O projeto que Deus me deu, de construir relacionamentos com a base, com o alicerce do Amor Incondicional, não é tão fácil de colocar em prática. Primeiro, porque, sendo o Amor Incondicional a condição sine qua non para isso acontecer, exige que eu tenha de abandonar todos os valores materiais do qual o coração está repleto. Segundo, porque eu tenho que tolerar os sentimentos negativos existentes nos corações das pessoas que se relacionam comigo. A primeira tarefa eu fiz a contento, acredito, tenho mínimas influências negativas no meu coração com relação ao próximo. Tenho dificuldade sim, comigo mesmo, a minha reforma íntima que viso corrigir dois aspectos principais, a preguiça e a gula. Assim, me senti capacitado para o relacionamento com pessoas que ainda apresentam muitos sentimentos negativos com relação ao próximo, principalmente quando esse próximo ameaça seus interesses materiais. Mesmo que essa pessoa seja alvo do mesmo amor e digam amar o mesmo alvo.
Nesses momentos, quando percebo que pessoas que pretendem me acompanhar nessa jornada da vida, mostram essas características negativas com relação ao próximo, fico desamparado. É como se um castelo que eu estivesse construindo desabasse a primeira lufada de ar mais forte. Sinto-me mais uma vez sozinho. Não é que fisicamente eu esteja só, até tenho muita companhia, mas espiritualmente, nenhum coração demonstra a ausência de sentimentos negativos que o meu apresenta com relação ao próximo. Ausência completa de ciúme, ausência de ressentimentos, de ideias de vingança, de isolamento de pessoas, de maledicências...
Assim... vou vivendo a vida para a qual o Pai me programou, a procura da sintonia fraterna... com tanta gente ao redor... com tanta solidão no coração!
Sempre fiquei um tanto confuso com relação essa frase: trabalhar nos campos do Senhor. Que queria dizer “campos do Senhor”, onde seria? Hoje tenho uma interpretação que deve ser a verdadeira. Os campos do Senhor são os corações de toda a humanidade. O trabalho que precisa ser feito, são as ervas daninhas que surgem a todo instante na área do labor, os sentimentos negativos que já nascem nos corações. O primeiro passo a ser realizado é fazer essa “faxina espiritual” em meu coração. De posse do detergente moral que são os Evangelhos, que transmitem as lições teóricas e práticas do mestre, o alicerce sublime do Amor Incondicional, passo a rever todo meu comportamento, sentimentos e pensamentos. Tudo aquilo que for contrário ou não corresponder à Lei do Amor deve ser corrigido ou eliminado. Isso me coloca de forma gradativa dentro do mundo espiritual, perde valor na hierarquia dos princípios, os interesses materiais. Ao longo da minha vida fui fazendo isso, fazia leitura dos livros sagrados, não só os evangelhos e procurava sempre corrigir, com a máxima honestidade, o que eu percebia de errado ou incoerente no meu comportamento. Isso fez com que eu me defrontasse com pessoas do meu relacionamento mais íntimo, que pensavam e sentiam de outra maneira, que não aplicavam o Amor Incondicional às suas vidas. Cheguei a ser expulso mais de uma vez da casa de minhas companheiras devido a isso. Por mais que eu explicasse a forma do meu pensamento e que a qualidade do meu amor assim se amplia e se distribui por todos ao redor, sem peias ou preconceitos, elas eram radicais e não me aceitavam sem a exclusividade que o tipo de amor que elas precisavam. Ficava sozinho, mas sempre comprometido com o Criador, de que eu trabalharia nesses campos dos corações do próximo, assim como trabalhei no meu coração. Agora sei com mais segurança que essa é a minha principal tarefa. Peguei no arado para cultivar essa terra e não posso mais olhar para trás. Não posso mais pensar no aconchego de um lar cercado de filhos e uma esposa amorosa, mas que todos estejam centrados no amor exclusivo, pois isso é incoerente com o Amor Incondicional! Como trabalhador nos campos do Senhor, irradio amor por onde passo, tenho cuidado em fazer assim. Os corações sensibilizados se deixam tocar, mas querem ficar com esse amor com exclusividade, então a partir daí começam os conflitos e sofrimentos. Devo por causa disso abandonar os princípios do Amor incondicional, deixar os campos do Senhor e voltar ao antigo padrão de vida? Minha razão diz que não! Meu coração aprova! Sinto que o Pai concorda!
