Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
04/04/2015 00h01
TESTANDO A GARANTIA

            Voltei a hidroginástica na aula seguinte. Refiz os mesmos passos daquele fatídico dia que poluí a praia. Ainda tinha certo temor na alma, de que o Pai me pusesse à prova em outro teste de igual sofrimento. Não, Ele não apresentou nenhum teste dolorido para mim dessa vez, mas Ele observava meu comportamento como se tivesse testando a garantia do que eu havia prometido naquele dia. Da mesma forma que o comprador de qualquer objeto tem um determinado tempo de garantia para que se não for atendido naquilo que foi prometido possamos devolvê-lo, o Pai também estava testando a garantia do perdão que eu disse que tinha aprendido com a lição que me foi dada. Vim perceber isso no justo momento que estava caminhando de volta para casa.

            Vi novamente fezes, principalmente de animais no trajeto, mas não despertou em mim nenhuma revolta como antes. A crítica revoltada que se instalava de automático na minha consciência havia sido substituído por uma procura do que eu poderia fazer para atenuar a situação. Mais adiante vi um senhor conduzido o cão pela coleira e este tentando se agachar para defecar. Vi que o senhor não estava conduzindo nada que pudesse limpar a sujeira, e seria mais um monte de fezes no trajeto da praia. Não senti nenhuma revolta por aquela pessoa permitir isso, mas sim compaixão pela ignorância do mal que ele estava fazendo. Usei a minha inteligência para ver como eu poderia ajudá-lo a compreender o mal que estava sendo feito, sem ofender a sua honra de cidadão até mais idoso do que eu. Refleti que eu poderia comprar saquinhos plásticos de recolhimento de fezes, como eu já faço com a compra de saquinhos de biscoitos para cães e levo sempre que lembro um ou dois para dar a cadela vizinha do meu apartamento que está sempre grávida ou em aleitamento. Também eu poderia sair com esses saquinhos de recolhimentos de fezes e numa situação como essa eu poderia chegar perto do dono do cão e oferecer, com educação e respeito, um saquinho ou dois para ele recolher as fezes do seu animal e depositar no local apropriado.

            Sei que vai ser mais um aprofundamento das minhas lições espirituais que o Pai está intuindo em minha mente, deixando que ela trabalhe com essas reflexões, pois Ele sabe da minha dificuldade de comunicação, do quanto eu tenho bloqueio de dizer um simples bom-dia a um transeunte desconhecido que cruza comigo na caminhada. Agora está sendo proposto eu abordar um cidadão que não conheço, falar com educação e respeito sobre um assunto que pode lhe ofender; vai ser necessário mais um esforço da minha alma.

            Parece até que essa hidroginástica que procuro fazer com regularidade para melhorar o meu corpo está se tornando também outro campo de exercícios, dessa vez exercícios espirituais para melhorar a minha alma. Da mesma forma que acontece dentro d’água onde os exercícios vão ficando cada vez mais complexos e exigentes, a minha alma cada vez mais vai sendo exigida para domesticar os valores egóicos do meu corpo.

            Enfim, acredito que eu tenha passado no teste de garantia que o Pai estava verificando quanto a qualidade da minha capacidade de perdoar. Vejo agora os erros dos irmãos sem as murmurações de antes, e a vontade de ajudar, de atenuar o mal que foi feito sem jogar críticas ao ar, prevalece. Talvez seja um tipo de promessa que minha alma está engendrando, o pagamento não por uma graça recebida, mas de uma culpa perdoada.

            Com tudo isso que aconteceu não consigo explicar bem claro os meus sentimentos quanto este comportamento de exposição de minha caixa preta. Minha alma não quer glória e o meu ego não quer desonra. Então, parece que minha exposição nesse episódio não atende nem a um nem a outro. No entanto sinto ter alcançado um grau maior de espiritualidade com esse sacrifício da minha honra. Adquiri uma melhor qualidade de perdoar que antes era ainda muito cheia de murmurações contra os atos errados dos meus irmãos. Peço apenas a quem tenha tido oportunidade de ler esse texto que se esforcem acima de qualquer sentimento negativo ou positivo que lhes venham à mente, que tenham compaixão do meu ego, aviltado pelo que meu espírito me obrigou a fazer. Não tenho coragem de ler para ninguém esse texto como fiz com outro parecido, onde também fui humilhado, mas que não prejudiquei a ninguém, e pude até usar o humor com a sua descrição. Dessa vez foi diferente, eu poluí a praia, causei dano à Natureza e a qualquer pessoa pelo simples fato de observar o mal que foi feito. Que seja o Pai que conduza a quem precise ou mereça a leitura desse texto, antes que mais adiante ele integre o livro que pretendo publicar. Mas nesse caso o tempo terá atenuado o peso da minha culpa. O mais importante de tudo isso, acima da vergonha, ignorância e covardia que ainda tenho é que me sinto em sintonia com o Pai.  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 04/04/2015 às 00h01
 
