CARTA ABERTA
Ainda no caminho de reflexão sobre os textos encontrados na net sobre o comportamento do ex-presidente Lula, coloco agora uma carta aberta atribuída à médica Marise Valéria Santos (CRM 77.577-SP):
Bom dia, Luiz Inácio!
Sabe, Luiz, tal como você, também sou de origem humilde. Minha mãe lavou muita roupa e fez muito crochê para me criar. Depois, minhas irmãs cresceram e foram ser tecelãs numa indústria em Bauru...
Estudamos em escola pública. Naquele tempo nem calçado tinha. Ganhava roupas usadas e me sentia uma rainha. Com muito custo estudamos, Luiz Inácio!
Desde os 5 anos eu já ajudava em casa para minhas irmãs trabalharem e minha mãe também. Com 12 anos comecei a trabalhar fora, como doméstica, depois metalúrgica, até que terminei meu colégio e ingressei numa universidade pública.
Luiz Inácio, nunca fiz cursinho, nunca fui incentivada, levantava às 4 e ia dormir uma da manhã; tomava vários ônibus.
Caminhava muito, comia pouco, vivia para os estudos e, engraçado, nunca perdi um ano, nunca perdi uma aula e, graças a Deus, em 1983 me formei em medicina. Fiz especialização, me casei e junto com meu marido luto para dar o melhor para minhas filhas.
Hoje sou preceptora em uma Universidade, ganho tão pouco que é uma vergonha ser médico neste país... depois que você quis brincar de presidente, as coisas pioraram ainda mais, mas o que se há de fazer?
Agora, vem cá: você é pobre e não teve condições de estudar??? Não me engana com esse rosário... mas não mesmo!
Sua mãe era analfabeta? Empatamos. A minha também, eu ensinei ela conforme ia me alfabetizando até aparecer o Mobral – desculpinha esfarrapada essa sua heim???
Eu engoli você esses 8 anos, com suas gafes, seus roubos, (e como sei de coisas. Conheço o Palloci...) e sempre fiquei na minha, quieta, porque é um direito seu... Mas hoje, ao ligar a televisão e ver você, hipocritamente, chamar a todos os brasileiros de burros e incompetentes, lamento, mas foi a gota d’agua! ...
Não julgue os outros por você. Não me compare à sua laia... Sou apolítica, mas sou brasileira, e em momento algum o senhor fez por merecer todo carinho que essa gente lhe dá.
Luiz Inácio, falar que o povo brasileiro não teve inteligência suficiente para decidir a eleição, creia, foi a pior frase que você poderia ter dito... Posso até concordar que 48% não teve inteligência porque vive na ignorância, na mesma que você julga que o povo brasileiro tem.
Eu só espero que essa sua frase, dita num sorriso de quem já tinha bebido todas, ecoe de norte ao sul do país e acorde esse povo que, como eu, lutou muito para chegar onde está... Que, como eu, não aguenta mais pagar impostos para o senhor e sua corja gastarem com sabe-se lá o que.
Foi mal, Luiz Inácio... muito mal mesmo!
Uma brasileira.
“O que me preocupa não é o grito dos sem ética, dos sem caráter, dos corruptos, dos sem vergonha. O que me preocupa é o silêncio dos bons”.
Esta carta tem mais características de ser fabricada pela mente de alguém de que ser real. Posso estar enganado. No entanto, descreve a condição de muitos brasileiros, inclusive a minha, que veio de uma situação precária, onde tive que trabalhar desde a mais tenra idade para garantir a minha sobrevivência, morando com minha avó, pois minha mãe não tinha condições de garanti-la.
Fui educado com muita dificuldade e ainda adquiri uma educação baseada em fatos distorcidos pelos donos do poder, arregimentados sob o rótulo de republicanos.
Hoje consigo ter uma melhor percepção dos fatos atuais e pretéritos, e reflito o quanto vivia iludido. Parece aquela fábula de Platão da “caverna”, onde todos consideravam como realidade as sombras que viam projetadas na parede da caverna. Depois que um deles conseguiu sair desse tipo de hipnose, foi ao mundo exterior e descobriu a verdade, voltou para informar e foi ridicularizado pelos companheiros como lunático. Assim, às vezes podemos nos sentir quando queremos transmitir um pouco da verdade que descobrimos através do véu de mentira que nos encobre.
Mas, para a construção do Reino de Deus, como Jesus anunciou, devemos agir dentro dos princípios da Justiça e por isso devemos lutar para limpar o egoísmo de nossos corações e agir com solidariedade com nossos irmãos que ainda estão presos à ignorância da “caverna” para que todos possamos todos sair à luz da Verdade.
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 27/01/2018