Esta ocorrência se deu numa data que não mais se repetirá neste século: 10-11-12. Na luta contra minhas imperfeições, quase fui à nocaute pela preguiça que me deixou imprevidente.
Fiz minha programação de acordar todo sábado às 02 horas da madrugada, para pegar a Van que me leva para Caicó onde presto assistência toda semana. Em sábado anterior, quase perdia a viagem. O provedor do meu celular saiu do ar e eu não percebi. O motorista ligou diversas vezes, como eu não atendi ele foi embora. Quando percebi a situação liguei de volta para ele que gentilmente voltou para me pegar. Comprei um celular alternativo e também um despertador convencional para evitar esse mesmo problema. Pois bem, ontem a noite ao chegar em casa inventei de sentar na cama, o trono da preguiça, para trabalhar com o notebook. Não liguei o celular alternativo, nem o despertador convencional ou o do celular. Ainda estava cedo e eu não pensei que ia dormir como aconteceu. Acordei com a cigarra do apartamento tocando as 03:30 horas, era o motorista de um táxi de Caicó, a serviço da Van que tinha vindo me pegar. Num relance percebi que havia sido “jogado na lona” pela imprevidência que a preguiça proporcionou. Agradeci sem jeito ao motorista e peguei as coisas básicas para a viagem, calcei os sapatos sem meia, coloquei o DVD player sem o fone de ouvidos na bolsa, esqueci o relógio, acariciei rápido a cabeça de meu cãozinho que me olhava alvoroçado com o inusitado da situação, e desci correndo as escadas para não perder tempo esperando elevador. Na saída o porteiro do condomínio falou que o motorista entrou no estacionamento com o seu táxi para me chamar e terminou danificando seu carro no pilotis. Eu que já estava pensando em pagar um valor acima do combinado pela passagem devido a atenção dele em ter subido para me chamar, vi que moralmente eu era o responsável por aquele acidente que lhe causava prejuízo. Ele não tinha obrigação de entrar no prédio, subir até meu apartamento e me chamar à porta, corrigindo a preguiça que me atingira. O combinado é que eu devia aguardar o motorista na portaria e na sua passagem entrar de imediato no carro para não retardar a viagem. Legalmente eu não tinha nenhuma responsabilidade, obrigação com aquele acidente, com o prejuízo, mas moralmente sim! Além do fato de eu vir a saber do fato pelo porteiro do prédio, o motorista nada me disse, até o momento que o interroguei e ele confirmou.
Percebi que eu estava no tribunal de Deus. o tribunal dos homens não me acusa, ninguém pode me levar até ele. Agora, no tribunal de Deus existe um promotor: minha consciência! E durante a viagem o julgamento ia ocorrendo.
A minha defesa reconhecia minha culpa, mas colocava a influência da preguiça que me deixou imprevidente. Dizia que eu estava cansado após um dia de trabalho intenso desde as cinco horas da manhã quando acordei. Então a preguiça se aliou com a necessidade fisiológica de repouso para viabilizar a imprevidência.
A consciência dizia que reconhecia os argumentos da defesa, do cansaço fisco, da necessidade do repouso, mas nada que se possa dizer vai anular o prejuízo que foi formado. Uma pessoa foi prejudicada por tentar fazer o seu serviço, indo além de suas obrigações profissionais e contratuais para ajudar um cliente. Então, ele vai ficar no prejuízo sozinho? Um dia de trabalho dele que talvez não dê para pagar os estragos? E eu, posso ir para o meu trabalho como se não tivesse acontecido nada e ganhar três vezes mais do que ele? E acima de todas essas observações, arrematava com uma coerência impecável a minha consciência, ele é o seu próximo! Aquele que você deve amar como se fosse a si mesmo! Então, como você gostaria de ser tratado estando no lugar dele?
Percebi que esta última pergunta da consciência jogava para mim o papel de juiz, de aceitar o não os argumentos e de dar o veredicto. Então assim o fiz!
Eu gostaria que o cliente pagasse ao final da corrida o suficiente para cobrir o prejuízo; que deixasse a observação ainda, de que se não fosse suficiente, poderia ligar para ser complementado; que me agradeceria pela atenção que tivera para consigo e que pediria o meu cartão para me dar a preferência em futuros trabalhos.
Percebi que esta era minha sentença, que o Pai tudo assistia e se mostrava satisfeito. Cumpri como foi determinado. Sai da sala de julgamento com um pensamento fixo: a culpada de tudo isso foi a preguiça e preciso de disciplina para enfrentá-la com eficiência, pois de outra vez posso ir à nocaute.