03/04/2015 00h01
SENHOR, AQUI ESTOU

            Era o dia da hidroginástica. Fui dormir na noite anterior disposto a acordar e ir para o local da praia onde ela é realizada. O despertador me acorda pela manhã como eu havia programado, mas ao acordar a preguiça domina minha mente e decido não ir mais. Desligo o despertador, mas deixo programado para voltar a ligar uma hora depois. Volta a me despertar como previsto e sinto o sol forte que entra por minha janela envidraçada a queimar o meu rosto. Sempre associo a potência irradiante do sol a uma pequeníssima amostra do poder de Deus. Interpreto que além do despertador, era o Pai que estava me acordando. Verifico a hora e vejo que faltam quinze minutos para o início da hidroginástica, se eu me apressar e correr até o local chegarei a tempo. A preguiça ainda tenta argumentar para que eu fique no apartamento, pois estamos em plena semana santa e que eu poderia retomar os exercícios na próxima semana. Mas essa argumentação reforçou ainda mais a voz de Deus na minha consciência, afinal esta semana santa deve ser lembrada pelo esforço que o Mestre Jesus fez para cumprir a vontade do Pai, uma ação que Ele fez bem mais complexa e dolorosa que a minha, sem comparações! Não tergiversei mais. Vesti a minha sunga e sai do apartamento.

            Fui correndo pelo calçadão, pois a ida pela areia, pela beira da praia, como sempre faço iria me atrasar. Encontrei o prefeito de Natal que vinha em sentido contrário e nos cumprimentamos com um aceno de mão. Talvez isso tenha sido mais uma preparação do Pai dentro dos projetos da seara da comunidade.

Cheguei no local da hidroginástica e a roda de alongamento inicial ainda não havia se formado. Fui na corrida um pouco mais adiante, onde a lagoa formada pelas águas do mar represadas pelas pedras faz uma curva e fiquei de frente para o sol e para as pedras. Paro de correr e fico orando ao Pai de frente para o Sol, recebendo Sua energia e dizendo com satisfação, Pai, estou aqui. Cumpri a Sua vontade e não a minha.

Fiquei nessa contemplação do poder divino com os braços elevados em direção ao sol, a brisa fria a envolver o meu corpo cansado e como uma barreira poderosa, as pedras negras, cheias de reentrâncias e estruturas cortantes me separando das ondas do mar e limitando a quantidade de sol que meu corpo recebe. Refleti que esse é o modelo da minha vida. Também tenho dentro de mim uma barreira de sentimentos egoístas e emoções enegrecidas e cortantes que me afastam de Deus. Mesmo limitados por essas barreiras íntimas faço o máximo de esforço que meu espírito consegue para me sintonizar com Deus e pedir Sua ajuda para vencer tão fortes obstáculos.

            O Pai nada “falou” para mim, no silêncio da minha consciência, mas eu sabia que Ele estava ali a observar meus pensamentos e a sondar o meu coração. Só que eu não atentei que Ele também leu o que escrevi ontem sobre a coragem que eu deveria ter de publicar aquilo que trouxesse desonra para mim, mas que pudesse ser útil para a coletividade, principalmente no exercício do perdão, e que iria me colocar à prova por causa disso.

            Quando terminou a hidroginástica eu voltei para o apartamento pela beira da praia. É uma caminhada de aproximadamente meia hora. Quinze minutos correndo, como fiz na vinda, e meia hora andando, como iria fazer agora. Não tinha andado nem mesmo cinco minutos quando senti uma forte necessidade de evacuar. Era estranho, pois eu não tive nenhuma sinalização fisiológica que isso poderia acontecer. Eu sabia que mais adiante tinha banheiros públicos que eu podia usar. Tinha que me controlar e chegar até lá. Parei um pouco a caminhada e até a respiração. Fazia um enorme esforço em todos os meus músculos, principalmente os esfíncteres para não deixar sair nada. Ao mesmo tempo tentava disfarçar tal esforço para que as pessoas que caminhavam não percebessem o meu desespero. Eu me curvava como se tivesse olhando com curiosidade peixinhos nas pedras, mas era só aparência, pois naquele momento até meus olhos estavam fechados. Felizmente o espasmo da região anal para expulsar o conteúdo indesejado foi aliviando e retomei a caminhada para o banheiro público. Mas não consegui nem subir para o calçadão onde ele se encontrava um pouco mais adiante, uns trezentos metros. A cólica dessa vez não respeitou os meus esforços e desesperado senti o conteúdo se despejar por dentro da sunga. Não podia mais subir o calçadão com aquele bolo fecal a me denunciar pelo volume e pelo fedor. Não podia arriar ali onde as pessoas caminhavam e felizmente não tinha ninguém ainda perto de mim. Não havia outra saída a não ser entrar dentro d’água e resolver a situação longe dos olhos dos curiosos, mas sacrificando a pureza do mar. Sentia-me um criminoso ao fazer isso, pois lembrava que antes de ter orado ao Pai, em frente ao sol, eu havia percebido cocô de cachorro e no silencio da minha consciência eu havia acusado aqueles proprietários de cães que os levam a passear sem o devido cuidado de não poluir a praia. Agora era eu que estava ali, impotente, fazendo algo pior que o cachorro e o seu dono fizeram. Tamanha lição entrou na minha mente nesse instante, de jamais condenar qualquer atitude errada que eu venha observar, como cocô na praia, quer seja de animais ou de humanos, ou mesmo alguém se aliviando na beira da estrada e agredindo o pudor público, pois eu não sabia a situação de quem fazia isso. Enquanto eu via o remanso das águas levar para longe o bolo fecal, eu fazia penitência na minha alma, pedia perdão a todos que se indignassem pelo fruto desse meu ato, e falava para o Pai que iria me esforçar para jamais condenar, de voz alta ou no silêncio da mente, atos politicamente incorretos, mas que eu não sabia as condições em que foram feitos.

            Agora, lendo o que escrevi e publiquei ontem com o que tive que fazer hoje, senti mais uma vez a sondagem do Pai no meu coração: “Então, filho, vais ter coragem de publicar isso que fizeste? Pois sabes que essa lição que tivestes hoje irá servir muito pra ti, e também irá servir para muitos dos teus irmãos que ainda pensam como voce pensava ontem. Está pronto para sofrer na ‘pele’ a ironia e a condenação dos que ainda não estão prontos a absorver essas lições? Estás pronto a macular a imagem do teu ego, a brancura da tua bata de médico, as tuas teses de acadêmico, para ensinar os limites e necessidades do corpo que o espírito as vezes não consegue controlar?”  

            Senti vontade de apagar tudo que escrevi até agora ou mesmo guardar no fundo do meu computador para um momento que eu tivesse mais coragem de publicar. E senti o olhar piedoso do Pai a me acolher em minha miséria: “Sim, filho, eu entendo se tu não conseguires... Eu espero pelo seu tempo... Nós temos a eternidade...”

            Mas refleti nas lições do Mestre Jesus, na Sua missão de ensinar a prática do amor que o levou ao escárnio da população, ao sacrifício desonroso na cruz ao lado de dois ladrões, longe dos amigos e beneficiados que até pouco tempo lhe cantavam hosanas na entrada triunfal em Jerusalém. E pela imensa sabedoria do Pai, esta lição foi colocada justamente no dia da Paixão do Mestre, o dia mais importante do ano para nossa evolução espiritual: a Paixão do Cristo, a prova final do Amor Incondicional a toda a humanidade. A minha pena com certeza não será tão severa quanto a que aplicaram a Jesus. E nessa observação da extrema coragem do Cristo em levar avante Sua missão, refleti que deveria usar a pequeníssima coragem que já possuo e fazer o que o Pai me deu como missão, respeitando a fragilidade e fraqueza dos meus ombros. Portanto, não afastarei de mim esse cálice.

          Publicarei esta página!

