Pai, me destes tantos irmãos, por que me sinto tão só? Por que procuro compreender a todos e ninguém consegue me compreender?
Pai, tu me ensinastes a amar, eu sei... Sei que recebo todo o Amor que emites para mim, sei que procuro devolver ao meu redor todo amor que recebo de Ti...
Mas parece que ao invés de dar prazer eu levo dor e sofrimento... me fizestes como um beija flor, que vai de rosa em rosa, mas que morre se preso for... mas parece que ninguém entende assim e o meu vôo de liberdade significa a dor de quem deixa de ser beijada.
Pai, que tão prova forte Tu destes a mim... enquanto todos pensam que sou um carrasco, frio e insensível, que acaricia corações para depois os esmagar, pisotear... sou justamente o contrário! Sou a principal vítima do sofrimento, pois antes dele vir eu já estou sentindo. Sei que o rosto que beijo hoje, amanhã estará manchado de lágrimas. Por mais que eu advirta desse risco, parece que um encanto tapa os ouvidos. Então eu sofro com o riso de quem é beijada e não sabe ainda o quanto vai sofrer, e sofro com o pranto de quem me abandona por não conseguir mais comigo conviver.
Pai, dá-me paz ao meu coração! Não deixes que minhas asas voem em direção a nenhuma rosa; não deixes que nenhuma rosa se abra na minha presença...
Deixa eu ficar na solidão dos meus pensamentos, deixa eu criar na minha mente o mundo fraterno que minha alma anseia.
Deixa eu sofrer sozinho com o abandono, já que a convivência vai trazer tanto sofrimento a outrem...
Deixa Pai, eu permanecer no mundo espiritual, pois lá não existe sexo, não existe amor romântico, não existe ciúme nem vaidade.
Quero passear entre as nuvens e brincar com as gotas de chuva, quero correr com a brisa por entre os arvoredos, ouvir os cantos dos pássaros e pular com as lebres dos prados...
Quero, Pai, dar o Teu Amor a Natureza que não cobra, não reclama, não chora...