Jesus ensinou que devemos construir o Reino de Deus,, inicialmente em nossos corações e partir daí ampliar a sua ação ao longo de nossa área de influência. Como sempre procurei ser um aluno aplicado nas lições que recebo dos meus mestres, tantos encarnados quanto desencarnados, com instruções da matéria quanto instruções do espírito, procurei fazer essa primeira lição. Ao longo do tempo fui fazendo uma faxina sistemática do coração para retirar de dentro de sua intimidade os sentimentos negativos como inveja, ciúme, ganância, e tantos outros. Fiz bons progressos, hoje me considero em condições de ampliar o que conquistei ao longo dos meus relacionamentos. Sei também que não estou com o coração totalmente limpo, em momentos de tensão ainda sinto despertar traços de raiva, de vingança, de ressentimentos, de intolerância... são os que observo ainda subirem a superfície da consciência. Mas isso não impede de eu sentir que já estou vivendo o Reino de Deus. Agora, o passo seguinte de criar relacionamentos com o mesmo paradigma do Reino de Deus, que tenha o Amor Incondicional como principal norma de conduta, é um tanto mais complicado. Complicado porque não estou trabalhando apenas o meu comportamento, como foi o caso de eu fazer a Reforma Íntima para limpar o meu coração dos sentimentos negativos e a mente dos comportamentos egoístas. Agora eu me deparo com a outra pessoa, que apesar de avaliar os meus argumentos do Reino de Deus como impecáveis e de procurar segui-los como Jesus nos ensinou, vai se deparar logo em seguida com os imperativos da matéria, dos instintos, do egoísmo. Como não têm o preparo cognitivo e emocional que o tempo e a vontade de transformação me fizeram conquistar, essas pessoas logo caem e recaem frequentemente envolvidas nos pensamentos e sentimentos egoístas. Não basta eu dizer da incompatibilidade que existe entre o egoísmo e o amor incondicional. Elas até conseguem perceber a veracidade de minhas palavras, mas não conseguem se livrar do incêndio de egoísmo que lhes deixam inflamadas. Isso gera arroubos de raiva, ressentimento, medo e isolamento que tende ao rompimento da relação. É o confronto do amor romântico, digno representante do egoísmo, com o Amor incondicional, digno representante do Reino de Deus. É nesses momentos que sinto despertar em meu coração também as fagulhas que teimam em não se apagar, da raiva, intolerância, vingança... mas logo em seguida vem a compreensão de que estou vivendo no Reino de Deus e que essa pessoas que estão ao meu lado e se comportam dessa forma, ainda não estão vivenciando esse Reino como eu faço. Tenho a responsabilidade, então, de exercer as características do cidadão desse Reino, de ser compassivo, tolerante, acolhedor do sofrimento e não deixar o Amor Incondicional que recebo diretamente do Pai ser contaminado com as fagulhas egoístas que ainda existem em meu coração.
Ao encontrarmos o mundo espiritual e o seu valor a tendência que temos é de nos afastar dos interesses materiais. Na teoria parece fácil, existem muitos livros religiosos que mostram o caminho, existem muitas pessoas que conseguiram e nos dão belos exemplos. Mas a prática se mostra diferente, o valor que reconhecemos ter no mundo espiritual, não é suficiente para realizar a mudança de paradigmas de forma pacífica. O ego, o guardião de nossos interesses materiais está sempre atento, e basta tirar um pouco os olhos dos livros, para ele surgir na consciência e faz logo esquecer todos os nossos propósitos. Fiz essa queda de braço com os interesses do ego há muito tempo e minha persistência fez com que hoje eu tenha uma boa posição no campo espiritual. No entanto, os relacionamentos que tenho, qualquer que seja o nível de intimidade, todos se mostram até agora muito influenciado pelo ego. Mesmo que a inteligência e a consciência reconheçam a prioridade do mundo espiritual sobre o material, do eterno sobre o passageiro, do real sobre o virtual, mesmo assim, na hora do enfrentamento, quando o ego sente que perdeu alguma coisa ou deixou de atingir um alvo, surgem os sentimentos negativos, de raiva, frustração, medo, desespero...
Sei que minhas ações não contem malícia, que estão sempre no campo da solidariedade, da compreensão, da fraternidade e do amor incondicional. Mas temos que ter organização também no campo material, existem tarefas e compromissos que devem ser realizadas, que situações novas exigem um maior esforço, e assim por diante. Nesse momento, pessoas que atuam somente no campo espiritual correm sérios riscos de entrarem em conflitos e talvez de forma grave que gera incompatibilidades e rompimentos de relacionamentos. Já vi isso acontecer mais de uma vez com minhas companheiras mais íntimas, quando se viam prejudicadas porque seus interesses materiais não eram atingidos, mesmo sabendo da minha atuação no campo espiritual e no exercício do amor inclusivo, elas me expulsavam da sua presença, se afastavam de mim com forte carga de sentimentos negativos. Mesmo que eu advirta do que pode acontecer com minhas companheiras, sempre esses conflitos do material versus o espiritual está a acontecer. Até agora não encontrei ninguém ao meu nível, que não se sinta melindrada por qualquer ação onde o ego é colocado em segundo plano. Não é que isso leve a pessoa a baixa auto-estima. Não é assim, pois a pessoa entra no relacionamento avaliando a importância que ele tem para o crescimento individual e coletivo. O que acontece é que no confronto ego x espírito, sempre é o ego que prevalece e surge assim o sofrimento, desespero, medo, ressentimentos...