Publicado por Sióstio de Lapa
em 03/04/2015 às 00h01
 
02/04/2015 00h01
DIÁRIO DO ESPÍRITO

            Este é o título que irei dar ao livro que irá surgir deste trabalho diário que faço neste blog. Irei colocar hoje a “Apresentação” desse livro que pode ser mudado mais adiante se eu achar conveniente. Mas por enquanto o texto é este:

            APRESENTAÇÃO

            “Diário do Espírito” é um trabalho que pretendo fazer a cada dia pelo mesmo espírito que administra meu corpo. Não é um trabalho inédito, de méritos exclusivos do meu espírito ou do meu ego, pois os dois sempre estão se confundindo no campo da consciência. Pelo contrário, a maioria dos textos publicados foi inspirado pelos mais diferentes autores, encarnados ou desencarnados, nos mais diferentes textos, dos livros sagrados ou profanos, incluindo filmes, jornais, revistas, circunstâncias, pessoas, etc. Em alguns eu cito a autoria, na maioria acredito que não e por isso peço desculpas, e que nunca me deem o crédito total por qualquer texto, pois sempre está influenciado pelo pensamento de alguém e dessa forma a evolução se processa.

Tenho como o exemplo o texto desta apresentação a partir do título da “minha obra” que foi inspirado no livro “O Papa Bom”, de Renzo Allegri, onde ele cita que o Papa João XXIII produziu durante a sua vida um relato de cada dia e que denominou “Diário da Alma”, e a forma de fazer essa apresentação que tirei do livro “A Conquista”, de Rubens Marchione.

Este é o interesse do espírito, deixar transparente a origem deste trabalho e o seu conteúdo, para que o antagonista do espírito, o meu ego biológico, não usufrua dos frutos como se fossem totalmente dele. Concluo assim, evidente, que o ineditismo que este trabalho propõe, é sobre a honestidade que o espírito deve ter na publicação do seu caminho evolutivo enquanto administrador de um corpo cheio de instintos acionados pelas necessidades de sobrevivência ou por uma razão de base egoísta. Tudo isso ainda passa pelo filtro da Justiça e da coragem. Justiça para que não seja publicado informações que prejudiquem mais que beneficiem a terceiros, no que se refere a vida íntima de responsabilidade individual de cada pessoa; e coragem para publicar informações que deveriam ficar na minha “caixa preta”, pois que agridem e denunciam o meu ego naquilo que de mais torpe, malicioso ou perverso ele possa imaginar, desejar e agir, e que isso traga repulsa do leitor para o autor por quem passa a ter esse conhecimento, mas que seja de interesse coletivo para a compreensão dos limites do espírito que cada pessoa possui na sua jornada evolutiva, dos problemas às vezes inevitáveis que possamos causar a nós e aos outros.

Talvez a lição que possamos aprender com toda essa saga tão cheia de erros, atropelos e incompetência que irei discorrer neste trabalho, seja o aprendizado na capacidade de perdão para os irmãos que dividem interativamente as diversas oportunidades de relacionamentos, e principalmente perdão para nós mesmos ao olhar para trás e vermos os rastros trôpegos e desastrados do nosso caminhar, mesmo que estejamos procurando fazer o certo, fazer o bem, fazer a vontade do Pai.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 02/04/2015 às 00h01
 
01/04/2015 00h01
DIÁRIO DA ALMA

            Ao começar a leitura do livro “O Papa Bom – Testemunhos de quem viu, ouviu e viveu perto de João XXIII” de Renzo Allegri (jornalista, escritor e crítico musical. É autor de mais de 40 livros, muitos dos quais sobre a vida de santos e eventos relacionados ao mundo religioso, como Tereza dos Pobres e os Milagres de Fátima), percebi que esse Papa também fazia um registro parecido com este que faço diariamente. João XXIII fazia o “Diário da Alma”, e segundo o atual Papa, Francisco, ali podemos ver o seminarista, o sacerdote, o Bispo Roncalli (no mundo secular era seu nome, Ângelo Giuseppe Roncalli) lidando com o caminho da purificação gradual do coração. Ele estava sempre atento no dia a dia, para reconhecer e amortizar os desejos que provêm do próprio egoísmo, para discernir as inspirações do Senhor, deixando-se guiar pelos sábios diretores espirituais, e se inspirando em mestres como São Francisco de Sales e São Carlos Barromeu. Ao ler esse Diário, na verdade estamos assistindo a um espírito se formando sob a ação do Espírito Santo, que atua em sua igreja, nas almas: foi ele que, com essas boas propensões, pacificou o próprio espírito.

            É este caminho que quero também percorrer e deixo registrado neste blog, neste diário na internet e que cada pessoa interessada pode ter acesso e divulgar, desde que coloque a fonte. Tenho a consciência de que sou um espírito bastante precário e que devo me esforçar para a purificação a cada dia. Tenho a consciência também, como professor que sou no mundo secular, que tenho o dever de ensinar o que aprendo no dia a dia, mostrar minhas deficiências desde que não atinja a harmonia e o respeito que devo ter com o próximo e as suas opiniões e modos de se comportar.

