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A SÓS COM OS OUTROS
Podemos em algum momento sermos vítima das amarras do egoísmo, pensando que estamos sozinhos no mundo, sonhando ou revoltado com a situação em que nos encontramos. A palavra de ordem para sair dessa situação, sempre será: seja útil a alguém. Mas jamais perca sua individualidade, veja a importância do seu trabalho, e não considere que a opinião da maioria a seu respeito ou a respeito dos seus pensamentos é prioritário. Você deve servir ao próximo, como ensina o Evangelho, mas sempre atento ao que aponta a sua consciência frente ao chamado de Deus na sua vida.
Reflitamos sobre os seguintes casos: um amador solitário construiu a Arca; um grande grupo de profissionais construiu o Titanic; uma multidão pediu que crucificassem Jesus, apenas um homem, sem nem ao menos ser temente a Deus queria libertá-lo, Pilatos. Portanto, podemos dizer que é uma blasfêmia quando se diz que “a voz do povo é a voz de Deus”. A voz da sua consciência é onde está a voz de Deus, se você estiver disposto a ouvi-la, em todo e qualquer lugar.
Não podemos ficar isolados frente as necessidades que a vida exige de todos, não ficar parado como um lago plácido e sonhador, refletindo o céu com suas nuvens e estrelas, numa felicidade contemplativa, cercado de carinhos, mas sendo inútil para si e para o próximo, refletindo sonhos impossíveis. Assim como o pulo de um sapo no lago plácido desmancha toda e beleza nele refletida, assim o pulo de uma ocorrência em nossa vida pode tirar a tranquilidade e nos jogar num inferno de apreensões. O sapo que corresponde à realidade, aos problemas que nos chegam, desfaz a ilusão da beleza passiva, ociosa, inútil.
Fiquemos atentos para as oportunidades que chegam e que podemos perder, por estarmos solitários e tristes, frustrado nos anseios e perdidos no pessimismo. Essa atitude impede que vejamos os olhos dos necessitados, que desejam chegar perto de nós, mas não tem oportunidade de fazê-lo.
A oportunidade guardada é como uma semente que se ficar dentro de uma arca nunca irá germinar, precisará de uma terra fértil para seguir em frente; é como uma lagoa de água parada que irá se deteriorar, criar insetos e podridão... precisará se tornar corrente, um rio que flui e ao redor de suas águas vai contribuindo para a vida se desenvolver; é como um monturo cheio de lixo, onde uma simples flor, um lírio que seja, traz beleza ao lugar.
Nossa oportunidade na vida está representada nas pessoas ao nosso lado que nos traz a sublime tarefa de cumprirmos a nossa meta. A gentileza com que prestarmos qualquer tipo de relacionamento é uma ponte que nos aproxima do próximo, que elimina o abismo que poderia ser formado devido à nossa tendência de isolamento.
A forma pela qual devemos agir sempre será com afabilidade e doçura. Lembremos das palavras de Emmanuel/Chico Xavier, que no exercício da afabilidade e da doçura, teremos a atração das correntes de simpatia; o compadecimento a todos que sofrem a nosso lado, guarda relação com a boa vontade e sinceridade que devemos nutrir no coração.  
A lei de causa e efeito, que é dando que iremos receber, mostra que e é muito melhor receber a recompensa do Pai do que a quem prestamos benefício, por isso a caridade deve ser anônima. Não podemos exigir o amor de ninguém. Podemos apenas dar bons motivos para que gostem de nós, e ter paciência... para que a vida faça o resto. Temos que saber o que plantar, para saber o que vamos colher, sabendo que, entre o plantar e o colher, existe o regar e esperar.
Outra reflexão que devemos fazer é com o sofrimento que sempre está ao nosso lado, nas transformações que temos de passar, pois se a borboleta temesse a metamorfose e passasse por ela, não chegaria à borboleta; se a flor temendo o desgaste que iria sofrer não se abrisse, não atingiria a semente que a perpetuaria.
Não podemos esquecer que o Amor existe para circular, para se mover daqui para ali, dali para aqui; não pode ser enclausurado, não pode ficar preso, não pode pertencer com exclusividade a ninguém, pois todos precisam do amor de todos. Quando o amor resvala pelos caminhos áridos do ciúme e da posse, ele aprisiona, é quando encontramos o apego, não é Amor. Esse tipo de amor nunca amadurece, não se renova.
A figura de Maria Madalena serve de exemplo para nós. Foi a primeira que teve o privilégio de ver o Mestre após sua ressurreição, resultado do amor amadurecido que estava em seu coração após Jesus ter plantado com suas lições, pois os demais apóstolos estavam angustiados pelo medo. Foi corajosa em acompanhar o Cristo em seus últimos momentos e sem auto piedade, sem solidão, foi atirada à glória do serviço ao próximo até seus últimos momentos.

Sióstio de Lapa e Joana de Angelis
Enviado por Sióstio de Lapa em 14/07/2017


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr