Sióstio de Lapa
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O FILHO DO CARBONO
      Sou filho do carbono e do amoníaco.
      Poderia muito bem começar a escrever com esse verso de um poeta bem conhecido, que viveu amargurado pela existência: Augusto dos Anjos!
      sou filho do carbono e do amoníaco!
      Nada mais sou... Nada mais somos!
      Nada mais fui... Nada mais seremos!
      Desde as eras remotas quando a terra fervia em lavas e tempestades, e nós estávamos no berço, nada mais além que isso tínhamos a promessa de ser: filho do carbono e do amoníaco!
      De repente emerge, do seio dessa dança eterna do carbono, que vai e que vem se transmutando em tantas formas de vida, uma consciência: a consciência humana! Uma consciência que tem a capacidade de olhar para o passado e prever o futuro. Que tem a capacidade de avaliar o presente e perseguir pela existência afora uma utopia chamada felicidade. Um sentimento de alegria e prazer que foge da dor e do sofrimento. E enquanto brilha nessa massa de carbono a fagulha da consciência, a procura da felicidade segue a trilha do amor. Uma estrada que sabemos ou intuimos, nos leva à felicidade ou que, pelo simples caminhar nela já estamos atingindo o máximo de felicidade que conseguimos alcançar.
      Mas o filho do carbono aprendeu que deve fugir da dor, pois é o sinal vermelho para a sua desorganização, para sua aniquilação. E os caminhos do amor são repletos de sofrimento e dor.Quanto mais a estrada é cheia de amor, mais nos espreita em cada curva,. em cada depressão, a chaga do sofrimento, a punhalada da dor. Tanto é assim que um outro poeta já cantava que "tinha traído a si mesmo quando jurou seu amor (Raul Seixas).
      O filho do carbono olha para o horizonte e não ver outra alternativa, caminho, saída para a felicidade. Em todos os caminhos da vida a dor está presente, colorida em mil nuances, mimetizada em cada recanto florido, em cada acorde melódico. De todos o único caminho que leva ao objetivo da felicidade é o do amor... apesar da dor!
      A experiência mostra que, para atenuar os efeitos dolorosos da estrada do amor, experimentando o máximo de felicidade, devemos caminhar bem abastecidos de tolerância. Assim, mesmo a dor nos ferindo e o sangramento deixar rastros pela estrada, estas sofrerão a transmutação no solo do amor e perfumarão os caminhos de quem nos seguem.

(publicada em jan/fev de 2002 no Jornal Café Literário, nº 1)
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Enviado por Sióstio de Lapa em 03/01/2012
Alterado em 03/01/2012
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