Sióstio de Lapa
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TERAPEUTA DA ALMA

Conheci uma mulher que perdeu seu coração. Não o coração físico que bombeia o sangue e permite a vida biológica, fisiológica, mas o coração afetivo que bombeia o amor e permite a vida espiritual. Sei que ela estava viva, falava comigo, dizia o que sentia. Mas eu percebia que, por outro lado, ela não estava viva, falava comigo, mas com uma linguagem robotizada, monossilábica, sem emoções.
Percebi logo no primeiro contato que ela não tinha o coração afetivo. Meu coração afetivo vibrava no vazio, não encontrava nenhum eco no seu. Era com se as vibrações afetivas que eu enviava caíssem num buraco negro dos sentimentos. Seu olhar sem brilho focava um ponto à distância ou caía no chão. Era como se a sua alma não quisesse ser observada pelas janelas dos olhos. Sua voz fraca, sem consistência ou pertinência tentava pedir ajuda. Queria voltar a viver, sentir prazer, ter sonhos... voltar a amar. Foi aí que eu percebi que ela já possuíra um coração afetivo e que agora sentia a falta dele. Como fazer para lhe ajudar? Tentei investigar, entrar nos meandros de sua mente no papel de detetive. Eu tinha três hipóteses para investigar: a primeira que foi uma perda, como ela imaginava; a segunda que ela foi roubada por alguém e não sabia; e a terceira, a pior hipótese, que houve uma destruição. Com essas três hipóteses passei à investigação.
Ela casou muito cedo, com 15 anos, quando teve sua inocência invadida sem as carícias do amor. Casou, e no decorrer o marido a substituiu por outra mulher que lhe oferecera maior apelo sexual. Foi um choque na sua auto-estima. Desprezada e divorciada ficou reclusa com os seus pais. Dessa forma tímida e retraída conheceu outro homem que abusando de sua confiança, mais uma vez usou a força, invadiu a sua intimidade e gerou um filho não desejado. Mais um golpe na sua auto-estima, na justiça dos homens, na capacidade de amar. Nessa condição de mãe solteira, finalmente conhece a terceira pessoa e pensa que resgatou o amor. Casaram e tiveram mais um filho. Mas outra vez surge a frustração. O seu amado se envolve com outra mulher e agora deixa de ficar ao seu lado muitas vezes para ficar com a outra. Não a considera como esposa, como mãe de seu filho e até a humilha como pessoa humana. Foi aí que percebeu que não tinha mais coração e procurou minha ajuda. Raciocinava, então, para que viver se a vida para ela já não existia? As lágrimas cansaram de correr pelos seus olhos, os sonhos se apagaram, a esperança, a última, morrera!
Então, qual das três hipóteses está correta? A perda, o roubo ou a destruição do coração afetivo? Como o Amor se sustenta na eternidade e Ele habita nosso coração desde que fomos criados por Deus, o coração afetivo onde Ele reside em nós não pode ser destruído. Será que ela o perdeu ou alguém o roubou? Também não acredito em nenhuma dessas hipóteses. Deus nos criou com um coração afetivo dentro de nós que não pode ser perdido ou roubado. Tenho que encontrar outra possibilidade para aquele estranho comportamento de viver sem demonstração de afetos.
Achei! Só pode ser isso! A mulher continua com o coração afetivo dentro dela, mas devido a tão fortes traumas que sofreu na sua existência, perdeu a sintonia com ele. É como um carro que é dirigido pela estrada e por sofrer os solavancos da estrada perde o balanceamento dos pneus e o alinhamento de direção. Ela tem o corpo íntegro, mas não consegue mantê-lo na trilha comportamental que o Pai oferece. Precisa de ajuda, precisa de realinhamento do seu coração afetivo. Como fazer isso? Foram as palavras falsas e ações agressivas e invasivas que lhe causaram esse transtorno. Agora deve ser palavras verdadeiras e justas, associadas a ações solidárias e fraternas que lhe voltará a sintonia com Deus e com o Amor; que fará funcionar novamente no comando da vida, acima do coração biológico que obedece aos instintos.
Quem pode fazer isso? Qualquer pessoa que já conhece o Amor Incondicional e consegue praticá-lo com justiça e coerência por onde passa. Esse é o maior terapeuta para esse tipo de mal, o terapeuta da alma. O risco é que, o Amor Incondicional que é empregado a partir do seu coração afetivo, não seja confundido com o amor romântico que o coração biológico/instintivo tanto anseia.
Um terapeuta da alma jamais poderá ser um amante exclusivo!
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 25/01/2014
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