temos, com o que gostamos.
Lembremos as lições do nosso Mestre, Jesus, quando ele exemplificou na parábola do Mordomo Infiel, a responsabilidade de administrar bem os recursos que nosso Pai nos deu, e dentre eles o mais importante é o corpo físico.
O momento do desencarne é dramático, sabemos... mas não podemos desesperar e esquecer o comportamento do Mestre em pleno calvário, manteve a lucidez que o caracterizava, mesmo sofrendo torturas físicas e morais, continuava o seu amor pela humanidade: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
O narcotráfico é uma poderosa força criminosa que faz girar uma fortuna nas mãos dos traficantes, quer sejam esses moradores das favelas ou aqueles, mais ocultos ainda, moradores em ricas mansões ou frequentadores das altas rodas.
O Estado até agora tem se mostrado inócuo a essa força paralela, que evoluiu à ponto de dominar grandes áreas como as favelas e as vias que passam em seu entorno. O número de mortes encontradas entre os próprios envolvidos e entre os inocentes, aqueles que estão fora desse jogo, é enorme. Sem falar do alto nível de corrupção que é incentivado. Os jovens logo cedo percebem que podem ganhar mais dinheiro e serem respeitados entrando para o tráfico do que ser um trabalhador de salário mínimo. Isso é um forte atrativo para causar um arrastão entre nossos jovens para o crime organizado que logo cedo deixam de ser cidadãos para serem bandidos.
O que fazer dentro deste contexto? Onde parece que cada vez mais, cada vez que as forças de repressão atuam mais fortalecem e valorizam o produto que os traficantes comercializam?
Muito tempo passei defendendo as forças da repressão, defendendo a proibição de todas as drogas consideradas ilícitas, mesmo porque, trabalhando na área como médico e sabedor dos prejuízos trazidos pelas drogas, sei dos graves riscos à saúde mental dos usuários. Mas agora, estou me rendendo à força dos fatos, dos acontecimentos. Vejo que a grande quantidade de mortes causadas pelo tráfico das drogas e fortalecida pela proibição, tem de acabar. Como fazer isso? Acabando a proibição do uso de drogas e construindo instituições, um misto de hospital e supermercado, onde as pessoas poderiam comprar suas drogas de preferência do próprio Estado. Poderiam comprar suas quantidades e ir para casa, ou ficar internados usando a droga por maior tempo dentro da instituição. Poderiam correr risco de vida dentro dessa instituição? Sim, poderiam, mas todos eram informados desse risco e decidiriam, se queriam parar ou não... se queriam usar até a aproximação fatal da overdose.
Com isso, todos saberiam que a principal fonte de uso da droga que a pessoa quisesse seria o próprio Estado. A pressão social que levava as pessoas em busca dos traficantes e deixar com eles suas moedas, deixaria de existir. A quantidade de recursos usados para montar e fazer atuar as forças da repressão, agora seriam redirecionadas para a contratação de técnicos que produzissem a Psicoeducação e o tratamento de desintoxicação e libertação da dependência para quem desejasse sair dessa condição.
Saindo da minha posição de defensor das forças de repressão, agora eu serei defensor de um Estado que permita a liberdade do cidadão usar a droga que ele queira, dentro dos limites comerciais impostos pela própria lei do mercado. Certamente aumentará o número de mortes e de internações causados pelo uso das drogas, mas com certeza será compensado pela falta de morte dos inocentes que sairiam dessa linha de fogo do poder dos traficantes.
Li um texto atribuído a Osho sobre o comportamento masculino, que irei reproduzir aqui para nossa reflexão, pois faz muita sintonia com o meu pensamento, porém com algumas fortes variações.
Homens são homens.
Eu tornei-me interessado em outras mulheres para além da minha mulher, mas quando a minha mulher mostra interesse num outro homem qualquer, eu fico com muitos ciúmes. Eu ardo num fogo terrível.
