SAUDADE É O AMOR QUE FICA
Muitas vezes pronunciamos palavras que querem dizer alguma coisa, mas que ainda não entramos na sua verdadeira essência. Assim, sempre usei a palavra Saudade para significar uma sensação, um sentimento ao mesmo tempo bom e desconfortável. Desejo de ter uma coisa que não está mais ao nosso alcance. Principalmente de pessoas queridas que por qualquer motivo se vão e deixam dentro da gente essa enorme sensação de querer de novo. Pronto, com essa palavra Saudade eu queria sempre identificar essa sensação que aperta o coração e deixa nossa mente sempre ligada ao ser distante.
Mas a vida está sempre a nos ensinar a todo o momento e por todos os meios, basta ter olhos para ver e coração para sentir. Foi um simples PPS em noite solitária quem me trouxe uma percepção mais profunda do que seria Saudade.
Saudade é o Amor que fica.
Sim, era a compreensão que faltava. Quanto mais existe Amor numa relação que se rompe, mais é formada a Saudade com força proporcional.
Agora passei a compreender porque tenho tantas Saudades dos meus relacionamentos que se vão. É um sofrimento prazeroso, uma imaginação que evoca o prazer pela lembrança dos bons momentos e ao mesmo tempo o sofrimento pela percepção do nunca mais! E por que tudo isso acontece? Porque meus relacionamentos foram sempre regados com muito Amor. Não importava se eu recebia de volta a recíproca, importava que eu estava espalhando o Amor ao meu redor, como um semeador que deseja ver o seu caminho cheio de rosas. Então a cada passada que dá na estrada joga ao seu redor as sementes do Amor, de flores e rosas com potencial de florirem e perfumarem o caminho. Quando elas germinam e espalham ao seu redor beleza e perfume, eu estou ao lado, sempre as cultivando com amor e carinho.
No entanto não posso tirar o ciúme que cresce também junto delas como ervas daninhas, e quando percebem que não são objetos exclusivos do meu amor, ficam tristes e deixam cair suas pétalas. Perdem a capacidade de exalar o perfume, de pintar o ambiente com suas cores, chegam a murchar... a morrer! Às vezes me desespero querendo evitar essas mortes, chego a limitar minhas ações, fico mais tempo perto daquelas mais necessitadas, ofereço como uma espécie de antídoto ao veneno do ciúme uma dose da minha liberdade. Chego até o limite de me expor ao fio agudo dos seus espinhos, sentir na carne a dor de uma agulhada e permitir que até meu sangue seja mais um elemento de adubo vivificador.
Mas nada dar certo. Enquanto existir outras rosas e a minha capacidade de amar, o ciúme não cede. A minha rosa contaminada vai embora do meu coração e o deixa cheio de Amor que ela não mais pode ou quer receber. É este Amor que fica dentro de mim tão grande e forte que gera uma Saudade tão gostosa e tão dolorosa.
Percebo assim que meu maior adversário é o ciúme. É ele que murcha o objeto do meu amor, que faz eu perdê-lo, que gera a Saudade no meu peito. No entanto, parece que sou eu que o dissemino. De quem me aproximo com todo o Amor para dar, logo se mostra contaminada, não quer que eu cuide de outras rosas e começa a murchar se isso acontece.
Sou um semeador do Amor, mas a Natureza me torna um colhedor de Saudades.
Meu destino é viver sozinho, cercado de livros que falam do amor romântico, de poesias que cantam a mulher amada, do mar que ruge a cada momento que beija as areias de sua querida praia. Devo me contentar com este coração cheio de saudades e as mãos cheias de amor para semear.
Quando a lua surgir cheia de luz, uma vez por mês no meu horizonte, será a minha fugaz companheira, a única testemunha das lágrimas que essas Saudades ainda fazem brotar dos meus olhos. Mas no dia seguinte, quando o sol nascer, eu voltarei a semear o Amor. Sinto que estou cada vez mais eficiente como semeador, já que aprendi a adubar o terreno da vida com sangue e com lágrimas. Também sei que quanto mais saudades eu tiver dentro do peito, mais Amor eu terei em minhas mãos para semear, pois Saudade é o Amor que fica!
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 16/01/2012