Tive medo de dizer “te amo”
Pois eu pensava ser ironizado
Eu não me sentia merecedor
De migalha do amor dela

Ela era linda, tão delicada
Uma flor sensível de raro odor
Que eu temia lhe machucar
Com um toque nas suas pétalas

Eu era rude, mãos calejadas
Nunca aprendido em cortejar
Somente tinha toda certeza
Que era amor o que eu sentia

Quanto mais o tempo passava
Mais forte o amor ficava
Até o dia que suplantou
O brutal medo que eu sentia

Nesse momento contei a ela
Todo o amor que eu possuía
Que nos meus sonhos só via ela
Que noite e dia eu pensava nela

Eu vi seu riso de ironia
Ouvi palavras reprovadoras
Comentários de mal-querença
Eu vi seus olhos se inflamarem

Procurei nela, mas não encontrei
Aonde estava seu coração
Não vi no peito, não vi nos gestos
Nem nas palavras, nem no olhar

Fiquei atônito com o que via
Mais ainda com o que sentia
Mulher tão bela e graciosa
Ter uma vida sem coração

Senti por dentro enorme pena
Que misturou-se com meu amor
Pois como pode sem coração
Uma pessoa aprender viver?

Com tudo isso o meu coração
Algo pedia, que eu fizesse
Que ajudasse, que resolvesse
O dilema da minha amada

Mas como posso fazer tal coisa
Se é preciso um coração?
Como posso arranjar tal peça
Se cada um só possui o seu?

Depois de muito ficar pensando
Achei enfim uma solução
Parti o meu coração em dois
E dei uma metade a ela

Sei agora que ela é feliz
Que ama a vida, a natureza
Que seus encantos tem o calor
O brilho intenso de todo amor

Ficou apenas outro problema
Que eu pensava não ia ter
Comportamento de narcisista
Ela ama a si como mais ninguém

Mas não podia ser diferente
Pois o coração que ela tem consigo
Foi ensinado por muitos anos
Somente lhe amar com energia

Apesar disso fiquei contente
Pois mesmo sem ela amar a mim
É o meu coração, enfim
Que pulsa forte no peito dela.