Os homens criaram sempre liberdade para eles mesmos, mas obstruíram as mulheres. Os homes aprisionaram as mulheres dentro de quatro paredes da casa e permitiram a si mesmos a liberdade. Esses dias acabaram. Agora as mulheres são tão livres quanto você. E se você não quer arder em ciúmes há apenas dois caminhos: um caminho é você se libertar do desejo. Quando não há desejo, o ciúme não pode permanecer. E o outro caminho: se você não quer se libertar do desejo, então pelo menos dê os mesmos ao outro que os que você tem. Ganhe essa coragem. Eu gostaria que você se libertasse do desejo.
Se você conheceu uma mulher, você conheceu todas as mulheres. Se você conheceu um homem, você conheceu todos os homens. Então as diferenças estão apenas na forma exterior. E aqueles que não conheceu todas as mulheres, ao conhecer uma mulher, entenda que ele está vivendo inconscientemente. Mesmo conhecendo inúmeras mulheres, ele não será capaz de conhecer, ele simplesmente nunca conhecerá. Conhecer acontece apenas através da consciência, e ele está inconsciente. Ele continuará perseguindo mulheres, abandonando uma para ir atrás de outra.
Certamente você arderá, porque isso magoa o ego masculino. Você pensa que é completamente bom que você se torne interessado nas mulheres de outras pessoas, que não há problema nisso. Nós dizemos: “homens são homens”. Os homens criaram esse ditado porque eles pensam que um homem não ficará satisfeito com uma mulher, que o homem quer muitas mulheres, mas que uma mulher ficará satisfeita com apenas um homem. Esses são apenas truques masculinos. Uma mulher deveria ficar satisfeita com um homem – e esse homem é você! Mas você? – como é que pode ficar satisfeito com uma? Você é um homem! Você pensa que deveria ter mais liberdade para o homem...
A sua mulher tem tanto direito à sua liberdade quanto você exige para você mesmo. E se você achar que, não, não é correto que a sua mulher se interesse por outros homens, então o seu interesse por outras mulheres também não é correto. Você deveria se tornar o que você espera da sua mulher, você deveria agir da mesma maneira. Somente aí você tem algum direito.
Osho considera a liberdade entre homens e mulheres dentro de um ponto de vista do direito, da justiça, simplesmente. Não considera a marcante diferença biológica que existe entre homem e mulher, e isso leva ao machismo que ele tão bem identifica.
A minha experiência nesse campo é muito diferente do que Osho defende. Primeiro ele considera que todas as mulheres são iguais, conhecendo uma conhece todas. Tive vários relacionamentos com mulheres, muitos deles que chegavam a intimidade sexual. Em nenhum desses eu encontrei uma mulher igual à outra, nem mesmo na simples mecânica do intercurso sexual. Tanto diferem na aparência externa e muito mais nos atributos internos: sentimentos, emoções, raciocínios, afetos, etc.
Mesmo que sejamos tão diferentes na biologia e na psicologia, eu entendo que a liberdade deve ser de ambos, e que o desejo alcançado é uma das condições que contribuem para a nossa qualidade de vida. Então, se eu considero esse desejo importante para a minha qualidade de vida, o mesmo direito a minha mulher deve ter, mesmo que isso me faça arder de “ciúmes” como aconteceu com minha primeira esposa. Mas eu segurei o tranco e venci os meus sentimentos e emoções negativas, venci também os comentários maldosos dos que me chamavam de chifrudo e que “cantavam” minha mulher com hipocrisia, pois não queria que ninguém cantasse a mulher deles.
Cheguei a aplicar as lições evangélicas a essa ousadia de libertar a minha mulher, de fazer ao próximo o que desejaria que fizessem a mim. Eu queria que minha mulher fosse amiga das amantes que por acaso eu viesse a ter, então procurei ser amigo dos amantes que a minha mulher arranjou.
Mesmo que a minha mulher não tenha tido condições de levar esse estilo de vida por muito tempo, até hoje eu continuo agindo dessa forma, obedecendo aos desejos quando eles não interferem com a ética, quando não vão causar prejuízos morais, quando não extrapola os limites da confiança.