            Nos ambientes que o Papa João XXIII foi chamado a atuar, ele demonstrou ser um eficiente articulador de relações e um capacitado promotor de unidade dentro e fora da comunidade eclesial, aberto ao diálogo com os cristãos de outras igrejas, com expoentes do mundo judaico e muçulmano, e com muitos outros homens de boa vontade. Ele transmitia paz porque tinha um espírito profundamente reconciliador. Ele tinha se deixado pacificar pelo Espírito Santo. E esse espírito reconciliador foi fruto de um longo e difícil trabalho sobre si mesmo, que pode ser visto no seu “Diário da Alma.”

              Nos meus ambientes e relacionamentos eu fui chamado para ser testemunha do Amor Incondicional em todos os relacionamentos, principalmente os relacionamentos íntimos, que desconstrói a base romântica da família nuclear e caminha para a fraternidade da família universal. O enfrentamento que faço com o egoísmo é de natureza profunda, sinto que atingi uma transformação suficiente para ensinar na teoria e na prática os benefícios dessa nova atitude e sentimentos, mas os meus parceiros, principalmente as minhas companheiras, estão muito distante de mim. Não consigo ser o excelente articulador de relações que foi João XXIII, não consigo promover a harmonia nas três pessoas que se encontram mais próximas de mim na condição de companheiras.

            Os relatos que faço no meu diário, como este de hoje, são repletos de falhas na harmonia, eu vejo mais raiva do que amor, vejo mais intolerância do que tolerância, vejo mais distanciamento do que proximidade, naquelas que estão mais próximas de mim e que deveriam ser o modelo da família ampliada. Esse choque de egoísmo me joga de forma explosiva à distância, moro sozinho devido a isso. Cada uma que chegue para morar comigo traz consigo o germe da intolerância, da exclusividade, que desarmoniza o ambiente e espanta o amor Incondicional. Não é que eu precise criar ou aperfeiçoar o Amor Incondicional que já desenvolvi em meu coração Acredito que o que tenho já é suficiente para dar as condições necessárias para a criação harmônica da família ampliada, pré-requisito para a família universal. O que falta em mim é o que sobrava em João XXIII, acredito. A capacidade de argumentar e articular esses relacionamentos e dar as condições de gerar um ambiente harmônico, dar uma unidade dentro da diversidade adequada à proximidade do Amor em todas as direções.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 01/04/2015 às 00h01
 
31/03/2015 00h01
FELIZES OS PACIFICADORES

            Participei em Campina Grande de uma caminhada pela Paz puxada pelo pessoal do Harekrishna; aqui em Natal, na última reunião da AMA-PM foi apresentada uma proposta de fazermos uma caminhada pela Paz na Rua do Motor. Muitos políticos e estadistas em tempo de crise organizam ruidosas conferências sobre o tema da Paz. Teólogos e chefes eclesiásticos de maneira semelhante promovem encontros pela Paz no âmbito de suas igrejas. Tudo isso na melhor das hipóteses só consegue atingir a periferia da questão. Falar de Paz ou em favor da Paz é uma ilusão, se aqueles que fazem isso são os promotores de discórdia, de intolerância, de guerras.

            Os homens, pelo menos os melhores, sempre sonharam com a Paz, mas o mundo nunca se livrou da guerra. Somente aqui no Ocidente, Pitirin A. Sorokin, sociólogo russo, naturalizado americano, assinalou 967 guerras travadas entre os anos 500 aC a 1952 da nossa era. Em média uma guerra a cada dois anos e meio de história. Há razões para supormos que atualmente o mundo tenha mudado? Nenhuma! Países africanos, Coréia, Índia, Vietnã, Sérvia, Croácia, Paquistão, Afeganistão, Estados Unidos, Inglaterra, Argentina, Israel, Líbano, Palestina, Iraque – são exemplos que nos mostram exatamente o contrário. Tudo isso sem entrar no famigerado problema do terrorismo, que assolou nosso país e cuja militante uma mulher que hoje se encontra no poder e tudo mostra que fomenta o ódio na população. Tem como acreditarmos nos homens que falam sobre a Paz e mantém o mundo como está? Nosso mundo jamais conheceu a Paz, pois o máximo que conseguimos é um armistício, um breve intervalo de pseudoPaz entre duas ou mais guerras. Qual a causa de tudo isso?