Todos reconhecemos o valor intrínseco que tem a verdade, em qualquer contexto, em qualquer relacionamento. Todos defendem como um dos grandes valores éticos e morais, o próprio Jesus defendia e aplicava a verdade em seus ensinamentos teóricos e práticos. Mas tem um porém... porque causa tanto sofrimento em algumas circunstâncias? Será que devemos mentir ou omitir a verdade em algumas situações? O próprio Jesus não disse tudo que sabia quando andou por esta terra. Entendia que muita verdade que Ele possuía não seria compreendido pelas pessoas, talvez fosse até mal compreendido, como chegou a acontecer.
Então, estou colocado numa encruzilhada. Sei do valor que tem a verdade, mas reconheço a crítica que é feita quanto ao sofrimento que ela causa nos espíritos não preparados. Digo assim sem arrogância, pois gostaria que todos tivessem a capacidade de receber toda a verdade que fosse possível, assim como eu me sinto capaz. Ninguém esconda nenhuma verdade de mim, nem a omita, com escrúpulos quanto ao sofrimento que me causa. Saberei receber esse sofrimento, se assim ocorrer, como um sinal de que tenho que rever alguma coisa dentro de mim.
Tem também o exemplo de meu mestre, que não chegou a dizer toda a verdade que era portador e apenas sinalizou que chegaria o tempo disso ocorrer. Então eu vou ter mais cuidado nesse aspecto. Farei uma triagem maior da verdade que tenho a dizer e da capacidade de receber do meu interlocutor. Peço a Deus que me dê um pouquinho mais de sabedoria, para que eu não abuse dessa prerrogativa e defenda mais os meus interesses do que evitar o sofrimento do outro. Mas farei como o mestre também fez: eu não mentirei para ninguém, apenas omitirei o que a minha consciência avaliar que irá levar sofrimento. Mas se a pessoa perguntar diretamente, e eu não puder sair com a evasiva da omissão, mesmo sabendo que irá provocar sofrimento eu direi a verdade. Sempre acontecerá assim: entre a verdade ou a mentira, eu optarei pela verdade.
Também sei que estou falando assim em condições normais de relacionamentos. Caso eu me depare com situações extraordinárias, como guerras, violências, vinganças, torturas.. então é diferente! A verdade pode trazer efetividade ao mal e isso não seria cristão. A verdade nesse caso com certeza daria permissão para ser omitida ou desviada.
Enfim, será nossa consciência com a bagagem que ela receba dos conhecimentos e da misericórdia de Deus quem irá fazer essa distinção.
Apesar de não concordar com a instituição do casamento porque leva à prática do amor exclusivo e consequentemente a geração, manutenção e ampliação do egoísmo em todas as dimensões, tem um aspecto que acho pertinente, que é citado na própria Bíblia: “Por isso deixará o homem pai e mãe, e unir-se-á a sua mulher; e serão os dois uma só carne” - Mateus 19,5.
É essa questão dos dois, homem e mulher se tornarem uma só carne. Como se os dois se tornassem uma só pessoa. É um tanto complicado, pois parece que isso implica na anulação de uma pessoa em função da outra. É claro que devemos respeitar a individualidade de cada pessoa, o seu livre arbítrio, mas essa integração de uma pessoa a outra eu acho fantástica, pois a partir daí os dois passam a funcionar, a agir com uma ótima sintonia em todos os aspectos. Essa condição eu acredito ser fundamental naquelas pessoas que desejam ampliar os relacionamentos íntimos em busca do Reino de Deus. Também acredito que temos que fazer uma faxina completa no psiquismo de natureza animal que contamina o nosso raciocínio de interesse espiritual. Então as lições do Cristo devem ser conhecidas, absorvidas e praticadas em toda a dimensão, só assim será possível essa união de corpos, pensamentos e ações.