Assim, mesmo que eu sinta a sintonia do pensamento de Osho com o meu, com relação a liberdade que devemos ter, homem e mulher, o que ele imagina não ser possível, eu realizei e até hoje me sinto satisfeito por ter enfrentado esse desafio.
Reproduzo hoje um texto do jornalista, filósofo e cientista político, Olavo de Carvalho, para nossa reflexão:
Como todos os meninos da escola na minha época, eu não podia cantar o Hino Nacional ou prestar um juramento à bandeira sem sentir que estava participando de uma pantomima. A gente ria às escondidas, fazia piadas, compunha paródias escabrosas.
Os símbolos do patriotismo, para nós, eram o supra-sumo da babaquice, só igualado, de longe, pelos ritos da Igreja Católica, também abundantemente ridicularizados e parodiados entre a molecada, não raro com a cumplicidade dos pais. Os professores nos repreendiam em público, mas, em segredo, participavam da gozação geral.
Cresci, entrei no jornalismo e no Partido Comunista, frequentei rodas de intelectuais.
Fui parar longe da atmosfera da minha infância, mas, nesse ponto, o ambiente não mudou em nada: o desprezo, a chacota dos símbolos nacionais eram idênticos entre a gente letrada e a turminha do bairro.
Na verdade, eram até piores, porque vinham reforçados pelo prestígio de atitudes cultas e esclarecidas. Graciliano Ramos, o grande Graciliano Ramos, glória do Partidão, não escrevera que o Hino era “uma estupidez”?
Mas tarde, quando conheci os EUA, levei um choque. Tudo aquilo que para nós era uma palhaçada hipócrita os americanos levavam infinitamente à sério.
Eles sinceramente patriotas, tinham um autêntico sentimento de pertinência, de uma raiz histórica que se prolongava nos frutos do presente, e viam os símbolos nacionais não como um convencionalismo oficial, mas como uma expressão materializada desse sentimento.
E não imaginem que isso tivesse algo a ver com riqueza e bem-estar social. Mesmo pobres e discriminados se sentiam profundamente americanos, orgulhosamente americanos, e, em vez de ter raiva da pátria porque ela os tratava mal, consideravam que os seus problemas eram causados apenas por maus políticos que traiam os ideais americanos.
Correspondi-me durante anos com uma moça negra de Birmingham, Alabama. Ali não era bem o lugar para uma moça negra se sentir muito à vontade, não é mesmo?
Mas se vocês vissem com que afeição, com que entusiasmo ela falava do seu país! E não só do se país: também da sua igreja, da sua Bíblia, do seu Jesus. Em nenhum momento a lembrança do racismo parecia macular em nada a imagem que ela tinha da sua pátria.
A América não tinha culpa de nada. A América era grande, bela, generosa. A maldade de uns quantos não podia afetar isso em nada. Ouvi-la falar me matava de vergonha.
Se alguém no Brasil dissesse essas coisas, seria exposto imediatamente ao ridículo, expelido do ambiente como um idiota-mor ou condenado como reacionário, um integralista, um fascista.
Só dois grupos, neste país, falavam do Brasil no tom afetuoso e confiante com que os americanos falavam da América.
O primeiro era os imigrantes: russos, húngaros, poloneses, judeus, alemães, romenos. Tinham escapado ao terror e à miséria de uma das grandes tiranias do século (alguns, das duas), e proclamavam, sem sombra de fingimento: “Este é um país abençoado!” Ouvindo-nos falar mal da nossa terra, protestavam: “Vocês são doidos, não sabem o que têm nas mãos.”
Eles tinham visto coisas que nós não imaginávamos, mediam a vida humana numa outra escala, para nós aparentemente inacessível. Falávamos de miséria, eles respondiam: “Vocês não sabem o que é miséria”. Falávamos de ditadura, eles riam: “Vocês não sabem o que é ditadura”.