            A Paz só é possível se cada homem conseguir pacificar a si mesmo. A Paz não é uma causa, é uma consequência. Enquanto não houver Paz dentro do homem, a serenidade imperturbável da alma, será impossível eliminar qualquer espécie de conflito, seja na família, na escola, na empresa, na igreja, nas nações. Um homem de Paz, um homem de verdadeira Paz, a exemplo de Jesus ou de Mahatma Gandhi, vale mais para a pacificação do homem e do mundo do que todos os demagogos e autoiludidos juntos, sejam eles políticos ou teólogos.

            “Deixo-vos a Paz, dou-vos a minha Paz; não vo-la dou como a dá o mundo”. (Jo 14,27) Jesus nos disse isso, sabendo que poucas horas depois iria morrer e de morte horrível, morte na cruz. Mas porque o Cristo em Jesus não nos dá a Paz do mundo? Justamente, porque o mundo nada sabe de Paz. O mundo ainda jaz no maligno, na ignorância, e o seu príncipe é o poder das trevas. Por isso, a linguagem do mundo é a astúcia, é a força, á a violência, é a guerra. Jesus não nos dá a paz do mundo, Ele nos dá a Paz do Cristo, mas somente para quem já desenvolveu a consciência da Paternidade Única de Deus, pois a ninguém é dado entrar indevidamente, de contrabando, no reino da Verdade Libertadora, no reino dos Céus, no reino do Cristo Interno.

            Gandhi também foi um homem de Paz e pacificador. Ele dizia que “O Amor plenificado de um único homem neutraliza o ódio de muitos milhões.” O grande sábio sabe o que diz, porque o Amor é presença, enquanto o ódio é ausência. A vida do Mahatma, enquanto esteve entre nós, foi toda ela uma confirmação prática dessa verdade. Gandhi provou, não somente com palavras, mas, sobretudo com sua própria vida, que o Amor é realmente presença, presença de Deus no mundo, ao passo que o ódio não passa de ausência, ausência de Amor no homem. Uma migalha de verdadeira presença pode calcinar um vasto oceano de ausência. Esse amor-presença é um Amor tríplice, que envolve o Amor Incondicional a Deus, o amor ao próximo sem esperar nenhuma recompensa, e o Amor desinteressado à Natureza.

            A verdadeira Paz só pode nascer de um coração puro, limpo e crístico. A Paz somente pode ter origem na mansuetude de quem já conscientizou a Paternidade Única de Deus. Exatamente por isso sabe por experiência própria, com aquele saber que nada nem ninguém podem lhe tirar. Nem mesmo a morte pode tirar essa consciência de que somos verdadeiramente irmãos na fraternidade universal.

            Esta é a única possibilidade para que o mundo inteiro se uma, entrelaçando-se na globalização do Amor, da Paz e da Esperança. Sei que é difícil isso acontecer, pois temos que vencer nossa resistência animalesca instintiva que automaticamente eclode em nossas consciências em por motivos tão fúteis. Lembro que da última vez que vinha de Caicó para Natal, sentaram-se nas cadeiras perto de mim um grupo de estudantes ruidosos e brincalhões. Aquilo atrapalhou a concentração que eu tinha na leitura que fazia e senti subir na minha consciência uma raiva com vontade de repreendê-los com autoridade. Mas logo em seguida surgiu também na consciência o reflexo dessas lições e considerei a questão de qual seria o meu comportamento com esse grupo ruidoso e brincalhão se fosse composto de meus filhos ou irmãos biológicos? Logo a emoção instintiva atenuou, pois se fosse assim, a minha postura cognitiva seria de alegria e harmonização por eles estarem perto de mim. Então, aquele grupo de pessoas desconhecidas também não filhos do mesmo meu Pai? Por que não os considero como irmãos como eu consideraria se fossem meus irmãos biológicos. De imediato a raiva se dissipou e suas piadas não mais afetaram a minha concentração na leitura. É um exemplo simples, eu sei, mas é uma boa amostra do que acontece com nossas emoções de forma automática e que devemos estar sempre atentos para desarmar a bomba da raiva e do ódio que gera conflitos e guerras e leva para longe a possibilidade de Paz.

            Os grandes mestres estão corretos, a Paz deve começar dentro de mim até o ponto de ficar puro o suficiente para fomentar a harmonia da Paz ao meu redor e saber que o Cristo se refere a mim quando ensina: Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.”  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 31/03/2015 às 00h01
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