Agora, quem será o líder dessa união? Pois é necessário haver uma hierarquia que seja respeitada, para evitar constantes conflitos por banalidades. As crítica que existirem no decorrer do relacionamento devem ser colocadas e discutidas dentro de clima de fraternidade, nada de imposições autoritárias, tudo será visto à luz da justiça e da solidariedade, tendo como constituição maior a Lei do Amor. Não importa que seja o homem ou a mulher que assuma essa liderança espiritual na condução da união. Importa que o líder seja aquele que melhor observar e cumprir a Lei do Amor, que tenha o menor nível de sentimentos negativos dentro do coração e que melhor se comporte dentro da coerência daquilo que praga e faz.
Entra nesse contexto a discutida forma de aplicar o amor: inclusivo ou exclusivo? Alguns podem defender com seus motivos a exclusividade do amor como é praticado no casamento tradicional e aceito por nossa cultura. Outros como eu, defenderão o amor inclusivo na forma de ampliar a família e se aproximar mais da Família Universal. As uniões podem ser formadas dentro de qualquer um desses paradigmas, ou de outros que também sejam defensáveis por argumentos fraternos, justos e solidários. No meu caso, cada companheira que se incorporar ao meu pensamento, para que seja considerada a união apontada pela Bíblia, deve se despir de todo o sentimento negativo, egoísta e vestir o traje espiritual, sem deixar qualquer nódoa de natureza animal na brancura do seu tecido. E qualquer uma outra pessoa que sinta o desejo de se incorporar a essa união, tanto pelo meu lado (nova namorada) como do lado dela (novo namorado) devem também demonstrar o mesmo sentimento de amor por todos os entes envolvidos no relacionamento. Isso não implica que, alguma pessoa que não consegue se livrar dos predicados egoístas, não participe dessa forma de relacionamento, mas não conseguirá fazer parte do corpo da união, por sua própria repulsa. Será sempre alguém que fica à margem do caminho enquanto a caravana parte, mesmo que jamais deixe de ser alvo do amor e da compaixão de quantos já estejam devidamente harmonizados na caravana.
Fui abordado de forma carinhosa por uma amiga muito querida e irmã espiritual. Conhecedora do meu comportamento, da minha forma de amar sem exclusividade, ela perguntava se isso não era egoísmo, se eu dizia amar a tantas e por outro lado deixava todas elas a sofrer devido meus pensamentos e comportamentos.
Também tenho essa compreensão de que faço sofrer as mulheres que se envolvem comigo de forma íntima e desejam uma relação exclusiva. Porém não engano ninguém para obter prazeres sexuais. Deixo bem claro, antes que o afeto se aprofunde, como é a minha forma de pensar e de agir, qual é o meu histórico. Não mostro nenhuma hostilidade com aquelas que não aceitam esse pensamento e esse comportamento, continuo sendo amigo/irmão da mesma forma. Aceito a forma dela pensar como gostaria que ela respeitasse a minha forma de pensar também. Se isso inviabiliza o aprofundamento íntimo, devemos aceitar com maturidade e fraternidade. Porém tem outra que aceitam essa condição e assim o amor atinge todos os níveis de profundidade conveniente para os dois, sem preocupações de ordem cultural ou preconceituosa. Mesmo assim, minhas parceiras/amantes/amigas/companheiras desenvolvem ciúme que gera sofrimento por quererem uma relação exclusiva. Mas já não foi resolvida essa questão na origem? Quando elas se envolvem com essa profundidade já não sabem das condições? Será que elas querem que eu me transforme para me adequar ao pensamento delas sem jamais eu ter sinalizado nesse sentido?