No começo isso me ofendia: “Eles acham que sabem tudo”, dizia com meus botões. Foi preciso que eu estudasse muito, vivesse muito, viajasse muito, para entender que tinha razão, mais razão do que então eu poderia imaginar.
A partir do momento em que entendi isso, tornei-me tão esquisito, para meus conterrâneos como um estoniano ou húngaro, com sua fala embrulhada e seu inexplicável entusiasmo pelo Brasil, eram então esquisitos para mim.
Digo, por exemplo, que um país onde um mendigo pode comer diariamente um frango assado por dois dólares é um pais abençoado, e as pessoas querem me bater.
Não imaginam o que possa ter sido sonhar com um frango na Rússia, na Alemanha, na Polônia, e alimentar-se de frangos oníricos.
Elas acreditam que em Cuba os frangos dão em árvores e são propriedade pública. Aqueles velhos imigrantes tinham razão: o brasileiro está fora do mundo, tem uma medida errada da realidade.
O outro grupo onde encontrei um patriotismo autêntico foi aquele que, sem conhece-lo, sem saber nada sobre ele exceto o que ouvia de seus inimigos, mas temi e abominei durante duas décadas: os militares.
Caí no meio deles por mero acaso, por ocasião de um serviço editorial que prestava para a Odebrecht que me pôs temporariamente de editor de texto de um volumoso tratado “O Exército na História do Brasil”.
A primeira coisa que me impressionou entre os militares foi sua preocupação sincera, quase obsessiva, com os destinos do Brasil.
Eles discutiam os problemas brasileiros como quem tivesse em mãos a responsabilidade pessoal de resolvê-los. Quem os ouvisse sem saber que eram militares teriam a impressão de estar diante de candidatos em plena campanha eleitoral, lutando por seus programas de governo e esperando subir nas pesquisas junto com a aprovação pública de suas propostas.
Quando me ocorreu que nenhum daqueles homens tinha outra expectativa ou possibilidade de ascenção social senão as promoções que automaticamente lhes viriam no quadro de carreira, no cume das quais nada mais os esperava senão a metade de um salário de jornalista médio, percebi que seu interesse pelas questões nacionais era totalmente independente da busca de qualquer vantagem pessoal.
Eles simplesmente eram patriotas, tinham o amor ao território, ao passado histórico, à identidade cultural, ao patrimônio do país. E consideravam que era seu dever lutar por essas coisas, mesmo seguros de que nada ganhariam com isso senão antipatias e gozações.
Do mesmo modo, viam os símbolos nacionais – o hino, a bandeira, as armas da República – como condensações materiais dos valores que defendiam e do sentido de vida que tinham escolhido. Eles eram, enfim, “americanos” na sua maneira de amar a pátria sem inibições.
Procurando explicar as razões desse fenômeno, o próprio texto no qual vinha trabalhando me forneceu uma pista.
O Brasil nascera como entendida histórica na Batalha dos Guararapes, expandira-se e consolidara sua unidade territorial ao sabor de campanhas militares e alcançara pela primeira vez, um sentimento de unidade autoconsciente por ocasião da Guerra do Paraguai, uma onda de entusiasmo patriótico hoje dificilmente imaginável.
Ora, que é o amor à pátria, quando autêntico e não convencional, senão a recordação de uma epopeia vivida em comum?
Na sociedade civil, a memória dos feitos históricos perdera-se, dissolvida sob o impacto de revoluções e golpes de Estado, das modernizações desaculturantes, das modas avassaladoras, da imigração, das revoluções psicológicas introduzidas pela mídia.
Só os militares, por força da continuidade imutável das suas instituições e do seu modo de existência, haviam conservado a memória viva da construção nacional.
O que para os outros eram datas e nomes em livros didáticos de uma chatice sem par, para eles era a sua própria história, a herança de lutas, sofrimentos e vitórias compartilhadas, o terreno de onde brotava o sentido de suas vidas.
