QUEM É MEU PAI?
Tibério Silva era um garoto inteligente que a mão do destino colocara num orfanato. Já estava com seus 12 anos, bom estudante e com uma mente curiosa e inquieta. Nada existia nos seus registros na instituição sobre seus pais. Havia apenas um ligeiro relato de que fora encontrado certa manhã na porta, sem nada que o identificasse, coberto por lençóis humildes. Mas ele já sabia que tinha um pai biológico, não sabia quem era... também intuía que além desse pai biológico deveria ter um outro Pai que a tudo na Natureza criou, inclusive a ele. Com essas interrogações em sua cabeça, ficava muitas vezes sozinho a meditar.
“Ora, eu sei que tenho um pai biológico, que talvez ainda viva, que talvez eu conheça, que talvez passe a todo momento por meu lado. Talvez nem mesmo ele saiba quem eu sou ou mesmo que eu exista. O conhecimento da minha existência e do que aconteceu comigo tenha ficado somente com minha mãe. É uma tarefa praticamente impossível investigar dos bilhões de homens que existem na terra quem é o meu pai. É mais prático que eu fique quieto, sabendo com certeza que tenho um pai biológico, vivo ou falecido, e que não tenho condições de o identificar.
“Por outro lado, sei também que deve existir um Pai, um Criador, para toda a Natureza, inclusive eu. Nada pode surgir do nada, a não ser que nesse nada exista algo. Então é a esse ALGO que deverei identificar como meu Pai primordial. Parece uma tarefa mais simples do que identificar o pai biológico entre bilhões de homens. Identificar o Pai primordial é uma tarefa cognitiva, dentro da razão e da coerência. Quando a minha consciência chegar a uma conclusão com base nos conhecimentos que eu tenho, então terei identificado o meu Pai primordial e como Ele deve ter uma natureza eterna, deve estar ao meu lado neste exato momento. Devo procurar identificar o que é esse ALGO que existia antes de tudo e estava presente no nada. Esse ALGO deve ter força e inteligência para materializar do nada as primeiras moléculas, o primeiro átomo, o primeiro big-bang. Poderia até pensar que o movimento aleatório da matéria, dos átomos já formados e interativos à força do acaso, que fosse esse acaso o meu Pai, mas a coerência me diz que esse acaso também foi formado no momento da criação dos átomos que dele se utiliza. Dentro do nada não existiria acaso, pois não haveria nada para dele se utilizar. Dentro do nada só poderia existir essa força com inteligência capaz de criar a partir do nada. Parece que o limite do meu pensamento racional, a minha inteligência limitada só vai até esse ponto. Identifiquei uma inteligência com força criativa a partir do nada como o meu Pai transcendental. Sei que eu, como uma criatura dessa inteligência primordial, que a minha inteligência está limitada pela ignorância de conhecimentos, que não é capaz de alcançá-la em toda a sua dimensão.
“Assim, tenho identificado o meu Pai transcendental até onde consigo, estou satisfeito com isso. Sei que Ele estava presente no nada, que foi o Criador de tudo e que está presente a todo momento na Natureza, está presente agora mesmo ao meu lado percebendo os meus pensamentos e contente com um artifício que Ele deu as condições para ser criado e que nem mesmo Ele pode mexer: o meu livre arbítrio!”
Eu, na minha condição de escritor e criador de Tibério, também vejo com orgulho esse pequeno órfão que já tem a compreensão que muitos adultos não possuem: de uma paternidade dupla, de um pai biológico e de um Pai transcendental. Tibério sabe que tem um pai biológico, que talvez nunca venha a saber quem é, mas tem plena certeza disso. Sabe também que tem um Pai transcendental e sabe o que é, talvez precise de alguns ajustes nessa compreensão, mas tem plena certeza disso, também!
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 02/05/2013