Qual será minha postura mais ética e cristã? Me afastar da pessoa de forma definitiva quando isso acontecer? Evitar que chegue ao ponto crítico onde o ódio pode surgir no lugar do amor? Parece ser esse o caminho mais lógico, mas ainda tenho dúvidas... será que não estou sendo caridoso agindo assim?
São momentos que exigem profunda reflexão e peço mais uma vez ajuda aos amigos espirituais, que me intuam o caminho correto, para que eu não saia da trilha do Reino de Deus e que eu não seja, por outro lado, perverso com ninguém.
A cada um será dado segundo suas obras. Àquele que tem, mais ainda será dado; e àquele que não tem, ser-lhe-á tirado o pouco que tem.
Essa lição de Jesus me deixou muito tempo embasbacado. Como isso pode ser cristão? Parece uma falta de caridade, tirar o pouco que alguém tem. Mas eu estava tentando entender com a ótica material. Nesse caso a lógica da caridade é inversa. Para quem não tem o pão, eu deverei levar o pão; para quem não tem roupa, eu deverei doar roupas, e assim por diante. Porém quando eu emprego a ótica espiritual, que é isso que Jesus quer mostrar, veremos que Ele tem razão. Entender isso é penetrar o grande segredo que levará o espírito humano à sua perfectibilidade.
Dar-se-á tudo àquele que tem o merecimento para receber, compreender e assimilar ensinamentos de grande luminosidade para o seu desenvolvimento espiritual, ao passo que nada se dará àquele que, não possuindo as necessárias condições por falta de merecimento, inútil seria beneficiá-lo com aquilo a que o mesmo não saberia dar valor. Equivale aquela outra lição, não atireis pérolas aos porcos.
Acredito que eu seja merecedor de receber essas lições. As considero da máxima importância, procuro compreender e assimilar nas minhas práticas. Então cada vez mais recebo mais e mais informações nesse sentido da minha evolução espiritual. Recebo lições tão bem direcionadas que imagino está recebendo lições extras e que sinalizam o caminho mais correto a seguir. No entanto, continuo a resistir no cumprimento total dessa lição. Mesmo que a pessoa seja refratária ao recebimento e assimilação dessas lições, que pareça tempo perdido com pessoas que não tem o mínimo interesse em avaliar a importância dos valores espirituais, mesmo assim, acredito que devamos sempre lhe dar a oportunidade de fazer essa reflexão. Desenvolver a melhor forma de levar essa mensagem de maneira que ela sensibilize e motive a reflexão de pessoas materialistas, pode fazer parte de um dom que o Pai espera que desenvolvamos.
No Pão Diário de 2012, existe um texto interessante no dia 21 de outubro. Diz que “uma esferográfica é feita de muitas partes. Todas juntas formam um todo muito útil. Existem esferográficas caras e baratas, mas todas tem uma coisa em comum: uma esfera na ponta. É muito pequena, mas sem ela nada funciona. Encaixada no todo, no lugar certo, ela é de grande utilidade. Afinal foi criada para isso. Imaginemos, porém, que num belo dia aquela esferinha reivindique a sua liberdade. Ela não quer mais viver na pontinha da esferográfica. Fora do seu devido lugar, ela se tornaria uma esferinha qualquer. Perderia a sua utilidade e facilmente rolaria para qualquer canto.
Então, dessa compreensão do papel da esfera no conjunto do lápis esferográfico, extrapolo para a compreensão do meu papel no conjunto da vida. Também estou colocado em determinada condição social, profissional, espiritual... aproveito a conjuntura de todos ao meu redor e exerço a minha função, que é somente minha, assim como cada um também tem sua função que é somente dele, e também usa o apoio do conjunto, conjunto ao qual eu posso me incluir. Assim, todos somos ao mesmo tempo corpo do lápis em um momento e simultaneamente, esfera que escreve uma determinada história que é somente dele e que pode também escrever estórias a partir dele.
Sei que estou escrevendo a minha história, que é rica de elementos filosóficos e que devem ser vistos e compartilhados pelo conjunto, pois pode servir para auxiliar na história de muitos que considerem meus posicionamentos úteis e melhores até do que aqueles que eram por eles defendidos. Sei também que a mão que conduz a minha história traçando as linhas no papel da vida, é a mão de Deus. eu simplesmente me submeto a sua vontade, minha esfera não se recusa a escrever o que Deus determina, sou até mesmo quem pede que assim seja, reconhecendo que a vontade do Pai deve ser atendida para que aconteça a evolução harmônica do universo no qual estou incluído, e no meu lápis, sou uma peça importante.