O sentimento de “Brasil”, que para os outros era uma excitação epidérmica somente renovada por ocasião do carnaval ou de jogos de futebol (e já houve até quem pretendesse construir sobre essa base lúdica um grotesco simulacro de identidade nacional), era para eles o alimento diário, a consciência permanentemente renovada dos elos entre passado, presente e futuro.
Só os militares eram patriotas porque só os militares tinham consciência da história da pátria como sua história pessoal.
Daí também outra diferença. A sociedade civil, desconjuntada e atomizada, é anormalmente vulnerável a mutações psicológicas que induzidas do exterior ou forçada por grupos de ambiciosos intelectuais ativistas apagam do dia para a noite a memória dos acontecimentos históricos e falseiam por completo a sua imagem do passado.
De uma geração para outra, os registros desaparecem, o rosto dos personagens é alterado, o sentido todo do conjunto se perde para ser substituído do dia para a noite, pela fantasia inventada que se adapte melhor aos novos padrões de verossimilhança impostos pela repetição de slogans e frases feitas.
Toda a diferença entre o que se lê hoje na mídia sobre o regime militar e os fatos revelados no site de Ternuma vem disso. Até o começo da década de 80, nenhum brasileiro, por mais esquerdista que fosse, ignorava que havia uma revolução comunista em curso, que essa revolução sempre tivera respaldo estratégico e financeiro de Cuba e URSS, que ele havia atravessado maus bocados em 1964 e tentara se rearticular mediante as guerrilhas, sendo novamente derrotada.
Mesmo o mais hipócrita dos comunistas, discursando em favor da “democracia”, sabia perfeitamente a nuance discretamente subentendida nessa palavra, isto é, sabia que não lutava por democracia nenhuma, mas pelo comunismo cubano e soviético, segundo as diretrizes da Conferência Tricontinental de Havana.
Passada uma geração tudo isso se apagou. A juventude hoje, acredita piamente que não havia revolução comunista nenhuma, que o governo João Goulart era apenas um governo normal eleito constitucionalmente, que os terroristas da década de 70 eram patriotas brasileiros lutando pela liberdade e pela democracia.
No Brasil, a multidão não tem memória própria. Sua vida é muito descontínua, cortada por súbitas mutações modernizadoras, não compensadas por nenhuma daqueles fatores de continuidade que preservava a identidade histórica do meio militar.
Não há cultura doméstica, tradições nacionais, símbolos de continuidade familiar. A memória coletiva está inteiramente a mercê de duas forças estranhas: a mídia e o sistema nacional de ensino.
Quem dominar esses dois canais mudará o passado, falseará o presente e colocará o povo no rumo de um futuro fictício. Por isso o site de Ternuma é algo mais que a reconstituição de detalhes omitidos pela mídia.
É uma contribuição preciosa reconquista da verdadeira perspectiva histórica de conjunto, roubada da memória brasileira por manipuladores maquiavélicos, oportunistas levianos e tagarelas sem consciência.
Perguntam-me se essa contribuição vem dos militares? Bem, de quem mais poderia vir?
Artigo bem escrito e coerente com a realidade que estamos vivendo. Sinto que também fui enganado por muito tempo, até mesmo nos bancos escolares, com relação à escola, principalmente na questão do regime monárquico no qual vivemos os melhores anos de nossa vida, enquanto nação.
Hoje, por onde andamos encontramos a hipocrisia ao lado, mentiras, tentativas de ocultar a verdade, de distorcer os fatos. Essas ações ainda prevalecem em todos os níveis de relacionamento, inclusive nos círculos do poder. As pessoas que assumem os cargos públicos, que deviam ter a sensibilidade e a ética para defender a nação e a sua história, são os primeiros que promovem a desinformação para se perpetuarem no poder.
Para conseguirmos ser a Pátria do Evangelho e o Coração do Mundo, devemos privilegiar a Verdade e deixar para sempre o egoísmo que gera os mais diferentes tipos de corrupção, crimes de todos os tipos.