Assim minha amiga, mesmo eu sabendo de todo o sofrimento que é gerado por causa do meu comportamento, eu não sinto que estou sendo egoísta, e sim desenvolvendo o amor na dimensão que eu compreendo. Lembro que eu falei para você que tento pautar todo meu comportamento nas lições que o mestre Jesus deixou para nós, principalmente o aprendizado do Amor Incondicional; que as leituras que me chegam as mãos sempre me levam as interpretações de que estou no caminho correto. Pois veja só, no mesmo dia que conversamos sobre isso, quando chego em casa e vou dar sequencia a leitura que estou fazendo do livro “Um modo de entender uma nova forma de viver” ditado pelo espírito Hammed ao médium Francisco do Espírito Santo Neto, em seu segundo capítulo ele diz assim:
“Em verdade, o exercício da aprendizagem do amor inicia-se pelo amor a si mesmo e, consequentemente, pelo amor ao próximo, chegando ao final na plenitude do amor à Deus.
Esses elos de amor se prendem uns aos outros pelo sentimento de afeto desenvolvido e conquistado nas múltiplas experiências acumuladas no decorrer do tempo em que nossas almas estagiaram e aprenderam a conviver e melhorar.
Muitos de nós nos comportamos como se o amor não fosse um sentimento a ser aprendido e compreendido. Agimos como se ele estivesse inerte em nosso mundo íntimo, e passamos a viver na espera de alguém ou de alguma coisa que possa despertá-lo do dia para a noite.
Vale considerar que quanto mais soubermos amar, mais teremos para dar, quanto maior o discernimento no amor, maior será nossa habilidade para amar; quanto mais compartilhá-lo com os outros, mais ampliaremos nossa visão e compreensão a respeito dele.
Iniciamos a conquista do amor pleno pelos primeiros degraus da escada da evolução. No começo, nossas qualidades e valores íntimos se encontravam em estado embrionário e, ao longo das encarnações sucessivas, estruturaram-se entre as experiências do sentimento e as do raciocínio. Quando congelamos a concepção sobre o amor, passamos a enxergá-lo de forma romântica e simplista.
O amor a Deus e aos outros como a si mesmo é noção que se vai desenvolvendo pelas bênçãos do tempo. As belezas do Universo nos são reveladas à proporção que amamos; só assim nos tornamos capazes de percebê-las cada vez mais e em todos os lugares.
Disse Jesus que toda a lei e os profetas se acham contidos nestes dois mandamentos: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: amarás o teu próximo como a si mesmo.”
Apenas damos ou recebemos aquilo que temos. Quem ainda não aprendeu a amar a si próprio não pode amar aos outros. Não peçamos amor antes de dá-lo a nós mesmos, pois o amor que tenho é o que é o que dou e o que recebo.
A medida que aprendemos a nos amar, adquirimos uma lucidez que nos proporciona identificar nos conflitos um alerta de que estamos indo na direção contrária à nossa maneira de sentir e de pensar. Quanto mais aprendemos a nos amar, mais nos desvinculamos de coisas que não nos são saudáveis, a saber: pessoas, obrigações, crenças e tudo que possa nos invadir a individualidade e nos prostrar ou rebaixar. Muitos chamarão essa atitude de egoísmo, no entanto deveremos reconhecê-la como o ato de amar a si mesmo.
Quando nos colocamos a serviço do amor verdadeiro, a autoestima nascerá em nossa vida como valiosa aliada nas dificuldades existenciais.”
Assim, minha amiga, mais uma vez um texto com inspiração nas lições do mestre, fortalece meus pensamentos, acredito. Que achas?
Também gostaria de lhe agradecer do fundo do meu coração a sua preocupação com a saúde da minha alma e apontar possíveis enganos, talvez até fascinação. Procuro fazer as devidas considerações e rogo ao Pai para que mantenha o meu psiquismo íntegro e associado à Sua vontade, para que eu não entre em desvios da Lei.