Sióstio de Lapa
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O PROFETA SEM MANDATO
Descobrira Deus como uma ação inercial, que se desenvolve pela sua força intrínseca até uma conclusão ou percepção de um moto contínuo. Nas leituras acadêmicas encontrava mais argumentos para contestar a existência de Deus do que para afirmá-Lo. O tempo passava e suas dúvidas não conseguiram destruir a realidade de Deus em sua consciência. Até que um dia, cansado de tanta contestação, resolvera acreditar, e agora iria em busca dos argumentos e fatos afirmativos e não contestatórios. Começou a observar a Natureza com outro olhar, de outra forma, percebeu novo colorido e significados. Sua vida passou a ter um sentido diferente, com principio e finalidade. Sentiu que tinha um Pai poderoso, que o atendia em qualquer momento ou dificuldade. Deixou de ser órfão. Sentia que o seu Pai, a semelhança do que acontecia com outros filhos, também tinha para si uma missão. Mas seus outros irmãos assumiam o mandato de suas missões após terem sido publicamente investidos nelas, anunciados com antecipação, com percepções significativas do poder e da vontade do Pai. Mas com ele não acontecia isso. Ele era mais uma simples pessoa na multidão, uma ovelha em busca de um redil.
Mesmo assim, ele sentia a vontade de Deus em sua consciência e não podia deixar de cumpri-la. Seria então um Profeta sem mandato, sem anunciação, sem unção. Mas seria mais um filho disposto a cumprir a vontade do Pai! Já estava preparado para viver neste mundo material como se a ele não pertencesse, seus valores materiais seriam trocados pelos valores espirituais. Seria considerado o esquisito, o diferente, o bem amado, o odiado... Quanto mais falava da vontade do Pai, mais de louco o acusavam! Seus atos de bondade eram ameaça aos interesses egoístas de parentes e aderentes. O vulcão de Amor Incondicional que regurgitava do seu coração queimava com dor pujante as feridas dos preconceitos de orgulho e vaidade instalados nos corações endurecidos.
Assim caminha o Profeta sem mandato, anônimo na multidão, esquisito na intimidade. Estava destinado a amar a todos, e por ninguém ser amado. Estava capacitado a acolher o pranto dos que choravam, mas suas próprias lágrimas corriam por dentro, ninguém as via. Seu sorriso tinha o brilho das estrelas e a palidez do luar. O sol que irradiava para aquecer o coração dos necessitados, não voltava para aquecer o seu coração.
Quando a aflição dominava seu peito e sufocava a alma, dobrava os joelhos e recorria ao Pai. Pedia forças para suportar a cegueira dos homens e a solidão dos afetos. Forças para suportar a saudade dos amores perdidos e das paixões avassaladoras; para dar sem medidas e receber sem orgulho; a todos perdoar sem contar ou divulgar e de todos contar cada gesto de bondade recebida, com clareza e publicidade.
De tal maneira que, se um dia vires uma pessoa meio esquisita a cruzar contigo na rua, se puderes, dirijas para ela um olhar compassivo e um sorriso fraterno: pode ser um Profeta sem mandato!
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 10/03/2013
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