Sióstio de Lapa
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SURUBA COM A NATUREZA
Quando falamos em suruba, vem logo à cabeça a idéia de atos lascivos, depravados, satíricos, que envolvem diversas pessoas de ambos os sexos num ambiente restrito, isolado, confidencial com a finalidade de potencializar o erotismo inerente a cada ser humano. Mas acredito quer isso possa ser feito com uma só pessoa e a Natureza ao redor. Basta ter a sintonia apropriada. Será pecado? Afinal a Natureza pode ser sinônimo de Deus. E posso usar esses termos com o meu pai? Mas sou uma criatura ainda em formação e se penso dessa forma é sem malícia, como uma criança que provoca o pai sem intenção de ser desrespeitoso. Porém, sei que outras mentes, maldosas, ao tomarem conhecimento disso, imaginarão o contrário. Não importa! Sei que meu Pai (ou minha Mãe?) não se importará de eu brincar assim com Ele(a).

Então, deitado à beira da piscina, após ter saído de baixo da bica que semelhante a cascata renovava as suas águas, fiquei a pensar com esse toque de erotismo. Numa suruba o meu interesse é aproveitar o máximo de todos os estímulos sexuais que estejam à minha disposição. Também agora, ao meu redor eu percebo uma série de estímulos que estão à minha disposição. Ainda sinto o frescor da água que até pouco tempo me envolvia o corpo todo. Agora ela não está mais presente, mas em seu lugar chega o vento e continua carícia em cada ponto do meu corpo, desde a ponta do dedão do pé até o último cabelo sobrevivente à minha careca progressiva. Sinto meus pelos se eriçarem com esses toques sutis, frios, às vezes lentos, às vezes rápidos. O som da água que continua a cair dentro da piscina ocupa meus ouvidos num sussurro que potencializa o eriçar de meus pelos. Uma folha de bihai impulsionada também pelo vento tem a ousadia de acariciar minha cabeça, sem importar que tenha ou não cabelos, onde alcança os seus toques. Ao redor uma série de coqueiros de vários tamanhos, que parece uma companhia de eunucos a se balançarem pelo vento e responsáveis pela vigilância do local. A luz do sol que consegue se filtrar entre a folhagem dos coqueiros lá em cima e dos bihais cá embaixo, atingem o meu corpo semi-despido, vestido apenas com a sunga do banho, e estimula cada célula que ele alcança. As células acumulam o calor e cada uma transmite para o todo uma quentura suarenta enquanto produzem a melanina o que faz uma mistura de cores na minha pele, de vermelho a preto. Coloco um gole de refrigerante na boca e deixo penetrar na câmara úmida da saliva, uma pedra de gelo e a deixo se dissolver numa dança frenética com a língua e no entrechoque com os dentes. Olho para o céu azul e lá distante, iluminados também pelo sol que as fazem brilhar e pelo vento que as fazem dançar, as nuvens adquirem formatos imprevisíveis que parecem estar seguindo ordens de minha mente excitada. Para mostrar que nem todos os estímulos são assim tão agradáveis e curiosos, surge uma mosca no rol de excitações. Pousa desavergonhada onde quer e parece não se importar com as constantes ameaças que recebe de levar uma tapa. Quem vem em meu auxílio é uma onda de cheiros, uma mistura de diversas flores que existem nos arredores. A mosca parece ser conduzida por eles enquanto fico a pensar que essa é mais uma onda de volúpia sexual que me envolve também o corpo. Só a percebo pelas narinas, mas o suficiente para entender que elas são estratégias dos órgãos sexuais das plantas em busca da perpetuação.
Todos meus sentidos estão ativados por essa onda de sexualidade que atinge meu corpo, mas paradoxalmente, o único setor que deveria estar excitado em função de tudo isso, permanece impávido: o principal órgão sexual. Parece que ele entende que nesta situação especial, não existe possibilidade de penetração. Fico então nesse êxtase corporal onde todo o meu corpo está aceso pela sexualidade com exceção da genitália. O tempo passa e minha mente fantasia comigo dentro desse caldeirão de estímulos.
Logo vem à mente uma outra possibilidade e dessa vez mais ousada que a primeira. E se estou dentro desse processo apenas como um inocente passivo? Se é a própria Natureza que está usando o meu corpo e meus sentidos para ela mesma se perpetuar? Se na condição de criatura, imperfeita, imatura, ignorante não estou sendo vítima do meu próprio Criador, de pedofilia?
Não! Basta de tanto pensar. Fui criado por Ele para sentir a vida em toda a sua plenitude como estou sentindo agora. Não posso colocar termos humanos dentro da mecânica divina. Basta sentir tudo que estou sentindo, tendo a consciência que estou integrado com a Natureza e que tudo isso serve para o nosso mútuo aperfeiçoamento. Isso é o que basta. Não quero mais pensar em estar promovendo uma suruba ou que sou vítima de pedofilia. Tudo isso desvia minha atenção do fator principal: atingir o orgasmo celestial em contato amplo e completo com o pai, sentindo eu dentro dEle e Ele dentro de mim. Sem necessidade de genitália!

Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 26/12/2011
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