TEMPO DE CHORAR
Eclesiastes adverte que há um tempo para cada coisa debaixo dos céus; que não podemos nos apoquentar e sim deixar fluir a vontade de Deus, nela nos engajar e seguir fazendo a cada dia, cada ação que nos for apropriada.
Tempo para rir, tempo para chorar
Tempo para amar, tempo para pensar
Tempo para brincar, tempo para trabalhar
...
Pode parecer estranho tirar tempo para coisas aparentemente negativas, como chorar, por exemplo. Mas não é assim. Agora mesmo, na produção deste texto, eu sinto que o Pai me dá a oportunidade de chorar, de lamentar os que não se harmonizam com a Sua lei. É o meu tempo de chorar, o tempo que desperdicei, do que não posso mais alcançar. O Pai me dedica este tempo, não como castigo, mas como dádiva.
Choro pelos amores que tive, que não consegui preservar na sua inocência e no seu vigor;
Choro pelas ausências que proporcionei quando estava em outros locais e deixava só a saudade como guardiãs de tantos corações;
Choro pelo amor desejado pelas virgens nos seus sonhos de ventura e que eu não posso nem poderei jamais ofertar;
Choro por minha ausência enquanto pai do aconchego dos meus filhos, quer seja por uma obrigação profissional, quer seja por uma missão ordenada pelo Pai;
Choro pelos amores desejados e que eu nunca tive, amores incondicionais, que amem a quem eu amo, que cuidem de quem eu prezo;
Choro pela oportunidade que tive de amar e que desperdicei, pelo tempo perdido que não volta mais;
Choro pelo beijo que de medo morreu sem sair dos meus lábios, pelo abraço que meus braços não alcançaram;
Choro por ti, minha alma gêmea, que caminha nesse vale de lágrimas, que pensas como eu penso, que sentes como eu sinto, e que nunca encontrei;
Choro por não poder levar a paz ao mundo nem ao menos saber apaziguar o coração de quem está ao meu lado;
Choro por ti, minha criança, que pedes uma nesga de pão pelas ruas, sinais... Sem ter um pai ou um amigo que deposite em suas mãos famintas uma moedinha de prata , nem mesmo um olhar carinhoso;
Choro por minha incompetência por tanto já ter sido servido e agora com tanta ciência não saber servir a contento... De ter tanto para dar e ser incapacitado de estender as mãos em direção ao irmão necessitado;
Choro pelos filhos que ainda não tive a capacidade moral e afetiva de os trazer ao mundo, protegidos da ferrugem do egoísmo;
Choro, porque assim me permitiu, agora, o Pai...
Mas está acabado o meu tempo de chorar. Ao término deste texto, termina o meu tempo de chorar. Aí começará o meu tempo de rir, de amar, de proteger, de doar, de pensar, de refletir...
Então agora começarei um novo tempo e minhas lágrimas evaporarão no colo do Pai!
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 31/08/2013